Por Klaus Scarmeloto
Estudar o Holodomor significa, basicamente, trabalhar um tema de grande polêmica, e, também, sensível, já que, tradicionalmente, afirma-se que boa parte do povo ucraniano foi vítima de um genocídio causado dolosamente pela política comunista Soviética.
Neste sentido, o Holodomor está sensivelmente ligado a produção das emoções, atualmente, atinge principalmente as gerações mais ascendentes de ucranianos.
O termo “Holodomor” foi deliberadamente cunhado para soar semelhante a “Holocausto”.
Significa traduzindo literalmente: matar pela fome ou de fome.
O Holodomor, no entanto, não visa apenas versar sobre o passado histórico do povo ucraniano e nem tão somente visa substituir a história oficial soviética. Acima de tudo, a propagação do Holodomor visa produzir emoções para controlar o presente e o futuro, assim como o chamado massacre de Katyn.
Para fazer isso, as classes dominantes atuais recorrem a velha prática que aprenderam bem com os burgueses franceses e, sobretudo, com os imperialistas britânicos: que consiste em dividir os países e coloniza-los através do incentivo dos conflitos étnico-nacionais os hierarquizando, através do mais bruto chauvinismo nos mais diversos aspectos.
Como o objeto de busca das classes dominantes, atualmente, é desemancipar e, portanto, reinstalar o projeto colonial clássico, muito dos agentes contrarrevolucionários procuram colocar em prática, ainda que sutilmente, velhos preceitos do colonialismo clássico como a proibição dos costumes, línguas e alfabetos.
No caso da Ucrânia, em especial, esse projeto está retornando aos poucos através das tentativas múltiplas de suprimir o alfabeto cirílico em proveniência do alfabeto latino, comum tanto na Europa quanto nos EUA.
Vejamos, hoje, as classes dominantes não podem implantar a retomada do projeto colonial, em regra, pelo velho método da guerra bélica de movimento, de posição e até mundial, por isso, recorre as guerras psicológicas, não convencionais, chamadas atualmente de guerras hibridas.
Para melhor combater essa mentira histórica e, também, divulgar nosso atual projeto: a publicação de Fraude, Fome e Fascismo de Douglas Tottle (https://www.catarse.me/fascismo pedimos intensamente o apoio a este projeto) traremos ao público brasileiro algumas referências bibliográficas de renomados historiadores que desmontam a farsa com farta documentação. Seguem algumas citações e considerações sobre elas:
A FOME NÃO FOI CAUSADA PELA LIDERANÇA COMUNISTA
Em sua obra de mais de 800 páginas de documentos, obra com comentários nada simpáticos a Stálin e a liderança comunista, a historiadora Diane P Koenker, emérita na universidade de Illinois, afirma:
Os documentos incluídos aqui ou publicados em outro lugar ainda não apoiam a alegação de que a fome foi produzida deliberadamente com o confisco da colheita, ou que foi dirigida especialmente contra os camponeses da Ucrânia.
Koenker e Bachman, Revelations from the Russian archives. Washington: Library of Congress, 1997, p. 401.
A obra acima, nada tem de suave a Stálin e a direção do PCUS. Inclusive, parece negligenciar severamente os fatores naturais e climáticos da fome, que foram reais. Mas, não vê a fome como um instrumento para erradicar os ucranianos. Aponta falhas que, possivelmente, podem ser reais: má avaliação dos recursos, péssimas respostas e grosseria aos pedidos de ajuda dos camponeses; e, acima de tudo, preocupação excessivamente grande de se realizar o projeto econômico custe o que custar, já que o projeto de industrialização era garantido e subsidiado pela produção agrícola. Algumas acusações graves de ocultação da fome por parte das autoridades soviéticas ao longo do tempo, são realizadas, do qual por hora, parecem extremamente exageradas. Além de desconsiderar totalmente o papel Kulaks. No entanto, nada obsta o fato de que a fome não foi causada artificialmente contra uma etnia.
Continuando, numa linha muito distante, com outro foco, Tauger, afirma:
Isso é uma resposta à nota da Sra. Chernihivaka sobre o livro de cartas alemãs e a referência ao que ela chamou de “Fome Ucraniana” do início dos anos 1930.
Gostaria apenas de salientar que eu e uma série de outros estudiosos mostramos conclusivamente que a fome de 1931-1933 não se limitou de forma alguma à Ucrânia, não foi uma fome "produzida pelo homem" ou artificial no sentido de que ela e outros devotos do argumento da fome ucraniana afirmam, e não foi um genocídio em qualquer sentido convencional do termo. Da mesma forma, mostramos que o livro do Sr. Conquest sobre a fome está repleto de erros e inconsistências e não merece ser considerado um clássico, mas sim outra expressão da Guerra Fria.
Eu recomendaria à Sra. Chernihivaka as seguintes publicações sobre a fome de 1931-1933 e também algumas outras. Começarei com a minha, porque acredito que elas se relacionam mais diretamente com a pergunta dela. “A colheita de 1932 e a fome soviética de 1932-1933” e “Desastre natural e ações humanas na fome soviética de 1931-1933”. Esses dois artigos mostram que a fome resultou diretamente de uma colheita de fome, uma colheita muito menor do que oficialmente reconhecida, que esta pequena colheita foi, por sua vez, o resultado de um complexo de desastres naturais que [com uma pequena exceção] nenhum estudioso anterior já discutiu ou mesmo mencionou. As notas de rodapé do artigo de Carl Beck contêm citações extensas de fontes primárias, bem como de fontes secundárias ocidentais e soviéticas, entre outras por Penner,
Fome na Ucrânia, de Mark Tauger. E-mail enviado em 16 de abril de 2002
John Arch Getty, possivelmente o primeiro nome não marxista da escola antitotalitária, procura afirmar que a Fome não foi realizada de maneira intencional. Ele critica duramente a direção Bolchevique, e afirma que suas políticas foram equivocadas, e até cruéis, mas reconhece que os bolcheviques tentaram evitar a exportação de grãos e produtos agrícolas para conter a fome. Entre os emails enviados por Getty em 2002, encontra-se um de suma importância que abordam seis pontos fundamentais para questão da fome, fazendo um paralelo importante com a hostilidade de outros países contra a URSS.
