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Klaus Scarmeloto

A Permanência de Bolsonaro no Poder: um Perigo Possível?

Atualizado: 21 de out. de 2022



Por que Bolsonaro pode permanecer no Poder?

Por Klaus Scarmeloto


No ritmo que estamos não me alegro nem um pouco em dizer isto, e sim, neste contexto, é de se desejar o contraditório mais fundamentado, mas, ao que parece, Bolsonaro poderá ter mais um mandato via eleitoral ou prorrogado à deriva golpista.


Quero estar errado quanto a isto, e pode ser que eu esteja, afinal, estamos lidando com uma ciência humana, não? Mas, mesmo desejando estar enganado, devo alertar: a derrota de Bolsonaro não está garantida! Estamos diante de um cenário caótico sobre o qual a vantagem do campo petista em pesquisas diante de um péssimo governo, por si só, não será suficiente. Vamos aos fatos:


Bolsonaro mostrou uma capacidade que parecia morta: a de se recompor com as forças políticas. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu dias atrás Nestor Forster, nosso diplomata a serviço da casa, embaixador Brasileiro nos EUA. Não é papel do Presidente dos EUA receber um diplomata, a menos que ele queira negociar algo estritamente político [1]. Nestor Forster no passado havia recomendado a Bolsonaro que não reconhecesse Joe Biden porque acreditava na vitória de Trump na suprema corte, e com as viradas em estados como Geórgia [2]. A Atitude de Bolsonaro e Forster em relação ao apoio a invasão do capitólio levou Thomas Shanon, um diplomata norte-americano, ex-subsecretário do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, a afirmar que a postura de Bolsonaro era imperdoável [3]. Mas, pelo visto, a relação entre Forster e Biden na casa Branca constitui um indício de que a redenção e o perdão virão.


Por que Biden receberia Forster e estaria disposto a conversar, ele próprio, com o representante Brasileiro ligado a Trump? Por um motivo simples: Bolsonaro foi a Rússia pouco antes da guerra da Ucrânia. Putin, que percebeu a questão das intenções de Bolsonaro com toda a clareza, fez um rito de humilhação sobre o Presidente do Brasil: o fez reconhecer toda a importância dos soldados soviéticos mortos na segunda guerra e os protocolos de segurança pós-covid, coisas que ele sabia que Bolsonaro detestava. Mas, ele também sabia que a aproximação de Bolsonaro visava, em partes, além de vender o sistema nuclear nacional, “causar ciúmes nos EUA”, assim como Putin sabia que a OTAN não pararia sua expansão e nem a Ucrânia desistiria diplomaticamente da OTAN, o que ocasionou a situação de guerra no oriente. A guerra começa e Bolsonaro continua ambíguo nos posicionamentos sobre o assunto, menos seu filho, Eduardo Bolsonaro, que sempre foi mais ligado organicamente aos ucranianos e aos nazistas da Ucrânia[4]. A Guerra pressionou a Rússia a fazer suas transações internacionais em rublo, além de nacionalizar uma parte importante das multinacionais que pisaram lá desde a queda da URSS, levou a uma leve perda da hegemonia do dólar no velho continente e no mundo, forçando o tigre de papel a olhar com mais carinho a amante abandonada com o cálice da tolice: Bolsonaro. Todo o alinhamento de Bolsonaro com a Rússia enfraquecerá com a visita de Forster a Biden. Ficou muito claro aos EUA que era necessário mostrar afeto por sua amante, a prostituta que busca um lugar na besta-fera: Bolsonaro. Isto ocorre porque com a hegemonia mundial prejudicada, os EUA não podem se dar ao luxo de perder ainda mais hegemonia.


Assim, Bolsonaro e sua gangue aguardam um carinho mais forte de Biden para tomarem a mesma posição dos militares brasileiros e saírem de cima do muro.


Enquanto isso, uma parte da esquerda tem a ilusão de que controla os democratas e que eles não poderiam fechar com o antigo aliado de Trump, é um ledo engano, compartilhado excessivamente por vários partidos, ganhando adeptos no PT e no PSOL[5][5].

Lembremos do que diz Marx no segundo capítulo de o capital: os proprietários de mercadorias agem como Fausto, personagem de Goethe, cujo princípio é ação e não o pensamento. Todos eles entregam seu poder a “besta”, como diria Marx, numa alusão a forma simbólica do sistema capitalista: o dinheiro [6][6]. É neste ínterim que nossa classe governante, como é tradicional, prostitui-se se debruçando sobre a cabeça da besta, e usa o inimigo da babilônia para lembrar ao predador que ela também tem o direito de ter amantes: o urso. Mas, tudo indica que o urso nunca teve uma chance real com a meretriz. Como é tradicional, em vez de aproveitar a fraqueza dos EUA pra crescer, nossa classe governante segue com tesão na submissão.


Sobre o mercado Financeiro e o tesão na submissão, Maria Cristina Fernandes publicou um artigo no jornal o valor, falando sobre o posicionamento de uma parte das famílias do Itaú, que farão o impensável, apoiarão, veja quem: nosso presidente Bolsonaro. Esses familiares do Itaú, puxam boa parte da mídia com eles [7]. Lembremos que em 2018, ao contrário dos controladores que governam o Bradesco, a família Itaú soltou apoio a Haddad [8].


A recomposição de Bolsonaro não para por aí. Seu Saldo de deputados na janela partidária fez do PL, partido alugado pelo Bolsonaro, o maior partido no parlamento, a porca de Bolsonaro está mais gorda que a do a PP e dos Republicanos.


A falida CPI do MEC, que ao contrário da CPI da COVID, não arranha em nada a imagem de Bolsonaro, uma das razões é bem simples: o povo é cristão e não adianta combater esse problema da forma errada, muitos acharão perfeito ter “representantes de deus” no comando da educação. Aproveitando-se do fato, Bolsonaro fez os senadores retirarem as assinaturas, o que significa que após a bolada dividida na câmara, tudo terminará em caviar.


O nosso querido Merdal (conhecido pelo vulgo merval), segue normalizando Bolsonaro na sua coluna do Globo, todos estão aceitando os péssimos hábitos e a falta de etiqueta do presidente Bolsonaro.


Bolsonaro faz aliança com Braga Neto de vice e promete trazer os militares para outro patamar. A solução para direção da Petrobrás agradou a Faria Lima, o BTG em particular. Análise do Dieese em relação aos números do IPCA divulgados pelo IBGE demonstram que os preços dos combustíveis continuam puxando a altíssima inflação no país. A culpa é do Bolsonaro, que mantém o Preço de Paridade de Importação e promove o desmonte da Petrobrás e sua privatização. Nenhuma dessas soluções muda o fato de que “os preços dos combustíveis continuam sendo as principais fontes de pressão da inflação no Brasil e prejudicam, sim, o bolso da população, que paga cada vez mais caro por produtos e serviços básicos e também sofre com o desemprego e com a falta de reajustes no salário mínimo”, afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, ao se deparar com a análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em relação ao números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE”[9].


Enquanto isso tudo acontece escancaradamente, Lula segue jogando com as forças políticas e não busca, em momento algum, outros meios de fazer campanha. Fez a esquerda entubar o Alckmin. E, infelizmente, teremos de reconhecer, isto pode ser sim o estopim de um novo golpe em caso de vitória do ex-metalúrgico, embora a questão central do PT com Alckmin não se trata de trazer, tão somente, alguém moderado para indicar que o petismo não quer nenhum radicalismo, mas sim retirar ervas daninhas do estado mais rico do país. A razão central da chapa é, pela primeira vez, colocar as mãos na unidade federada de São Paulo, o que pode não funcionar. Em tese, com São Paulo e o Brasil nas mãos seria possível reestruturar toda economia nacional e embora haja risco de golpe, o PT pensa que não haverá adesão popular, ledo engano.


O Fim da candidatura de Moro foi uma encomenda diretamente dos EUA, ele o decidiu após voltar de viagem de lá, o fez a serviço da companhia. Também ocorre agora as cassações das merdas do MBL, estes mereciam o fuzilamento, mas não devemos ser ingênuos, crer que, no Brasil, prisões de políticos se devem as suas tipificações jurídicas é uma inocência. Portanto, há incautos que acreditam que as prisões de políticos são motivadas pelos crimes cometidos. A prisão ou cassação do MBL visa fortalecer Bolsonaro [10].


Um outro fator relevante no processo eleitoral é que Bolsonaro saiu na frente da guerra de narrativas, manda e desmanda nas redes sociais. Por isso, segura mais de 30% do eleitorado. Enquanto isso, de seus concorrentes, apenas CIRO GOMES aprendeu a usar o YOUTUBE, no entanto, não diz nada que se aproveite e segue gerando votos para o bolsonaro, o que pode prejudicar a vitória no primeiro turno contra bolsonaro.


Lula patina, e o PT enfia no buraco milhões de reais de fundo partidário e potenciais de canal com uma assessoria mal orientada na melhor das hipóteses ou vendida na pior. A verdade é que o nome de Lula seria o suficiente pra ultrapassar Bolsonaro nas redes se quisesse.

Jogar parado é caminhar para derrota. O PT simplesmente não faz campanha, enquanto que Bolsonaro está em campanha todos os dias desde 2014 pelo menos. O PT age como um lutador que deixa o preparo da luta para a última hora, e acha que não há riscos de derrota contra um inimigo que todos os dias segue em treino, no nosso caso em campanha.


A linha de atuação do petismo nas redes é equivocada: não realiza monitoramento de redes; não realiza o chamado teste A/B que consiste em dividir o tráfego de uma determinada página em duas versões: a atual e uma “desafiante”; não possui uma análise rigorosa de segmentos da política nas redes sociais, e muito menos a verificação de segmentos focada em ganhar os indecisos. Sem um bom data crowler - serviço de varredura de textos que permite o monitoramento dos concorrentes -, o PT não consegue auferir o que faz os adversários no campo não tão antagônico nas redes e muito menos o inimigo. Sem o básico citado nas linhas anteriores, é impossível medir os indecisos nas redes e averiguar sua ressonância nas ruas, o que impossibilita a maior taxa de conversão positiva ao partido dos trabalhadores em relação a bolsonaro. Neste campo, é possível fazer muitas críticas ao partido, e seria necessário um texto a parte a este respeito sobre as falhas da campanha petista.


O Medo de desagradar o mercado, que não tem votos, fez e faz o pt falar menos de política, deixando o discurso "contra o sistema", ou como eles mesmos definem atualmente "contra o globalismo comunista", a cargo da demagogia que os fascistas sempre tiveram em vossas apresentações. O fascismo historicamente se apresenta como uma ruptura a um sistema de coisas quando, na realidade, querem apenas restaurar o velho regime, se possível, o feudalismo.


A recusa da discussão política leva ao fortalecimento do inimigo, sem bater nas pautas econômicas não há sucesso, a titulo de exemplo: o mercado de trabalho está desarticulado, a exploração desenfreada, os juros altos, coisa que bolsonaro pretende reverter temporariamente pra se reeleger e etc.


A massa, acredita que o problema do Brasil é a corrupção e não a crise cíclica e sistêmica. O discurso "antisistema" de bolsonaro, acusa o sistema de uma série de questões para não trabalhar de fato soluções.


Eleição não se decide só no voto, se decide no movimento político e o PT tem meios para acelerar a queda do bolsonarismo e não o faz. Acenar pro mercado e etc não está fazendo efeito. Ou caímos para cima do povo com campanha pesada aproveitando todos os erros do governo, inflação, desemprego, aumento exponencial da miséria, ou a derrota é certa. A abstenção eleitoral pode matar esquerda, como ocorreu em 2018. Por outro lado, a luta de massas não se fará sem alianças, que não implicam o abandono do programa revolucionário, apenas recuos necessários para o avanço futuro.


É preciso também ressaltar que mesmo em caso de vitória do PETISMO, não há uma garantia de possibilidade de governo, o fato de Bolsonaro ter se recomposto com tantos setores da burguesia faz o risco do ataque a manutenção do governo.


O que podemos fazer diante disto? Primeiro entender a questão no seu liame teórico e depois estabelecer uma estratégia e tática adequada. Afinal, sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária. Portanto, daqui em diante mostrarei o que faziam os revolucionários do marxismo-leninismo diante de um contexto similar. 5 são os pontos a se pensar para o momento:


1- É preciso entender que a crítica ao petismo, possui pontos de virada necessários e não devem desaparecer sob hipótese alguma, afinal a maior base eleitoral do país e da classe trabalhadora está sob hegemonia do PT. A luta de massas e nas ruas se faz necessária. Não há como fugir da necessidade de criticar o PT, nem como também só o criticar sem dialogar com vossas forças que concentram massas de milhões de trabalhadores.


2 - Não devemos rebaixar o programa comunista pautado na aplicação da teoria de Marx, Engels, Lenin, Stálin, Mao, Enver Hoxha, Ho Chi Minh, Giap, Kim il Sung, Nkrumah, Fidel, Che e outros grandes revolucionários na tentativa de dialogar com forças não comunistas que mobilizam os trabalhadores, como o petismo. No entanto, uma aliança para desempate eleitoral neste momento histórico é necessária, e sim o desempate tem que ser feito o quanto antes, uma vez que os demais partidos além do PL e PT não tem chance, e nada disso significa abrir mão de um programa revolucionário. É preciso medir como fazer alianças, a manutenção do programa e apoio crítico em uma conjuntura onde se tem um governo que quer se tornar cabo para uma ditadura fascista. Nada disso seria no caso recriminado pelo programa dos clássicos citados no parágrafo.


3 - A tática eleitoral não deve ser a única tática, mas deve ser a principal aqui, por mim abordada, porque embora frágil, é a única que, nos próximos meses, mobilizará toda a população brasileira. Embora não seja uma garantia de enfraquecimento do Bolsonarismo, que é a pior expressão da classe dominante nacional e internacional, nem toda a população brasileira está mobilizada e disposta a se engajar em outras táticas, tais como as manifestações que devem prosseguir, mas que neste momento não vão gerar atenção de todos sem um fato extraordinário...


4 - Ao fazer a aliança exclusivamente eleitoral e quem sabe, sindical, e de alianças para eleições futuras se houver com base no apoio a Lula nesta eleição, os partidos comunistas não precisam abandonar outras táticas como as clandestinas, as lutas de ruas e etc. A falta de adesão do petismo a uma ou outra tática colocada pelos comunistas não deve interferir na aliança eleitoral, é infantilidade querer que o aliado aja em tudo como os comunistas.


5 - Nossa estratégia é a elaboração da tomada do poder a longo prazo, por meio de todos os tipos de luta possíveis, e isto nas obras dos clássicos Lênin, Stálin e Mao, principalmente, chama-se guerra popular prolongada.


Por fim, tratemos agora de provar porque essas alianças são bastante plausíveis e necessárias, até do ponto de vista teórico, e não rejeitados pela doutrina comunista revolucionária, que dispensamos dizer que se trata do marxismo-leninismo e suas variantes.


Do Abstrato ao Concreto, da Teoria Revolucionária a Prática

Em termos teóricos, mais precisamente nos termos pensados por Mao Zedong, podemos dizer que Bolsonaro se rearticulou com três setores: A Burguesia Burocrática, que compõe os setores ligados a classe governante, a burguesia compradora que se traduz na classe que vive das exportações, importações e comércio de câmbio, embora uma parte significativa dessa classe nunca tenha saído totalmente do apoio ao Bolsonarismo: os latifundiários. O setor que constitui a classe do mercado financeiro é que agora volta-se totalmente para Bolsonaro, e, por fim, graças a isto, consegue retomar a articulação com o elo superior do sistema imperialista, este setor se divide entre o capital monopolista internacional e a burguesia compradora. Lembrando que a tríade: burguesia compradora, burocrática e capital monopolista internacional, nunca se desarticulam, exceto se se consegue converter uma delas por força da luta em burguesia-nacional [11]. E isto acontece porque constantemente ocorre a fusão de interesses neste momento do elo superior do sistema imperialista, da burguesia compradora e burocrática com o capital monopolista estrangeiro. A escassa burguesia nacional, e a baixa do movimento trabalhador são a principal causa que permitem este tipo de rearticulação complexa. A economia nacional, portanto, só piora. Podemos dizer que para cada número positivo aumentam-se quatro negativos. A despeito disso, o movimento sindical está paralisado e longe de poder agora exercitar uma pressão que impeça esse processo-chave, isto dependerá de no longo prazo fazer avançar a consciência de classe. A menos que algo muito forte e produtivo aconteça, que vaze algum podre da classe governante que seja intolerável para todos, que demonstre o ódio direto ao povo, esta consciência terá de ser ascendida aos poucos.


