João Claudio Platenik Pitillo
Doutorando em História Social – UNIRIO
Pesquisador NUCLEAS – UERJ
Especialista em Segunda Guerra Mundial
Stalingrado, uma cidade de cerca de 600.000 habitantes as margens do rio Volga[1] que em 1942 era símbolo da industrialização soviética e dos planos quinquenais. Tornou-se para os nazistas a porta de entrada do Cáucaso, região rica em gás, minério e petróleo, materiais essências para a máquina de guerra nazista. O domínio do Cáucaso também permitiria aos nazistas cercarem Moscou e ligarem-se à Turquia, intimando a mesma à se juntar as tropas do Eixo na luta contra a URSS.
A Batalha de Stalingrado desenrolou-se de 17 de julho de 1942 a 2 de fevereiro de 1943, mobilizou mais de 2.000.000 de homens e fazia parte da “Operação Azul”, nome dado pelo Comando nazista às operações na região. A referida Batalha teve início na Curva do Don[2] em direção à Stalingrado, a ponta de lança do ataque nazista era o Grupo de Exércitos Sul (que se desdobrou em Grupo de Exércitos A e B), que vinham de uma campanha vitoriosa na Ucrânia. Eles reunião os Exércitos 6o e 17o e o 1o e 4o Panzer.
Os soviéticos combateram as tropas fascistas em um primeiro momento na cidade de Ordjonikidz[3], barrando a sua tentativa de avançar mais à leste, com isso o comando nazista deslocou o que tinha de melhor de seus Exércitos para a cidade de Stalingrado, onde as defesas soviéticas eram insipientes. O Exército Vermelho não possuía aviões suficientes e na região de Stalingrado o domínio dos céus era dos nazistas.
Na primeira quinzena de agosto, o 6o Exército nazista forçou a passagem em direção ao sul de Stalingrado, sendo apoiado pelo Exército Panzer do general Hoth. Por volta de 14 de agosto, quase todo o miolo da Curva do Don estava nas mãos dos fascistas, restavam poucas cabeças de pontes soviéticas resistindo.
Na segunda quinzena, os combates chegaram ao clímax na região divisória entre os rios Don e Volga Os nazistas conseguiram atravessar o Volga mais ao norte formando um saliente de cerca de 8 quilômetros, com o apoio de 600 aviões. Sem pânico, os soviéticos recuaram para evitar o cerco e estabilizaram a Frente ao norte, depois de 40.000 mortes civis. [4]
Em setembro a situação piorou drasticamente, com o isolamento do 62o Exército Soviético[5], que recebeu um novo comandante, o coronel Vasili I. Tchuikov[6]. O mesmo encontrou as defesas soviéticas em colapso, já com os combates penetrando o perímetro urbano e com as tropas fascistas controlando todos os acessos à cidade. Dessa maneira os fascistas passaram a controlar 90% da cidade no início de novembro de 1943.
No dia 19 de novembro a URSS desencadeou a “Operação Urano”, que visava retomar a cidade de Stalingrado e cercar as forças fascistas pelo sul e norte a partir das estepes, para isso contava com um contingente que foi formado e transportado para Frente de batalha sem que os invasores percebessem, no mais absoluto sigilo.
No dia 24 as forças soviéticas que avançavam pelo norte e sul formaram uma pinça e logo envolveram as tropas nazistas. O bolsão foi formado na cidade de Kalach a 50 km de Stalingrado, mais de 300.000 fascistas foram cercados. Todo o 6o Exército Alemão[7], o maior do mundo até aquele momento e em sua companhia o também poderoso 4o Exército Panzer foram imobilizados. Os soviéticos ainda estabeleceram outras faixas de tropas para evitar que alguém fugisse do cerco ou que alguma força pudesse romper o mesmo.
A tentativa de romper o cerco soviético foi tentada algumas vezes, com tudo, não se mostrou eficiente, as forças soviéticas eram mais vigorosas e possuíam melhores equipamentos contra o frio. No dia 16 de dezembro de 1942 os soviéticos desencadearam a “Operação Saturno”, que visava dividir e esmagar o 6o Exército alemão que estava imóvel dentro do bolsão, com êxito os soviéticos empurraram as forças nazistas em direção ao rio Don, onde perderam a mobilidade. Com a retomada dos céus sobre Stalingrado, a Força Aérea Vermelha e a artilharia do Exército Vermelho neutralizaram boa parte do material rodante dos alemães que já estavam ficando sem combustível, impedindo assim fugas e contra-ataques.
A resistência nazista durou pouco, em 2 de fevereiro de 1943 o 6o Exército rendeu-se com seus 22 generais e quase 100.000 homens restantes, que estavam famintos, doentes e desolados. A empáfia nazista no Cáucaso chegou ao fim com a icônica imagem do marechal-de-campo Von Paulus humilhado diante dos soviéticos. A Batalha de Stalingrado foi uma demonstração ao mundo de que a guerra estava mudando de condutor.
Nos 200 dias de batalha em Stalingrado a resistência soviética correu o mundo, a referida cidade ficou conhecida mundialmente como o ponto inicial da vitória soviética, motivou outros povos e serviu de exemplo para a luta contra o fascismo. Ao total o Eixo teve cerca de 850.000 baixas e os soviéticos 1.130.000, mais a população de Stalingrado com cerca 750.000 baixas entre seus habitantes. Como na Batalha de Moscou em 1941, os grandes trunfos soviéticos foram os T-34 e as tropas asiáticas, sendo elas empregas de forma rápida e silenciosa.
As Operações Urano e Saturno dizimaram 5 Exércitos alemães, além de 32 divisões e 3 brigadas, derrotou tropas italianas, romenas, espanholas, húngaras e várias outras nacionalidades que ocupadas pelos nazistas, cederam contingentes contra à URSS. A Batalha de Stalingrado foi um marco para a história no que tange a resistência do povo soviético e a habilidade de seus defensores.
[1] Tem 3688 km de extensão, nasce no planalto de Valdai e deságua no Mar Cáspio.
[2] Rio que nasce perto da cidade de Tula e deságua no Mar de Azov, tem 1950 km.
[3] Situada na base das cordilheiras do Cáucaso.
[4] WERTH, Alexander. A Rússia na Guerra, volumes 1, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966. P. 480.
[5] Depois de reforçado, foi elevado a categoria de 8o Exército de Guardas.
[6] Marechal da URSS duas vezes condecorado como herói.
[7] Ele era o dobro dos demais Exércitos alemães.
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