Não sou um especialista em fome ucraniana, mas estou familiarizado com as pesquisas recentes de vários estudiosos sobre o assunto, e penso muito na pesquisa ampla e profunda que Mark Tauger conduziu ao longo de muitos anos.
Essa familiaridade me leva a acreditar que não existem respostas simples para isso. Uma fome “produzida pelo homem” não é o mesmo que uma fome deliberada ou “fome de terror”. Uma fome originalmente causada por quebra de safra e agravada por políticas inadequadas é “agravada pelo homem”, mas apenas parcialmente “causada pelo homem”. Por que, neste campo, sempre insistimos em absolutos, especialmente os categóricos, binários e polêmicos? Verdadeiro/ falso. Bem/mal. Falha na colheita/feita pelo homem.
Apesar de Citar abertamente Tauger, Getty não parece falar muito dos problemas de desastres naturais, por isso, sua visão se aproxima muito de Wheatcroft e outros que dão demasiada importância a falha humana não intencional como acentuamento da fome. O que, especialmente, este que vos comunica, não permanece totalmente de acordo. No entanto, não podemos negar que a posição de Getty tem uma importância para o debate como um todo já que se trata de um não comunista combatendo a tese do genocídio ucraniano, e do primeiro historiador antitotalitário não marxista. Sua posição, entretanto, é centrista, e não procura investigar o escopo da luta de classes sob o socialismo que era uma preocupação recorrente ao período.
Muitas perguntas têm respostas ambíguas.
1. Por que a Ucrânia foi selada pelas autoridades soviéticas?
Não necessariamente para punir os ucranianos. Isso também foi feito para evitar que pessoas famintas se reunissem em áreas sem fome, colocando pressão sobre os escassos suprimentos de alimentos e, assim, transformando um desastre regional em um desastre universal. Essa também foi a razão original para o sistema interno de passaportes, que foi adotado em primeira instância para evitar o movimento de pessoas famintas e desesperadas e, com elas, a propagação da fome.
A vista que se tem da questão acima, podemos concluir que a URSS procurou a todo custo não alastrar o problema, enquanto tentava contorna-lo. Nenhum dos métodos utilizados eram métodos que diferiam substancialmente de qualquer outro país que lidava com o problema da fome. Lembremos que na transição para o socialismo, ainda poderia restar uma série de práticas comuns entre estados capitalistas e os que estão no se caminhando para o socialismo.
2. Por que jornalistas estrangeiros, mesmo apologistas de Stalin como Duranty, recusaram o acesso às áreas de fome?
Pela mesma razão que jornalistas americanos não têm mais permissão para entrar nas zonas de combate dos Estados Unidos (Guerra do Golfo, Afeganistão) desde o Vietnã. Nenhum regime está ansioso para se arriscar na mídia negativa se puder controlar a situação de outra forma.
Na realidade, posteriormente, já em 1933, Duranty andou pela Ucrânia e não achou os sinais da Fome, mas, aqui, Getty se refere a um procedimento padrão de segurança nacional aplicado a qualquer país, infelizmente, este é um estigma residual do capitalismo que, como já mencionado, não se pode eliminar na etapa inicial de transição ao socialismo, que era o que a URSS vivia naquele período histórico. Sobre isso, para complementar, pode-se citar o próprio Duranty: "Kharkov, setembro de 1933 - Acabei de completar uma viagem de carro de 320 quilômetros pelo coração da Ucrânia e posso dizer positivamente que a colheita é esplêndida e toda conversa sobre fome agora é ridícula…. A população, desde os bebês aos idosos, parece saudável e bem nutrida."
Duranty, Walter. Duranty Reports Rússia. Nova York: The Viking Press, 1934, p. 318
3. Por que a ajuda de outros países foi recusada?
Obviamente, para negar aos “imperialistas” uma chance de alardear o fracasso do socialismo. Certamente a política triunfou sobre o humanitarismo. Além disso, na crescente paranoia da época (e com base na experiência da Guerra Civil), o regime acreditava que os espiões vinham junto com a administração de ajuda.
Essa é uma preocupação genérica, não se deve subestimar o fato de que certamente essas ajudas humanitárias são uma hipocrisia, uma vez que os próprios países imperialistas embargavam a URSS e isso causava impactos internos.
4. Por que leio e ouço histórias de famílias que tentaram levar suprimentos de outras regiões para ajudar seus parentes durante o período, tendo todos os alimentos confiscados quando voltaram para as regiões famintas?
O regime acreditava, razoavelmente eu acho, que os especuladores estavam tentando tirar vantagem do desastre comprando alimentos em regiões não famintas (mas mesmo assim com escassez de alimentos), transferindo-os para a Ucrânia e revendendo-os a um preço mais alto. No verdadeiro estilo bolchevique, não havia nenhuma abordagem diferenciada para isso, nenhuma distinção entre famílias e especuladores, e todo mundo estava parado. Como no ponto 1 acima, os regimes que enfrentam a fome geralmente tentam conter o desastre geograficamente. Isso não é o mesmo que querer punir as vítimas.
O próprio Getty não coloca essa preocupação como exagerada, ela era relativamente razoável. Embora aqui ele acredite que os Bolcheviques não tinham uma abordagem que diferenciasse os capitalistas agrários e especuladores de famílias campesinas. Possivelmente ele acreditava que os critérios para determinar quem eram os Kulaks, os médios e pequenos camponeses, não eram tão bem definidos.