É necessário aceitar um fato que se impõe sobre nós: a sociedade brasileira possui uma consciência de classe não desenvolvida plenamente para combater o capital e, sobretudo, para se opor ao sistema imperialista. Nos termos de Marx e Engels, nosso proletariado é, majoritariamente, uma classe em si e não para si. Por consequência disto, nosso escasso movimento revolucionário, fragmentado em diversos partidos, grupos ou círculos comunistas, não é potencialmente apoiado pelas massas, levando a dificuldade de implantação de estratégias e táticas que vão além da defensiva de direitos por meio de alianças com setores não comunistas e recuos no momento presente. Trata-se de um contexto de retrocesso revolucionário ou progressista. Este contexto, conforme veremos, fora vivenciado de igual modo por Marx, Engels, Lênin e Stálin. Nosso movimento revolucionário brasileiro é escasso porque foi liquidado em batalha durante a ditadura civil-militar de 1964-1985, portanto, encontra-se em reconstrução em grupos, partidos e círculos pequenos. Nosso contexto nacional é deveras diferente do quadro nos momentos de ascensão revolucionária como, por exemplo, no começo do século XX com a revolução de outubro e ao fim da segunda guerra, período que, posteriormente, chegou a contabilizar mais de um terço do planeta vivendo sob o socialismo, outra parte no chamado “Estado de bem estar social” que, àquela altura, servia como um reflexo da concorrência capitalista com o chamado bloco socialista[12], hoje quase inexistente e, por fim, o chamado terceiro mundo que ainda amargava. Vivemos também, no Brasil, em um momento de completo refluxo ou descenso do movimento revolucionário nacional sem condições momentâneas de se realizar a chamada luta legal-ilegal. Não quero dizer que este tipo de luta é impossível, pois não é, só não temos um desenvolvimento desta forma de luta por enquanto porque, no século XXI, o fortalecimento das potências do sistema imperialista criou algumas dificuldades que, somadas a eliminação de nossa tradição militar comunista na época da ditadura civil-militar de 1964-1985, exigem uma nova forma de se fazer este tipo de operação. Não podemos abordar plenamente neste texto a questão, mas, certamente, serão objeto de assunto em outra oportunidade.

Marx e Engels, e a aliança tática com o Partido democrático

No livro “a miséria da filosofia”, Karl Marx e Friederich Engels afirmam que os indivíduos só formam verdadeiramente uma classe quando assumem a consciência da sua condição e se comprometem na luta comum. Marx e Engels chamam uma classe que alcançou essa consciência de “classe para si”; ao contrário, quando tal consciência não existe, as classes constituem apenas uma “classe em si”, incapaz de expressar reivindicações políticas coletivas. “A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum, interesses comuns. Por isso, essa massa é já uma classe diante do capital, mas não o é ainda para si mesma”[13]. Esta condição ainda é forte em nossa classe trabalhadora e isto significa que ela ainda não está organizada na luta para superar essa condição e se tornar uma classe que luta por si própria, o que sem acontecimento extraordinário não pode mudar, afinal é “Na luta de que, só assinalamos algumas fases, essa massa reúne-se, constitui-se em classe para si mesma. Os interesses que defende tornam-se interesses de classe. Mas a luta de classe com classe é uma luta política”[14]. Possivelmente, por uma extensão do fato de que é necessário, no decorrer da luta, determinado nível de racionalidade para obter a consciência de classe, pode-se dizer o mesmo da consciência de classe da pequena e média burguesia nacional, não só o proletariado se sabota sob a influência dos aparelhos hegemônicos privados, ideológicos de estado e dos meios de produção das emoções e da autofobia[15], este processo afeta também os semiproletários tanto na escala descendente(lumpesinato) quanto na escala ascendente(pequena burguesia e média burguesia nacional).


Em uma sociedade onde a consciência de classe não atingiu ainda a maturidade ideológica necessária para combater as forças do capital, cuja classe proletária está em si ainda, a aliança com setores não proletários torna-se fundamental, ainda que feita com críticas. Já no Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels indicavam a tática a ser prescrita pelos trabalhadores e comunistas alemães perante a revolução que se avizinhava. Afirmavam os pais do socialismo científico: “Na Alemanha, o partido comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes que ela age revolucionariamente, contra a monarquia absoluta e a propriedade rural feudal”. Insisto dizer, sem ressalvas, a luta por uma atividade política simultânea com a burguesia não se faz por meio de ocultar nossas bandeiras e críticas às posições vacilantes de vossos aliados que, por natureza, são conciliadores, volúveis e sem firmeza, seja na defesa dos próprios interesses, seja na defesa daqueles que admitem como aliados. Nesta época histórica, os mentores do Manifesto comunista disputavam uma encarniçada controvérsia sobre as tendências “excessivamente radicais” que saltavam sobre o território europeu, inclusive no interior da própria Liga Comunista[16].

Na Alemanha a corrente aventureira e, por isto, “excessivamente radical”, que se autoproclamava como o “verdadeiro socialismo”, direcionava os seus golpes irresponsavelmente aos liberais, às liberdades democráticas burguesas, mesmo quando a contradição principal se apresentava claramente contra os retrógrados defensores da monarquia, alegavam eles que os trabalhadores não deveriam fazer parte dessas iniciativas que nada poderia lhes dar. Estes posicionamentos, supostamente extremistas, eram úteis aos interesses da monarquia absolutista e do conservadorismo feudal alemão, por este motivo, Marx e Engels travaram duras batalhas contra esta irresponsabilidade. Fazendo um paralelo com o presente: os ataques concentrados no petismo, sua inserção no quadro de inimigo principal, levam ao mesmo problema, ou seja, são úteis ao bolsonarismo. Do mesmo modo que igualar o petismo ao bolsonarismo, gera força ao bolsonarismo. E isto ficará mais evidente conforme aprofundaremos no texto que se segue, conforme se explora os paralelos entre o passado e o presente e a forma como agiram os revolucionários em um contexto similar ao nosso:


No decorrer de setembro de 1847, criticando os “socialistas verdadeiros”, Marx os respondia da seguinte forma: “O proletariado não se pergunta se o povo é um assunto de primeira ou de segunda ordem para o burguês (…). A questão consiste em que lhes proporciona mais meios para a conquista de seus próprios fins: o regime político de dominação da burocracia ou o regime ao qual aspiram os liberais, de dominação da burguesia. Basta comparar a situação do proletariado (…) para convencer-se de que a dominação da burguesia não só põe nas mãos do proletariado armas completamente novas para a luta contra a mesma burguesia, mas também lhes cria uma situação totalmente nova: seu reconhecimento como partido”[17] (CLAUDIN, 1985:36). Assim, também advogamos que a dominação sob o regime petista não possui comparação com a realizada pelo governo bolsonarista. O regime petista, ainda que pouco, proporciona mais meios para a conquista dos fins proletários do que o governo bolsonarista, ainda que possua seu caráter conciliador e burguês. Basta comparar a situação do proletariado nos dois regimes, no petismo e no bolsonarismo, para nos convencer de que no petismo temos de alguma forma meios de colocar mais poder nas mãos do proletariado, permitindo sua organização social e um pouco mais reconhecimento como classe. A repressão em si foi menor. Em outra conjuntura seria inaceitável colocar o governo petista em defesa, mas enquanto o bolsonarismo puder ser enfraquecido pelo petismo, devemos defender aliança com o PT.


Para os pais do socialismo cientifico, a união do proletariado e os setores da burguesia liberal, que, naquele contexto, organizavam-se no partido democrático, era fundamental: sobretudo devido a condição desorganizada e incipiente da consciência proletária no período. Em outubro de 1847 escreveria Engels: “onde a democracia não tenha sido conquistada, os comunistas e os democratas lutam lado a lado, e os interesses dos democratas são também os interesses dos comunistas. Até esse momento as divergências de ambos partidos têm um caráter puramente teórico (…) sem prejuízo algum para as ações comuns” (CLAUDIN, 1985:38)[18]. Nossa democracia brasileira segue frágil, e onde a democracia segue fraca, devemos nos colocar ao lado temporário e tático das forças que querem defendê-la, já que nosso interesse comum se refere existência, e, portanto, nossa ação deve ser comum.


No período posterior a Revolução de fevereiro, na França cresceram substancialmente as discordâncias no seio dos movimentos revolucionários alemães emigrados, residentes em Paris. Uma parte postulava a organização de uma “legião revolucionária” para tomar a Prússia e libertá-la do jugo feudal e absolutista. Marx e Engels contrariaram fortemente esta ideia e diziam que os revolucionários deveriam retornar sozinhos a Alemanha ou se juntarem à luta do proletariado francês que estava próximo a realizar a sua própria revolução. Foi aí que, sem pestanejar, os esquerdistas do período, passaram a acusa de covardia e traição à revolução e de “dedicarem-se a ensinar economia política aos operários quando se tratava de ensinar-lhes o manejo das armas” (CLAUDIN, 1985:81)[19].


Outra ação de Marx e Engels foi entrar na Associação Democrática de Colônia para fortalecer o seu setor de esquerda, que era constituída por diversos sujeitos radicais da burguesia liberal, da pequena burguesia e do jovem proletariado alemão. Isto lhes custou diversas e duras críticas da parte de membros aventureiros da Liga Comunista. Foram chamados de traidores, e acusados de capitular sobre o Programa que eles mesmos elaboraram: o Manifesto do Partido Comunista [20].

Marx introduziu uma proposição para agregar ativamente as eleições e apoiar os candidatos democráticos. Novamente duras provas de relutância por parte de representantes da Associação Operária de Colônia e, também, da própria Liga Comunista foram realizadas. Em uma das ocasiões, aconteceu em reuniões da Associação, no decorrer de janeiro de 1849, Marx rebateu às críticas dos esquerdistas:


“não se trata, por agora, de atuar no plano dos princípios e sim de nos opormos ao governo, ao absolutismo e ao regime feudal, o que está ao alcance de simples democratas, e dos que se chamam liberais, que tão pouco estão satisfeitos (…) com o atual governo. É preciso tomar as coisas como elas são. Posto que, no momento, é preciso opor-se o mais possível ao absolutismo atual, uma vez estando claro que nas eleições não se pode levar o trunfo de nossas posições de princípio, o senso comum exige que nos unamos a outros partidos, igualmente de oposição, para impedir a vitória de nosso inimigo comum, a monarquia absoluta” (CLAUDIN, 1985:190)[21].

Engels representando tanto a si mesmo quanto o falecido velho Marx, posteriormente, em 1884, justificaria e defenderia as mesmas posições tomadas em 1848, o que significa que o Marx maduro e o Engels maduro continuavam a pensar naquele posicionamento para situações como a que viveram e que são similares a nossa. Assim Engels disse:


“Os operários alemães tinham que conquistar, antes de tudo, os direitos que lhes eram indispensáveis para se organizarem de modo independente, como partido de classe. (Por isso) quando fundamos na Alemanha um grande periódico, nossa bandeira não podia ser outra senão a bandeira da democracia; porém uma democracia que destacava sempre, e em cada caso concreto, o caráter especificamente operário que ainda não podia estampar de uma vez para sempre em seu estandarte. Se não houvéssemos procedido desse modo, se não houvéssemos aderido ao movimento, incorporando-nos àquela ala que já existia – que era a mais progressista e que, no fundo, era uma ala proletária, para impulsioná-la para frente –, não nos teria sobrado outro remédio senão pormo-nos a predicar o comunismo em algum jornalzinho local e fundar, em vez de um grande partido de ação, uma pequena seita. Porém o papel de pregadores no deserto não nos caía bem; havíamos estudado demasiado bem os utopistas para cair nisso. Não era para isso que havíamos traçado nosso Programa”.[22]

Marx e Engels, repugnariam, a pensar a partir do comentário acima, o que faz uma parte significativa do movimento comunista atual que, por seu sectarismo exacerbado, mesmo diante de alguém com confesso grau de fascismo[23], negam a possibilidade de aliança tática contra um pensamento que, entre outras coisas mais, quer ressuscitar a monarquia, voltar aos tempos do racismo científico e que, portanto, em caso de vitória, poderá ganhar fôlego para a proposta.


Avaliando o comportamento da esquerda comunista atual, percebemos que a estrutura atual do pensamento de esquerda, em geral, não apenas ignora os pais do socialismo científico, mas seus continuadores mais proeminentes. E infelizmente, esta tendência sectária e formadora de seitas, não é mais exclusividade do Trotskismo, encontrando adeptos nos defensores de “Lênin e Stálin”, no “Maoismo” e no “Hohxaismo”.

Lênin o esquerdismo, a luta parlamentar e a questão das Frentes únicas

A nós, que pretendemos tornar realidade o Leninismo, ainda que com nossas características próprias, cabe apenas fugir do sectarismo apresentados pelas aplicações de alguns segmentos de nosso movimento. Por isto, devemos ter em mente um resumo das posições de Lênin sobre a questão de quando e como se aliar com setores não comunistas. Isto pode ser traduzido no apoio a setores liberais da burguesia como contra as forças mais reacionárias. Sobre isso Lênin disse:


"Desde 1905 os bolcheviques defenderam sistematicamente a aliança da classe operária com os camponeses contra a burguesia liberal e o czarismo sem negar-se nunca, ao mesmo tempo, a apoiar a burguesia contra o czarismo (na segunda fase das eleições ou nos empates eleitorais, por exemplo) e sem interromper a luta ideológica e política mais intransigente contra o partido camponês revolucionário-burguês, os "social-revolucionários", que eram denunciados como democratas pequeno-burgueses que falsamente se apresentavam como socialistas."[24]

Nada indica que nosso contexto, exista segunda fase de fato para as eleições, uma vez que todas as pesquisas científicas e prévias indicam votos apenas a LULA e BOLSONARO. Negar isso, seria negar em partes a ciência.


Além disso, o rol citado por Lênin acima é meramente exemplificativo, isto significa que, dessa forma, a lista segue em aberto para que outros casos sejam inseridos no referido rol a depender da conjuntura concreta de cada país, sendo este rol passível de interpretação. Se Lênin quisesse esgotar a questão teria afirmado, taxativamente, que tal aliança seria possível “apenas” naqueles casos. Por outro lado, Lênin também não diz que contra o czarismo só podemos nos aliar com a "pequena burguesia", isto é, com os semiproletários, assim ele está se referindo a burguesia no sentido amplo do termo. Um outro exemplo parecido para Lênin se refere ao Partido Trabalhista Britânico. Este partido sempre guardou semelhanças programáticas com o partido dos trabalhadores. Lênin afirmava que Henderson, dirigente do partido trabalhista, era centenas de vezes mais intragável que os mencheviques, tratava-se de um deplorável adorado da segunda internacional. No entanto, Lênin foi bem enfático em relação a aliança com ele contra Churchill:

“os comunistas ingleses devem participar do parlamentarismo, devem ajudar a massa operária de dentro do parlamento a ver na prática os efeitos do governo dos Henderson e dos Snowden, devem ajudar os Henderson e Snowden a derrotarem a coalizão de Lloyd George e Churchill. Proceder de outro modo significa dificultar a marcha da revolução, pois se não se produz uma modificação nas opiniões da maioria da classe operária, a revolução torna-se impossível; e essa modificação se consegue através da experiência política das massas, e nunca apenas com a propaganda. A palavra de ordem: “Avante sem compromissos, sem desviar-se do caminho!” é claramente errada, se quem a propala é uma minoria evidentemente impotente de operários que sabe (ou, pelo menos, deve saber) que dentro de pouco tempo, no caso de, Henderson e Snowden triunfarem sobre Lloyd George e Churchill, a maioria perderá a fé - em seus chefes e apoiará o comunismo (ou, em todo caso, adotará uma atitude de neutralidade e, em sua maioria, de neutralidade simpática em relação aos comunistas). É a mesma coisa que se 10.000 soldados se lançassem ao combate contra 50.000 inimigos no momento em que é necessário “deter-se”, “afastar-se do caminho”, e até concertar um “compromisso” para esperar a chegada de um reforço prometido de 100.000 homens, que não podem entrar em ação imediatamente. É uma infantilidade própria de intelectuais e não uma tática séria da classe revolucionária.”[25]

De acordo com o raciocínio de Lênin, naquele momento, erguer Henderson, derrubaria, tanto ele quanto Churchill. E Lênin classificava Henderson do seguinte modo: “reacionário irrecuperável”. Se olharmos criticamente, o mesmo raciocínio se aplica ao PT, uma vez que ambos os partidos são de origem social-democrata e com os mesmos desvios, só há uma diferença conjuntural, é bem possível que Bolsonaro seja muito pior ao povo brasileiro que Churchill era para o povo inglês.


Outro tipo de aliança que Lênin constantemente se refere e até de maneira cronológica, se faz presente na união e conciliação temporária com os inimigos secundários: nisto inclusive os setores, pequeno burgueses e etc. Assim ele prossegue:


"Em 1917, os bolcheviques constituíram, por pouco tempo, um bloco político formal com os "social-revolucionários" para as eleições da Duma. Com os mencheviques, estivemos formalmente durante vários anos, de 1903 a 1912, num partido social-democrata único, sem interromper nunca a luta ideológica e política contra eles como portadores da influência burguesa no seio do proletariado e como oportunistas."[26]

É preciso lembrar que o programa dos mencheviques por vezes cedia apoio aos cadetes, a burguesia da monarquia constitucional e liberal. Lênin sabia disso, no entanto, mesmo de posse dessa informação, ele buscou alianças quando foi necessário. Lênin continua sua exposição que mais tarde inspirará as frentes únicas e populares:


"Durante a guerra assumimos uma espécie de compromisso com os "kautskistas", os mencheviques de esquerda (Martov) e uma parte dos "socialistas-revolucionários" (Chernov, Natanson). Assistimos com eles às conferências de Zimmerwald e Kienthal e lançamos manifestos conjuntos, mas nunca interrompemos nem atenuamos a luta política e ideológica contra os "kautskistas", contra Martov e Chernov. "[27]

Pois bem, não se pode ter dúvidas, que o contexto acima é muito semelhante ao que antecede a segunda guerra. Mesmo depois da implantação da transição para o socialismo Lênin continuou acreditando na validade dos blocos de conciliação temporária, evidentemente que não sem travar a luta ideológica ou liberdade de crítica, assim ele diz:


"No momento da Revolução de Outubro fizemos um bloco político, não formal, mas muito importante (e muito eficaz) com o campesinato pequeno-burguês, aceitando na íntegra, sem a mais leve modificação, o programa agrário dos social-revolucionários, isto é, contraímos um compromisso indubitável para provar aos camponeses que não nos queríamos impor e sim chegar a um acordo com eles."[28]

Um processo contra o desenvolvimento nacional é posto em prática por parte da burguesia brasileira que, cada vez mais, assim como o próprio proletariado, principalmente após o fim da lei de reserva de mercado, definha-se e volta a ser um projeto e não uma classe organizada, como definiu Lênin, em sua obra o desenvolvimento do capitalismo na Rússia[29].