E é preciso enfatizar que, após o confisco, esses grãos eram precisamente distribuídos e doados, e a depender do contexto, pagos a posteriori ou não.
Temos de lembrar que Zemskov também falava dos famosos confiscos ilegais que eram punidos severamente pelos bolcheviques. Segundo o próprio Zemskov, um dos maiores especialistas nos arquivos de Moscou, insuspeito de Stalinismo: "Não era incomum quando vários departamentos usavam indevidamente os fundos de alimentação alocados para colonos especiais (ou seja, eles na verdade roubavam pessoas que estavam à beira da fome)". Neste sentido, continua Zemskov, "na resolução da Comissão de Execução do Conselho de Comissários do Povo da URSS, de 17 de novembro de 1932, foi enfatizado: fatos de esbanjamento desses fundos”. Com intuito de conter o problema "As autoridades aprovaram a imposição de penalidades e ação penal pela OGPU e KK-RCI da região dos Urais, territórios da Sibéria Ocidental, Sibéria Oriental e Extremo Oriente de vários trabalhadores do Comissariado do Povo para Florestas, culpados de esbanjamento e desvio de 4 mil toneladas de fundos de grãos, destinada ao abastecimento de famílias de assentados especiais". Podemos observar que "Este decreto obrigou o Comissariado do Povo da URSS e o Tsentrolessektsia a introduzir, a partir de 1º de janeiro de 1933, um sistema de racionamento para o abastecimento das famílias de colonos especiais [36]." ZEMSKOV, Viktor. STALIN E O POVO. POR QUE NÃO HOUVE LEVANTE? Disponível em< https://bit.ly/3ExMATF> Acesso na data de Hoje.
5. Se foi um fracasso na colheita, por que o fardo desse fracasso não foi simplesmente compartilhado por toda a União Soviética?
Era. Nenhuma região tinha muitos alimentos em 1932-33. A comida era escassa e cara em todos os lugares. Todo mundo estava com fome.
Com as sugestões acima, não pretendo dar desculpas ou desculpas aos stalinistas. Sua conduta nisso foi errática, incompetente e cruel e milhões de pessoas sofreram inimaginavelmente e morreram como resultado. Mas é muito simples explicar tudo com uma explicação de “os bolcheviques eram apenas pessoas más”, mais adequada para crianças do que para estudiosos. Era mais complexo do que isso. Embora a situação tenha sido agravada de algumas maneiras pelos erros bolcheviques, suas tentativas de conter a fome, uma vez que começou, não foram totalmente estúpidas, nem foram necessariamente cruéis gratuitamente. Os stalinistas, a propósito, acabaram cortando as exportações de grãos e, a propósito, enviaram ajuda alimentar para a Ucrânia e outras áreas. Era tarde demais.
Acima, podemos perceber que, embora Getty afirme com base nas pesquisas de arquivos que realizou uma certa estupidez na política dos bolcheviques, ele enfatiza que os grãos para exportação foram, em grande medida, contidos para dar conta de resolver a questão da Fome. E de fato, há uma grande quantidade de documentos ucranianos que podem explicar a situação. E estão no seguinte site:
https://old.archives.gov.ua/Sections/Famine/Publicat/Fam-Pyrig-1932.php (meus sinceros agradecimentos ao camarada: Joao herbella https://twitter.com/joaoherbella, por ter compartilhado esse importante acervo).
6. Negar o genocídio judeu acertadamente traz opróbrio. Certamente, negar a fome de terror de 1932-33 deveria provocar a mesma reação.
Esta é uma posição que pessoalmente considero grotesca, insultuosa e pelo menos superficial. Ninguém está negando a fome ou a enorme escala de sofrimento (como os negadores do holocausto fazem), muito menos Tauger e outros pesquisadores que passaram grande parte de suas carreiras tentando trazer essa tragédia à luz e nos dar um relato factual dela. Reconhecidamente, o que ele e outros acadêmicos fazem é diferente do trabalho de jornalistas e polemistas que coletam indiscriminadamente histórias de terror e as colocam entre afirmações repetitivas sobre o mal, empilhando tudo e chamando-o de história. Um relato factual e cuidadoso do horror não o torna menos horrível.
Fome na Ucrânia por J. Arch Getty, e-mail enviado em 7 de maio de 2002
Esta é uma posição que diz pouco sobre as causas naturais, desastres e eventos inevitáveis. Os possíveis erros humanos são secundários, Zemskov sobre isso afirma: "O principal obstáculo à inclusão daqueles que morreram de fome em 1933 entre as vítimas exatamente do terror político com a formulação desenvolvida pelas organizações de direitos humanos como "fome artificialmente organizada para causar a morte em massa" é o fato de que a política fiscal era um fator secundário, e o principal era um desastre natural (seca)." Portanto, neste sentido, "Nem o objetivo de causar mortes em massa havia. Simplesmente e infelizmente "a liderança política da URSS não previu e não antecipou tais consequências negativas da sua política fiscal em condições de seca".
ZEMSKOV, Viktor. STALIN E O POVO. POR QUE NÃO HOUVE LEVANTE? Disponível em: <https://bit.ly/3ExMATF> Acesso na data de Hoje. Ainda no mesmo sentido, a falta de evidências da fome como instrumento de genocídio, carecia de indícios para além de relatos anedóticos também na época da guerra fria.
“Não há evidências de que [a fome de 1932-33] foi intencionalmente dirigida contra os ucranianos”, disse Alexander Dallin, de Stanford, o pai da moderna Sovietologia. “Isso estaria totalmente em desacordo com o que sabemos - não faz sentido.”
“Eu absolutamente rejeito isso”, disse Lynne Viola, da SUNY-Binghamton, a primeira historiadora dos Estados Unidos a examinar o arquivo do Estado Central de Moscou sobre coletivização. “Por que, em nome de Deus, esse governo paranoico produziria conscientemente uma fome quando morriam de medo da guerra [com a Alemanha]?”