Essencialmente o fundamento de Lenin afirma que a reforma da década de 1860, na Rússia, foi uma reforma de tipo capitalista. O capitalismo ali ainda era incipiente, e após a reforma houve uma transformação social que levou parte do campesinato e dos produtores manufatureiros a se transformar em burguesia. Ele explica substancialmente que as condições para o capitalismo precisaram ser criadas antes que as relações de trabalho capitalistas pudessem existir, o que significa que tanto o proletariado quanto a burguesia nacional tiveram de ser projetadas antes de existirem. Essa compreensão avançou muito após a revolução de outubro. É preciso, portanto, que os dois projetos sejam criados e as condições para tal também.


Foi pensando nisto, na criação de um projeto proletário e anti-imperialista que, em seu “relatório sobre as questões nacionais e coloniais no II Congresso da Internacional Comunista, Lenin enfatizou a importância primordial de fazer ”a distinção entre nações oprimidas e nações opressoras”. Ele acreditava que nisso residia a diferença fundamental entre a Internacional Comunista, por um lado, e a Segunda Internacional e a democracia burguesa, por outro. Visto deste ângulo, Lenin apontou: “A Internacional Comunista deve entrar em uma aliança temporária com a democracia burguesa nos países coloniais e atrasados, mas não deve se fundir com ela, e deve preservar incondicionalmente a independência do movimento proletário, mesmo em sua forma mais rudimentar”[30]. Stalin desenvolveu esta brilhante teoria de Lenin sobre as peculiaridades da revolução nos países coloniais e semicoloniais. Ele apontou claramente a dupla tarefa de oposição ao feudalismo e oposição ao imperialismo no movimento revolucionário do povo chinês, com ênfase no “aguçamento da luta contra o imperialismo”[31]. Ele concluiu assim que uma aliança com a burguesia nacional era permitida sob certas condições. Ou seja, tanto Lênin quanto Stálin, depois Mao Zedong e o restante do leninismo nos autorizam a uma política de alianças e apoios táticos, desde que não se perca de vista o projeto revolucionário normalmente de médio ou longo prazo.


A tática de frente única, que aparece na obra de Lênin a partir de 1921, foi um dos contributos oriundos da evolução do bolchevismo e do desenvolvimento de seu método que, desta vez, transgrediu as barreiras nacionais russas, sendo proposto como tática aplicável a depender das circunstâncias concretas e, posteriormente, ganha o Status de princípio do marxismo-leninismo. Pode-se dizer que em “o esquerdismo doença infantil do comunismo”, Lênin deu diversas demonstrações de que os princípios da frente única e de suas alianças com setores não comunistas, reformistas, e até mesmo com a burguesia, são práticas reiteradas pelos comunistas russos há tempos. É preciso perceber que este pensamento original é dialético porque embora seja único, sua inovação deriva de uma interpretação bastante ortodoxa das obras de Marx e Engels conforme vimos anteriormente. Uma frente única é uma aliança de grupos distintos contra seus inimigos comuns, evocando figurativamente a unificação de frentes geográficas anteriormente separadas e/ou a unificação de exércitos anteriormente separados em uma frente. O nome muitas vezes se refere a uma luta política e/ou militar realizada por revolucionários ou grupos que desejaram frear os interesses da máxima burguesia que se encontra no elo superior do sistema imperialista. Com o tempo, a ideia ganhou abrangência e amplitude na aplicação segundo o qual a aliança depende de alguns fatores em especial: o critério subjetivo: o nível de consciência de classe do povo pouco desenvolvido pra apoiar a revolução. O critério objetivo: o baixo poder e tamanho débil do partido ante as massas, isto é, a falta de poder para vencer o inimigo na correlação de forças sem necessidade de alianças. E, por fim, o critério conjetural: estarmos em um período de fluxo ou refluxo do movimento revolucionário. Por fluxo revolucionário devemos entender a ascensão do movimento revolucionário qualitativa e quantitativamente. E por refluxo revolucionário entendemos o extremo oposto: um quadro de derrotas das organizações revolucionárias e suas forças que podem levar a autofobia e outros problemas já trabalhados. Por estes três critérios é que se determina a amplitude das frentes e a abrangência dos aliados.


De início, a mais aceitável política de frente única continha, de acordo com Lênin, disposições para a ação “conjunta com os trabalhadores da Segunda Internacional proposta por vários partidos comunistas da Internacional Comunista e introduzida por Zinoviev, Radek e Bukharin”[32]. Assim, “Esta última deve ser dirigida dentro de dois dias para estabelecer claramente esta linha em um projeto de resolução a ser circulado entre os membros do Politbureau”[33]. Lênin assim preconiza “que o camarada Bukharin seja dirigido a escrever e mostrar ao Politbureau um artigo resumindo a experiência do P.C.R. na luta dos bolcheviques contra os mencheviques e os blocos entre eles”[34].


O Contexto histórico no qual este esboço foi escrito, insere-se “em conexão com a discussão do Politburo em 1º de dezembro de 1921, sobre a questão da tática de uma frente operária única”[35]. Sem dúvida, as “propostas de Lenin foram adotadas. Eles formaram a base das teses do Executivo do Comintern “Sobre a Frente Única dos Trabalhadores e a Atitude para com os Trabalhadores da II, e da Segunda Internacional um e meio, além da Internacional de Amsterdã, bem como os Trabalhadores que Apoiam as Organizações Anarco-Sindicalistas”[36]. Sobre as observações de Lenin sobre as teses, pode-se verificar a página 368 do volume 42 das obras completas de Lênin. A obra também foi publicada em vários outros periódicos e revistas[37] [38]. Posteriormente Lênin repete o mesmo raciocínio deste texto em outro[39].


Ao trabalhar a questão da conciliação com os reformistas Lênin estipulou uma série de Políticas a serem consideradas.


“A lista de questões a serem tratadas na reunião deve ser considerada de antemão e elaborada de acordo com cada uma das partes participantes da reunião. De nossa parte, devemos incluir nesta lista somente perguntas que tenham relação direta com a ação conjunta prática das massas trabalhadoras e que abordem assuntos reconhecidos como indiscutíveis na declaração oficial à imprensa de cada um dos três participantes. Devemos explicar longamente as razões pelas quais nos limitamos a tais questões, no interesse de uma frente unida. No caso da fraternidade amarela levantar questões de política, como nossa atitude em relação aos Mencheviques, a questão da Geórgia, etc., devemos adotar estas táticas: 1) declarar que a lista de questões só pode ser elaborada por decisão unânime dos três participantes; 2) declarar que na elaboração de nossa lista de questões fomos guiados exclusivamente pelo desejo de unidade de ação das massas trabalhadoras, unidade que poderia ser alcançada imediatamente mesmo sob diferenças políticas profundas existentes; 3) declarar que concordamos plenamente com questões como nossa atitude para com os Mencheviques, a questão da Geórgia e quaisquer outras questões levantadas pelos membro da Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional, desde que concordem que as seguintes questões sejam levantadas: 1) a atitude renegada das Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional ao Manifesto de Basiléia; 2) cumplicidade desses mesmos partidos no assassinato de Luxemburgo, Liebknecht e outros comunistas da Alemanha através dos governos burgueses que esses partidos apoiam; 3) atitude semelhante desses partidos ao assassinato de revolucionários nas colônias pelos partidos burgueses que as Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional apoiam, etc. , etc. Devemos preparar previamente uma lista, destas e outras questões semelhantes e também preparar previamente teses e palestrantes sobre várias questões importantes desta natureza.”
Devemos encontrar ocasião para declarar oficialmente que consideramos as Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional apenas como participantes inconsistentes e vacilantes de um bloco com a burguesia mundial contrarrevolucionária, e que concordamos em participar de uma reunião na frente unida, a fim de alcançar uma possível unidade prática de ação direta por parte das massas e para expor o erro político de toda a posição das Segunda internacional e II Segunda e Meia Internacional , assim como estes últimos concordaram em participar de uma reunião conosco, a fim de alcançar a unidade prática da ação direta das massas e expor o erro político de nossa posição.
Lênin[40]

Lênin em momento algum disse que era necessário conciliar com os programas ou ideias dos reformistas ou abandonar a crítica, no entanto, não resta dúvidas de que ele via a necessidade da aliança para a revolução nos demais países com os reformistas, sem que isto o fizesse cair a reboque.


Em outra ocasião, ainda sobre as frentes únicas, Lênin colocou uma questão fundamental: segundo o qual as ações práticas que visam um avanço ou progresso para os trabalhadores, devem evitar ofensas morais desnecessárias que, embora cabíveis, poderiam colocar em risco a aliança. Em uma carta para Molotov, Lênin disse as seguintes palavras:


Proponho as seguintes emendas ao projeto de resolução enviado por Zinoviev a respeito da participação do Comintern na conferência planejada de todos os partidos de trabalhadores do mundo. Após as palavras: "unidade de ação entre as massas de trabalhadores que poderia ser alcançada imediatamente, apesar das diferenças políticas fundamentais", as frases seguintes devem ser eliminadas até as palavras: "que as massas operárias exigem unidade de ação". A frase que começa com estas últimas palavras deve ser reformulada da seguinte forma: "os trabalhadores conscientes da classe, que estão perfeitamente conscientes destas diferenças políticas, contudo, junto com a grande maioria dos trabalhadores, desejam e exigem unidade de ação em questões práticas mais urgentes e próximas aos interesses dos trabalhadores. Não pode haver dúvidas sobre isso agora na mente de qualquer pessoa conscienciosa" e assim por diante.
Minha segunda emenda é que a frase começa com as palavras: "todas as questões controversas a serem evitadas e questões que não estão abertas a discussão a serem trazidas à tona" deve ser emendada como segue: "e embora adiando por um tempo as questões mais controversas e trazendo em foco as menos controversas, ambos os lados, ou melhor, as três organizações internacionais que participam da conferência, naturalmente contarão com a vitória final de seus pontos de vista".
Minha emenda principal visa eliminar a passagem que chama os líderes da Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional de cúmplices da burguesia mundial. Você pode chamar um homem de "idiota", mas é absolutamente irracional arriscar destruir um caso de tremenda importância prática para dar a si mesmo o prazer extra de repreender malandros, a quem estaremos repreendendo mil vezes em outro lugar e hora. Se ainda houver pessoas na reunião ampliada do Executivo que não compreenderam que a tática da frente unida nos ajudará a derrubar os líderes da Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional, essas pessoas deveriam ter um número extra de palestras e palestras populares lidas para eles. Talvez seja necessário ter um panfleto especialmente popular escrito para eles e publicado em francês, digamos, se os franceses ainda não entenderam a tática marxista. Finalmente, era melhor adotar esta resolução, não por unanimidade, mas por uma maioria (aqueles que votaram contra, nós faríamos um curso especial, completo e popular de esclarecimento) do que correr o risco de estragar um caso prático em prol de alguns jovens políticos que amanhã estarão curados de sua desordem infantil.
Lênin[41]

Algumas das posições de Lênin sobre as frentes únicas, sugerem que seu tempo de existência só pode se realizar em um período de longa duração, podendo durar até depois da própria revolução. O objetivo tático a ser conquistado com essa política de aliança consiste em: “atrair massas de trabalhadores para a luta contra o capital, mesmo que isso signifique fazer repetidas ofertas aos líderes das Segunda Internacional e da Segunda e Meia Internacional para travar essa luta em comunhão” [42]. Neste sentido, as frentes podem ser, em sua amplitude, restritas, ou ainda, extintas:


“Quando a maioria dos trabalhadores estabelecer sua representação de classe, isto é, a representatividade soviética[43], e não apenas como uma delegação “nacional geral” (isto é, em comum com a burguesia). Derrubando o domínio político da burguesia, então as táticas da frente unida, naturalmente, não podem exigir cooperação com partidos como o dos Mensheviques (o POSDR") e o S.R.s (o "Partido dos Socialistas-Revolucionários"), pois estes se revelaram opositores do poder soviético. A influência sobre as massas da classe trabalhadora sob o domínio soviético tem que ser estendida não buscando cooperação com os Mencheviques e S.R.s, mas da maneira mencionada acima.[44]


Como se vê acima, Lênin considera que a tática de frente única, deve durar até depois da revolução, ainda que sem cooperação com os partidos citados. O Critério para o fim da aliança, seria a falta de apoio dos aliados ao poder proletário já instaurado.


É notório que no período de alianças, Lênin afirma que é necessário não incutir medo nos trabalhadores que ainda apoiam os reformistas e revisionistas. Assim ele diz:


A crítica à política da Segunda Internacional e da Segunda e Meia Internacional deve agora ter um caráter um pouco diferente, a saber, esta crítica (especialmente em reuniões com a presença de trabalhadores que apoiam a Segunda Internacional ou a Segunda Internacional e meio, e em folhetos e artigos especiais escrito para eles) deve tender a ser de natureza esclarecedora, feita com particular paciência e meticulosidade, de modo a não assustar esses trabalhadores com palavras duras, e trazer para eles as contradições irreconciliáveis ​​entre as palavras de ordem que seus representantes adotaram em Berlim (por exemplo, a luta contra o capital, a jornada de oito horas, a defesa da Rússia soviética, a ajuda aos famintos) e toda a política reformista[45].

No entanto, é importante ponderar algumas questões: Lenin avisou que era uma ilusão supor que trabalhadores poderiam ganhar o poder por meios parlamentares. Este foi um dos principais problemas entre ele e os revisionistas de sua época, ou seja, o fato de que Kautsky e companhia abriram mão do projeto revolucionário. No entanto, o oportunismo e os programas ruins do revisionismo não justificam, segundo Lenin, a falta de participação nas eleições ou a alianças pontuais com estes setores, declarações de voto, apoio eleitoral e etc. Para o maior revolucionário do século XX, enquanto não se tem forças para dissolver o parlamento burguês é nosso dever atuar nele tanto dentro como fora. Lênin dizia:

“Enquanto não tivermos força para dissolver o parlamento burguês, devemos atuar contra ele de fora e de dentro. Enquanto um número considerável de trabalhadores — não só os proletários, mas também semiproletários e pequenos camponeses — tenham fé nos instrumentos democrático-burgueses de que se serve a burguesia para enganar os operários, devemos denunciar esse engano precisamente da tribuna que as camadas atrasadas de operários e, em particular, das massas trabalhadoras não proletárias, consideram como a tribuna mais importante e mais autorizada. Enquanto os comunistas não tiverem força para tomar o poder do Estado e fazer com que só os trabalhadores elejam as suas sovietes contra a burguesia, enquanto a burguesia disponha do poder estatal, convocando às eleições as diferentes classes da população, temos o dever de participar nas eleições para realizar a agitação entre todos os trabalhadores, e não exclusivamente entre os proletários. Enquanto no parlamento burguês enganem os operários, ocultando, com frases sobre a «democracia», as fraudes financeiras de todo o género de subornos (em nenhum lugar a burguesia pratica com tanta amplitude, como no parlamento burguês, o suborno demasiadamente «sutil» de escritores, deputados, advogados, etc.), os comunistas têm o dever de desmascarar sem descanso o logro, de desmascarar toda a mudança de posição dos Renner & Cia., cada vez que se coloquem ao lado dos capitalistas contra os operários. Fazer este trabalho de desmascaramento da própria tribuna desta instituição que supostamente expressa a vontade do povo, mas que de facto serve para encobrir a burla do povo pelos ricos. É precisamente no parlamento que as relações entre os partidos e fracções burguesas assumem maior relevo e refletem as relações entre todas as classes da sociedade burguesa. Por isso, justamente no parlamento burguês, dentro dele, devem os comunistas esclarecer ao povo a verdade sobre a atitude das classes frente aos partidos, sobre a atitude dos latifundiários perante os jornaleiros, dos camponeses ricos perante os camponeses pobres, do grande capital frente aos empregados e pequenos proprietários, etc.”[46]

Estratégia e Tática em Lênin, Stálin e Mao: a Revolução por Etapas

Há tempos alerto que devemos nos ater aos princípios leninistas de confecção de alianças ou de apoio eleitoral puro e simples. Isto deriva do fato de que em qualquer conjuntura é impossível vencer todos os inimigos do proletariado de um só golpe, é preciso fazê-lo por etapas. Lênin afirmava: "O proletariado deve levar a termo a revolução democrática unindo a si a massa dos camponeses, para esmagar pela força a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia"[47].


É preciso compreender a ideia proposta por Lênin e reiterada por Stalin de que a revolução se faz em etapas. Inicialmente, principalmente no Brasil, “essa ideia foi ignorada. Ao menos até meados de 1928, quando se passou a discuti-la com mais afinco. Mas, mesmo quando adotada, entendeu-se a mesma de forma deficiente. A leitura de que era necessário passar por uma etapa de revolução burguesa para apenas depois realizar a revolução socialista era uma leitura mecânica”[48]. Não se compreendeu no Brasil dos anos 20 e 30 que “Passar pela etapa” não explica com que forças sociais[49]. Normalmente, confundem-se “duas questões completamente diferentes: a nossa participação numa das fases da revolução democrática e a revolução socialista”[50].


É por isto que “Só os mais ignorantes podem não tomar em consideração o carácter burguês da revolução democrática [...] só os mais cândidos otimistas podem esquecer como as massas operárias conhecem ainda pouco os fins do socialismo e os métodos para o realizar”[51]. E no Brasil esta é a realidade. Assim, segundo a ideia proposta por Lênin, “Quem quiser chegar ao socialismo por outro caminho que não seja o da democracia política, chegará inevitavelmente a conclusões absurdas e reacionárias, tanto no sentido econômico como no político”[52]. A luta que Lênin se propõe a colocar, sem esquecer dos objetivos totais, faz-se não pelo cumprimento imediato do programa máximo, o comunismo, mas aos poucos, em fases. Ele afirma:


“Se num momento determinado alguns operários nos perguntarem porque não realizamos o nosso programa máximo, responderemos indicando-lhes como estão ainda longe do socialismo as massas do povo impregnadas de espírito democrático, como se encontram ainda pouco desenvolvidas as contradições de classe, como estão ainda desorganizados os proletários. Tentai organizar centenas de milhares de operários em toda a Rússia, difundir entre milhões a simpatia pelo vosso programa! Experimentai fazer isso, não vos limitando a frases anarquistas sonoras mas ocas, e vereis imediatamente que alcançar esta organização, difundir esta educação socialista, depende da realização mais completa possível das transformações democráticas.”[53]

Há diversas passagens na obra de Lênin que se recusa por completo a ideia do chamado “antietapismo”. Ou seja, a ideia de que a Transição pode ser direta para o Socialismo, sem a necessidade de se efetivar as tarefas democrático-burguesas:


Das premissas de que a revolução democrática ainda não é de modo algum socialista, de que não «interessa» só e exclusivamente aos não-possidentes, de que as suas raízes profundíssimas se encontram nas necessidades e nas exigências inelutáveis de toda a sociedade burguesa no seu conjunto, destas premissas nós tiramos a conclusão de que a classe avançada deve estabelecer as suas tarefas democráticas com tanto maior audácia, deve formulá-las com tanto maior precisão até ao fim, apresentar a palavra de ordem direta de república, propagandear a ideia da necessidade do governo provisório revolucionário e de esmagar implacavelmente a contrarrevolução. E os nossos contraditores, os neo-iskristas, deduzem destas mesmas premissas a conclusão de que não há que formular até ao fim as conclusões democráticas, de que entre as palavras de ordem práticas se pode prescindir da de república, de que se pode não propagandear a ideia da necessidade do governo provisório revolucionário, de que se pode qualificar de vitória decisiva mesmo a resolução de convocar a assembleia constituinte, de que se pode não defender a palavra de ordem de combate à contrarrevolução como nossa tarefa ativa, mas afogá-la numa alusão nebulosa (e formulada erradamente, como veremos mais adiante) ao “processo de luta recíproca”. Esta não é uma linguagem própria de políticos, mas sim de ratos de arquivo![54]

Segundo Lênin é de interesse de todas as classes e grupos oprimidos que se leve a termo toda a revolução democrática. Com base na realidade que via na Rússia, ele teria escrito:


Os marxistas estão absolutamente convencidos do carácter burguês da revolução russa. Que significa isto? Isto significa que as transformações democráticas no regime político e as transformações econômico-sociais, que se converteram numa necessidade para a Rússia, não só não implicam por si o minar do capitalismo, o minar da dominação da burguesia, mas, pelo contrário, desbravarão pela primeira vez realmente o terreno para um desenvolvimento vasto e rápido, europeu e não asiático, do capitalismo e, pela primeira vez, tornarão possível a dominação da burguesia como classe. [...] Mas, disto, não decorre, de forma alguma, que a revolução democrática (burguesa pelo seu conteúdo econômico-social) não seja de enorme interesse para o proletariado. Disto não decorre, de maneira nenhuma, que a revolução democrática não possa processar-se tanto de uma forma vantajosa principalmente para o grande capitalista, para o magnate financeiro, para o latifundiário «esclarecido», como de uma forma vantajosa para o camponês e para o operário.[55]

Como já foi afirmado, o proletariado deve tomar a frente do processo da revolução não importando qual é a sua etapa.


A própria situação da burguesia, como classe na sociedade capitalista, gera inevitavelmente a sua inconsequência na revolução democrática. A própria situação do proletariado, como classe, obriga-o a ser democrata consequente. A burguesia, temendo o progresso democrático que ameaça fortalecer o proletariado, volta os olhos para trás. O proletariado nada tem a perder a não ser as suas cadeias, mas, com a ajuda da democracia, tem todo o mundo a ganhar. Por isso, quanto mais consequente for a revolução burguesa nas suas transformações democráticas tanto menos se limitará ao que é vantajoso exclusivamente para a burguesia. Quanto mais consequente for a revolução burguesa tanto mais garantirá as vantagens do proletariado e do campesinato na revolução democrática.
O marxismo ensina o proletariado não a ficar à margem da revolução burguesa, não a ser indiferente a ela, não a entregar a sua direção à burguesia, antes pelo contrário, a participar nela do modo mais enérgico, a lutar do modo mais decisivo pela democracia proletária consequente, para levar até ao fim a revolução.[56]

Nenhuma revolução, pode se efetivar só de vanguarda proletária. É contra este apelo que em parte Lênin se dirige quando afirma:


Além disso, a tomada do poder (mesmo parcial, episódica, etc.) pressupõe evidentemente a participação não só da social-democracia e não só do proletariado. Isto é devido a que não é somente o proletariado que está interessado na revolução democrática e que participa ativamente da mesma. Isto é devido a que a insurreição é «popular», como se diz no início da resolução que examinamos, que nela participam também “grupos não proletários” (expressão da resolução dos conferencistas sobre a insurreição), isto é, também a burguesia. [...] Uma das objeções contra a palavra de ordem da “ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato” consiste em que a ditadura pressupõe a “unidade de vontade” (Iskra, n.º 95), e a unidade de vontade entre o proletariado e a pequena burguesia é impossível. Esta objecção é inconsistente, porque se baseia numa interpretação abstrata, “metafísica”, da noção de “unidade de vontade”. A vontade pode ser única num sentido e não ser única noutro. A ausência de unidade nas questões do socialismo e na luta pelo socialismo não exclui a unidade de vontade nas questões da democracia e na luta pela república. Esquecer isto significaria esquecer a diferença lógica e histórica entre a revolução democrática e a socialista. Esquecer isto significaria esquecer o carácter da revolução democrática como sendo de todo o povo: se é de todo o povo significa que «unidade de vontade», exatamente na medida em que esta revolução satisfaz as necessidades e as exigências de todo o povo. Para além dos limites da democracia, nem sequer se põe a questão da unidade de vontade entre o proletariado e a burguesia camponesa. A luta de classes entre eles é inevitável, mas, no terreno da república democrática, esta luta será a luta popular mais profunda e mais vasta pelo socialismo. A ditadura revolucionaria democrática do proletariado e do campesinato tem, como tudo no mundo, o seu passado e o seu futuro. O seu passado é a autocracia, o regime de servidão, a monarquia, os privilégios. Na luta contra este passado, no combate à contrarrevolução, é possível a “unidade de vontade” do proletariado e do campesinato, pois existe unidade de interesses.[57]

Uma das questões contra a palavra de ordem da “frente popular contra o fascismo/bolsonarismo”, do mesmo modo que na questão abordada por Lênin acima, salienta que a aliança, com setores não proletários, presume a “unidade de vontade” e de “ação” entre o proletariado e os setores não proletários de centro esquerda da burguesia. “Isto seria, por princípio, impossível”, é o que argumenta parte da esquerda. Esta colocação é vacilante, visto que se estrutura numa leitura antidialética e, logo, “metafísica”, da noção de “unidade de vontade e ação”. A vontade e a ação podem ser únicas por um lado e não serem por outro. É claro que o PT, e as forças antibolsonaristas, não podem compor a unidade nas questões do socialismo e na luta pelo socialismo, mas isto não exclui a unidade de vontade e ação nas questões da defesa da democracia, ainda que burguesa, e na luta pela manutenção da república, da defensiva de direitos e eleitoral. Perder isto de vista significaria esquecer a diferença lógica histórica entre as tarefas democráticas necessárias para, no longo prazo, avançar a revolução democrática e, depois, para a revolução socialista. Esquecer isto, pujando ao sectarismo, significaria esquecer que, no Brasil, sequer existiu uma revolução democrático-nacional, e que o caráter da revolução democrática como sendo de todo o povo: significa que todo o povo participa numa “unidade de vontade”, precisamente na medida em que esta revolução satisfaz as necessidades e as exigências de todo o povo. Para além dos limites da democracia, nem sequer se põe a questão da unidade de vontade entre o proletariado e a burguesia. A luta de classes entre eles é inevitável, mas, no terreno da república democrática, esta luta será a luta popular mais profunda e mais vasta pelo socialismo, que não será alcançada se o bolsonarismo permanecer no governo.


Lênin afirmava, e devemos fazer o mesmo, que não “se deve nunca esquecer, nem por um instante, a inevitabilidade da luta de classe do proletariado pelo socialismo, mesmo contra a burguesia e a pequena burguesia mais democráticas e republicanas”[58]. Segundo Lênin isto não é sequer questionável. “Daí decorre a necessidade absoluta de que a socialdemocracia tenha um partido próprio, independente e rigorosamente de classe. Daí decorre o carácter temporário da nossa palavra de ordem de “bater juntamente” a burguesia, o dever de vigiar rigorosamente “o aliado, como se fosse um inimigo”[59], etc. “Tudo isto não oferece também a menor dúvida. Mas seria ridículo e reacionário esquecer, ignorar ou menosprezar, por causa disso, as tarefas essenciais do momento, mesmo que sejam transitórias e temporárias”. E é este entendimento de agora que falta no juízo de boa parte dos comunistas na nossa conjuntura. “A luta contra a autocracia”, a nossa é o bolsonarismo, “é uma tarefa temporária e transitória dos socialistas, mas ignorar ou menosprezar em qualquer medida esta tarefa equivale a trair o socialismo e a servir a reação”[60]. E é justamente a serviço da reação que estão todos aqueles que são contra uma frente neste momento histórico e contra o voto no único candidato com capacidade de derrotar nas urnas a família Bolsonaro. “A ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato é indiscutivelmente apenas uma tarefa transitória e temporária dos socialistas, mas ignorar esta tarefa na época da revolução democrática é abertamente reacionário”[61].


É bom recordar uma carta de Engels a Turati, na qual Engels advertia o chefe dos reformistas italianos que não embaralhasse a revolução democrática e a socialista no mesmo jogo de cartas. A revolução próxima na Itália — escrevia Engels referindo-se à situação política da Itália em 1894 — será pequeno-burguesa, democrática, e não socialista.


O Partido Socialista da Itália é obviamente muito jovem e, considerando toda a situação econômica, muito fraco, para poder esperar uma vitória imediata do socialismo. (...)

No caso de um sucesso mais ou menos pacífico, haverá uma mudança de ministério e os republicanos "convertidos" chegarão ao topo; no caso de uma revolução, a república burguesa triunfará.

Qual deve e deve ser a atitude do Partido Socialista diante dessa situação? As táticas que, desde 1848, trouxeram o maior sucesso aos socialistas são as recomendadas pelo Manifesto Comunista: o movimento como um todo... Eles lutam pela consecução dos objetivos imediatos, pela efetivação dos interesses momentâneos da classe trabalhadora, mas no movimento do presente eles também representam e cuidam do futuro desse movimento".

Consequentemente, eles participam ativamente de todas as fases do desenvolvimento da luta entre as duas classes, sem perder de vista que essas fases são apenas alguns passos preliminares para o primeiro grande objetivo: a conquista do poder político pelo proletariado como meio para uma nova organização da sociedade. Seu lugar é ao lado daqueles que lutam pela conquista imediata de um avanço, que é ao mesmo tempo do interesse da classe trabalhadora. Eles aceitam todos esses passos políticos ou sociais progressistas, mas apenas como parcelas. Por isso, consideram cada movimento revolucionário ou progressista um passo adiante na consecução de seu próprio fim; e é sua tarefa especial levar outros partidos revolucionários cada vez mais longe e, no caso de um deles ser vitorioso, proteger os interesses do proletariado. Essas táticas, que nunca perdem de vista o último grande objetivo final, preservam-nos, socialistas, das decepções a que os outros partidos menos clarividentes, sejam eles republicanos ou socialistas sentimentais, que confundem o que é apenas uma mera etapa com o objetivo final de o avanço, deve inevitavelmente sucumbir.

Apliquemos o que foi dito à Itália.

A vitória da pequena burguesia, em processo de desintegração, e do campesinato, talvez leve ao poder um ministério de republicanos "convertidos". Isso nos dará sufrágio universal e maior liberdade de movimento (liberdade de imprensa, de organização e de reunião) – novas armas que não devem ser desprezadas.

Ou nos trará a república burguesa, com o mesmo povo e algum mazzinista ou outro entre eles. Isso ampliaria ainda mais a liberdade e nosso campo de ação, pelo menos por enquanto.

Assim, a vitória do movimento revolucionário que se prepara não pode deixar de nos fortalecer e nos colocar em condições mais favoráveis. Devemos cometer o maior erro se nos abstivermos de simpatia por ela ou se em nossa atitude para com as partes "relacionadas" nos limitarmos apenas a críticas negativas. Pode chegar um momento em que seja nosso dever cooperar de maneira positiva. Que momento poderia ser esse?

Sem dúvida, não nos compete preparar diretamente um movimento que não seja estritamente um movimento da classe que representamos.[62]


Segundo a Teoria de Marx e Engels, mais tarde sustentada a exaustão por todos os Leninistas, atuam contra o velho regime, o feudalismo: 1) a grande burguesia liberal; 2) a pequena burguesia radical; 3) o proletariado. A primeira não luta por mais do que uma monarquia constitucional; a segunda, pela república democrática; o terceiro, pela revolução socialista. É claro que ambos, neste raciocínio, estão se referindo a classe para si. É evidente também que esta teoria em partes se encontra obsoleta, uma parte significativa da grande burguesia liberal, encontra-se a disputar o elo central do sistema imperialista e uma parte do mundo feudal de fato já se foi. No entanto, no interior da grande burguesia liberal há contradições que devem ser exploradas. A confusão entre a luta pequeno-burguesa por uma revolução democrática completa e a luta proletária pela revolução socialista constitui, para um socialista, uma ameaça de bancarrota política. Esta advertência de Marx é, perfeitamente, justa. Mas, precisamente por essa razão, a palavra de ordem de “comunas revolucionárias” é errada, uma vez que as comunas que se conhecem na história confundiam precisamente a revolução democrática e a socialista[63].


Quando se cogitava expulsar certos grupos de democratas da revolução de 1905-1907, Lênin se insurgiu contra alegando que seria inviável o fazê-lo naquela etapa da revolução.


“Ainda consideramos as opiniões dos socialistas-revolucionários como revolucionárias-democráticas e não socialistas. Mas por causa de nossos objetivos militantes, devemos marchar juntos, mantendo plenamente a independência do Partido, e o Soviete é, e deve ser, uma organização militante. Expulsar democratas revolucionários dedicados e honestos em um momento em que estamos realizando uma revolução democrática seria absurdo, seria loucura”[64].

Como qualquer coisa tradicional que, dialeticamente, serve ao progresso e é levado a diante: a ideia de etapas da revolução apresenta, como vimos acima, sua origem nos pais do socialismo científico. No bolchevismo, sua expressão mais aprofundada veio primeiro com Lênin, mais fortemente entre 1905-1917, e depois com Stálin, sistematicamente nos fundamentos do Leninismo, no capítulo “Estratégia e Tática”. No volume 9 das obras completas de Lênin o termo aparece 194[65] vezes, já no volume 10 o termo aparece 97[66] vezes, nos volumes que se seguem o termo continua a aparecer, com a mesma definição: a necessidade de se converter a revolução democrática em socialista.