“Ele [Conquest] é péssimo em fazer pesquisas”, disse a veterana soviética Roberta Manning, do Boston College. “Ele faz mau uso de fontes, ele distorce tudo.”
O que nos deixa com um quebra-cabeça: uma ou duas ou 3,5 milhões de mortes relacionadas à fome não seriam suficientes para fazer um argumento anti-stalinista? Por que agarrar uma figura excessivamente inflada que não pode ser sustentada? A resposta fala muito sobre a causa nacionalista ucraniana e sobre aqueles que a incentivam. “Eles estão sempre procurando chegar a um número maior que 6 milhões”, observou Eli Rosenbaum, conselheiro geral do Congresso Judaico Mundial. “Isso faz o leitor pensar: 'Meu Deus, é pior que o Holocausto'.”
IN SEARCH OF A SOVIET HOLOCAUST [A 55 Year Old Famine Feeds the Right] by Jeff Coplon. Village Voice, New York City, January 12, 1988. Disponível em: <https://msuweb.montclair.edu/~furrg/vv.html>
Como vemos acima, quanto mais acrescentamos números e zeros as contas, mais conseguimos sustentar o mito não só do Holodomor, mas do totalitarismo. Neste sentido, a situação só piora, mesmo quando se admite possíveis erros na gestão soviética, nunca se é o suficiente. É preciso tornar a URSS, proporcional a qualquer país imperialista.
No decorrer da primeira guerra mundial, os franceses e britânicos mataram milhões de africanos e indianos. São números confessados muito mais elevados que sequer são lembrados. "A Primeira Guerra Mundial foi uma carnificina total em que até mesmo pessoas completamente alheias ao conflito foram obrigadas a participar". Neste sentido, "conforme observou o respeitado historiador britânico A. J. P. Taylor, “cerca de 50 milhões de africanos e 150 milhões de indianos foram envolvidos, sem consulta, em uma guerra a respeito da qual não compreendiam nada”. Sem qualquer peso de decisão os indianos e africanos foram levados a morte por deportação, em proporções muito maiores que as realizadas pelos soviéticos. "Foram simplesmente recolhidos pelo governo londrino e deportados a milhares de quilômetros de distância, para serem conduzidos a uma “sombria fábrica de cadáveres” que agora operava a pleno vapor na Europa". Assim, pelos liberais, pelo "mundo livro", "Foram levados lá como membros de uma “raça inferior”, que uma “raça superior” podia em boa consciência sacrificar como bucha de canhão" LOSURDO, D. Guerra e revolução: o mundo um século após Outubro de 1917. Boitempo: São Paulo, 2019. pp.176-7, 309 e 168
Citamos este fato acima da primeira guerra mundial para deixar evidente o quão distante estavam os soviéticos dos Estados imperialistas, e, também, para mostrar a que serve a tese do totalitarismo, que, além de negar os holocaustos liberais, igualam a URSS e o socialismo real ao nazifascismo. É preciso exagerar os números soviéticos para não deixar alternativas ao capitalismo e ao liberalismo.
A gravidade e a extensão geográfica da fome, o declínio acentuado nas exportações em 1932-1933, as necessidades de sementes e o caos na União Soviética nesses anos, tudo leva à conclusão de que mesmo uma cessação completa das exportações não teria sido suficiente para evitar a fome. Esta situação torna difícil aceitar a interpretação da fome como resultado das compras de grãos de 1932 e como um ato consciente de genocídio. A colheita de 1932 essencialmente tornou a fome inevitável.
… Os dados apresentados aqui fornecem uma medida mais precisa das consequências da coletivização e da industrialização forçada do que estava disponível anteriormente; no mínimo, esses dados mostram que os efeitos dessas políticas foram piores do que se supõe. Eles também, no entanto, indicam que a fome foi real, o resultado do fracasso da política econômica, da “revolução de cima”, e não de uma política de nacionalidade “bem-sucedida” contra os ucranianos ou outros grupos étnicos.
Tauger, Mark. “The 1932 Harvest and the Famine of 1933,” Slavic Review, Volume 50, Issue 1 (Spring, 1991), 70-89.
Tauger afirma que a coletivização e a industrialização, são também responsáveis pelo acentuamento do problema, e não pelo problema em si. Mas, mesmo diante de tudo isso, ele alegava que os camponeses em geral apoiaram as duas políticas exaustivamente. Ele não encontrou provas cabais de que essas políticas não fossem queridas. Neste sentido, se se tratou de um erro, tratou-se de um equívoco coletivo, tanto das direções como dos dirigidos. Não se tratou de um erro apenas da direção soviética.
Finalmente, o que dizer dos outros 90% dos camponeses que não se rebelaram? Alguns camponeses não rejeitaram a coletivização e até a apoiaram. Em março de 1929, os camponeses sugeriram em uma reunião em Riazan okrug que o governo soviético deveria tomar todas as terras e fazer com que os camponeses trabalhassem em troca de salários, uma concepção não muito distante da futura operação de kolkhozy. Um relatório da OGPU citou um camponês médio em Shilovskii raion, Riazan okrug, em novembro de 1929, afirmando que 'as aquisições de grãos são difíceis, mas necessárias; não podemos viver como vivíamos antes, é necessário construir fábricas e fábricas, e para isso é necessário o grão '. Em janeiro de 1930, durante a campanha, alguns camponeses disseram, 'chegou a hora de abandonar nossas fazendas individuais. É hora de parar com isso, [nós] precisamos nos transferir para a coletivização. “Outro documento de janeiro relatou vários casos de camponeses formando kolkhozy espontaneamente e consolidando seus campos, o que era uma parte básica da coletivização. A análise de Bokarev resumida acima sugere uma razão pela qual muitos camponeses não se rebelaram contra a coletivização: o kolkhoz de certas maneiras, especialmente em seu coletivismo de uso da terra e princípios de distribuição igualitária, não estava muito longe das tradições e valores camponeses nas aldeias corporativas em todo o URSS. Em qualquer caso, este exemplo, e a evidência de que a vasta maioria dos camponeses não se envolveu em protestos contra a coletivização, refuta claramente a afirmação de Graziosi citada acima de que as aldeias estavam "unidas" contra a coletivização. que era uma parte básica da coletivização. A análise de Bokarev resumida acima sugere uma razão pela qual muitos camponeses não se rebelaram contra a coletivização: o kolkhoz de certas maneiras, especialmente em seu coletivismo de uso da terra e princípios de distribuição igualitária, não estava muito longe das tradições e valores camponeses nas aldeias corporativas em todo o URSS. Em qualquer caso, este exemplo, e a evidência de que a vasta maioria dos camponeses não se envolveu em protestos contra a coletivização, refuta claramente a afirmação de Graziosi citada acima de que as aldeias estavam "unidas" contra a coletivização. que era uma parte básica da coletivização.