No decurso do movimento revolucionário na Rússia, as divergências entre, por um lado, os bolcheviques, por outro, os mencheviques e Trotsky, acentuaram-se. Em 1905, como contrapeso à linha revolucionária de Lênin e à sua teoria da transformação da revolução democrática-burguesa em revolução socialista, Trotsky desenvolveu a sua famosa teoria sobre a “revolução permanente”, teoria que, de resto, tinha tomado do pseudo-marxista alemão Parvus, que depois se tornou chauvinista e agente do imperialismo alemão. Esta teoria aventureirista, que negava o papel dirigente do proletariado face ao campesinato e afirmava que este último era incapaz de se aliar à classe operária para a lute contra a autocracia, ameaçava de morte a revolução russa. Esta teoria semeava a divisão na frente comum das forças motrizes da revolução, afastava da luta revolucionária as inumeráveis massas do campesinato russo, condenava a classe operária ao isolamento na luta revolucionária e servia assim a causa da reação. Segundo Lênin: “Trotsky comete um erro fundamental: não vê o carácter burguês da revolução e não compreende como se operará a passagem desta revolução à revolução socialista. Deste erro fundamental derivam erros parciais, que Martov repete reproduzindo e aprovando certas passagens de Trotsky”[67]. Já na fase da revolução socialista, sobre isto Lênin concluiu:


Depois de ter levado a cabo a revolução democrática burguesa juntamente com o campesinato em geral, o proletariado da Rússia passou definitivamente à revolução socialista, quando conseguiu cindir o campo, atrair a si os seus proletários e semiproletários, uni-los contra os kulaques e a burguesia, incluindo a burguesia camponesa.
Se o proletariado bolchevique das capitais e dos grandes centros industriais não tivesse sabido unir em seu redor os camponeses pobres contra o campesinato rico, então ter-se-ia assim demonstrado que a Rússia “não estava madura” para a revolução socialista, então o campesinato teria continuado a ser “um todo”, quer dizer, teria continuado sob a direção econômica, política e espiritual dos kulaques, dos ricos, da burguesia, então a revolução não teria saído dos limites da revolução democrática burguesa. (Mas mesmo isto, diga-se entre parênteses, não teria demonstrado que o proletariado não devia tomar o poder, pois só o proletariado levou efetivamente até ao fim a revolução democrática burguesa, só o proletariado fez algo de sério para aproximar a revolução proletária mundial, só o proletariado criou o Estado soviético, o segundo passo, depois da Comuna, em direção ao Estado socialista.) [68]

Lênin, jamais tibeou quando era necessário um acordo com as forças burguesas, sobre isso ele disse:

É surpreendente que, com semelhantes ideias (sectárias), esses esquerdistas não condenem categoricamente o Bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas alemães ignorem que toda a história do bolchevismo, antes e depois da Revolução de Outubro, está cheia de casos de manobra, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses!
Fazer a guerra para derrotar a burguesia internacional, uma guerra cem vezes mais difícil, prolongada e complexa que a mais encarniçada das guerras comuns entre Estados, e renunciar de antemão a qualquer manobra, a explorar os antagonismos de interesses (mesmo que sejam apenas temporários) que dividem nossos inimigos, renunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais), não é, por acaso, qualquer coisa de extremamente ridículo? Isso não será parecido com o caso de um homem que na difícil subida de uma montanha, onde ninguém jamais tivesse posto os pés, renunciasse de antemão a fazer zigue-zagues, retroceder algumas vezes no caminho já percorrido, abandonar a direção escolhida no início para experimentar outras direções? E pensar que pessoas tão pouco conscientes, tão inexperientes (menos mal se a causa disso é a juventude de tais pessoas, juventude cujas características autorizam que se digam semelhantes tolices durante certo tempo) puderam ser apoiadas direta ou indiretamente, franca ou veladamente, total ou parcialmente, pouco importa, por alguns membros do Partido Comunista Holandês!! Depois da primeira revolução socialista do proletariado, depois da derrubada da burguesia num pais, o proletariado desse país continua sendo durante muito tempo mais débil que a burguesia, em virtude, simplesmente,, das imensas relações internacionais que ela tem e graças à restauração, ao renascimento espontâneo e contínuo do capitalismo e da burguesia através dos pequenos produtores de mercadorias do país em que ela foi derrubada. Só se pode vencer um inimigo mais forte retesando e utilizando todas as forças e aproveitando obrigatoriamente com o maior cuidado, minúcia, prudência e habilidade a menor "brecha" entre os inimigos, toda contradição de interesses entre a burguesia dos diferentes países, entre os diferentes grupos ou categorias da burguesia dentro de cada país; também é necessário aproveitar as menores possibilidades de conseguir um aliado de massas, mesmo que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicional. Quem não compreende isto, não compreende nenhuma palavra de marxismo nem de socialismo científico, contemporâneo, em geral. Quem não demonstrou na prática, durante um período bem considerável e em situações políticas bastante variadas, sua habilidade em aplicar esta verdade à vida, ainda não aprendeu a ajudar a classe revolucionária em sua luta para libertar toda a humanidade trabalhadora dos exploradores. E isso aplica-se tanto ao período anterior à conquista do Poder político pelo proletariado como ao posterior. Nossa teoria, diziam Marx e Engels, não é um dogma, mas sim um guia para a ação, e o grande erro, o imenso crime de marxista; "registrados", como Karl Kautski, Otto Bauer e outros consiste em não haver compreendido essa afirmação, em não haver sabido aplicá-la nos momentos mais importantes da revolução proletária. "A ação política não se parece em nada com a calçada da avenida Nevsk! (a calçada larga, limpa e lisa da rua principal de Petersburgo, rua absolutamente reta), já dizia N.G. Chernishevski, o grande socialista russo do período pré-marxista. Desde a época de Chernishevski, os revolucionários russos pagaram com inúmeras vítimas a omissão ou esquecimento dessa verdade. É preciso conseguir a todo custo que os comunistas de esquerda e os revolucionários da Europa Ocidental e da América fiéis à classe operária paguem menos caro que os atrasados russos a assimilação dessa verdade. Os social-democratas revolucionários da Rússia aproveitaram repetidas vezes antes da queda do tzarismo os serviços dos liberais burgueses, isto é, concluíram com eles inúmeros compromissos práticos, e em 1901/1902, mesmo antes do nascimento do bolchevismo, a antiga redação da Iskra (na qual participávamos Plekhanov, Axelrod, Zasúlich, Martov, Potresov e eu) concertou - (é verdade que por pouco tempo) uma aliança política formal com Struve, chefe político do liberalismo burguês, sem deixar de sustentar, simultaneamente, a luta ideológica e política mais implacável contra o liberalismo burguês e contra as menores manifestações de sua influência no seio do movimento operário. Os bolcheviques sempre praticaram essa mesma política. (LÊNIN, https://pcb.org.br/portal/docs/esquerdismo.pdf).

Essa premissa leniniana, já era identificada desde as décadas anteriores. Abaixo Lênin demonstra entender que, dada a conjuntura de refluxo revolucionário, de baixa produtividade do movimento operário revolucionário, a conciliação não deveria sequer ser questionada. Ele diz em que circunstâncias seria repugnante não apoiar os cadetes.

Imaginemos que temos na Rússia um sistema parlamentar firmemente estabelecido. Isso significaria que o parlamento já havia se tornado a principal forma de dominação das classes e forças dominantes, que se tornara a principal arena do conflito de interesses sociais e políticos. Não haveria movimento revolucionário no sentido direto do termo; as condições econômicas e outras não estariam gerando surtos revolucionários no período que estamos assumindo. Nenhuma declamação, por mais revolucionária que seja, poderia, naturalmente, “provocar” a revolução em tais circunstâncias. Seria absolutamente errado que os sociais-democratas em tais condições renunciassem à luta parlamentar. Seria dever do partido dos trabalhadores levar o parlamentarismo mais a sério; participar nas eleições da “Duma” e na própria “Duma”; e ajustar todas as suas táticas às condições favoráveis ​​à formação e ao bom funcionamento de um partido social-democrata parlamentar. Nessas circunstâncias, seria nosso dever fundamental apoiar o Partido Cadete no parlamento contra todos os partidos à sua direita. Então, também, seria errado se opor categoricamente a acordos eleitorais com esse partido em eleições conjuntas, digamos, em reuniões eleitorais para a província (se as eleições fossem indiretas). Mais que isso. Seria dever dos sociais-democratas no parlamento apoiar até os shipovitas contra os reacionários reais e descarados. Diríamos então: a reação está tentando nos isolar; devemos tentar isolar a reação. (https://marxists.architexturez.net/archive/lenin/works/1906/victory/iv.htm#v10pp65-222)

Assim, do mesmo modo, já que não há forças para ganharmos de lula e bolsonaro, é evidente que é necessário apoiar lula contra qualquer inimigo a sua direita e desde o primeiro turno, já que não há na prática pontuação para além destes dois candidatos, os demais partidos ou candidatos não possuem chance desde o ano passado. Em total concordância com a teoria de Marx, Engels e Lênin, Stálin prosseguiu defendendo que a revolução é marcada por fases ou etapas:


“A estratégia consiste em fixar, numa determinada etapa da revolução, a direção do golpe principal do proletariado, em elaborar um plano correspondente de disposição das forças revolucionárias (reservas principais e secundárias) e em lutar pela execução desse plano durante todo o curso dessa etapa da revolução.”[69]

“Só no caso de vitória completa da revolução democrática o proletariado não se encontrará de mãos atadas na luta contra a burguesia inconsequente, só neste caso não se «diluirá» na democracia burguesa, mas imprimirá a toda a revolução a sua marca proletária ou, mais exatamente, proletário-camponesa”[70]. Esse princípio de Lênin: a derrota dos inimigos por etapas pode ser visto nos textos de Stálin "Fundamentos do Leninismo" e "Questões do Leninismo". Em fundamentos e questões do Leninismo Stalin segue a mesma sorte:


"o método da greve geral constante não pode ser aceito pelo proletariado, porque teoricamente é inconsistente (vide a crítica de Engels), é perigoso na prática (pode desorganizar a marcha normal da vida econômica do país, pode deixar vazias as caixas dos sindicatos) e não pode substituir as formas parlamentares de luta, que constituem a forma principal da luta de classe do proletariado. "[71]

Stalin diz o mesmo sobre a questão da insurreição como único método, e prega a combinação dos métodos.


"Os problemas relativos aos grandes conflitos de classes, à preparação do proletariado para as batalhas revolucionárias, aos meios para conquistar a ditadura do proletariado não estavam, então, segundo parecia, na ordem do dia. A tarefa reduzia-se a utilizar todos, os caminhos de desenvolvimento legal para formar e instruir os exércitos proletários, a utilizar o parlamentarismo tendo-se em conta uma situação em que o proletariado assumia e, segundo parecia, devia assumir o papel de oposição. Não creio que seja necessário demonstrar que em semelhante período e com uma tal concepção das tarefas do proletariado não podia existir nem uma estratégia completa, nem uma tática bem elaborada. Havia pensamentos fragmentários, ideias isoladas sobre tática e estratégia, mas não havia nem tática nem estratégia."[72]

A Semelhança do contexto de 1907-1912 da Rússia com o Brasil atual, não é pequena. Atualmente, questões mais urgentes impedem que coloquemos plenamente a questão estratégica e tática, até que esteja derrotado ou enfraquecido o Bolsonarismo. Na época de Stálin os bolcheviques tiveram dificuldades similares. Stálin afirma:


"No período de 1907-1912, o Partido foi obrigado a passar a uma tática de retirada, porque nos achávamos diante de um descenso do movimento revolucionário, de um refluxo da revolução, e a tática não podia deixar de levar em conta este fato. Em relação com isto, mudaram tanto as formas de luta quanto as formas de organização. Ao invés de boicote à Duma, participação na Duma; ao invés de ações revolucionárias abertas, extraparlamentar, discursos e trabalho na Duma; ao invés de greves gerais políticas, greves econômicas parciais, ou simplesmente calma. É claro que o Partido devia nesse período, passar à atividade clandestina, enquanto as organizações revolucionárias de massas eram substituídas por organizações legais, culturais, educativas, cooperativas, de ajuda mútua, etc.."[73]

No momento histórico em que vivemos, é necessária a mesma retirada do qual Stálin se refere no período de 1907-1912, passamos por um refluxo da possibilidade revolucionária, de modo que os partidos comunistas existentes, e o movimento comunista como um todo, não são fortes o suficiente para inverter o quadro, situação no qual o lançamento de pequenas candidaturas, o boicote ou voto nulo conduzirá a mesma problemática: o fortalecimento do bolsonarismo. Neste sentido, é mais viável o apoio a Lula do que seguir no isolamento e invisibilidade. É verdade que possíveis esquerdismos brasileiros estão mais longe do efeito desastroso que ocorreu na França recentemente onde a desunião levou Le pen ao segundo turno. Por isto é importante o alerta sobre as alianças que Stalin realiza:


"Antes, a questão nacional era considerada de modo reformista, como uma questão isolada, independente, sem relação com a questão geral do poder do capital, da derrubada do imperialismo, da revolução proletária. Admitia-se tacitamente que a vitória do proletariado na Europa era possível sem uma aliança direta com o movimento de libertação nas colônias, que a questão nacional e colonial podia ser resolvida em surdina, "automaticamente", à margem da grande via da revolução proletária, sem uma luta revolucionária contra o imperialismo. Hoje, este ponto-de-vista contrarrevolucionário deve ser considerado como desmascarado. O leninismo provou, e a guerra imperialista e a revolução na Rússia o confirmaram, que a questão nacional só pode ser resolvida em relação com a revolução proletária e sobre a base desta; que o caminho do triunfo da revolução no Ocidente passa através da aliança revolucionária com o movimento anti-imperialista de libertação das colônias e dos países dependentes. A questão nacional é parte da questão geral da revolução proletária, parte da questão da ditadura do proletariado."[74]

Como se viu, Stálin coloca claramente que apenas sob a ditadura do proletariado, ou sob sua hegemonia é que devemos cogitar a rejeição de aliança com outras classes não proletárias e seus representantes. Mesmo assim nos primeiros 5 anos da revolução de outubro a tática de alianças ainda foi necessária, como vimos Lênin afirmar. É claro que não é este o nosso caso, estamos mais para a proximidade do refluxo revolucionário do que do fluxo revolucionário. Neste caso, a tática se ocupa das formas de luta e das formas de organização do proletariado, da sua substituição, da sua coordenação. Numa determinada etapa da revolução, a tática pode mudar várias vezes, segundo os fluxos e refluxos, o ascenso ou o descenso da revolução. Esse é o pensamento de Stálin, se estabelecemos o objetivo de chegar ao poder, devemos eliminar quem vai mais nos dificultar esse processo: no caso brasileiro o bolsonarismo. No entanto, se há fluxo revolucionário como foi em 1917, nenhum apoio deve ser dado a qualquer governo social-democrata ou não comunista, o que não é o nosso caso, infelizmente. A tática muda segundo os fluxos e refluxos revolucionários: este é um princípio universal enquanto existir o imperialismo. Em 1936, com críticas, Stálin apoiou Roosevelt e o PCUSA seguiu pela mesma direção, a ideia deste apoio lembra claramente o apoio de Lênin a Henderson do Partido Trabalhista inglês, conforme veremos. Abaixo segue o discurso de Sam Darcy do PCUSA sobre o apoio de Stálin e Dimitrov a Roosevelt:


Claro, a questão mais importante levantada aqui é a aplicação da frente única contra o fascismo, particularmente nos Estados Unidos. Esta questão está rapidamente vinda à tona hoje, enquanto o imperialismo dos EUA se prepara para se engajar em uma 'guerra sem fim' em um esforço para manter seu status como a única superpotência do mundo, ao mesmo tempo em que restringe, se não elimina, os direitos democráticos. Dimitrov em seu discurso no Congresso do Comintern de 1935 sugeriu que os trabalhadores nos EUA formassem um Partido dos Trabalhadores e Agricultores como uma forma adequada de frente única contra o fascismo. No entanto, sob a influência de Darcy, com o acordo de Foster e Browder, bem como de Dimitrov e outros membros importantes do Comintern, e também de Stalin, o CPUSA pediu apoio a Franklin D. Roosevelt nas eleições presidenciais de 1936. É importante notar que esse apoio foi realizado naquela época com fortes críticas públicas de muitas das políticas de Roosevelt[75].

E foi assim no decorrer da ascensão do fascismo que se necessitou fortalecer a política de alianças. Uma frente popular, tática adotada a partir do 5º congresso da Internacional, significa qualquer coalizão de partidos da classe trabalhadora e de outra classe, incluindo os liberais e social-democratas, unidos pela defesa das formas democráticas contra um ataque fascista. O Argumento da internacional pode ser encontrado no sétimo congresso completo em inglês no marxists.org[76]. Neste congresso, corrigiu-se o erro de percurso do congresso anterior que, por uma avaliação exagerada das condições de Ascenso revolucionário no mundo, deliberou a palavra de ordem "classe contra classe". O Congresso "notou" a aproximação de um novo ("terceiro") período no desenvolvimento revolucionário do mundo após a Revolução de Outubro - um período de forte exacerbação de todas as contradições do capitalismo , caracterizado por uma iminente crise econômica global , um aumento da luta de classes e um novo ressurgimento do movimento de libertação nos países coloniais e dependentes . Nesse sentido, o Congresso aprovou a tática delineada pelo 9º plenário da ECCI (fevereiro de 1928), expressa pela fórmula "classe contra classe". [Ver a grande enciclopédia soviética].


Preparando o cenário para o 7º Congresso o relatório principal sobre as Atividades da ECCI, foi entregue no segundo dia por Wilhelm Pieck do Partido Comunista da Alemanha. Ao elogiar a tática de 1928 de "classe contra classe" que foi "dirigida contra o bloco dos social-democratas com a burguesia e destinada a destruir o bloco dos líderes social-democratas com a burguesia", Pieck reconheceu, no entanto, que "um certo número de erros sectários foram cometidos." Essa pressão por uma liderança ideologicamente pura dividiu o movimento dos trabalhadores durante o movimento grevista do final da década de 1920, ganhando o apoio de alguns trabalhadores enquanto alienava outros e, finalmente, falhando devido a "táticas desajeitadas e sectárias".

Pieck argumentou que com a chegada da Grande Depressão a burguesia procurou resolver seu problema de um mercado interno em colapso e lucros em declínio com um movimento de captura e pilhagem de território estrangeiro sob a bandeira do fascismo, com a agressão do Japão militarista na Manchúria e a ascensão da Alemanha nazista disse para sintetizar a nova tendência. "Estas preparações são simultaneamente e principalmente projetadas para a destruição da União Soviética, o lar, a base e o baluarte da revolução proletária", declarou Pieck.

Pieck identificou a "derrota do proletariado alemão" e a ascensão do nazismo como o "maior evento que marcou os primeiros anos da crise nos países capitalistas", afirmando que a partir da primavera de 1932 "já se tornou evidente que os fascistas tinham uma vantagem considerável sobre os comunistas na questão da mobilização das massas. Os comunistas tentaram mudar a situação propondo uma frente única com o Partido Social Democrata da Alemanha e sua federação sindical associada, a Allgemeiner Deutscher Gewerkschaftsbund (ADGB). Esse esforço foi rejeitado, disse Pieck, com o fracasso do movimento político e trabalhista social-democrata em participar de greves gerais após a expulsão de ministros socialistas do governo da Prússia em julho de 1932 e a chegada ao poder do governo de Hitler em janeiro de 1933, foram escolhidos para críticas específicas.

Omitindo o fato de que a linha "classe contra classe" do Comintern tinha sido direcionada diretamente aos social-democratas, que haviam sido castigados como "social-fascistas" em nada melhor do que o movimento fascista real, Pieck declarou que os comunistas haviam feito "tudo em seu poder de mobilizar as massas trabalhadoras para uma luta revolucionária para impedir a ditadura fascista", apenas para ser frustrado quando os social-democratas "não abandonaram sua atitude hostil à frente única e à luta". Só agora, declarou Pieck, uma nova era foi inaugurada com uma "virada dos trabalhadores socialistas para uma frente única com os comunistas".

Vários fatores contribuíram para a nova atitude dos socialistas em relação aos comunistas, de acordo com Pieck, incluindo a "vitória final e irrevogável do socialismo na União Soviética" por um lado e a realidade brutal da ditadura fascista na Alemanha por outro outro. A defesa do comunismo feita por Dimitrov no julgamento de Leipzig, uma greve geral na França em fevereiro de 1934 e as batalhas armadas contra os fascistas na Áustria em fevereiro de 1934 e na Espanha em outubro de 1934 consolidaram ainda mais essa tendência à cooperação interpartidária, Peck declarou. Consequentemente, Pieck observou, "acordos da Frente Única foram alcançados entre os comunistas e socialistas na Áustria, Espanha e Itália", com ações de massa adicionais ocorrendo entre membros de base do partido sem a bênção dos líderes socialistas na Grã-Bretanha, o Estados Unidos, Polônia e Tchecoslováquia . [Wilhelm Pieck, "The Activities of the Executive Committee of the Communist International," in VII Congress of the Communist International: Abridged Stenographic Report of Proceedings. Moscow: Foreign Languages Publishing House, 1939. Ver da página 15 a página 75].

O documento citado acima, do VII congresso da terceira internacional, é extenso e com mais de 45 menções sobre esse assunto. Nesta oportunidade não se pode destrinchá-lo por completo, mas o que se tem em comum com a nossa conjuntura é o fato de que se fazia necessário o apoio temporário a governos antifascistas. E a contribuição de Dimitrov sobre o assunto se encontra em sua obra “Unidade da classe operária contra o fascismo” que deve ser lida integralmente porque é uma das mais brilhantes aplicações do Leninismo.

O nazifascismo reunia em torno de si todo o antigo czarismo. Na verdade, em certo sentido, embora modernizado militarmente, o nazifascismo era a força mais reacionária, com as ideias mais conservadoras e radicais, não atoa se chamava "terceiro reino". Como costuma dizer o professor Wilson do Nascimento Barbosa, "os direitos sociais e "socialistas", no sistema nazifascista, só se podem aplicar a “raça pura", ao resto, aplica-se o feudalismo a servidão e escravidão. Wilson Barbosa diz isso em sua aula sobre o General Giap no youtube[77]. Se não derrotarmos Bolsonaro e sua tropa imediatamente, é cada vez mais certo que isto nos aguarda, e não se trata de alarmismos, e sim de uma vontade que se tornará mais próxima do possível porque ele está se fortalecendo novamente e se articulando.


A partir do contexto vivenciado pelos bolcheviques no pré-revolução e, posteriormente, durante a formação das frentes únicas e populares, e da explicação que se segue, Stalin buscou demonstrar como a estratégia e a tática consistem em identificar o inimigo principal a ser isolado e enfraquecido durante uma etapa da revolução. Este entendimento deve ser aplicado a nós contra o bolsonarismo. No momento atual brasileiro este inimigo principal é o bolsonarismo e por detrás dele estão, ainda que em conflito: o mercado financeiro, o judiciário, os militares e o latifúndio. Uma vez que tal inimigo, ou seu conjunto, esteja isolado, enfraquecido, ou tenha assumido formas radicalmente diferentes, estaria terminada uma etapa importante para podermos vislumbrar um avanço para o movimento operário que signifique um salto qualitativo da nossa possibilidade de avançar na revolução proletária de maneira mais profunda, o que se torna difícil num momento de ofensiva tão grande quanto o que é trazido pelo Bolsonarismo e num momento de enfraquecimento e crise tão grande do movimento operário ou revolucionário. Ou seja, a etapa, para o marxismo-leninismo, é “um período de conjunção de forças, da composição de um arco de aliança, para derrubar um inimigo em comum. Estratégia é a arte de identificação do inimigo e dos aliados possíveis e de estabelecer o caminho de menor custo para derrotá-lo”[78], neste momento, enfraquecer o bolsonarismo significaria, portanto, lutar pelo voto no candidato mais forte: Lula. Ainda que seja necessário criticá-lo e dizer ao movimento operário quais os limites do projeto lulista, bem como frisar que a solução final será sempre a revolução.


Em nosso contexto nacional, a condição de dependência, a falta de industrialização, a falta de nacionalização da economia e a consequente dominação imperialista tem uma significativa colocação nesse debate. No entanto, as proporções de dependência são diferentes, mesmo entre países que pela divisão internacional do trabalho, estão em condições próximas. Portanto, a semifeudalização e semicolonização, bem como, o lugar no sistema imperialista, não podem ser uma medida de valor exata para todos os países, logo, o nível de práticas dos países capitalistas são diferentes, uns são mais agressivos, praticam um maior número de ações predatórias do que outros. É possível, portanto, entender que esses conceitos podem ser mais ou menos profundos a depender da condição concreta de cada nação. Do mesmo modo há países em que o desenvolvimento desigual é menos acentuado, mas não deixam de se enquadrar na categoria de países semicoloniais e semifeudais, por exemplo, o Brasil.


Nosso país vem sofrendo inúmeros retrocessos ao longo dos tempos, mas é significativo o avanço nas nossas forças produtivas nacionais que se iniciam a partir de 1930 e que se perderam quase totalmente a partir de 1964, ganhando fôlego final antes do afogamento atual na época de Geisel, e, por fim, com o desenvolvimento do pré-sal e do submarino nuclear antes do golpe de 2016. O Brasil, segundo Boris Koval teve o início de uma revolução burguesa em 1930 que não completou a chamada etapa democrático nacional de novo tipo, devido ao sufocamento das massas realizados pelos burgueses e pequeno-burgueses que dirigiram o processo[79], essa característica trouxe algum desenvolvimento econômico e suas superestruturas segundo o mesmo autor. Tivemos a criação das universidades, da Petrobras, hidroelétricas, as empresas de saneamento, o direito ao voto feminino, a consolidação das leis trabalhistas, documento que unificou todas as leis criadas ao longo dos tempos que são reflexos de lutas dos trabalhadores e camponeses. Isso nos deu alguns direitos e a existência de uma democracia burguesa frágil, assim, ganhamos parlamentos, e gestões executivas que podem ser disputadas, muito diferente da China, antes de 1949, que só soube o que eram essas noções temporariamente durante a primeira e a segunda Frente Unida e que foram interrompidas diversas vezes, fosse pelo inimigo interno, fosse pelo inimigo externo.


Mao, embora tenha dito que “os capitalistas têm 'parlamentos' para aprovar leis que protegem os capitalistas e prejudicam o proletariado”, em 1921[80], completa afirmando que devemos “convocar um parlamento verdadeiramente democrático e eleger um governo genuinamente democrático que executará políticas genuinamente democráticas”[81] e assim afirma em 1937 que “Quando a paz interna for alcançada e a cooperação estabelecida entre as duas partes — Kuomitang e PCCh —, mudanças terão que ser feitas nas formas de luta, organização e trabalho que adotamos quando a linha era a de manter um regime antagônico ao do Kuomintang. Serão principalmente mudanças de formas militares para formas pacíficas e de formas ilegais para formas legais. Não será fácil fazer essas mudanças e teremos que aprender de novo. A reciclagem dos nossos quadros torna-se assim um elo fundamental”[82].


Sobre as condições econômicas da China e a luta legal, Mao afirma:


“A China é diferente, entretanto. As características da China são que ela não é independente e democrática, mas sim semicolonial e semifeudal, que internamente não tem democracia, mas está sob opressão feudal e que nas suas relações externas não tem independência nacional, mas é oprimida pelo imperialismo. Segue-se que não temos nenhum parlamento para fazer uso e nenhum direito legal de organizar os trabalhadores em greve”[83].

Isto significa, portanto, que o nível de dependência da China era maior do que a do Brasil, sendo que o Brasil, apesar de semicolonial e, com restos semifeudais, ainda assim é um pouco mais independente do que era a china de Mao, por isso, temos um parlamento, temos sindicatos e meios de organizar greves. Portanto, é nosso dever ocupar esses espaços, por isso, Mao afirma que nos locais em que há existência desses elementos, sugere que “é tarefa do partido do proletariado nos países capitalistas educar os trabalhadores e fortalecer-se durante um longo período de luta legal”[84].


Assim podemos ver que em comparação ao Brasil atual, temos um desenvolvimento pouco mais acentuado nos direitos e formas de luta. Por isso, no mesmo sentido, Mao diz:


“Para liderar o proletariado e o povo trabalhador na revolução, os partidos marxistas-leninistas devem dominar todas as formas de luta e ser capazes de substituir rapidamente uma forma por outra, à medida que as condições de luta mudam. A vanguarda do proletariado permanecerá inconquistável em todas as circunstâncias somente se dominar todas as formas de luta - pacífica e armada, aberta e secreta, legal e ilegal, luta parlamentar e luta de massa, etc. É errado recusar o uso de formas parlamentares e outras formas legais de luta quando elas podem e devem ser usadas. Entretanto, se um partido marxista-leninista cair no legalismo ou cretinismo parlamentar, confinando a luta dentro dos limites permitidos pela burguesia, isto inevitavelmente levará à renúncia à revolução proletária e à ditadura do proletariado”[85].

Uma das razões centrais para o PCCh não participar de parlamentos na China antes da revolução de 1949, ou da luta legal, era o fato de que se não criminalizados por Chiang Kai-Shek, o eram pelos estados fantoches do Japão e, antes disso, pelos senhores da guerra, e isso não se cessou plenamente após a vitória da china na Segunda Guerra. Nos parlamentos das áreas controladas por Chiang Kai-Shek, foram mantidos na ilegalidade os membros do PCCh. Após o fim da guerra, isto obrigou a não participação nos parlamentos de Chiang Kai Shek e uma nova retomada da guerra civil. No entanto, dispendia o PCCh grande energia a essa empreitada, nas Obras Escolhidas, Volume 2, página 17, temos um exemplo:


“Mobilizar o povo inteiro. Levantar a proibição dos movimentos patrióticos, libertar os presos políticos, anular o '‘decreto de Emergência para Lidar com ações que ameaçam a República’' [3] e o '‘regulamento de Censura da Imprensa’', [4] conceder status legal a organizações patriotas existentes, estender estas organizações entre os trabalhadores, camponeses, empresários e intelectuais, armar o povo para autodefesa e para operações de apoio ao exército. Em uma palavra, dar liberdade ao povo para expressar seu patriotismo. Por sua força combinada, o povo e o exército vai lidar com um golpe fatal para o imperialismo japonês. Além de dúvida, não pode haver vitória em uma guerra nacional sem a confiança nas grandes massas do povo. Tomemos o aviso da queda de Abyssinia. [5] Ninguém que seja sincero em travar uma guerra resoluta da resistência pode se dar ao luxo de ignorar este ponto.”[86]

É digno de nota que a composição da segunda Frente Unida, após o sequestro de Chiang Kai Shek, levou a luta a uma constante dentro do PCCh.


Isto se refere ao “Projeto de Resolução do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre a Participação do Partido Comunista no Governo” que foi elaborado em 25 de setembro de 1937. O texto completo diz como se segue.


(1) A situação atual na guerra anti-japonesa requer urgentemente um governo de frente unida representando toda a nação, pois só assim o governo pode efetivamente liderar a guerra revolucionária nacional anti-japonesa e derrotar o imperialismo japonês. O Partido Comunista está pronto para participar em um tal governo, ou seja, assumir responsabilidades administrativas no governo direta e oficialmente e desempenhar um papel ativo no mesmo. Mas um tal governo ainda não existe. O que existe hoje ainda é o governo da ditadura de partido único de Kuomintang.
(2) O Partido Comunista da China pode participar do governo somente quando é transformado de uma ditadura de partido único do Kuomintang em um governo de frente unida de toda a nação, ou seja, quando o presente governo do Kuomintang (a) aceitar os fundamentos do Programa de Dez Pontos para Resistir ao Japão e Salvar a Nação proposto pelo nosso partido e promulgar um programa administrativo de acordo com o mesmo; (b) começar a mostrar por meio de ações a sinceridade de seus esforços para realizar este programa e alcançar resultados definitivos; e (c) permitir a existência legal das organizações partidárias comunistas e garantir ao Partido Comunista liberdade para se mobilizar, organizar e educar as massas.
(3) Antes que o Comitê Central do Partido decida participar do Governo Central, os membros do Partido Comunista não devem, como regra, participar em qualquer governo local ou em qualquer conselho ou comitê administrativo vinculado aos órgãos administrativos do governo, central ou local. Pois tal participação só obscureceria as características distintivas do Partido Comunista, prolongar a ditadura do Kuomintang e dificultar bastante do que ajudar no esforço de criar um governo democrático unificado[87].

A China de Mao, precisava ainda completar uma revolução burguesa (interrompida por Chiang Kai-shek com o massacre de Xangai e o fim da grande expedição) e, consequentemente, um parlamento, o que definitivamente só foi realizado de maneira 100% estável após a revolução de 1949 que completou a revolução burguesa, a etapa democrático nacional de novo tipo e levou ao início da revolução socialista. Assim, Mao diz no Volume 1 das Obras Escolhidas, nas páginas 268, 269, 276.