Pelas mesmas razões, todas as citações anedóticas de documentos OGPU de camponeses que se recusam a trabalhar são, na melhor das hipóteses, problemáticas e muitas vezes sem sentido como indicadores gerais de suas ações e as consequências delas, e nenhuma generalização ou conclusão de que a maioria ou todos os camponeses resistiram ao trabalho no fazendas, são válidos se extraídos de tais evidências.
Em versões tão extremas, a “interpretação da resistência” levaria a esperar que o sistema kolkhoz não pudesse ter funcionado: os camponeses teriam evitado o trabalho, cometido sabotagem e subterfúgio e produzido pouco ou nada. Escritos nesta interpretação raramente indicam que os camponeses realmente realizavam qualquer trabalho agrícola; a partir desses estudos, parece que praticamente tudo o que os camponeses fizeram foi mostrar resistência…. Os dados da safra da década de 1930, porém, demonstram que essa interpretação não é compatível com os resultados do trabalho do sistema. Muitos, senão a maioria dos camponeses, adaptaram-se ao novo sistema e trabalharam arduamente nos períodos cruciais todos os anos. Quando as condições eram favoráveis, as colheitas eram adequadas e às vezes abundantes; quando desfavoráveis, os resultados eram quebras de safra e fome se as colheitas fossem especialmente baixas. Mais notavelmente, as colheitas foram maiores nos anos após os desastres naturais e quebras de safra (1933,1935,1937), indicando que muitos camponeses trabalharam em condições muito difíceis, até mesmo com fome, para produzir mais e superar as crises. Isso significa que, além de seus problemas de evidência, a “interpretação da resistência”, pelo menos em suas versões extremas, é unilateral, reducionista e incompleta. As respostas dos camponeses ao sistema kolkhoz não podem ser reduzidas à resistência sem sérias omissões e distorções dos eventos reais. Uma interpretação mais completa e precisa deve levar em conta mais do que a resistência. Isso significa que, além de seus problemas de evidência, a “interpretação da resistência”, pelo menos em suas versões extremas, é unilateral, reducionista e incompleta.
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adaptation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY, 2005, Chapter 3, p. 75-78
Não raramente, o próprio Estado soviético procurou investigar os focos da fome para melhor combate-la, e sem coletivização, seria improvável que as próprias informações fossem circuladas tão rapidamente. Se a fome fosse predominantemente causada pelo Homem, deveria em todo caso cercar as vias de transporte de alimentos as regiões ucranianas e priva-las do acesso a estes grãos. Como se sabe, não foi isso que aconteceu. Ou caso quisessem o que seria plenamente possível, se o objetivo era matar os ucranianos, havia métodos mais eficientes, que nunca foram utilizados. Um país com poder de fogo para aniquilar a fúria expansionista do terceiro Reich, que na época dos fatos, tinha um dos melhores arsenais bélicos do mundo, caso quisesse realizar um genocídio, o faria militarmente e não usando métodos duvidosos.
Durante o início de 1933, a OGPU e outro pessoal investigaram aldeias para determinar a extensão da fome para os esforços de socorro. Invariavelmente, seus relatórios mostraram que, embora a fome afetasse principalmente os camponeses que não ganhavam muitos dias de trabalho, ela frequentemente atingia os camponeses que ganhavam centenas de dias de trabalho e kolkhozy altamente produtivos e bem-sucedidos. Claramente, uma vez que muitos kolkhozniki eram trabalhadores e bem-sucedidos até a campanha de aquisições do outono de 1932, a resistência está longe de ser a história completa.
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adaptation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY, 2005, Chapter 3, p.82.
A própria ideia de resistência a política soviética atingiu uma fração dos camponeses, e era uma fração ligada a nobreza latifundiária. Mas, a realidade é que muitos camponeses fizeram esforços e mantiveram seu apoio ao sistema soviético. Mesmo que por um instante se afirme que a industrialização e a coletivização foram políticas pesadas de maneira geral para o povo soviético, ambas foram necessárias e indispensáveis para o desenvolvimento das forças produtivas e para resistir a inevitável segunda guerra mundial que se aproximava. Criticar tais políticas significa evaporar a história e o contexto que fizeram delas necessidades primordiais. Deve-se ter em conta que o contexto histórico forçava a URSS a atingir o mesmo grau de desenvolvimento tecnológico que seus adversários para se defender de futuras ameaças. No entanto, não dispunham os soviéticos de condições sadias de tempo médio para se industrializar e, infelizmente, todos viviam sob o medo da ameaça de uma nova guerra que poderia coloniza-los em caso de derrota. Essa pressão externa, esse medo geral, causou diferentes reações nos extratos sociais soviéticos. Cada facção reagiu de maneira diferente ao mesmo processo e por isto a luta interna era uma constante, e falaremos disso em outro momento.
É preciso compreender a geopolítica daquele momento histórico, no qual Alemanha, EUA, Inglaterra, França, e Japão, levaram séculos para se desenvolver industrialmente. A URSS não tinha esse tempo médio infelizmente, pois bem conheciam, todos os soviéticos, o fato de que, o sistema imperialista, como diria Lênin, partia e repartia o mundo por meio de sucessivas guerras que aconteciam periodicamente. E todo país despreparado para essas guerras era obrigado e condenado a escravidão. Os soviéticos sabiam que o preço a se pagar seria alto pela realização em míseros 4 anos de um processo industrial em que, sadiamente, os mais diversos países, faziam em 100 anos. Eles sabiam do risco, mas a história - ou o histórico de guerras imperialistas - os obrigava a pagar o preço: a engolir secamente as adversidades. Este preço trazia sobrecargas que gerariam negligências em diversas áreas, que eram praticamente sacrificadas. Particularmente, é notável que cientistas brilhantes como Vigotsky e até mesmo de certo modo Krupskaya, acabaram sem grandes atenções. Krupskaya mesmo acabou por compor diversas comissões de revisão dos expurgos, por exemplo, em vez de ter meios e tempo de desenvolver e aplicar a pedagogia socialista. O medo da guerra colocava todo o Estado e, por consequência, o Partido, sob pressão e, por vezes, levava a exageros. No entanto, embora isto fosse tudo de ruim, não era "evitável", e quando passou a ser, infelizmente parecia tarde (desenvolveremos este assunto mais enfaticamente no futuro). Proponho que pensemos, por um instante, a alternativa: a industrialização e a coletivização moderadas. Se por ventura esse fosse o caminho soviético, não restaria dúvidas de que a Guerra contra a Alemanha teria um destino completamente diferente e trágico. A ocasião infelizmente determina a direção. Os trabalhadores soviéticos e os camponeses soviéticos entenderam a questão com toda a clareza, por isto, não se opuseram nem a proposta de industrialização e nem a coletivização. Este na verdade é um mito. Segundo Tauger:
Concentrar-se tão exclusivamente na resistência, especialmente como fazem as versões extremas da interpretação da resistência, à luz da produção repetida de boas colheitas pelos camponeses soviéticos, na sequência de sérios fracassos de colheitas e fomes, representa erroneamente a ação da maioria dos camponeses e omite suas realizações e, portanto, apresenta uma interpretação incorreta da vida rural soviética....
A coletivização foi, portanto, fundamentalmente ambivalente como política, com lados bons e ruins. As respostas dos camponeses a isto também foram ambivalentes; incluindo, é claro, resistência significativa, mas também muitas outras atitudes, incluindo adaptação e apoio significativos. E no auge da crise, os camponeses demonstraram repetidamente sua capacidade de colocar de lado suas objeções, de superar adversidades mesmo com grandes custos e de produzir colheitas que acabavam com a fome.
Em outras palavras, o "giro" - tropo - que proponho aqui para abranger e compreender todas as respostas dos camponeses à coletivização não é o de resistência heroica, mas fútil contra um sistema errado, os nobres camponeses lutando com as armas dos fracos, o que se refere apenas a uma fração dos camponeses, mas sim um de heroísmo amargo e ambivalente, esforços desesperados mas muitas vezes bem sucedidos de alguns camponeses apesar dos desastres naturais, da inépcia e dureza do regime e do desprezo e hostilidade de alguns de seus vizinhos. Esta concepção corresponde muito melhor aos resultados concretos que, na maioria dos anos, alimentaram a crescente população da URSS.
A "interpretação da resistência" parece ser um exemplo de erudição teórica ou mesmo politicamente motivada, na qual os estudiosos selecionaram evidências para se encaixar em suposições teóricas pré-concebidas ou expressar sua hostilidade ao regime soviético, mas não consideraram quão representativas e realistas suas evidências realmente eram. A "interpretação da resistência", pelo menos em suas versões extremas, é na verdade profundamente irrealista: os camponeses, como outras pessoas, tinham atitudes e respostas diferentes aos eventos que os afetavam. Basta considerar a ampla gama de opiniões de alguns antigos camponeses que chegaram a posições de destaque no início do século 20 na Rússia e na URSS:... Dado tal espectro de perspectivas de antigos camponeses, devemos esperar e buscar uma variedade de opiniões nas evidências, em vez de assumir que todos os camponeses eram resistentes e atribuir a todos eles as opiniões de uma minoria.
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adaptation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY, 2005, Chapter 3, p.88.
Para Tauger, apesar de haver resistência, inclusive armada, e aqui ele fez referência a nobreza ex-czar e latifundiária, esse fator não foi predominante nas determinações da fome como teriam sido as causas naturais. Mas a falta de preponderância de um fator não significa a inércia dele na equação. Mesmo um reacionário como Volkoganov é obrigado a reconhecer que os Kulaks impuseram resistência armada ao regime e isso também foi uma das causas da Fome, embora talvez não o principal fator:
Como resultado das deliberações de uma Comissão do Politburo presidida por Molotov e sob pressão de Stalin, em janeiro de 1930 o Comitê Central aprovou uma resolução “Sobre Medidas para Liquidar Fazendas Kulak em Áreas de Coletivização Plena”….
Correspondentemente, os ataques kulak ao regime soviético aumentaram, às vezes, se estendendo por amplas áreas. As ações contra as camadas mais abastadas do campesinato deram origem a uma onda de protestos, banditismo e levantes armados contra as autoridades.
A produção de grãos imediatamente caiu, logo seguida por um declínio na pecuária. A empresa camponesa nativa foi cortada pela raiz…. A morte em massa dos animais começou em muitas regiões: em comparação com 1928, o número de animais caiu para metade ou um terço em 1933.