Declaramos: assim que uma república democrática unificada for criada para toda a China, as Áreas Vermelhas se tornarão uma de suas partes componentes, os representantes do povo das Áreas Vermelhas participarão do Parlamento de toda a China, e o mesmo sistema democrático será criado nas Áreas Vermelhas como em outras partes da China. (…)
Um conselho de defesa nacional e uma assembleia nacional desse tipo não têm nada em comum com o congresso de toda a China para resistência ao Japão e para a salvação nacional - o conselho de defesa nacional - e a república democrática chinesa e seu parlamento que nosso partido propôs. (…)
A assembleia nacional deve ser um parlamento eleito por sufrágio universal e o órgão supremo de autoridade da república democrática da China. (…)[88]

No mesmo documento, na página 289 do mesmo volume, vemos:

“Por que colocamos tanta ênfase em uma assembleia nacional?” Porque é algo que pode afetar todos os aspectos da vida, porque é a ponte da ditadura reacionária para a democracia, porque está ligada à defesa nacional, e porque é uma instituição jurídica. Recuperar Hopei oriental e Chahar do norte, combater o contrabando, [8] opor-se à “colaboração econômica”, [9] etc., como muitos camaradas propuseram, é bastante correto, mas isso complementa bastante do que de qualquer forma entra em conflito com a luta pela democracia e uma assembleia; o essencial ainda é a assembleia nacional e a liberdade para o povo.[89]

Isso significa que a LUTA LEGAL tinha importante significado para o jovem Mao. Durante a Segunda Guerra Sino-japonesa, houve a segunda Frente Unida e a possibilidade de um sistema conjunto. Mao deu grande valor a essa forma de luta novamente:


Esperamos que, juntamente os líderes patrióticos de todos os partidos e grupos políticos e de todas as classes sociais e com todo o povo patriótico, eles assumam resolutamente a responsabilidade de dar continuidade à causa revolucionária do Dr. Sun e se lancem na luta para expulsar os imperialistas japoneses e salvar a nação chinesa da subjugação, para conquistar direitos democráticos para o povo, para desenvolver a economia nacional da China e libertar a grande maioria de seu povo de seus sofrimentos, e para trazer à existência a república democrática da China com um parlamento e um governo democráticos. O Partido Comunista Chinês declara a todos os membros do Kuomintang: se vocês realmente fizerem isso, nós os apoiaremos resolutamente e estaremos prontos para formar com vocês uma sólida frente revolucionária unida como a do grande período revolucionário de 1924-27 contra a opressão imperialista e feudal, para isso é a única maneira correta hoje de salvar a nação da subjugação e garantir sua sobrevivência.[90]

No entanto, devemos assumir que Mao Tsé-tung e o PCCh foram extremamente precavidos nessa defesa e estavam preparados para abrir mão dela. Mao Tse-tung em “A Questão da Independência e Iniciativa Dentro da Frente Unida”[91], que fez parte de seu discurso de conclusão na mesma sessão, afirmando que era extremamente importante para todo o Partido dedicar-se à organização da luta armada do povo contra o Japão, a sessão decidiu que as zonas de guerra e a retaguarda do inimigo deveriam ser os principais campos de trabalho do Partido e repudiou as ideias errôneas daqueles que depositaram suas esperanças de vitória nos exércitos do Kuomintang e que teriam confiado o destino do povo às lutas legais sob o reacionário domínio do Kuomintang. Este problema foi tratado pelo camarada Mao Tse-tung em “Problemas de Guerra e Estratégia”[92], que também fez parte de sua conclusão do discurso na sessão.


Assim podemos e devemos criticar a falta de organização para uma luta além da institucional, mas, não se pode fazer disso um motivo para nas atuais circunstâncias boicotar a possível luta legal, realizar campanhas e lançamentos de candidatos sem expressão que sequer trarão ganhos na luta contra o inimigo principal e boicotar apoios táticos aos únicos setores que tem uma chance real de vencer as eleições contra o bolsonarismo, ainda que se faça necessário, e insisto nisso, criticar constantemente os aliados. Está demonstrado suficientemente que 3 dos maiores revolucionários de todos os tempos, não veriam problemas na participação nas eleições no nosso contexto, haja vista que temos essa condição, e não estamos ainda criminalizados como acontecia constantemente com o PCCh nos anos de 1930.


Em toda década de 1930, e nos anos que antecederam a segunda guerra, podemos observar que era mais vital ainda as políticas de alianças, e por quê? Porque a burguesia monopolista e com certa retroatividade feudal começa agredindo as chamadas colônias e semicolônias para, por etapas, agredir os países europeus e retroagir aquilo que de bom trouxe a revolução de outubro. Com isto, eles procuravam rompimento com a democracia burguesa, sim, a burguesia queria uma ditadura aberta, uma restauração da política quase feudal ou semifeudal, quase igual ao que o clã bolsonaro quer aqui que ainda seria pior do que fora a ditadura militar.


Se nos anos 1920 as frentes únicas teriam o condão de se infiltrar no movimento operário ainda não revolucionário, ou seja, nos meandros da classe em si, para a partir disto se inserir em sua órbita e contaminá-la com a teoria revolucionária, levando-a a classe para si, nos anos 30 as frentes populares apenas refinaram ainda mais este entendimento:


"A frente popular diferia das frentes únicas dos anos de 1920 porque a primeira incluía os partidos social-democratas, ao contrário da última. Por isso, os programas tinham de ser amplos o suficiente para serem aceitos pelos partidos social-democratas, o que levou a acusações por parte dos trotskistas e de outros de que os programas eram burgueses. Mas a razão para incluir os partidos social-democratas nas frentes populares tinha sido bem explicada por Campbell, importante dirigente do PCInglês no período dos anos 1930:
"As lições da revolução de 1917, e do período revolucionário subsequente na Europa, pertencem ao capital básico da classe operária, e negligenciá-las é cometer suicídio político. Mas aquelas lições não podem ser aplicadas nos presentes dias, a menos que se levem em conta as diferenças da situação de hoje quando comparada com aquela de 1917-20..." (p. 316). "Em 1917 até 1920, o capitalismo estava defendendo a democracia parlamentar contra o impulso da revolução socialista, procurando estabelecer a democracia soviética. Hoje, o capitalismo, para manter-se. está buscando subverter e destruir a democracia parlamentar e dissolver os órgãos da classe operária. Defender a democracia em 1917-20 era defender o capitalismo contra a revolução."[93]

Mas, mesmo essa diferença histórica, não era uma pedra angular na linha de raciocínio de Lênin uma vez que ele mesmo falou em ajudar a burguesia anticzar, que na prática é o mesmo que ajudar a burguesia na luta antifascista, gostem ou não. E ainda recomendou não apenas o voto nos trabalhistas ingleses, mas uma militância concomitante do Partido Comunista Inglês no seio do partido trabalhista, com filiações diretas, o que pode ser visto no texto: “Speech On Affiliation To The British Labour Party”, Lênin diz:


“A nossa resolução diz que somos a favor da filiação na medida em que o Partido Trabalhista permite suficiente liberdade de crítica” (...). Os camaradas Gallacher e Sylvia Pankhurst não podem negar isso. Eles não podem refutar o fato de que, nas fileiras do Partido Trabalhista, o Partido Socialista Britânico goza de liberdade suficiente para escrever que certos líderes do Partido Trabalhista são traidores; que esses antigos líderes representam os interesses da burguesia; que eles são agentes da burguesia no movimento operário. Eles não podem negar tudo isso porque é a verdade absoluta. Quando os comunistas gozam de tal liberdade, é seu dever aderir ao Partido Trabalhista se levarem em devida conta a experiência dos revolucionários em todos os países, não apenas da revolução russa (pois aqui não estamos em um congresso russo, mas em um que é internacional). O camarada Gallacher disse ironicamente que no presente caso estamos sob a influência do Partido Socialista Britânico. Isso não é verdade; é a experiência de todas as revoluções em todos os países que nos convenceu. Pensamos que devemos dizer isso para as massas. O Partido Comunista Britânico deve manter a liberdade necessária para expor e criticar os traidores da classe trabalhadora, que são muito mais poderosos na Grã-Bretanha do que em qualquer outro país. Isso é facilmente compreensível. O camarada Gallacher está errado ao afirmar que, ao defender a filiação ao Partido Trabalhista, vamos repelir os melhores elementos entre os trabalhadores britânicos. Devemos testar isto pela experiência. Estamos convencidos de que todas as resoluções e decisões que serão adotadas por nosso Congresso serão publicadas em todos os jornais revolucionários socialistas britânicos e que todos os ramos e seções serão capazes de discuti-las. Todo o conteúdo de nossas resoluções mostra com clareza cristalina que somos representantes das táticas revolucionárias da classe trabalhadora em todos os países e que nosso objetivo é lutar contra o velho reformismo e o oportunismo. Os eventos revelam que nossas táticas estão de fato derrotando o antigo reformismo. Nesse caso, os melhores elementos revolucionários da classe trabalhadora, que estão insatisfeitos com o lento progresso que está sendo feito - e o progresso na Grã-Bretanha talvez seja mais lento do que em outros países - virão todos até nós. O progresso é lento porque a burguesia britânica está em condições de criar melhores condições para a aristocracia trabalhista e assim retardar o movimento revolucionário na Grã-Bretanha. É por isso que os camaradas britânicos devem se esforçar, não apenas para revolucionar as massas - eles estão fazendo isso esplendidamente (como o camarada Gallacher demonstrou), mas ao mesmo tempo devem se esforçar para criar um verdadeiro partido político de classe trabalhadora. O camarada Gallacher e a camarada Sylvia Pankhurst, que já falaram aqui, ainda não pertencem a um partido comunista revolucionário. Essa excelente organização proletária, o movimento dos Shop Stewards, ainda não aderiu a um partido político. Se você se organizar politicamente, descobrirá que nossas táticas se baseiam numa compreensão correta dos desenvolvimentos políticos das últimas décadas, e que um verdadeiro partido revolucionário só pode ser criado quando absorve os melhores elementos da classe revolucionária e usa todas as oportunidades para combater os líderes reacionários, onde quer que eles se mostrem. [94].

Com isso temos material teórico o suficiente que resumem bem a posição do Leninismo em um contexto próximo do nosso, que serve tanto para casos de ofensivas revolucionárias como em caso de defensiva proletária (que é o que o Brasil vive), e por meio de aplicação criativa afirmo que no cenário Bolsonaro contra Lula devemos ajudar Lula. Como no cenário burguesia contra czarismo, ou Henderson contra Churchill. As referências acima servem para saber como agir diante da eleição em 2022 ou em qualquer uma com cenário semelhante. É importante lembrar que esta é uma eleição apenas formalmente com segundo turno, há uma polarização que se reflete nas redes e nas pesquisas que inviabiliza os ganhos de se disputar eleição com candidaturas pequenas como os comunistas do Brasil estão em partes pretendendo fazer. Ademais, se se considera Bolsonaro um fascista, não há outra alternativa a não ser derrubá-lo em aliança com as forças democráticas, e impedir que ele se torne um fascista governando uma ditadura a seu serviço, que sempre fora seu plano.

Nada disso significa abrir mão do programa revolucionário ou aderir ao reboquismo. Ninguém em sã consciência prega adesão acrítica ao petismo ou qualquer força que possa vencer nas urnas Bolsonaro. Também não fazemos nesta empreitada uma defesa do programa petista.


O livro "esquerdismo doença infantil do comunismo" e o livro "os comunistas nas eleições" são apenas resumos que nos auxiliam no momento a seguir em frente no cenário que vivemos. Resumindo o raciocínio geral de Lênin: O Programa do inimigo secundário pode variar, para mais ou para menos a esquerda, mas se o inimigo é secundário, numa eleição direta contra o representante do inimigo principal, apoia-se o secundário. Discutir o programa dos reformistas para questão do apoio não é tão relevante, chegando a ser quase irrelevante por uma razão: tanto reformas quanto revoluções precisam de poder militar-popular para serem aplicadas, por isto, na falta de poder de fogo para realização do projeto, haverá capitulação ou golpe contra o grupo em questão. É certo que sem poder de fogo nas mãos, de apoio militar-popular, quem chegar ao governo será consumido por duas posturas: a capitulação ou deposição por meio de um golpe. A lição que se impõe, no entanto, reside justamente na agressão que o inimigo principal causará ao trabalhador em proporção, e não importa o que se diga, Bolsonaro é comprovadamente mais agressor que Lula, isso é fato público e notório. Mesmo que Lula fale, por exemplo, em transformar a caixa econômica federal em empresa de economia mista, cabe lembrar que guedes quer a caixa econômica totalmente privada.

Sobre a capitulação do programa de Lula, ou de qualquer programa reformista, é necessário algumas ponderações:


A “Carta ao povo Brasileiro”, que hoje é constantemente um sinônimo de capitulação, sempre será escrita enquanto os que chegarem ao governo não acumularem forças o suficiente para barrar os inimigos principais do Brasil e, portanto, chegarem ao poder de fato. Resumindo, chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder, e fora do poder, tudo é ilusão, como diria Lênin.


Quem são os principais inimigos do povo brasileiro e dos revolucionários?


Reitaramos: as cúpulas de liderança hegemônica dos militares, do judiciário, do latifúndio, e, por fim, do mercado financeiro.

Sobre o poder, um exemplo recente de alguém que chegou ao governo, mas não ao poder é nosso vizinho Pedro Castillo. Infelizmente, Castillo foi saudado e muito comemorado pela esquerda como algo que iria para além da social-democracia, ou do lulismo e agora todos sabem que nada disso é verdade. Castillo é a prova viva de que não basta chegar ao Governo, é necessário chegar ao poder. O Governo Castillo, que pode cair a qualquer momento, não controla minimamente o parlamento e as demais forças sociais do país, e também não tem um apoio popular-militar profundo. Castillo chegou ao governo com ajuda de um partido até certo ponto "leninista", depois disso, foi obrigado, para manter o pouco poder, a ceder e abrir mão da carta programática do partido que o elegeu. Embora eu não seja do grupo que defende o boicote eleitoral, tenho como certo que ninguém fará a diferença sem poder de fogo nas mãos: porque para dar um passo real, é preciso ter força. Para cumprir uma tática, é preciso prescrever com quais forças ela se fará, é necessário treino, formação ideológica e física, do contrário, é impossível não ficar resumido aos termos de Marx: “a uma dúzia de programas” e ideais que exigem muito poder para serem viabilizados.

A história está cheia de exemplos que nos mostram ou a relativização de programas, a famosa capitulação, ou a derrota mesmo por meio de um golpe, que acontece sempre quando os governantes não tem de fato poder nas mãos para mudanças radicais e nem apoio maciço para tal. O que todos chamam no petismo de capitulação na verdade se trata de uma questão óbvia dada a correlação de forças. Desde que o partido foi criado, nunca foi construída a força necessária para cumprir partes do próprio programa do partido, como, por exemplo: a reforma agrária. Talvez por uma questão de influência da ideologia burguesa? Sim, também, mas, em suma, por aqui, diferente da Venezuela, não há muitas provas de apoio militar ao governo de LULA, e sem este tipo de apoio não se pode avançar de fato e isto é válido para qualquer projeto político.


Uma outra situação interessante a se avaliar, aconteceu antes, no final da década de 1940 e antes em 1935, o movimento comunista nacional de diferentes formas foi derrotado por não acumular força. Em 1935 o levante não conseguiu realizar o cercamento das principais forças do governo Vargas, nem se aliar com os setores progressistas internos que almejavam a queda de Vargas. Em 1947 a situação foi diversa, o Partido Comunista do Brasil alcançou enorme inserção no seio do povo brasileiro sob a legalidade. Mais de 200 mil filiados, grande peso na intelectualidade, e grandes bancadas no legislativo, impressionantes trabalhos em centros operários. Tudo isto foi, do dia para a noite, por água abaixo no golpe de Gaspar Dutra. Sem preparar-se seriamente, os comunistas foram parados pelo general Gaspar Dutra. As organizações comunistas do período e militantes progressistas próximos, não foram preparados pela direção do partido para combater e foram massacrados — preparação que, atualmente, não é cogitada pelas enormes dificuldades do presente. Os reacionários e o poder burguês não é do tipo que deixa para o futuro o que pode liquidar imediatamente, esta é uma lição que deve ser aprendida por todos nós.

Não estou equiparando o reformismo e os revolucionários em termos de ideias, estou apenas dizendo qual a consequência lógica da falta de força e poder para derrotar um inimigo em todas as esferas: a capitulação (a carta ao povo brasileiro) ou a derrota (o fracasso do legítimo e necessário levante de 1935 e a infeliz derrota contra Gaspar Dutra em 1947). Em ambos os casos, por diferentes razões obviamente, faltou poder para implantação de um projeto. Fazer uma análise moral dos fatos não soluciona a questão, muito menos possibilita nos colocarmos como alternativa, o verdadeiro revolucionário reconhece a força do inimigo e seus limites.


A derrota destes setores, pode ser feita, mas não é possível na ordem do dia e acontecerá quando, no futuro, qualquer grupo revolucionário conseguir recursos, e tiver um setor de inteligência com coragem para acumular as forças necessárias, nas sombras, e treinar arduamente para superar o inimigo em todas as esferas. A meu ver os primeiros a serem derrotados e cercados devem ser os setores armados, públicos e privados. A derrota destes faria os demais capitularem, exceto o mercado financeiro que fugiria. Agora como derrotá-los? Eu só vejo poucas alternativas, fazer a inversão do plano lyote[95] que se traduz na plantação de sementes no interior desses grupos para que se tornem árvores boas daqui um tempo, e, paralelamente, construir sorrateiramente força equivalente militar, humana, política, jurídica, econômica e etc.


Mas, tudo isto ficará mais difícil de se alcançar com bolsonaro no poder e, por isto, ainda que não seja o meu projeto, ou o projeto de um mundo emancipado, faz parte dele o apoio ao Lula este ano.


Mesmo que Lula não recupere muitos dos feitos bolsonaristas, é certo que ele não vai continuar o bolsonarismo e o modelo anterior de governo é a evidência que o prova. E não bastará ter de defende-lo nesta eleição, será necessário cobrar e pressionar o cumprimento de medidas que melhorem o país, mas, ao mesmo tempo, defende-lo da tentativa de golpes advindos dos inimigos principais.

Por conseguinte, uma vez que o inimigo secundário sai vitorioso totalmente, e desde que o inimigo principal (o bolsonarismo, o mercado financeiro, o latifundio, o judiciário e os militares) esteja derrotado ou muito enfraquecido, neste contexto hipotético, seria um erro não derrotar o novo inimigo: o antigo inimigo secundário que se tornou principal por força da luta dialética de classes.