Volkogonov, Dmitri. Stalin: Triumph and Tragedy. New York: Grove Weidenfeld, 1991, p. 169
Conquest também chegou a se ver obrigado a admitir o fato: "Em vez de permitir que seu gado caísse nas mãos do Estado, eles massacraram metade do rebanho do país. Em março, estava claro que o desastre havia atingido o campo."
Conquest, Robert. Stalin: Breaker of Nations. Nova York, Nova York: Viking, 1991, p. 160
Embora, talvez, essa seja uma admissão um tanto involuntária, que é muito comum existirem no pensamento de qualquer autor, sobretudo, aqueles com obra extensa.
Assim, em relação deskulakização houve "insurgências e outros atos de violência a assassinatos de coletivistas e seus colaboradores locais, a protestos vociferantes de mulheres, frequentemente em conexão com decisões soviéticas de fechamento de igrejas e/ou confisco de propriedade da igreja, ao "esbanjamento" de gado e outros bens através do abate e venda, à destruição de edifícios agrícolas coletivos, à libertação de kulaks presos, à reaquisição de bens confiscados, e à dissolução de fazendas coletivas". A criação de animais sofreu mais do que qualquer outra coisa por causa do abate em massa de gado quando os camponeses ingressaram nas fazendas coletivas.
Siegelbaum and Sokolov. Stalinism as a Way of Life. New Haven, Conn.: Yale University Press, c2000, p. 11 e 62.
É admitido por muitos historiadores burgueses que os Kulaks haviam destruído boa parte dos animais necessários para a produção e instigado os camponeses médios ao mesmo caminho. As estatísticas são as seguintes: "Em 1928, havia 33,5 milhões de cavalos no país; em 1932, 19,6 milhões. Para o gado, os números foram, respectivamente, 70,5 milhões e 40,7 milhões; para suínos, 26 milhões e 11,6 milhões; para ovinos e caprinos, 146 milhões e 52,1 milhões. Neste sentido, "no Cazaquistão, o número de ovelhas e cabras caiu de 19,2 milhões em 1930 para apenas 2,6 milhões em 1935. De 1929 a 1934, um total de 149,4 milhões de cabeças de gado foram destruídas". Assim, "o valor desses animais e de seus produtos (leite, manteiga, lã etc.) ultrapassou em muito o valor das gigantescas fábricas construídas no mesmo período. A destruição de cavalos significou uma perda de 8,8 milhões de cavalos de potência".
Nekrich and Heller. Utopia in Power. New York: Summit Books, c1986, p. 237
Pode-se dizer que "a motivação revolucionária de Stálin foi, sem dúvida, reforçada por um sentimento de medo sobre a chegada de informações acerca da disseminação do massacre de gado pelos camponeses". Infelizmente nada pôde parar esse processo que causou prejuízos. "No início de 1930, por exemplo, o número de cavalos no país - e na contínua ausência de um grande número de tratores, os cavalos eram tão essenciais para a agricultura coletiva quanto haviam sido para a agricultura privada - diminuiu drasticamente devido ao abate, doença e falta de alimentação." Na mesma época, "ao longo de todo o período de coletivização camponesa (1928-33), as estatísticas de abate de gado camponês, reveladas após a morte de Stalin, são: 26,6 milhões de cabeças de gado, ou 46,6% do total; 15,3 milhões de cabeças de cavalos, ou 47% do total; e 63,4 milhões de cabeças de ovinos, ou 65,1% do total".
Tucker, Robert. Stalin In Power: 1929-1941. Nova York: Norton, 1990, p. 178, 182.
Embora aqui exista um bom número de citações de autores relativamente burgueses da historiografia mundial, nunca é demais repeti-los. Montefiore, conhecido pelo antistalinismo ferrenho, também admite a chamada pressão advinda dos Kulaks. "Os camponeses acreditavam que podiam forçar o governo a parar, destruindo seu próprio gado; o desespero que poderia levar um camponês a matar seus próprios animais, dá uma ideia da escala; 26,6 milhões de cabeças de gado foram abatidas, 15,5 milhões de cavalos. Em 16 de janeiro de 1930, o governo decretou que a propriedade dos kulak poderia ser confiscada se eles destruíssem o gado."
Montefiore, Sebag. Stalin: The Court of Red Czar. Nova York: Knopf, 2004, p. 47
Muitos dos camponeses que não pertenciam aos Kulaks fizeram esse tipo de ação instigados pelos próprios Kulaks. Afinal, estes eram os que mais tinham a perder pela política de socialização dos animais e do campo. É claro que nesse meio, sobretudo, entre os mais desonestos historiadores, colocam informações de que esta foi uma reação de todos os camponeses como resposta a coletivização, o que não é verdade e Tauger já o demonstrou acima das mais diferentes formas. Seu relato possui mais força também em função da extensa analise documental que ele realizou. Abaixo ele nos traz uma eficiente avaliação das questões de como os animais foram tratados. Com isso, temos bases para afirmar que, embora não tiveram principal eixo da fome em suas mãos, os Kulaks tiveram alguma importância no resultado da fome. Tauger afirma que houve algum ressentimento na eliminação dos animais, e que também muitos foram abatidos para servir de alimento no período da grande crise dos grãos que afetou toda a região euroasiática.
As forças de recrutamento diminuíram drasticamente, direta ou indiretamente, como resultado da coletivização. Em resposta à coletivização e à socialização de sua propriedade nos kolkhosis, muitos camponeses venderam ou abateram seu gado, por uma variedade de razões: como um protesto contra a coletivização; porque não queriam entregar seus animais às novas fazendas coletivas sem compensação; por causa das promessas irrealistas das autoridades locais sobre a mecanização. Durante a campanha inicial de 1930, essas ações afetaram a maioria dos animais de consumo, principalmente bovinos e suínos. Posteriormente, quando a maioria dos camponeses já havia sido coletivizados e sujeitos às demandas de aquisição de 1931, o número de animais de tração, especialmente cavalos, diminuiu rapidamente. Os animais foram as vítimas imediatas da escassez em 1930-33, já que os camponeses famintos não tinham escolha a não ser se alimentar primeiro das reservas cada vez menores e porque os camponeses frequentemente expressavam seu ressentimento com a coletivização por meio da negligência e do tratamento abusivo do gado socializado. Além disso, como discutido acima, a principal forragem de grãos para cavalos, aveia, sofreu perdas substanciais com a ferrugem em 1932.
Como resultado, o número de cavalos diminuiu drasticamente em 1932. As fábricas soviéticas estavam produzindo tratores no início dos anos 1930, mas não em quantidade suficiente para compensar as perdas de cavalos.
Por outro lado, em algumas ações os camponeses expressaram claramente indignação e pretendiam se vingar do regime reduzindo a safra. As ações mais óbvias foram os ataques incendiários a edifícios e campos Kolkhozis. No Médio Volga, Nizhni Novgorod, Ivanovo e regiões do norte, o incêndio criminoso destruiu milhares de hectares de grãos não colhidos e centenas de toneladas de grãos colhidos, além de centenas de milhares de hectares de florestas, madeira cortada, habitação e combustível. Em alguns lugares, os camponeses atacaram funcionários e outros camponeses envolvidos no trabalho de colheita e destruíram máquinas de colheita, de acordo com a OGPU, com o objetivo de dificultar a colheita.
Não quero dizer que todos os relatórios da OGPU, como os da agricultura citados acima, foram falsificados. A maioria dessas descrições pode ser confirmada em outras fontes arquivadas e publicadas. Muitas fontes, por exemplo, documentam os esforços dos camponeses para desmantelar os kolkhosis e restaurar as práticas agrícolas tradicionais durante o processo de coletivização em 1929 -1930 e repetidamente depois disso; os relatórios da OGPU citados acima confirmam essas práticas e fornecem detalhes importantes.
Tauger, Mark. Natural Disaster and Human Actions in the Soviet Famine of 1931-1933 Pittsburgh: University of Pittsburgh, 2001, p. 21, p, 31 e p, 41.
Pessoalmente, Stálin agiu com cautela. Alguns relatos dão conta de compreender que sua ação não era necessariamente ou imediatamente repressiva.
Bandos de guerrilha percorreram os distritos do país roubando os novos Coletivos, destruindo seus prédios e queimando suas plantações. Sem nenhum objetivo claro, eles caíram em banditismo mal disfarçado, atacando e matando da maneira que seus ancestrais mongóis e tártaros haviam feito sob Tamerlão.
Por muito tempo, Stalin permaneceu paciente. Ele sabia, por amarga experiência na Geórgia, como é difícil trazer novas ideias a um povo pouco emancipado, e tinha uma consideração simpática pelo forte individualismo que resiste a qualquer autoridade ativa pela força. Quando finalmente a ação foi forçada sobre ele, ele se moveu com sua firmeza usual, mas não até que todas as outras vias tivessem sido exaustivamente exploradas.
Onde a resistência persistiu, apesar de todos os esforços, o Estado começou a deportação em massa de elementos traidores e, se necessário, não hesitou em remover aldeias inteiras para a Sibéria e os ermos do norte.
Como já havia sido feito muitas vezes antes, o treinamento de Stalin deu-lhe forças para continuar durante esse período. O homem que poderia perdoar Zinoviev e Kamenev, que três vezes o traiu; o líder que deixou Bukharin viver em liberdade, embora Bukharin tivesse proclamado abertamente a determinação de matá-lo, nada pararia no que dizia respeito à sua fé.
Cole, David M. Josef Stalin; Man of Steel. London, New York: Rich & Cowan, 1942, p. 84-85
Esse relato, embora soe apologético não é exagerado. O próprio Getty confirmou tempos atrás que os excessos contra os Kulaks também era contidos por Stálin e pelo partido. "Em alguns casos, o zelo dos militantes locais superou os planos do centro, e Moscou muitas vezes teve que conter as dekulakizações excessivas, a coletivização forçada e o zelo ultraesquerdista na perseguição da religião". Ainda nesse sentido, mesmo após decretos bastante enfáticos contra a piedade, Stálin reviu muitos casos e diminuiu pessoalmente sua pena. "Apesar das restrições de Stalin no decreto original contra a clemência, em agosto de 1936 um decreto secreto ordenou a revisão de todas as sentenças sob a lei de 7 de agosto de 1932. Quatro quintos dos condenados tiveram suas sentenças reduzidas, e mais de 40.000 delas foram libertados naquela época." Indo um pouco além, por vezes a clemência com a família era relativamente considerada. Um documento do PCUS prova isso com muita exatidão: "[Extrato de 2 de junho de 1935 do Protocolo nº 46 da sessão do Comitê Territorial do Mar Negro de Azov do Partido Comunista] 2) Deportamos de nosso território 1.500 kulaks, contrarrevolucionários que continuam a exercer seu antissovietismo, atividades anti-kolkhozes e sabotagem. Os membros de suas famílias, por outro lado, podem, se assim o desejarem, permanecer no local".
Getty & Naumov, The Road to Terror. New Haven, Connecticut: Yale Univ. Imprensa, c1999, p. 43, p, 110, e, p, 180.
Na Segunda parte deste texto, trabalharemos a questão de como os desastres naturais foram os fatores mais relevantes para a causa da fome.
Nojo, é você que nos causa, destilando seu ódio contra a verdade, defendendo a ignomínia dos ignorantes que se recusam a estudar e buscar a verdade entre o lixo que as classes dominantes produzem, como este corajoso e desbravador presente trabalho de investigação histórica, porque gente como você nada têm para apresentar como defesa contra o fato histórico que condenamos , o da exploração violenta e assassina do Capitalismo sobre os trabalhadores de todo o mundo. . Marlene de Souza Soccas.
que nojo de quem escreveu essa merda pra defender o indefensável