No entanto, é fundamental para todos nós denunciarmos o fato: o PT teve todo o período de pandemia para contratar uma assessoria que aumentasse sua participação em redes e atacar o coração do bolsonarismo: os mais de 600.000 mortos, e a tentativa bolsonarista de lucrar em cima das mortes por COVID com a super faturação por meio da vacina indiana, algo ultrajante que nem Paulo Maluf ousou fazer. No entanto, nada disso foi feito. O Petismo se acomodou com o resultado das pesquisas, e com a nostalgia dos tempos de LULA, e agora segue se arriscando de perder a eleição.


É preciso em caso de vitória do Lula, criar mecanismos que cobrem o resultado programático de reformas sobre as ações de Temer e Bolsonaro, sem, no entanto, querer derrubar o governo e conciliar com os interesses militares, do latifúndio e do mercado financeiro, pelo menos até que estes inimigos estejam depostos. Infelizmente, mesmo em caso de vitória do LULA, insisto em repetir, ele terá um governo frágil, que terá de ser defendido diante destes ataques vindo da classe burguesa: os militares, o judiciário, a imprensa, o latifúndio e o mercado financeiro, porque não podemos repetir 2016, sob hipótese alguma.


A queda de Bolsonaro e do Bolsonarismo é uma condição de sobrevivência. Não há como falar em reconstrução do movimento revolucionário, reconstrução de um partido comunista revolucionário, se este mal não for ao menos enfraquecido. Estes passos descritos acima, apesar de inconclusivos, são os possíveis nortes táticos necessários e recuados que possibilitarão muitos passos adiante. Ou enfraquecemos o bolsonarismo, ou o Brasil em breve se tornará o elo mais destruído pelo sistema imperialista mundial e, neste cenário, ficará muito mais difícil criar a força revolucionária real.

Devemos crer nas promessas de Lula sobre a reforma trabalhista, e todas as demais?


Não exatamente. Lula fará o que sua força real, seu poder de fato, permitirem, e com um congresso cada vez mais reacionário, com forças do mercado financeiro, agronegócio e latifúndio lhe rangendo os dentes, com militares e um vice proto-golpista louco para assumir, é improvável que ele consiga governar. No entanto, Lênin quando recomendava o voto em Henderson não tinha intenções reais de promover seu programa e suas ideias, nem que ele solucionasse os problemas. Ele queria, além de facilitar o trabalho do partido comunista britânico colocando alguém um pouco mais conciliador, fazer com que as massas perdessem aos poucos sua ilusão com o reformismo porque ele sabia que os erros de Henderson permitiriam isso. Portanto, duas eram as funções: a primeira colocar um governo menos nocivo ao partido, as massas, e a segunda colocar um governo que, com seu verniz de esquerda reformista, tirasse das massas a ilusão do reformismo. As citações anteriores a obra esquerdismo demonstram isto com toda a clareza.

A Direita no mundo tem combatido a esquerda reformista com força, tem aproveitado também para combater a esquerda revolucionária, afirmando que os reformistas são Inrrustidos revolucionários que a qualquer momento vão se revelar. O Fato de afirmarem no Brasil que o PT é comunista, não é uma coincidência é uma forma de combater de um só golpe todos os inimigos.


A amplitude das chamadas frentes depende da amplitude revolucionária popular. Quanto maior a amplitude revolucionária popular, menor a amplitude das frentes e alianças. Quanto mais a consciência de classe, menor é a frente a ser estabelecida. Quanto maior o poder militar do povo, menor é a frente a ser estabelecida. Sem resolver estas pendências a esquerda que lutar pelo voto nulo, boicote eleitoral, estará necessariamente apoiando a reeleição de Bolsonaro.

Bolsonaro procura meios de instalar um golpe militar no Brasil e revogar as eleições deste ano. A nossa democracia burguesa está tão frágil quanto as democracias burguesas da década de 1930 golpeadas das pelo nazismo. Os partidos comunistas não possuem força sobre as massas, força militar e institucional para conter uma união de todos os setores da burguesia. O Golpe Bolsonarista é uma possibilidade na ordem do dia, lembremos que o Clube militar, cuja composição é formada por militares da reserva e aposentados, apoia integralmente Bolsonaro, e algumas de suas ideias reverberam nas forças atuantes hoje. O Caso Daniel Silveira demonstrou isto. E atualmente a declaração de Braga Neto nos demonstra a mesma coisa.

Portanto, Bolsonaro deve ser combatido em todos os meios possíveis: eleitoralmente por meio do apoio ao candidato mais forte: lula, negociando em troca do apoio postos institucionais, mas, principalmente, negociar espaços nos sindicatos do pt, chamar manifestações e greves nos sindicatos dominados pelo petismo, que possuem força para chamar uma greve geral. Ao contrário disso o que tem feito a esquerda? Tem apoiado Bolsonaro indiretamente, ou pela tática de boicote ou pelo lançamento de candidaturas inexpressivas. Não devemos reduzir o petismo a uma falsa equivalência contra o Bolsonarismo, este tem sido um fator decisivo a guiar a esquerda no caminho esquerdista, como diria Lênin. Na verdade, a diferença de Bolsonaro para Lula está evidente: Bolsonaro não tentará a conciliação de classes! Ele simplesmente governará para uma classe só. Isto, além de mais nocivo aos trabalhadores, o é para os comunistas também. Quanto as questões teóricas que norteiam o raciocínio desta inclinação tática: ela está extremamente fundamentada nas citações anteriores. E, infelizmente, gostem ou não, não existe outra interpretação possível para nosso cenário: quem não concorda com a tática proposta, no futuro será lembrado como apoiador indireto do pior governo que este país já teve em toda sua história.


Se Bolsonaro não for derrotado no primeiro turno, ele mobilizará sua tropa armada de modo qualitativamente mais forte... Mesmo que o golpe possa não se concretizar, muitas mortes virão... A história vai cobrar daqueles que (se dizem comunistas) no campo progressista por não assumiram o compromisso de derrotar o fascismo no primeiro turno. É claro, mesmo que ele seja derrotado no primeiro turno, sua tropa virá, mas mais enfraquecida e desmoralizada pela derrota. A oscilação no campo golpista, mudará a depender das mudanças no favoritismo da eleição. De nossa parte, cumpre não contribuir com o bolsonarismo em nada., isto inclui fortalecer todos que possuem contradição com o campo bolsonarista, deixando as contas a acertar contra estes inimigos, por hora aliados táticos, para outras oportunidades. Por fim, devemos concluir: neste exato momento, após diversos atos de terrorismo por parte do bolsonarismo, que estes fachos buscarão a violência para ter pretextos de cancelar as eleições, não devemos colaborar com a vontade deles quando isto significa confronto direto e este é o desejo do inimigo. Devemos evitar novos episódios e defender nossas células de atuação, mas não cair no erro de confronta-los quando é exatamente este o pretexto que eles buscam para cancelar as eleições. Ademais, os golpes planejados pelos militares e bolsonaro podem falhar. Os que sinalizam apoio a ele, podem recuar. E as eleições e a queda de bolsonaro pode acontecer, neste cenário, a base bolsonarista pode se tornar a base para uma revolução colorida. E ao contrário dos comunistas, a burguesia não tem problemas com vitórias parciais, alianças táticas temporárias ou recuos. Em suma, devemos ficar atentos para de nossa parte não apoiarmos um golpe como certos setores da esquerda o fizeram em 2016. Infelizmente, a vitória contra o bolsonarismo, se vier, contará mais com a sorte do que com o mérito da esquerda como um todo. Contará mais com o demérito do bolsonarismo do que com o mérito de toda a esquerda brasileira. De um lado, a esquerda radical, abandonando o marxismo-leninismo, recusa-se a formar uma aliança com o social-liberalismo, ou a socialdemocracia, com o petismo que, como demonstramos pelas citações acima, faz parte da ideia tática e estratégica das frentes únicas de Lênin, ou frentes populares de Stálin. Ou ainda do combate ao velho regime perpetrado por Marx e Engels. Ambos também considerados fielmente por Mao Zedong. De outro lado, a esquerda petista joga parada, mesmo com todas as falhas do bolsonarismo, não se esforça para ultrapassar seu alcance nas redes, nem se esforça para ultrapassa-lo nas pesquisas.


Parafraseando o pai da desgraça, o facho liberal Malthus: as fake news evoluem em progressão geométrica (2,4,8,16,32), basta averiguarmos o enorme banco de dados que o rei dos fachos brasileiros, bolsonaro, tem desde antes de 2018 e que, agora, está sendo ampliado, do qual seus inimigos se recusam a desconstruir, porque se recusam a combater fogo com fogo. A verdade, entretanto, não é tão veloz. Ela circula em progressão aritmética (2,4,6,8,10,12). Não será surpreendente uma derrota para bolsonaro, pelo contrário, já há vídeos onde votos são negociados, onde diversas mentiras estúpidas são contadas: "banheiro mistos obrigatórios", "satanismo petista" e etc, tudo porque, como diria o LOSURDO, o facho das terras tupi, possui o monopólio do controle das emoções mais eficiente do país, e o irônico é que muitos dos inimigos não o combatem proporcionalmente mesmo, e sabemos que não foi por falta de oportunidade. Se a vitória chegar será apesar da esquerda como um todo.

[1] Compilado de notícias sobre o assunto, pode ser visto em http quiser os://www.google.com/search?q=nestor+forster+visita+biden&oq=nestor+forster+visita+biden&aqs=chrome..69i57j33i160.11724j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 [2] Compilado de Notícias sobre o assunto pode ser visto em: <https://www.google.com/search?q=nestor+forster+recomenda+bolsonaro+que+n%C3%A3o+reconhe%C3%A7a+biden&oq=nestor+forster+recomenda+bolsonaro+que+n%C3%A3o+reconhe%C3%A7a+biden&aqs=chrome.0.69i59.11239j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8> [3] Sobre Thomas Shanon, ver: https://www.poder360.com.br/lava-jato/ex-embaixador-mostra-visao-dos-eua-sobre-lava-jato-e-projeto-de-poder-do-pt/. [4] Compilado de Notícias sobre o asunto pode ser visto em: <https://www.google.com/search?q=eduardo+bolsonaro+ucrania&ei=CyJbYtjGI7vD5OUPzLSgwAw&ved=0ahUKEwiY-PShsZn3AhW7IbkGHUwaCMgQ4dUDCA4&uact=5&oq=eduardo+bolsonaro+ucrania&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAMyBQgAEIAEOgsIABCABBCxAxCDAToECC4QQzoLCC4QgAQQxwEQowI6CAgAEIAEELEDOg4ILhCABBDHARCjAhDUAjoRCC4QgAQQsQMQxwEQ0QMQ1AI6BAgAEEM6BwguELEDEEM6CwguEIAEELEDENQCOggILhCABBCxAzoLCC4QgAQQsQMQgwE6BQguEIAEOgsILhCABBDHARCvAToGCAAQFhAeSgQIQRgBSgQIRhgAULcFWLMjYPgkaANwAHgAgAGMAYgByRaSAQQxLjI0mAEAoAEBwAEB&sclient=gws-wiz> [5] Ligação de Sanders, na época em que Sanders já estava com os democratas, com Boulos: < https://revistaforum.com.br/global/2020/2/2/boulos-comemora-favoritismo-de-sanders-um-socialista-no-corao-do-imperio-68499.html >. Soros liga os democratas a Hadddad: https://www.reddit.com/r/brasilivre/comments/adxdn2/haddad_george_soros_%C3%A9_um_megainvestidor/ [6] MARX, K. O CAPITAL. São Paulo: BOITEMPO, 2012. Pag 130. Disponível em: https://elahp.com.br/download/marx-karl-o-capital-vol-i-boitempo/. [7] Sobre o racha na família itaú, ver: https://tribunahoje.com/noticias/politica/2022/04/14/101606-itau-unibanco-racha-e-metade-apoia-lula-metade-apoia-bolsonar [8] Sobre o apoio a HADDAD em 2018, ver: <item anterior> [9] Sobre a política desastrosa de bolsonaro com a petrobras ver: < https://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/7641-precos-dos-combustiveis-continuam-sendo-os-viloes-da-inflacao > [10] Cassação de Arthur do Val, https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/04/13/interna_politica,1359591/aprovada-a-cassacao-de-arthur-do-val.shtml. [11] Sobre os diferentes setores da Burguesia, ver: < http://www.commonprogram.science/documents/The%20National%20Bourgeoisie%20in%20the%20Chinese%20Revolution.pdf> [12] Otto von Bismarck, o estadista prussiano do século XIX, de bigode espesso, é mais conhecido por sua busca pela unidade alemã. Mas sua criação do primeiro estado de bem-estar do mundo é um legado igualmente notável. Ironicamente, foi o medo do socialismo que o fez fazer isso. Especificamente, Bismarck estava preocupado com o crescente poder de um movimento operário liderado pelo Partido Social Democrata, que ele rotulou de reichsfeinde, ou inimigos do império.Sun Yat-Sem nos conta essa história brilhantemente: O socialismo sempre foi originariamente ligado estreitamente à democracia e ambos se desenvolveram simultaneamente. Mas, por que as ideias democráticas na Europa provocaram as revoluções democráticas, enquanto que a propagação das teorias socialistas não provocara revoluções econômicas? Porque o nascimento do socialismo, na Alemanha, coincidiu com o regime de Bismarck. Outros estadistas certamente empregariam a força política para esmagar o socialismo, porém Bismarck escolheu outros métodos, ele sabia que o povo alemão era esclarecido e que as organizações trabalhistas haviam sido firmemente estabelecidas. Se tentasse a supressão do socialismo pela força política, agiria em vão. Bismarck já se manifestara a favor do exercício do controle absoluto por parte de uma autoridade centralizada. Quais os métodos que empregou para tratar com os socialistas? O Partido Socialista advogava reformas sociais e a revolução econômica. Bismarck sabia que não podiam ser suprimidas mediante a força política, e, assim, pôs em efeito uma espécie de socialismo de Estado como um antídoto contra o programa dos socialistas marxistas. As estradas de ferro, por exemplo, são um meio vital de comunicações e uma indústria fundamental em qualquer nação, essencial para o desenvolvimento de outras indústrias. Antes da construção da Estrada de Ferro Tientsin-Pukow, Chihli, Shan-tung e o Norte do Kiangsu eram regiões extremamente pobres. Depois da construção dessa ferrovia, as regiões ao longo de seu leito tornaram-se muito produtivas. Antes da construção da Estrada de Ferro Peiping-Hankow, Chihli, Hupeh e Honan eram regiões estéreis, porém, depois da construção da estrada, essas províncias tornaram-se bastante prósperas. No tempo em que Bismarck tomou as rédeas do governo na Alemanha, a maior parte das estradas de ferro da Grã-Bretanha e da França eram de propriedade da classe abastada, todas as indústrias da nação tornaram-se monopólio da classe privilegiada, e começaram a aparecer os inúmeros males decorrentes de uma distribuição desigual da riqueza. Bismarck não quis que tais condições surgissem na Alemanha, e, assim, pôs em prática um socialismo de Estado. Colocou todas as estradas de ferro do país sob a posse e controle do Estado e todas as indústrias sob a administração do Estado. Fixou as horas de trabalho e estabeleceu pensões para a velhice e seguros de acidentes no trabalho. Essas medidas figuravam nos programas de reforma, que o Partido Socialista estava tentando executar. Bismarck, com sua grande visão, tomou a dianteira e empregou o poder do Estado para executá-las. Além do mais, empregou os lucros das estradas de ferro, bancos e outras empresas exploradas pelo Estado para a proteção dos trabalhadores, o que naturalmente os contentou. Antes disso, todos os anos, várias centenas de trabalhadores costumavam emigrar da Alemanha, porém, depois que a política econômica de Bismarck foi posta em prática, não só deixaram os trabalhadores alemães de emigrar como também grande número de operários de outros países passaram a imigrar para a Alemanha. Bismarck enfrentou o socialismo, antecipando-o e tomando precauções contra ele, em vez de desferir um ataque frontal. Por meios invisíveis, provocou a dissolução das questões pelas quais o povo estava lutando. Quando não havia mais nada por que o povo lutar, as revoluções deixaram de irromper. Esse foi o método ardiloso pelo qual Bismarck resistiu à democracia. [1] A principal obra de Sun Yat-sem, contendo todos os principais princípios, fora publicada pela lendária e saudosa editora Calvino, que aqui referenciamos na tradução feita diretamente do original chinês: YAT-SEN, Sun. Princípios do povo. Rio de Janeiro: Editorial Calvino Limitada, 1944. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/sun-yat-sen/1924/03/index.htm. Acesso em: 18 nov. 2019. [13] MARX, K; F. Miséria da Filosofia. Disponível em< https://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/livros-e-colecoes/marx-e-engels/a-miseria-da-filosofia.pdf/view > [14] Idem. Ibidem. [15] Sobre a autofobia na esquerda ver Losurdo em:< https://www.marxists.org/portugues/losurdo/2017/04/06.htm>. Sobre a produção de Emoções e a classe dominante ver: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/31615/losurdo-producao-das-emocoes-e-novo-estagio-do-controle-da-classe-dominante [16] MARX,K; ENGELS, F. O Manifesto do Partido Comunista. Pag. 20. Disponível em: