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História da Revolução Chinesa Parte 1

Por Klaus Scarmeloto e Igor Livramento


1. Mao Zedong: a síntese de duas revoluções


  • Como é de conhecimento geral entre os comunistas, Mao Zedong foi o mais representativo, o mais importante líder da história, não só da população chinesa, mas de toda a Ásia, onde é lido tanto pelos naxalitas na Índia quanto pelos filipinos e nepaleses. Como também se sabe, Mao Zedong não poderia ser outra coisa senão o resultado da revolução democrática de 1911 e da revolução chinesa de 1949 até o ano de sua morte em 1976.

  • Aos 18 anos, Mao participou dos acontecimentos da Revolução Xinhai (1911) e, mais tarde, do Movimento 4 de Maio (1919). Mao tornou-se marxista-leninista quando era aluno da universidade de Pequim, sendo um dos membros fundadores do PCCh. Conta-se que Mao tinha uma boa instrução em Língua Chinesa, tendo muita facilidade para fazer versos em diferentes estilos. Havendo sido mestre-escola na sua juventude, utilizava versos e fábulas para educar com sucesso as crianças a seu encargo[1].

  • O grande contributo de Mao Zedong à Revolução Chinesa é ter integrado, de maneira original e revolucionária, a universalidade do marxismo-leninismo com a práxis concreta e ter resolvido – de maneira justa e correta – as inúmeras contradições que surgiram no decorrer da revolução, teorizando um método para todos os povos em condições semelhantes subjugados pelo imperialismo na condição colonial ou semicolonial e semifeudal.

  • Assim, as particularidades China, sua condição objetiva, resultavam do pior tipo de opressão por parte das grandes potências imperialistas, como a guerra do ópio, com ocupação liderada pelo império britânico, apoiada pelos franceses, estadunidenses, czaristas russos, holandeses, austríacos, e, posteriormente, o fascismo japonês.

  • Tudo isso não poderia implicar em outro resultado senão uma onda de revoltas e revoluções contra o ocidente culminadas das mais diversas humilhações sofridas devido ao imperialismo, o qual fora derrotado em boa parte da Ásia.

  • Mao Zedong não nos deixa mentir ao mencionar quais são as práticas imperialistas em países dominados. Compreendendo a dinâmica do desenvolvimento desigual, Mao Zedong inovou e acrescentou a teoria leninista do imperialismo, uma importante contribuição ao descrever o comportamento econômico político e jurídico das nações imperialistas, até então inexistente entre os teóricos leninistas. Esse conhecimento, como se verá adiante, foi fundamental na condução da Revolução Chinesa e primordial para compreender sua história. Segundo Mao Zedong:

  • O nascimento e desenvolvimento do capitalismo não é mais que um aspecto das modificações registradas com a penetração imperialista na China. Existe ainda um outro aspecto, concomitante, fazendo obstáculo a essas transformações – é a convivência do imperialismo e das forças feudais chinesas para travar o desenvolvimento do capitalismo chinês. Seguramente, o propósito das potências imperialistas que invadiram a China não era transformar a China feudal em capitalista; o seu objetivo era, pelo contrário, transformar a China em semicolônia e colônia. (MAO ZEDONG apud MOREIRA) Mao Zedong aponta vários processos e estratégias de dominação pelos quais se efetuava essa ligação colonial e semicolonial da China com potências imperialistas, sendo eles: (1) realização de repetidas guerras de agressão para ocupação de territórios; (2) realização de inúmeros tratados desiguais pelos quais a China permitiu a instalação de forças armadas estrangeiras, dividindo o país em esferas de influência de diversas potências; (3) administração estrangeira direta dos portos, alfândegas e sistemas de comunicações para controle do comércio exterior; (4) instalação de indústrias estrangeiras para beneficiarem diretamente as matérias-primas e aproveitarem a mão de obra barata; (5) controle monopolista de todo o sistema financeiro; (6) rede de exploração de compradores e usurários em todo o território, desde os portos até os locais de produção camponesa; (7) estímulo aos senhores de terras feudais para se converterem no principal sustentáculo das forças imperialistas; (8) apoio logístico militar ao governo chinês para reprimir o povo; (9) política de agressão cultural para adormecer e iludir o povo chinês, através de missões religiosas, instalação de atividades de saúde e educação, publicação de revistas e periódicos e indução dos jovens para estudarem no estrangeiro; (10) invasão japonesa em grande parte do território, convertendo a China de semicolônia em colônia japonesa.[2] [Observação: indicamos ao leitor guardar bem tais caraterísticas, pois são fundamentais para compreender o colonialismo e a situação pré-revolução descritas nos próximos subtítulos.]

  • A China sempre foi um enorme mercado consumidor e fornecedor desejado pelas potências imperialistas: a produção de seda, chá, porcelanas e artesanatos milenares de luxo sempre foram atraentes para o ocidente. Entretanto, o comércio nos moldes desejados pelo ocidente era de imensa dificuldade, pois baseado nas características apontadas por Mao Zedong, ou seja, espoliação direta. Os Chineses sempre se centraram nos princípios de independência, liberdade e preferência à nacionalidade no comércio – embora com os nítidos limites da sociedade de classes em suas respectivas épocas. Isso fez o imperialismo travar guerras convencionais e não convencionais contra a China para colonizá-la.

  • No decorrer de 100 anos, ao fim do século XIX, a China foi o centro de contradições no Oriente.

  • Primeiro, a China era uma semicolônia dos imperialistas no mundo, considerada o fruto proibido da discórdia entre elas. Em 1916, no livro Imperialismo, fase superior do capitalismo, Lenin dizia: “É natural que a luta por estes países semidependentes tenha chegado a ser feroz.”[3]

  • A partilha da China “é só o começo, e a luta entre Japão, EUA, etc., devido a isso, irá se agudizar”.[4] Em 1927, Stalin descreve[5]:

  • A China é uma nacionalidade compacta com uma população de milhões de habitantes que constituem um dos mercados de venda e exportação de capitais mais importantes do mundo […] o imperialismo tem que golpear a China, despedaçá-la e despojá-la de províncias, para preservar suas velhas posições, ou reter algumas delas.

  • Ao considerem a China objeto de exploração, os imperialistas formaram grupos para enfrentá-la. Em 1900, as forças aliadas de oito potências imperialistas detonaram os patriotas do movimento Yi Ho Tuan. Já no ano de 1927, opuseram-se à grande Revolução Chinesa. Dividiram a China entre si. Contudo, a ambição imperialista conduziu a profundas contradições. Vários países imperialistas queriam a China para si e suas forças permaneciam divididas.

  • Segundo: os acordos e desentendimentos entre os imperialistas acentuaram as lutas entre as velhas classes dominantes na China – os senhores feudais, a burguesia compradora – resultando em diversas batalhas entre os senhores da guerra. Mao Zedong disse em 1928:

  • uma característica essencial da China semicolonial era a existência prolongada e ininterrupta – desde o primeiro ano da República, em 1912 – de contínuas guerras pelas camarilhas dos velhos e novos senhores da guerra apoiados pelos imperialistas a partir do estrangeiro e pela burguesia compradora e os grandes latifundiários residentes no país. Este fenômeno se devia a duas razões: primeira, a fragmentação do país em regiões isoladas com sua economia agrícola [A China não possuía uma economia capitalista unificada]; segunda, a política imperialista de divisão e exploração da China, para que fosse partilhada em zonas de influência[6]

  • Como cada casta feudal e setor da burguesia compradora chinesa trabalhavam para distintos países imperialistas essas classes dominantes restavam muito mais divididas que unidas.

  • Terceiro: como se verá adiante, a repressão exercida pelo imperialismo e pelo feudalismo geraram ao povo chinês diversas dores. No entanto, desde a Guerra do Ópio, em 1840, o povo chinês desenvolveu lutas constantes contra o conjunto das classes dominantes e imperialistas. Poucos foram os intervalos. Considerando a China em seu tamanho territorial e populacional, os conflitos mobilizavam um número gigantesco de chineses bem como cercavam boa parte do território chinês. O povo chinês lutou contra todas as potências imperialistas que invadiram a China e se recusou a ser submetido a qualquer um dos regimes contrarrevolucionários imperialistas. A China mostrava-se compromissada com a revolução: as vontades do povo chinês, do imperialismo e do feudalismo eram antagônicas. O povo chinês converteu-se numa força unificada poderosa.

  • Sintetizando: a China foi, antes de mais nada, o centro da agressiva luta entre os países imperialistas na Ásia; em segundo lugar, o centro da luta pela revolução. Obviamente a vitória da revolução foi a vitória do povo chinês, o qual rompeu as cadeias do imperialismo no Oriente.

  • A notável militância desenvolvida pela classe operária chinesa se deu principalmente por três razões.

  • Primeiro: a classe dominada foi submetida à opressão das três castas dominantes: o imperialismo estrangeiro, o feudalismo doméstico e o capitalismo.

  • Segundo: os trabalhadores chineses se encontravam concentrados e centralizados. Mesmo subdesenvolvida, a indústria chinesa concentrava trabalhadores ocupados em modernas empresas, cada uma dessas empregando mais de 500 operários.

  • Terceiro: ainda que a minoria populacional fosse de trabalhadores industriais, os demais proletários e lumpemproletários estratificados formavam uma classe gigante. Se incluirmos os camponeses, tem-se, ao todo, mais da metade da população. A tirania da submissão era desumana. Assim, desenvolveram uma poderosa força, o próprio partido político – o Partido Comunista – que liderou todas as classes revolucionárias chinesas.

  • A China empenhou-se na revolução, determinando um final feliz graças às classes operária e campesina revolucionárias, e, por isso, tornou-se líder real de todas as forças revolucionárias.

  • O contexto internacional foi marcado por ondas da revolução proletária, que triunfaram na Rússia, depois nas quinze nações que formavam a URSS, que recepcionaram a Revolução Chinesa com o apoio internacionalista.

  • Esse conjunto indiciário demonstrou por que era inevitável a vitória da revolução chinesa e o fracasso do imperialismo e seus lacaios – a classe feudal e a burguesia compradora. Stalin pontuou, em 1927, quena China a luta contra o imperialismo deve assumir conteúdo popular e caráter claramente nacional, e irá se aprofundar passo a passo, desenvolver-se dentro de encarniçados combates contra o imperialismo até sacudir suas pilastras no mundo.[7]

  • Esse foi o curso do rio. Naturalmente, nenhuma vitória vem fácil, principalmente num país tão grande a ponto de ser disputado pelos países desenvolvidos como se fosse o fruto proibido, tão grande que ali o feudalismo permanecera vivo durante séculos.

  • A viagem foi longa. Em um artigo escrito em agosto de 1949, Mao Zedong descreveu o processo:

  • eles lutaram, fracassaram, lutaram de novo, fracassaram de novo, voltaram a lutar, acumularam uma experiência de 109 anos, de centenas de lutas, grandes e pequenas, militares e políticas, econômicas e culturais, com ou sem derramamento de sangue e somente então obtiveram a vitória fundamental atual.[8]

  • A luta revolucionária anti-imperialista e antifeudal – sustentada pelo povo chinês sob a direção do Partido Comunista da China – pode ser dividida principalmente em quatro períodos: primeiro, o período da Grande Revolução ou o período da Guerra Expedicionária do Norte. Durante esse período, o Partido Comunista da China e o Kuomintang trabalhavam em cooperação e travaram uma luta revolucionária anti-imperialista e antifeudal que tomou a forma de uma Guerra Expedicionária, ao norte do país, contra os senhores da guerra. Mais tarde, a camarilha contrarrevolucionária do Kuomintang, encabeçada por Chiang Kai-shek, que representava os interesses dos grandes senhores feudais e da grande burguesia, traiu a revolução. O segundo momento, período da Segunda Guerra Civil Revolucionária (1927-1937), comumente chamada de Guerra Civil dos Dez Anos, ou o período da reforma agrária. As principais lutas durante esse período foram: estabelecer e expandir o poder político vermelho, realizar a reforma agrária e oferecer uma resistência armada ao governo reacionário do Kuomintang. O terceiro, período da Guerra de Resistência Antijaponesa (1937-1945); o quarto, da Terceira Guerra Civil Revolucionária (desde o final da Guerra de Resistência em 1945 até a fundação da República Popular da China em 1949), também chamado de Guerra de Libertação do Povo Chinês.

  • 1.1. China: da dinastia ao semicolonialismo e semifeudalismo

  • No decorrer do século XIX, a expansão europeia soprava péssimos ventos para o oriente em geral.

  • A China talvez seja ou foi – em algum momento – a região mais importante do mundo. Um dos mais antigos centros de civilização, quase todas as invenções que se tem como europeias são cópias ou evolução de soluções criativas elaboradas anteriormente pelas diferentes civilizações ao longo da história da China. A Europa desfruta em relação à China de uma posição similar à da Grécia, em relação ao Egito e Oriente Próximo. Quase tudo que se conhece como “grego”, veio de uma daquelas regiões. Da mesma maneira, a Europa até o século XVIII era caudatária de muita civilização chinesa. Certamente até, ignora isso. No entanto, a Revolução Industrial e o desenvolvimento de armamentos a ela associados, permitiu a matança em escala de multidão. Tal levou a Europa, no século XIX, a instalar-se como força colonizadora por toda parte, impondo seus métodos e interesses, quando necessário, pela força bruta e pela violência.[9]

  • Com objetivos comerciais predatórios com a China sem, no entanto, querer dispor de ouro ou prata, os burgueses europeus inseriram ali o comércio do ópio em grande demanda. Assim, as mercadorias trazidas da China se pagavam com a importação compulsória de ópio para os chineses. O ópio era utilizado como dinheiro.

  • Assim, o cartel monopolista de potências europeias denominado “Companha das Índias Orientais” – liderado pelo império britânico e composto por austríacos, dinamarqueses, franceses, holandeses, portugueses e suecos – avançou sobre o Leste e confrontou as restrições impostas pela dinastia chinesa.

  • Os chineses, historicamente, consumiam poucas mercadorias de outros povos. Diante do quadro, os ocidentais centraram-se na realização de uma guerra não convencional, utilizando ópio como meio de troca – a substância química era proibida desde 1729 na China. Em vez do uso medicinal, tradicional no Oriente e na China, a função do ópio passou a ser o equivalente geral utilizado como se fosse dinheiro, permitindo a infiltração estrangeira e, com ela, a apropriação das riquezas naturais da China que sempre esteve entre os países mais ricos em matéria-prima.

  • Ao apogeu do colonialismo espanhol e português, quando as políticas coloniais eram ditadas pelos interesses das classes dominantes destas duas monarquias feudais, seguiu-se um período em que a política colonial da classe burguesa, que, nesta altura se afirmava nos estados Europeus mais progressistas, determinou o curso do desenvolvimento dos territórios de além-mar. Nos séculos XVII e XVIII, foram lançadas as bases de um sistema colonial de acordo com os interesses da poderosa burguesia comercial. Não foi por coincidência que os primeiros passos nesta sua política colonial foram dados pelos Países Baixos que apareceu como Estado independente depois da revolução burguesa ter libertado o país do domínio da Espanha absolutista. Em 1602 a formação da Companhia Holandesa Unida das Índias Orientais, após a de algumas companhias comerciais rivais, deu origem à primeira sociedade anônima em grande escala com capital subscrito, à qual foi concedido o monopólio do direito de comerciar no Oriente. Esta Companhia seria o modelo de outras companhias semelhantes, em particular a Companhia Inglesa das Índias Orientais, originariamente fundada em 1600. No século XVII os Países Baixos representavam um exemplo clássico de um país capitalista, e em breve os Holandeses, unidos aos Ingleses num mesmo esforço contra a supremacia colonial espanhola e portuguesa, conseguiram pôr fim ao domínio português (em 1581 Portugal passou a coroa espanhola). Os Holandeses apoderaram-se de muitas antigas colônias portuguesas, tais como a colônia do Cabo, no extremo sul da África, de postos avançados no golfo Pérsico, e Malaca em 1640. Uma aquisição muito significativa foram as Ilhas das Especiarias, onde os Holandeses se aproveitaram habilmente do ódio da população local aos Portugueses, e da rivalidade entre os principados locais. Mas as ações empreendidas em conjunto com os Ingleses não diminuíram a rivalidade da competição entre as companhias comerciais inglesas e holandesas. Depois do massacre dos Ingleses em Amboína em 1623, a companhia inglesa foi desalojada do comércio de especiarias e, em consequência, da maior parte da Indonésia. O centro do império colonial holandês que se formou no Extremo Oriente no século XVII foi Java. A companhia holandesa conseguiu conquistar territórios no pequeno principado costeiro de Jakarta, onde uma nova capital colonial, Batávia. Foi construída nas ruínas da antiga capital. Este facto marcou o começo da transformação da companhia comercial holandesa numa organização colonial com possessões territoriais.

  • Durante várias décadas, os Holandeses foram obrigados a negociar acordos com grandes Estados que então existiam em Java. A violência e as cruéis medidas de repressão a que foi sujeita a população destes países fracos e atrasados, andavam de par com complicadas intrigas que tinham como objetivo instigar conflitos e contendas entre os principados locais.[10]


1.1.1. Os tratados desiguais

  • O princípio de um longo processo de divisão da China se deu pelo desencadear da Guerra do Ópio, que marca o começo da colonização na China. O Cartel que repartiu a China crescia cada vez mais e era composto pelas seguintes nações: Inglaterra, França, Rússia, Japão, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Áustria, Dinamarca e diversos outros países que, compulsoriamente, fizeram da dinastia Qing um brinquedo por meio do qual levavam a China a conceder territórios e direitos, através de tratados. Toda iniciativa de resistência às pretensões europeias tinha como consequência o início de uma guerra, que resultava em novos “tratados”, mais destrutivos e mais humilhantes para a China.

  • A partir da primeira guerra do ópio (1839-1842) seguiram-se diversos confrontos históricos: a segunda guerra do ópio (1856-1860), a guerra russo-chinesa (1858), a guerra franco-chinesa (1884-1885), a guerra sino-japonesa (1894-1895) e a guerra sino-alemã (1898). Além desses, a China perdeu a posse de Macau para Portugal desde 1557; Hong Kong tornou-se propriedade inglesa; Qingdao, província alemã; Manchúria e Taiwan foram conquistados pelos japoneses; e Xangai, Ningbo, Fuzhou, Xiamen e Guangzhou (Cantão) transformaram-se em portos de domínio europeu, com suas instalações dominadas completamente pelos europeus e, posteriormente, os tentáculos ocidentais tomaram as demais regiões litorâneas e fluviais chinesas.

  • As consequências das Guerras do Ópio e a força da “abertura” da China, e os tratados unilaterais que a China foi obrigada a assinar com as potências europeias minaram ainda mais a sociedade feudal e acarretaram piores condições de vida para o povo. A inundação de artigos europeus minou as artes locais e trouxe o empobrecimento aos artesãos nativos; a importação do ópio esgotou a prata do país e começou a desvalorizar muito a moeda de cobre. Pelo Tratado de Nanking, a China foi obrigada a pagar uma enorme indemnização de guerra. A dinastia Ch’ing começou a cobrar novos impostos e serviços, o que piorou muito as condições de vida dos trabalhadores. Na realidade, não eram só os camponeses que estavam tão empobrecidos que tiveram de abandonar as suas terras; os artesãos estavam arruinados, e não conseguiam encontrar mercado para os seus artigos, os comerciantes e mesmo certos sectores da classe dos shensi foram atingidos pelos novos impostos. Isto acontecia sobretudo no Sul, onde houve um afluxo particularmente elevado de mercadorias estrangeiras depois de cinco portos terem sido abertos a comerciantes estrangeiros. Assim, não foram só os trabalhadores que se juntaram à seita de Hung Hsiu-ch’uan. Aderiram também comerciantes de Shensi.[11]

  • Durante os eventos de 1839–42, os europeus obrigaram os chineses a assinarem o tratado de Nanquim, firmado sobretudo pela dinastia Manchu, colocando fim temporário à primeira onda de guerras do ópio. Tal tratado é considerado desonroso, assinado pela China Qing, o Japão Tokugawa e a Coreia Chosun com as potências industrializadas ocidentais, entre meados do século XIX e o início do século XX.

  • O diploma continha doze artigos, destacando-se o artigo 2º: abertura de cinco cidades chinesas – Cantão, Fuzhou, Xiamen, Ningbo e Xangai – para a moradia de súditos britânicos e o artigo 3º preconizava a possessão de Hong Kong por tempo indeterminado pela rainha Vitória e seus sucessores.

  • As cláusulas do tratado envolviam, além do cartel das índias orientais, os Estados Unidos.

  • Os britânicos sempre lideraram a exploração dos países em que se colocavam e permitiam concessões de exploração às demais nações mediante o pagamento de tributos e compensações monetárias. Por isso, em 1844, franceses e estadunidenses conseguiram per­mis­sões comerciais e privilégios sobre os chineses.

  • Os resultados dessa interação entre a força ocidental esmagadora e a habilidade psicológica chinesa foram dois tratados negociados por Qiying e Pottinger, o Tratado de Nanquim e o complementar Tratado de Bogue. O acordo concedia mais do que a Convenção Chuan-pi. Era essencialmente humilhante, embora os termos fossem menos duros do que a situação militar teria possibilitado aos britânicos impor. Ele estabelecia o pagamento de uma indenização de 6 milhões pela China, a cessão de Hong Kong e a abertura de cinco “portos signatários” pelo litoral, em que os ocidentais teriam permissão para residir e fazer negócios. Isso efetivamente desmantelou o “Sistema de Cantão” pelo qual a corte chinesa regulara o comércio com o Ocidente e o confinou a mercadores licenciados. Ningbo, Xangai, Xiamen e Fuzhou foram acrescentadas à relação de portos do tratado. Os britânicos asseguravam o direito de manter ligações permanentes nas cidades portuárias e de negociar diretamente com funcionários locais, ignorando a corte em Pequim.[12]

  • No entanto, a China já possuía, naquele período, fortes valores, voltada à própria cultura: cultivava o patriotismo, a independência, a liberdade e a autodeterminação, ainda que numa lógica feudal obsoleta.

  • Não demorou muito para se iniciar um levante nacionalista, ainda limitado, contra os ocidentais. Os nacionalistas protestavam contra a exagerada penetração de ocidentais no país. A constante manipulação ocidental sobre a China alimentava a necessidade de uma reação por parte dos setores nacionalistas, os quais eram contrários à exacerbada penetração do ópio usado como moeda no lugar do ouro e da prata, à obrigatoriedade da circulação de bíblias, à deportação constante de trabalhadores chineses para as colônias europeias e aos países imperialistas.

  • Os nacionalistas se opunham à expropriação de sua nação e queriam preservar sua cultura contra a ofensa trazida pelos europeus ao artesanato chinês, bem como não viam necessidade da entrada de produtos europeus e estadunidenses.

  • Uma das revoltas mais marcantes que antecedem a revolução é a rebelião Taiping (1850-1864), uma manifestação do campesinato liderado por Hong Xiuquan contra o governo nacional central. Xiuquan era um expoente chinês do cristianismo que chegou a tomar a região de Yangtzé, Nanquim e iniciou um ataque a Pequim. Apesar de ter deixado o confucionismo pelo cristianismo e apesar de se proclamar o “irmão mais novo de Jesus Cristo”, era considerado herege pelos europeus.

  • A rebelião manteve controle e estruturou provisoriamente um novo governo que durou mais de dez anos, chegando até os muros de Pequim.

  • Avançaram outras rebeliões: no decorrer de 1864–78 as minorias muçulmanas do Sul revoltarem-se diante do governo chinês e ocorria, paralelamente, a Rebelião Camponesa de Nien. Os rebeldes perderam, porém demonstraram a fraqueza da união do Império Chinês, estabelecido por uma aliança com setores imperialistas, bem como a forte repressão da população operada pelo poder imperial.

  • Na China, o descontentamento provocado pela exploração feudal num quadro de crise econômica cada vez mais aguda explodiu em numerosas revoltas populares. Embora os tumultos camponeses que estalaram em várias partes do Império fossem por vezes suficientemente sérias para causar às autoridades centrais muitas preocupações e só pudessem ter sido esmagadas depois de uma longa e amarga luta, foram sobretudo revoltas espontâneas e isoladas. Estes motins, agora tradicionais, eram frequentemente organizados por sociedades secretas e várias seitas religiosas. Tais movimentos refletiam as aspirações das massas à libertação da opressão feudal e a esperança ingênua dos camponeses de que a igualdade fosse possível, e as antigas comunas, idealizadas como pertencendo a uma Idade de Ouro, pudessem ser restauradas. Ao mesmo tempo, a luta tomou a forma de oposição à dinastia manchuriana Ch’ing, que o povo considerava ser a principal fonte dos seus males. Estas ideias apareceram nos ensinamentos de Hung Hsin-ch’uan (1814-1864), professor de aldeia de origem camponesa que fundou uma seita conhecida por «Sociedade do Divino Governante em Kwangtung no Sul da China». Nesta nova doutrina, que Hung começou a divulgar em 1837, havia alguns elementos do cristianismo, embora numa interpretação pouco usual. Os ideais de igualdade e a criação dum «Reino Celeste» na Terra, a luta contra o mal e os maus, interpretados neste caso como representantes das autoridades feudais e a libertação do povo, eram os pontos principais da doutrina de Hung Hsiu-ch’uan, que pretendia ser irmão mais novo de Cristo. [13]

  • Nas décadas de 30, 40 e 50 do século XIX, a importação de ópio constituía cerca de metade do total das importações realizadas pela China, enriquecendo a Companhia das Índias Orientais. O Governo Chinês se viu obrigado a combater o contrabando com severas penas: confiscaram cargas e as atiraram no mar. Alegando diversos prejuízos à propriedade privada, os britânicos e o cartel europeu declaram guerra aos chineses. Inúmeras foram as retaliações praticadas pelos ingleses que levaram às guerras do ópio de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860.

  • Tais eventos resultaram na assinatura de um tratado completamente torpe, o qual servia unicamente aos interesses europeus.

  • A interferência das potências estrangeiras veio facilitar a tarefa de esmagar as guerras camponesas e de pôr fim ao Estado T’ai-P’ing. Entre 1861 e 1865, as tropas governamentais conseguiram capturar os pontos vitais do Estado T’ai-P’ing. Na primavera de 1865, Nanqing foi cercada e isolada. Chefiados por Tzuch’eng os habitantes cercados defenderam heroicamente a sua cidade num estado de devastação. Hung Hsiu-ch’uan acabou por suicidar-se e em 19 de julho as muralhas de Nanqing caíram sob uma explosão. As tropas contrarrevolucionárias entraram à força na cidade e repreenderam cruelmente os sobreviventes. Centenas de milhares de soldados e civis foram massacrados e Li Tzu-ch’eng foi morto com animalesca crueldade. Várias unidades T’ai-P’ing espalhadas pelo campo continuaram a lutar. Grupos de guerrilheiros camponeses continuaram ativos em várias regiões e nos anos seguintes a Monarquia Ch’ing não conseguiu reprimir as perturbações camponesas do Norte. No entanto, a grande guerra camponesa estava, a essa altura, perdida.

  • Através do Tratado de Tientsin (1858), Grã-Bretanha, França, Rússia e EUA ganham grandes permissões de exploração do território chinês, já que os chineses admitiram a livre importação do ópio, realizaram dez novos portos para comércio europeu e deixaram os missionários cristãos no país atuarem, além de outras concessões.

  • Diversas declarações documentadas são atribuídas com a designação “Tratado de Tien-Tsin” ou “Tratado de Tianjin”. Diversas ratificações foram chanceladas em Tianjin em junho de 1858, colocando fim à primeira parte da Segunda Guerra do Ópio (1856-1860). França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos estavam envolvidos. Tais acordos permitiram maior abertura chinesa aos estrangeiros, garantindo a hospedagem vitalícia dos representantes estrangeiros na capital chinesa, flexibilizando a legalização e regulamentando a importação do ópio, além de permitir toda a liberdade da atividade missionária cristã e conceder liberdade religiosa aos cristãos (incluindo os cristãos chineses).

  • A intransigência do Imperador – medo da ameaça imperialista –, opunha resistência à iniciativa da construção diplomática com os europeus na capital, mesmo após a ratificação dos tratados com os representantes estrangeiros. Essa discórdia deu à Inglaterra e à França, líderes do cartel, motivo para invadir e se manter militarmente em Pequim e colocar fogo no famoso Palácio de Verão em 1860. Assim se inicia a Segunda Guerra do Ópio. A Rússia, naquele contexto, oportunamente reivindica a vantagem de, naquele ano, ter sua dominação sobre territórios da Sibéria costumeiramente explorados pela China (Província Marítima).

  • A guerra de agressão à nação Chinesa passava a ser constante, fazendo a China ceder a Indochina à França. Em 1896, a Birmânia passa ao controle britânico. Entre 1894 e 1896, o expansionismo japonês, fruto da vitória da restauração meiji e da derrubada do xogunato Tokugawa, traria o início de uma nova onda de guerras entre o Japão e os demais países da Ásia.

  • Em 1868, o jovem príncipe de 14 anos, Mutsuhito, foi coroado Imperador Meiji, rompendo com as diretrizes ultraconservadoras de seu pai, Imperador Komei. O sucessor teria em seu mandato celestial a missão de restaurar o poder político imperial promulgando um sistema monárquico constitucional que respeitasse a legislação internacional em vigor. Da Restauração Meiji (1868) à Primeira Guerra Mundial, o Japão se transformou numa potência imperialista. É nessa modernização do Estado que uma rejeição às estruturas feudais – já falidas para os parâmetros da economia mundial – se fazia necessária, além da construção de uma identidade nacional que mantivesse e reformasse o poder econômico dos daymios. Estes eram senhores feudais que, durante o período Tokugawa (1603-1868), foram submetidos às determinações do xogunato: Em primeiro lugar, que a autoridade política foi em grande medida descentralizada nas mãos do senhor (hereditário), que era vassalo do governante. Em segundo lugar, a classe cujo poder ficou sob o controle da terra e dos seus cultivadores. No entanto, mesmo a este nível é necessário qualificar. Havia dois governantes: um de jure soberano, o Imperador; e um monarca de fato, o Xogun. O poder deste último sobre os senhores e o poder dos senhores sobre os seus servos foram maiores do que era comum na Europa medieval. Fundamentalmente, os samurais eram em grande parte dissociados da terra, morando em cidades castelos, das quais exerciam autoridade sobre o campo de funcionários, coletando tributos que estavam mais próximos ao imposto de renda. (BEASLEY, W.G. Modern History of Japan. Tóquio: Charles Tuttle, 1989, pp. 13-14) (…) O Japão apontava para a criação de um modelo de nação rica, forte (militarmente) e soberana (fukuoku kyohei), que pudesse cooptar o máximo de contingente possível, até mesmo “socialistas” – em apoio ao imperialismo – e oficiais do exército, para o confisco de riquezas. Segundo Otto Hintze, o feudalismo é um processo conexo ao imperialismo, que “não avança aos poucos, num permanente e racional esforço de formação do Estado”, mas que busca atalhos para avançar economicamente por expansão, conquista e, principalmente, por uma “ideia religiosa de domínio universal”: “[…] a transição de uma frouxa constituição tribal clânica, de base corporativa, para um ordenamento estatal e social mais firme, estabelecido por dominação” (HINTZE, Otto; GRESPAN, J. L. (trad.) Natureza e extensão do feudalismo. In: Signum, n. 6, 2004, p. 169).[14]


1.1.2. Tríplice Dominação e a Escravização Coolie

  • De meados até fins do século XIX, os imperialistas, por meio de suas indústrias, inseriram na China, por um lado, produção de ópio em grandes demandas e expropriaram, por outro lado, seda, porcelana e chá. Maximizaram ganhos com a escravização dos trabalhadores asiáticos, aos quais designavam como coolies, isto é, termo depreciativo usado para falar de trabalhos manuais, como as plantações de cana nas Antilhas, de abacaxi no Havaí, e para a construção de estradas de ferro nos Estados Unidos.

  • A objetificação dos chineses era promovida como medida essencial para a exploração econômica produzida pelos ocidentais e essa forma de racismo portava suas justificativas morais baseadas na ideia de raça superior também, o cartaz abaixo ilustra bem a questão:

  • . Assim, apesar de haver possibilidade de trabalho livre, esse não era o método mais comum, já que na China os trabalhadores davam preferência ao trabalho realizado em seu território, cultura e povo, nas negociações de trabalho, logo, tornava-se comum a realização de fraude e má-fé por meio de sequestros que obrigavam a deportação em massa dos asiáticos e, assim, a mão de obra em geral se desvalorizava.[16]

  • Os povos deportados se dividiam com predominância entre ingleses e franceses. Havia inclusive os “caçadores de talentos”, chamados “agentes coloniais”, que se deslocavam para o oriente procurando contratar, por salários melhores, nativos que não se importavam em explorar os próprios irmãos e traficá-los rumo à deportação, tal qual os capitães do mato no Brasil ou os escravos negros das casas nos EUA. O tráfico de pessoas era realizado também por autoridades feudais, com remuneração relativamente alta. Os nativos contratados conheciam bem as regiões onde havia maior concentração de trabalhos manuais e ali operavam. A seleção estabelecia em regra a procura por quatro trabalhadoras mulheres para cada dez homens, entretanto, as dificuldades com as mulheres eram grandes e, por isso, as promessas falsas e sequestros eram recorrentes.

  • Em meados de 1845, após o fim da primeira guerra do ópio, foi criado um núcleo para emigração em Shantou, onde se realizou a organização de uma rede que transportava chineses de Guangdong, Amoy e Macau para as Américas, principalmente para as minas de prata do Peru e as plantações de açúcar de Cuba e outras ilhas das Índias Ocidentais. A maior parte dos chineses vieram dos sequestros da província de Guangdong.[17]O mesmo processo de certo modo foi realizado com os trabalhadores endividados da Indochina que foram recrutados pela França e enviados a outras colônias francesas.

  • O tráfico e, em geral, o comércio da classe dos cooliesrepresentava um massacre por consistir numa escravidão de fato. Os trabalhadores eram transportados dentro de navios lotados e muitos acabavam morrendo durante as viagens por desnutrição, doenças ou outros tipos de práticas desumanas. Motins também eram frequentes durante os trajetos. O navio Dea del Mar, que partiu de Macau para Callao, no Peru, em 1865, levando 550 trabalhadores chineses a bordo, chegou ao Taiti com 162 deles vivos.[18]

  • Esse movimento que escravizava a população chinesa, apesar de realizar trabalho escravo, era, entre os imperialistas, considerado “trabalho” e denominado de “comércio” porque formalmente era realizado contrato entre brancos negociando a “mercadoria”. Tal “relação mercantil” remetia à ideia de que escravos eram “bens”, prontos a serem herdados legalmente. Embora muitos dos coolies fossem designados como trabalhadores formalmente por haver relações jurídicas, com um contrato de cinco anos, reminiscências da escravidão restavam em suas relações com seus “chefes” e constantemente prevalecia a disparidade entre a norma jurídica e sua eficácia social, algo muito comum nos países semifeudais. Vários pesquisadores desse “mercado” demonstram as situações desumanas: flagelação, abuso sexual e confinamento restritivo constituindo práticas comuns. A esmagadora maioria desses orientais jamais voltaram à liberdade após a servidão nas plantações, conforme indicava-se em seus contratos.

  • Buscando sugar a mão de obra dos orientais em geral, os imperialistas obtinham também mais conhecimento acerca das riquezas da China. Os ocidentais procuravam importar riquezas naturais a fim de fortificar suas indústrias e seus parques fabris e, com isso, ganhavam duas vezes: (1) fortificavam suas condições de empreendimento para o mundo à medida que também impunham à força a comercialização de seus produtos industriais no interior da China, monopolizando estradas de ferro e portos; (2) impuseram também suas oficinas de montagem e manutenção para melhor dominar o espaço chinês. Assim, além de condenarem a China à semicolonialidade, introduziam um tipo de aliança com as classes feudais, a qual permitia à indústria europeia crescer sobre o povo chinês.

  • Os imperialistas exploravam a China através de guerras e cobravam valores absurdos como ressarcimento e consertos de guerra, nos quais lucravam graças aos privilégios alfandegários e comerciais, bem como pela exportação de suas mercadorias e a monopolização dos modernos sistemas de transporte. Levaram à ruína a possibilidade de investimentos do Estado Qing, desmantelaram o artesanato e as manufaturas locais. Paralelamente, induziram as relações comerciais, deram a conhecer seus progressos industriais e tecnológicos, disseminaram as ideias liberais e diversificaram as classes e estratos da sociedade chinesa.

  • O imperialismo na China acabou guardando a dinastia Manchu, deixando os grandes latifundiários com grande base social do sistema dinástico. As classes feudais não eram importantes explicitamente para o comércio, no entanto instrumentalizavam a paz para a dominação imperialista no interior da China. Ainda que o feudalismo oriental tivesse ideias mais progressistas que no ocidente, seu poder de classe aristocrática advinha tanto da propriedade da terra quanto da consanguinidade familiar e mantinha muita força entre o povo devido a sua inserção na burocracia imperial, pois sabiam ler, tinham influência sobre os magistrados locais e, principalmente, educavam seus militares.

  • Toda a classe dominante agrária tinha alguma importância local, mesmo a pequena e média, tanto exploradora como guardiã do campesinato chinês. Como classe exploradora, expropriava os campesinos por meio de cobrança de tributos na utilização da terra, tornavam-se seus únicos credores e monopolizavam o comércio. Mas, como guardiões, mediavam os antagonismos dos camponeses com os bandidos, fiscais monarcas e abutres de ocasião.

  • A classe burguesa existente nessa época se modificou conforme a inserção dos europeus na China. Antes estavam restritos a comercializar internamente com os imperadores. À medida que o imperialismo passou a dominar a China, as classes dominantes passaram a ter diferentes funções e, por isso, diferentes designações: a burguesia imperialista, essencialmente estrangeira, vivia alienada da sociedade chinesa e a considerava empregada; os setores ligados aos interesses estrangeiros constituíam a burguesia compradora e burocrática atuantes nos comércios e na importação e exportação; por fim, as pequena e média burguesias nacionais, setores que lucravam bastante pela modernização trazida pelos estrangeiros, mas não detinham ligações orgânicas com o imperialismo.

  • Os camponeses eram a maior parcela da população, cerca de 80%. Entre eles, havia os camponeses proprietários abastados, médios e pobres. Havia ainda camponeses sem-terra médios e pobres (foreiros, arrendatários, parceiros). Os pobres constituíam a maioria, trabalhando nas terras dos latifundiários, a quem pagavam rendas elevadas (quarta, terça e meia parte da produção). Em geral prestavam, ainda, serviços em dias determinados nas terras dos proprietários, na maior parte das vezes sem receber nenhuma paga. E tinham que pagar tributos ao fisco imperial e aos chefetes locais. O lumpesinato, ou a classe dos marginais, ou a “gente ruim”, sempre esteve presente na sociedade chinesa, como resultado de seu histórico de guerras, urbanização e conflitos sociais. A penetração imperialista na China ampliou essa camada, tão bem retratada pelo célebre escritor Lu Xuri em seu conto “A verdadeira história de Ah Q”. Sua sobrevivência estava ligada a atividades econômicas e sociais periféricas e muitas vezes conflitantes com o sistema predominante, como a prostituição, o tráfico, o contrabando, a mendicância, o roubo e o banditismo de grupo, urbano e rural. Finalmente, a penetração estrangeira na China deu surgimento ao operariado, classe operária, ou proletariado, empregado nas ferrovias e sistemas de comércio e transporte, e em menor escala nas poucas unidades fabris implantadas no país. E ampliou consideravelmente as classes médias urbanas, uma camada intermediária entre a burguesia e a classe operária, constituída pelos empregados graduados das empresas capitalistas estrangeiras e nacionais, pelos funcionários governamentais de escalão inferior e intermediário, pelos setores profissionais liberais e pelos professores. A tríplice dominação da burguesia estrangeira, dos grandes proprietários rurais, ou senhores de guerra, e da burguesia burocrática, articulada pelo Estado Qing, não estava isenta de rivalidades internas e de dificuldades. A expansão do domínio estrangeiro constituía uma constante ameaça à unidade do império, que só não foi desmembrado em razão das disputas entre as potências imperialistas e do temor das rebeliões populares. A associação dos senhores de guerra e da burguesia burocrática a diferentes potências imperialistas também se tornou uma fonte inesgotável de atritos e mesmo guerras internas. E o grau de exploração das camadas subalternas da sociedade chinesa fazia explodir insatisfações e aspirações que deveriam desembocar, mais cedo ou mais tarde, em rebeliões e num processo revolucionário de novo tipo.[19]


1.1.3. Primeira Guerra Sino-japonesa

  • A primeira guerra sino-japonesa tem origem na busca nipônica pelo controle do pacífico e do sudoeste Asiático. Após o sucesso da restauração meiji, o pensamento imperialista ganha cada vez mais força e, por isso, passa a se considerar a supremacia asiática e se define, portanto, como o “baluarte” cultural da Ásia. Após a derrota, a China perde a ilha de Taiwan, Port Arthur e as ilhas pescadoras, a Coreia deixa de ser parte da China para se tornar colônia japonesa, assim como a própria China viria a ser mais tarde: “o Japão comportou-se como uma potência imperial ocidental e impôs tratados desiguais à Coreia (desde 1876) e à China após a Guerra Sino-Japonesa de 1894-5” (TOWNSON, D. The new Penguin dictionary of modern history, 1789-1945. Londres, Nova Iorque: Penguin Books, 1994, p. 867)”[20], reproduzindo assim a sorte que sofreu das nações imperialistas europeias.

  • De 1895 em diante, a partilha da China se fazia entre Europa, EUA e Japão. As humilhações coloniais fazem a China como as demais colônias do mundo, reproduzindo constantes vexações sobre o povo chinês. Em todos os espaços públicos se encontravam a seguinte mensagem: “Proibido a entrada de cães e chineses”.

  • Os imperialistas que massacravam as nações colonizadas e, agora, a China, faziam-no com o apoio da Dinastia Manchu. O manchunismo resistia apenas dentro dos interesses dos senhores feudais, ou portadores do mandato celestial, como se viu no caso das legações estrangeiras em Pequim.

  • Assim, a China perdeu toda sua soberania. Concessões territoriais passam a ser realizadas até entre imperialismo de segunda escala, como foi o caso da terceirização da administração territorial de Liaotung com o Porto Arhut e Talien por 25 anos cedido para a Rússia czarista. Outro exemplo: a entrega da baía de Kiauchau e das minas de Shantug para a Alemanha, por 99 anos. A França arrenda, além da Indochina, Kwangchowwan, também por 99 anos. Já os britânicos, por prazo similar, ficam com Hong Kong e, consequentemente, com Kowloon e Wie-hai-wei. Esses arrendamentos consolidam o fim do exército soberano chinês e a renúncia oficial ao exercício soberano.

  • Após isso, os setores nacionalistas voltam a realizar tentativas de retomada das áreas em posse do imperialismo: a primeira durante o período denominado de Reforma de Cem Dias, liderados por parte da dinastia Manchu chamada de “confucionismo moderno”.


1.1.4. Reforma dos 100 dias e a Revolta Boxer

  • A Reforma de Cem Dias foi uma tentativa malsucedida de reformas nacionais nos meios cultural, político e educacional. O manifesto reformista foi realizado pelo jovem imperador Kiang Yu-wei e Liang Qichao, de 11 de junho a 21 de setembro de 1898, por meio de decretos. A reforma foi proposta numa assembleia e o conteúdo dos decretos versava sobre mudanças no sistema de exames educacionais, sobre a construção de estradas, portos, meios de comunicação, sobre o desenvolvimento industrial chinês, abolição de leis e tradições machistas e introdução do conceito de nação legalmente estabelecido.

  • Foram deliberados 70 decretos que sistematizavam a reforma do ensino, criando a universidade de Pequim e escolas superiores para promulgação do conhecimento científico mais avançado, o restabelecimento de um exército chinês, além de reforma na agricultura.

  • Embora legítimo em aspirações patriotas – dentro dos limites da soberania feudal – teve curta duração, culminando em um golpe de Estado (“O golpe de 1898”) por poderosos oponentes conservadores liderados pela Imperatriz Cixi. Apesar da participação do “novo Confúcio” Kiang Yu-wei chamado de o jovem imperador, os conservadores do sistema imperial, liderados pela imperatriz Cixi, entenderam o conteúdo dessas reformas como uma ofensa ao sistema dinástico, em seguida mantiveram o jovem imperador sob prisão domiciliar e reprimiram violentamente o movimento.

  • No entanto, os mais de 70 decretos, de forte conteúdo patriótico, foram uma medida intencionalmente moderada. Os nacionalistas previam que os setores mais conservadores da administração burocrática semifeudal fariam seus avanços para reter todo o conteúdo das reformas e com medidas como a prisão do jovem imperador Kiang Yu-wei.

  • Os nacionalistas não tiveram alternativa senão passar à violência direta que se seguiu pela Guerra dos Boxers. Esse movimento fortemente antiocidental e anticristão se opunha a toda dominação semicolonial da China por parte dos estrangeiros que inferiorizavam os chineses. Os boxers eram os mestres marciais chineses. Entretanto, como parte da cultura marcial chinesa era baseada em princípios metafísicos próprios do oriente, os mestres achavam que sua força interna venceria a pólvora e a artilharia de guerra ocidental (curiosa ironia, pois a China inventara a pólvora).

  • Após a instauração da crise, os nacionalistas passaram a realizar a união dos reformistas remanescentes, de parte do poder imperial ligada ao príncipe Kiang Yu-wei, com os mestres dos “Punhos Harmoniosos” ou Boxers. Procurando impedir a eclosão da revolta sobre os poderes dinásticos, a classe letrada, os intelectuais e reformistas direcionaram o foco do movimento contra os estrangeiros, o que piorou a situação geral da dinastia.

  • O levante teve início na província de Shandong, originado, acima de tudo, num contexto de pobreza rural, desemprego, devido à constante espoliação exercida pelo Ocidente. Compulsoriamente impedidos de seguirem em direção ao oeste, os missionários, chineses e cristãos, além daqueles que possuíam bens estrangeiros, foram atacados. No auge da revolta, em agosto de 1900, tinham sido mortos mais de 230 estrangeiros e milhares de chineses cristãos por um número desconhecido de rebeldes e simpatizantes. Para sufocar a rebelião, organizou-se uma força internacional colonialista (Aliança das Oito Nações) – composta de 20 mil soldados russos, americanos, britânicos, franceses, japoneses, alemães, do Império Austro-húngaro e italianos –, enviada para ocupar a sede imperial, onde penetrou em 14 de Agosto de 1900, rendendo, ocupando e saqueando a capital.

  • As forças estrangeiras impuseram pesadas indenizações em dinheiro, além de se darem maiores direitos sobre a China.

  • A monarquia salvou-se aceitando a liquidação das sociedades secretas e o pagamento de uma indenização de guerra.

  • Depois dessa brutal intervenção militar, o outrora orgulhoso Império Celestial definitivamente tornou-se a “colônia de todas as metrópoles”. Para infamar ainda mais as autoridades do império, os colonialistas obrigaram que fossem chineses os carrascos que executariam as sentenças de morte dos principais líderes da rebelião. O levante fez com que aumentasse a interferência estrangeira na China.

  • Num primeiro momento, ao queimar as vastas planícies, as revoltas do campesinato incitavam o confronto com as novas associações, ligas e agrupamentos surgidos nas cidades. Num outro momento, a derrota dos reformistas, dos Boxers, de um lado pela dinastia, e de outro pelo mando oligarca de oito países imperialistas, levou os camponeses a novos patamares na consciência de classe e as novas correntes sociais, principalmente os nacionalistas, a suporem que o único caminho para resolver os problemas da China era um novo tipo de rebelião.

  • A partir de então, Sun ampliou suas atividades entre os chineses do Sudeste asiático e do Japão e transformou-se num revolucionário profissional. Em 1900, da mesma forma que Kiang Yu-wei em Hubei e Anhui, ele tentou levantar forças para unir-se aos Boxers, mas os objetivos de ambos eram opostos. Enquanto Kang pretendia fazer as reformas pela restauração do imperador e por uma monarquia constitucional, Sun queria derrubar a monarquia e instaurar a república democrática.

  • As expressões mais fortes dessa descoberta surgiram no livro o exército revolucionário, de Zou Rong, nas traduções de obras políticas e econômicas ocidentais, por Yan Fu, nas traduções de obras do realismo social europeu ocidental e russo, por Zhou Shuren (iniciador da moderna literatura chinesa, sob o nome de Lu Xun), e na organização da Liga Revolucionária, por Sun Yat-sen. Zou Rong[21], em texto inflamado, de 1903, exigia assembléias eleitas, igualdade para as mulheres, liberdade de imprensa e reunião, e “independência revolucionária”. Preso e condenado, Zou morreu na prisão em 1905. Nesse mesmo ano, Sun Yatsen fundava sua Tung Menghui, ou Liga Revolucionária, utilizando-se das sugestões de Zou. Mas Sun, um médico oriundo de uma família rural relativamente pobre de Guangdong, que estudara no Havaí e Hong Kong e, no final de 1894, formara uma sociedade secreta denominada Xing Shunghui, ou Regeneração da China, combinava seus conhecimentos teóricos a uma incansável prática revolucionária. Em 1895, ele tentou organizar rebeliões contra os Qing, em Guangdong, para instalar a forma republicana de governo. Suas atividades foram descobertas e vários de seus companheiros presos e executados. Para salvar-se, Sun fugiu para Hong Kong e, de lá, para o Japão, Estados Unidos e Inglaterra. Uma tentativa de raptá-lo e conduzi-lo à China para ser executado, realizada por membros da legação Qing em Londres, teve repercussão e deu-lhe notoriedade.[22]


1.1.5. Declínio Qing

  • As numerosas revoltas na China no decorrer do século XIX foram essencialmente camponesas: Taiping (1850-1864), Nain (1851-1858), muçulmanos (1864-1873) e Boxers ou Yi Hoduan (1900-1901). Segundo a tradição dinástica, toda revolta camponesa e popular bem-sucedida indica a crise do “mandato celestial”. O mandato do céu forneceria a um determinado líder a legitimidade e a legalidade de seus atos. Segundo essa tradição, o céu abençoaria a autoridade somente quando ela se provasse justa, mas ficaria descontente com um líder déspota e expurgaria seu mandato. O mandato, então, se transferiria para aqueles que realizassem um governo melhor.

  • O mandato do céu não tem nenhuma indicação de prazo, mas é dependente do bom desempenho do dirigente que, supostamente, o possua. O mandato não exige que um líder legítimo nasça nobre, e, de fato, as dinastias foram fundadas frequentemente por pessoas de nascimento modesto (tais como a dinastia Han e a dinastia Ming) – essa a regra que permite dizer que o feudalismo no oriente foi, em geral, mais progressista e evoluído que no ocidente.

  • O conceito do mandato do céu foi usado, incialmente, para implementar e justificar moralmente a autoridade dos reis da dinastia Zhou e, posteriormente, dos imperadores da China.

  • O mandato, apesar da possibilidade de concessão aos não nobres, é similar à noção europeia do direito divino dos reis, os descendentes de Adão. Ambos instauram sua liderança através do aval divino. Entretanto – nisto reside o caráter mais progressista do feudalismo no oriente – se o direito divino dos reis concedia a legalidade incondicional, inversamente, o mandato do céu era condicional ao comportamento justo do líder. A revolta jamais fora considerada legítima segundo o ponto de vista de que os reis detêm o direito divino, mas a filosofia do mandato do céu aprovava a derrota de líderes injustos. Os historiadores chineses interpretavam uma revolta bem-sucedida como a evidência que o mandato do céu havia passado. Na China, o direito da rebelião contra um líder injusto foi uma parte da filosofia política surgida após a dinastia Zhou, e uma rebelião bem-sucedida era entendida como a evidência da aprovação divina.

  • As grandiosas revoltas constituíram, também, as primeiras manifestações profundas da derrocada, não apenas dos Qing, mas do sistema dinástico. Por isso, não obstante ao fato de apresentarem motivos heterogêneos, sobretudo religiosos, ganharam uma demarcação política inédita, a qual ultrapassava limites jamais presenciados, seja de seus participantes e mesmo de seus líderes.

  • Elas reagiram, de forma contraditória, à dominação estrangeira e à disseminação das novas ideias trazidas por essa dominação. Paradoxalmente, como foi o caso dos Taiping, umas se voltaram contra a dinastia imperial e seu sistema confuciano, ao mesmo tempo que tentavam reproduzir o sistema dinástico sob outro imperador. Outras vezes, como na rebelião dos Boxers, defenderam a dinastia e aliaram-se a ela, fazendo uso da ideologia dominante para combater o inimigo vindo de fora. No contexto das mudanças e crises introduzidas pelo capitalismo ocidental, as rebeliões camponesas, no entanto, já não conseguiam romper o mandato celestial anterior e, como no passado, instalar um novo. Em vez de perpetuar o sistema, tendiam a destruí-lo. Esse impasse da dinastia Qing refletiu-se nos letrados que compunham seu sistema burocrático e militar. Ao adotar as técnicas comerciais e militares estrangeiras, procurando não mudar as tradições artísticas e institucionais, alguns letrados envolveram-se com a modernização que o regime dinástico não queria admitir.[23]

  • Antes da queda definitiva, o governo Qing anunciou uma campanha constitucionalista. Os constitucionalistas, com alto grau social de cada província, pressionaram o governo para que formasse um gabinete. Em maio de 1911, o premiê do recém-formado gabinete foi anunciado como Príncipe Qing. Ademais, nove dos 13 membros do gabinete eram Manchu, enquanto sete deles eram da família imperial. Tudo isso decepcionou os constitucionalistas. Como resultado, os constitucionalistas de diversas províncias mudaram de parecer, apoiando a revolução para além do constitucionalismo, em uma campanha para salvar a nação.

  • Nos últimos anos da dinastia Qing, o antigo exército dos Oito Estandartes tinha perdido sua força habitual. A luta contra a Rebelião Taiping foi travada por milícias locais. Após a derrota chinesa na Primeira Guerra Sino-japonesa, a dinastia Qing decidiu formar 36 novos regimentos para substituir os antigos. Dos 36 regimentos, seis formariam o Exército de Beiyang controlado por Yuan Shikai. Para formar os novos oficiais, construíram-se muitas escolas militares em cada província.

  • O Levantamento de Wuchang foi, assim, uma insurgência militar na China, na cidade de Wuchang, atualmente parte de Wuhan, que precipitou a queda da última dinastia imperial chinesa, a dinastia Qing, e o estabelecimento de uma república. O levantamento ocorreu em 10 de Outubro de 1911. O levantamento de Wuchang é considerado o começo da Revolução de Xinhai (ponto abordado em outro tópico adiante) que terminaria com a abdicação do último imperador chinês, o menino Puyi.

  • Em 1900, a dinastia Qing havia decidido fundar uma série de exércitos modernizados, os chamados “Novos Exércitos”. Naquele tempo, a cidade de Wuchang, junto ao rio Yangzi na província de Hubei, converteu-se no principal centro industrial-militar do país, o local onde se produziam as armas e o material para os Novos Exércitos. As ideias reformistas de Sun Yat-sen exerceram uma influência destacada sobre os oficiais e os soldados em Wuchang, e muitos deles faziam parte de organizações revolucionárias.

  • O levantamento em si foi desencadeado por um fato fortuito. Uma bomba preparada por um grupo revolucionário explodiu por acidente, isso levou a polícia a pesquisar e a descobrir listas de militares implicados em atividades subversivas contra a dinastia Qing. Ao se verem descobertos, muitos membros dos Novos Exércitos decidiram sublevar-se para não serem presos. O governo provincial de Hubei fugiu da cidade. A insurreição parecia mais um dentre vários protestos similares no seio do exército que haviam ocorrido no sul da China e pensava-se que o Governo central poderia sufocá-la sem problemas. No entanto, a demora da dinastia Qing em aplacar a rebelião aumentou a confiança nesta e vários governos provinciais do sul da China retiraram seu apoio à corte imperial e o puseram do lado dos rebeldes de Wuchang.

  • O último imperador manchu, o rapaz de onze anos Puyi, que havia continuado a viver com seu o séquito na Cidade Proibida, convertia-se novamente em imperador da China. No entanto, esta restauração não foi aceita pela imensa maioria do exército, e em menos de um mês depois, Zhang Xun era derrotado em Pequim pelo exército leal à república, que voltava a depor Puyi. Nestes momentos, China carecia de um poder central reconhecido e o país encontrava-se dividido, em mãos de chefes militares, os chamados “senhores da guerra”, que controlavam diferentes zonas do país.

  • Yuan Shikai, confirmado presidente em 1913, instaura uma verdadeira ditadura militar com o apoio das potências, que, para salvaguardar seus privilégios, tutelam o novo regime, através de um empréstimo que lhes garante, em troca, o controle da arrecadação do imposto do sal, a exploração das ferrovias e das riquezas minerais do país. A Revolução, que começara como reação ao estrangeiro, termina por significar a consolidação de seus privilégios. Durante a I Guerra Mundial agravam-se os problemas chineses. Em 1914, o Japão declara guerra à Alemanha e viola a neutralidade da China; em 1915, apresenta as “Vinte e Uma Exigências” que, é apenas parcialmente aceita por Pequim, desmoralizam o governo, que julga propicia a hora para restaurar o Império. De dezembro de 1915 a março de 1916, Yuan Shikai ostenta o título de Imperador, mas é obrigado a abandonar o trono devido à forte oposição, porém conserva o cargo de presidente até sua morte em junho de 1916. Entretanto, um golpe militar em Cantão faz com que Sun Yat-sen exercesse novamente a presidência. Mas a situação do governo central estava muito deteriorada, visto que, o governo de Sun não controlava mais do que uma porção reduzida do território. O controle das outras regiões deslocou-se para as tradicionais elites rurais, que se agrupavam em torno de chefes militares. Várias províncias reivindicavam autonomia, e determinados territórios foram retalhados em “feudos” independentes. Os chefes militares locais (os chamados “senhores da guerra”) lutavam constantemente entre si e impunham todo tipo de arbitrariedades ao povo, como impostos e paralisação de colheitas e trabalhos públicos.[24]


1.1.6. A Revolução Nacionalista de Xinhai

  • Depois do ato contra a Rebelião dos Boxers realizado pela Aliança das Oito Nações, a dinastia Qing com a imperatriz Dowager Cixi – que temia a perda do mandato celestial – à frente, iniciou as reformas idealizadas pelos nacionalistas, por Kiang Yu-wei e Liang Qichao, na Reforma dos Cem Dias.

  • Das mudanças realizadas, a principal foi a abolição da Exame Imperial, em 2 de setembro de 1905. O governo iniciou a edificação de novos colégios, chegando a existir cerca de 60 mil no momento de deflagração da Revolução Xinhai.


A) A importância de Sun Yat-sen: de médico a primeiro Presidente da república chinesa

  • Abordar esse tema é fundamental para entendermos a filosofia de Mao Zedong, expressa nos textos das Cinco Teses e, também, no conjunto de seus principais escritos.

  • Sun Yat-sen foi um nacionalista, estadista e líder revolucionário chinês muito simpático ao socialismo e ao comunismo. Sendo ele o principal líder que realizou as bases da construção da primeira república chinesa. Era conhecido também como o pai da nação chinesa. Sun foi de fundamental importância na queda da Dinastia Qing, a última dinastia imperial da China.

  • Foi o primeiro presidente da China durante os eventos de edificação do governo provisório quando a República da China foi fundada em 1912 e, posteriormente, foi o principal criador do Kuomintang, estando sempre à frente como seu primeiro líder. Sun representava a principal liderança da unidade nacional chinesa pós-imperial e, ainda hoje, segue como único político unânime entre os líderes da China, posto exclusivo que jamais fora alcançado sequer por seus sucessores do Partido Comunista da China, embora, majoritariamente, a população chinesa considere os comunistas como os reais herdeiros dos ideais de Sun, sendo Mao Zedong seu maior discípulo.

  • Sun Yat-sen veio ao mundo no dia 12 de novembro de 1866 em uma família Hacá na vila de Cuiheng, Xiangshan (mais tarde Zhongshan), Cantão, província de Guangdong (26 km ao norte de Macau). Durante a infância, Sun Yat-sen escutou diversas histórias sobre a Rebelião de Taiping, de um antigo soldado Taiping de nome Lai Han-Ying. Após se aplicar aos estudos na escola local, quando completou treze anos Sun foi convidado a morar com seu irmão mais velho, Sun Mei, em Honolulu. Sun Mei, muito mais velho que seu irmão, tinha emigrado para o Havaí para trabalhar como um operário, mas com o tempo se tornara um próspero comerciante, disciplinado e bastante forte. Sun Mei se preocupava profundamente com seu irmão e essa preocupação o levava a ter receios das atividades revolucionárias de seu protegido, apesar disso nunca deixou de apoiar seu irmão financeiramente e permitiu que Sun Yat-sen se tornasse um revolucionário profissional.

  • Por medo do envolvimento de Sun Yat-sen com o cristianismo – dado o papel reacionário do papado e do protestantismo – seu irmão o envia de volta para a China, mas, posteriormente, retorna ao Havaí pelo menos duas vezes, em 1900 e 1901.

  • Sun Yat-sen estudou medicina em Honolulu (Havaí) e em Hong Kong. Mais tarde tornou-se cristão e foi batizado aos 17 anos, adotando um novo nome que, curiosamente, fazia juízo a sua fama como primeiro grande líder não dinástico da China. O novo nome era de cortesia (hào) na tradição chinesa: Rìxi-n, que significa “renovação diária”. Posteriormente, seu mestre em literatura cunhou seu nome como Yìxiaan. Os ideogramas desse nome se pronunciam em cantonês como Yat-sen. E foi esse o nome que o consagrou e essa foi a pronúncia pela qual se popularizou tanto no oriente como no ocidente.

  • Em meados de 1894, em Hong Kong, torna-se o fundador da Sociedade para a Regeneração da China, a qual visava ao ressurgimento político da China soberana para sustentar as ações revolucionárias sobre a Dinastia Qing e, assim, instaurar um governo democrático no país. Sun foi um ativo manifestante do levante em Guangzhou em setembro de 1895 – este, infelizmente, uma falha tentativa de golpe de estado que o condenou ao exílio no Japão mais uma vez.

  • Viveu por muitos anos no Japão, na Europa, Estados Unidos e Canadá, mas foi em Londres que foi atacado por um grupo que o sequestrou em 11 de outubro de 1896 por ordens da embaixada imperial chinesa. Ao conquistar a liberdade, tornou-se famoso no Reino Unido como líder revolucionário chinês. Em 1905, ainda no decorrer do exílio no Japão, funda, em Tóquio, a Sociedade da Aliança Unida. Essa sociedade seria o germe do Kuomintang, o partido nacionalista chinês.

  • Em 10 de outubro de 1911 encontrava-se em Denver, nos EUA, quando soube do levante de Wuchang, uma revolta legitimamente revolucionária em Whuhan, província de Hubei, a qual levou à derrocada da derradeira dinastia imperial. Quando notificado dessa manifestação revolucionária – já que era ele o articulador dos fundos que ajudavam o levante – regressa à China, em direção a Nanquim, onde foi eleito presidente do governo provisório da nova República da China, em 29 de dezembro do mesmo ano. Sun Yat-sen teve notícias da rebelião através de um jornal. Assim, estar na América e na Europa ajudou a obter apoio financeiro para a revolução. Isso porque, nos Estados Unidos, em 1909, cresceram os números de opositores do governo, após o assassinato dos missionários.

  • A conspiração revolucionária se instalava em Wuchang, cuidando para despistar a polícia, porém, em 9 de outubro de 1911, uma bomba na cidade de Hànkǒou explode. Durante os resgates, a polícia investiga por que as bombas eram guardadas e descobre a identidade de militares envolvidos na ação contra a dinastia. Graves medidas foram aplicadas àqueles militares: para resistirem à prisão, optaram, sobretudo entre os Engenheiros, por roubar as armas e subverter-se, aniquilando a força dinástica que estava em Wuchang. Precisamente esse fato passou a ser conhecido como o levantamento de Wuchang, em 10 de outubro de 1911. Considera-se essa rebelião como início da Revolução que desencadeou uma onda de adesões e de atos de rebeldia contra a dinastia Qing de Pequim.

  • Apesar da repressão, essas manifestações revolucionárias eram comuns e eram esgotadas pelo Governo. Porém, a desídia do governo possibilitava o crescimento de manifestantes, paralelamente os revolucionários recrutavam cada vez mais membros do exército inimigo o desagregando, estes inimigos agregados se aglutinavam e se colocaram ao lado dos rebeldes de Wuhan no dia 22 de outubro. Muitos atuaram, estudantes e trabalhadores urbanos.

  • Em Nanquin, o novo governo provisório liderava e mantinha em domínio somente um baixo percentual do país. Sem muitas escolhas, Sun Yat-sen formulou uma trégua com Yuan Shikai para obter dele, que dirigia o Exército no norte da China, o apoio necessário para derrotar, definitivamente, o imperador, que ainda acreditava ser o portador do mandato celestial, portanto não querendo colocar fim a seu exercício de poder. Sun viu-se obrigado a aceitar Yuan Shikai como Presidente da República temporariamente. Como já salientado, as reformas de Kiang Yu-wei, embora importantes, não puderam ser hegemônicas por não conseguirem realizar os anseios da burguesia nacional escravizada pelo imperialismo.

  • Com a presidência cedida e com a constituição promulgada em março de 1912, Sun Yat-sen detinha as garantias legais de que retornaria à presidência no prazo de dez meses. Para poder realizar a luta legal parlamentar, Sun Yat-sen transforma a Sociedade da Aliança em um partido político, eis a origem do Partido Nacional Popular, Guómíndǎng, mais conhecido no Ocidente pela transcrição Wade-Giles: “Kuomintang” (KMT). Song Jiaoren foi o homem de confiança de Sun Yat-sen na organização do partido.

  • Chegava ao fim a revolução Xinhai, com a derrocada da China imperial. Em março, realizou-se a constituinte parlamentar com a legislação acerca dos cargos executivos e legislativos. As eleições de 1913 ocorreram, entretanto Yuan Shikai se negou a deixar o poder, o que gerou guerras entre os seguidores de Shikai e o KMT. Durante as eleições parlamentares de 1913, havia ainda uma forte discriminação de gênero e censitária, pois detinham direito ao voto 40 milhões de chineses, cidadãos homens com mais de 21 anos, de propriedades e riqueza. O KMT conquistou, para seus candidatos, 269 das 596 cadeiras da câmara baixa e 123 das 274 cadeiras do Senado. De acordo com a constituição provisória, Yuan Shikai devia demitir-se para convocar as eleições presidenciais e o KMT desejava afastar Yuan do poder. No entanto, ele não estava disposto a deixar o poder. Em 1913, Sun fez todo o necessário para afastar Shikai do poder, porém, sem sucesso, foi obrigado a recuar e foi levado, mais uma vez, ao Japão. Lá contraiu segundas núpcias com Song Qingling.

  • Song Jiaoren, organizador do KMT, foi assassinado em Shanghai, antes de tomar posse em Pequim. Os militares leais a Yuan Shikai marcharam em confrontos contra o exército leal ao KMT. Infelizmente, de início, as tropas de Yuan Shikai aniquilaram as do KMT e forçaram o parlamento a nomeá-lo presidente por cinco anos, consequentemente ele condenou o KMT à dissolução e expulsou seus membros do parlamento. No final das intensas trovoadas de novembro, Sun Yat-sen, compulsoriamente, se dirigia a um novo exílio no Japão, dessa vez fugindo da nova república de Yuan Shikai.

  • Em Janeiro de 1914, Yuan Shikai fecha o parlamento e instaura à força uma assembleia legislativa, com 66 membros, encarregada de realizar uma nova constituinte. Essa nova constituinte outorgava toda a chefia de Estado e de governo ao próprio Yuan Shikai, assim convertendo-se em ditador da China.

  • Shikai arremessou à sorte uma propaganda de reformas a fim de desenvolver e modernizar a economia chinesa. Tais reformas abrangiam diversos setores sociais: o judiciário, a educação, a moeda e o sistema penitenciário.

  • Coincidentemente, o plano não foi malsucedido de todo, porque a Primeira Guerra Mundial forçou as potências imperialistas a diminuírem a (re)pressão sobre as colônias e semicolônias. Os imperialistas empenharam todos os esforços para derrotar a Alemanha, a qual alcançava o patamar de país mais rico e desenvolvido da Europa, consequentemente o contexto aliviou a atuação imperialista sobre regime o autocrático de Shikai em cima do povo chinês.

  • No entanto, como o Japão culpava ativamente os demais países asiáticos pela penetração absurdamente alta de estrangeiros no país, e não detinha sequer um motivo direto para intervir na guerra a favor da tríplice aliança, passou a conspirar contra o continente oriental. As ambições japonesas sobre o território chinês, que existiam há algum tempo, começaram a crescer. Os japoneses, já representados pelo imperador Hirohito, o mesmo que permitiu a aliança com o eixo fascista, proposta por Hideke Kojo, para obter controle da Ásia, se aliaram ao Reino Unido, que mais tarde formaria o bloco aliado, estavam contra a Alemanha, e, assim, aproveitaram essa circunstância para se apropriar das concessões alemãs na província de Shandong. O Japão fez, em janeiro de 1915, uma leva de exigências, comumente designadas de “as 21 Reclamações”, que obrigavam a China a ceder a todo tipo de acordo comercialmente desigual com o Japão, que estava disposto, principalmente ao fim da primeira guerra, a lutar pelo domínio de toda a China. A truculência do Japão gerou revoltas e levou a inúmeras rebeliões na China, todavia, Yuan Shikai, precisando de injeções de capital internacional, cedeu covardemente à maioria das exigências japonesas.

  • Em 1915, Yuan deu o salto derradeiro do precipício e efetivou um suicídio político. Afirmando ser representante de um desejo pressuposto na vontade divina popular e, portanto, portador de um mandato celestial, Shikai montou uma trama que provocou revoltas: realizou uma assembleia em nome próprio, a qual votou a favor da restauração imperial. Em 1º de janeiro de 1916, ascendeu ao trono como imperador e, três meses depois, cedendo às pressões, aboliu novamente a monarquia. Faleceu em 6 de junho, abandonado por seus seguidores. Para seu azar, suas medidas foram mal recebidas por todos os seus seguidores. Os membros de seu exército negaram o reconhecimento do novo imperador, consequentemente aumentaram-se, drasticamente, os protestos contra ele que, resistindo ao resultado das eleições, viu-se obrigado a abortar a tentativa de restauração dinástica, ainda em março daquele ano.

  • No ano da revolução de outubro – inspirado e procurando se orientar com e pelos bolcheviques – Sun Yat-sen volta à China, residindo em Guangzhou, sendo escolhido como presidente do autoproclamado Governo Nacional. Ali criou a famosa Academia Militar de Whampoa que, além de ter forte ligação com a academia militar de Moscou dos bolcheviques, posteriormente passou a ser dirigida por seu cunhado, Chiang Kai-shek, que fora formado na academia de Moscou sob supervisão de Sun Yat-sen, de onde passou a administrar e coordenar um exército para tomar o norte da China, tardiamente sob controle de Yuan Shikai.

  • Sun Yat-sen organizou o Kuomintang como um partido de tipo leninista, mesmo não sendo marxista, baseado nos princípios do centralismo democrático e da democracia de tipo novo instaurada pelos bolcheviques, o que lhe valeu o apoio do Komintern e proporcionou a primeira Frente Unida dos nacionalistas do Kuomintang com o recém-criado Partido Comunista Chinês.

  • Infelizmente, em 12 de março de 1925, Sun Yat-sen, aos 58 anos de idade e com câncer, morreu em viagem a Beijing, viagem esta visando a entabular negociações com os dirigentes do norte da China em tentativa de reunificação nacional.

  • Assim como Lenin, Sun foi um líder constantemente condenado ao exílio. Depois da realização da revolução, infelizmente, foi temporariamente retirado do poder, sendo obrigado a liderar sucessivos ataques revolucionários, como o líder de diversos governos provisórios, e o que mais desafiou os senhores da guerra que, repartiam o país e, portanto, obrigavam Sun a eliminá-los por etapas. Assim como Ho Chi Minh, infelizmente não presenciou a libertação total da nação chinesa e não viu o partido que idealizou e criou instaurar o regime democrático no país. Em sua época, inspirado e motivado pela revolução de outubro e pelo bolchevismo, realizou aliança com os comunistas a fim de consolidar a unidade nacional das forças mais progressistas e patrióticas. Após sua morte, o partido nacionalista, do qual Sun foi iniciador, passou ao divisionismo em facções.


B) A Filosofia nacionalista de Sun Yat-sen[25]

  • O maior e mais importante ensinamento de Sun versava sobre um conjunto de princípios filosóficos e políticos aplicáveis universalmente a todos que se pretendem patriotas e nacionalistas sadios. São os princípios do Povo: patriotismo, democracia e bem-estar: meio de subsistência a todos os integrantes da nação.

  • Essa filosofia foi e permanece sendo considerada como parte essencial da política da República da China pelo Kuomintang. Tais princípios são reproduzidos, inclusive, na primeira linha do Hino Nacional da República da China.

  • No decorrer da formação da já citada Sociedade para a Regeneração Chinesa, Sun Yat-sen tinha elaborado apenas dois princípios: nacionalismo e democracia. Naquele período, não concebeu o terceiro princípio, bem-estar social, o qual só postularia depois, em sua viagem de três anos à Europa (1896–1898). Seus ideais foram divulgados por ele após a primavera de 1905, quando residia na Europa uma vez mais. Sun estava em Bruxelas quando realizou seu primeiro discurso sobre os “Três Princípios do Povo”. Mais tarde, Sun conseguiu conquistar apoio em muitas cidades e expandiu a Sociedade para a Regeneração Chinesa, contando cerca de 30 membros em Bruxelas, 20 em Berlim e 10 em Paris. Depois que Tongmenghui foi estruturado, Sun conseguiu publicar sua obra no editorial Min Bao: pela primeira vez suas ideias foram expressas. Mais tarde, seu longo discurso sobre os três princípios fora impresso na edição comemorativa feita pela Min Bao.

  • Apesar da originalidade, o pensamento de Sun, em geral, foi inspirado, também, pelos revolucionários de outros países, indo desde Robespierre até os Bolcheviques. Os Três Princípios do Povo de Sun Yat-sen funcionaram como uma extensão do guia para a modernização da China, desenvolvido por Hu Hanmin. São eless:


I. O princípio do “Nacionalismo”, literalmente “Populismo” ou “Governo do Povo”.

  • Sun Yat-sen faz menção à independência do imperialismo ou dos países imperialistas. Para alcançar a independência ele acreditava ser necessário construir o patriotismo de tipo chinês que unisse todas as diferentes etnias, ao contrário do “nacionalismo étnico” (Zhonghua Minzu). A diversidade étnica chinesa era grande, mas dividida precipuamente por cinco maiorias nacionais: os Han, Mongóis, Tibetanos, Manchus e os Uigures, simbolizados pela Bandeira das Cinco Cores da Primeira República (1911–1928). Essa afeição nacional é diversa do “etnocentrismo”, que possui o sentido de nacionalismo na língua chinesa. Sun argumenta que “minzu”, podendo-se traduzir como “povo”, “nação”, ou “raça”, é definida através da partilha comum de sangue, modo de vida, religião, língua e costumes. O apreço nacional de Sun Yat-sen pelos comunistas é bastante evidente:

  • O Princípio do Nacionalismo é equivalente à “doutrina do Estado”. […] Se, nós, chineses, pudermos, no futuro, encontrar uma fórmula para reviver nosso nacionalismo, pudermos descobrir outra vara de bambu, então, não importa quão intensamente as forças políticas e econômicas estrangeiras nos oprimam, sobreviveremos através da história. Não podemos neutralizar as forças da seleção natural. A preservação pelos céus de nossos 400 milhões de compatriotas, até agora, mostra que não quiseram que fôssemos destruídos. Se a China perecer, a culpa recairá sobre nossas cabeças e seremos os grandes pecadores do mundo. Os céus colocaram grandes responsabilidades sobre nós, chineses. Se não nos amarmos mutuamente, seremos considerados rebeldes perante os céus. A China atingiu uma fase de sua história, em que cada um de nós tem, sobre os ombros, uma grande responsabilidade. Se os céus não nos querem eliminar, é evidente que desejam fomentar o progresso no mundo. Se a China perecer, sê-lo-á nas mãos das grandes potências que estarão obstruindo o progresso do mundo. Ontem, um russo declarou-me:

  • – Por que Lenin foi atacado por todas as potências? Por que ousou declarar que o povo de todo mundo estava dividido em duas classes – os 1.250.000.000 e os 250 milhões; os 1.250.000.000 eram oprimidos pelos 250 milhões, que não agiam em harmonia com a natureza, mas sim desafiando-a. Só quando resistimos à força é que agimos em harmonia com a natureza. Se quisermos resistir à força, deveremos congregar nossos 400 milhões de compatriotas e uni-los aos 1.250.000.000 do mundo. Deveremos esposar o nacionalismo e, antes de tudo, atingir à nossa própria unidade, para, depois, considerarmos a situação dos outros e auxiliarmos os povos menores, mais fracos a se unirem na luta comum contra os 250 milhões, juntos, utilizaremos o direito para combater a força, e quando esta for derrubada e as ambições egoísticas tiverem desaparecido, poderemos, então, falar sobre cosmopolitismo.[26]


II. O princípio Mínquán é comumente referido como “Democracia”, literalmente “O Poder do Povo” ou “Governado pelo Povo”.

  • Para Sun, a democracia é representada pelo governo constitucional. Ele dividiu a política de sua China ideal em dois poderes: o poder da política e o poder do governo:

  • a) O poder da política (zhèngquán) são os poderes do povo para expressar seus desejos políticos – semelhante aos parlamentos de outros países – representados pela Assembleia Nacional. Há quatro desses poderes:

  • i. Eleição;

  • ii. Recall;

  • iii. Iniciativa Popular;

  • iv. Referendo.

  • Tais poderes devem ser considerados direitos políticos.

  • b) O poder do governo (zhìquán) são os poderes da administração. Sun ampliou as teorias constitucionais do ocidente de um governo com alguns ramos e o sistema de freios e contrapesos adaptado da tradição administrativa chinesa para criar um governo de cinco ramos, denominados de Yuan (yuàn, literalmente “corte”). O Yuan Legislativo, o Yuan Executivo e o Yuan Judiciário são oriundos da teoria de Montesquieu, já o Controle Yuan e o Exame Yuan provêm da tradição chinesa.

  • Segundo Sun Yat-sen, o socialismo é indissociável da democracia e quando a democracia se desenvolve pelas autoridades não socialistas é justamente por medo de que os socialistas, unidos ao povo, implantem a democracia à força, por não terem mais nada a perder. Assim, para ele, o sistema socialista foi o que mais desenvolveu a democracia, porque nasceu como gêmeo da democracia: assim é, pois sempre gerou autofobia na classe dominante, a qual adotara princípios socialistas por saber que a repressão tem limite e prazo de validade, como também por ser obra da classe dominada que pouco ou nada tem a perder, senão seus grilhões.

  • O socialismo sempre foi originariamente ligado estreitamente à democracia e ambos se desenvolveram simultaneamente. Mas, por que as ideias democráticas na Europa provocaram as revoluções democráticas, enquanto que a propagação das teorias socialistas não provocara revoluções econômicas? Porque o nascimento do socialismo, na Alemanha, coincidiu com o regime de Bismarck. Outros estadistas certamente empregariam a força política para esmagar o socialismo, porém Bismarck escolheu outros métodos, ele sabia que o povo alemão era esclarecido e que as organizações trabalhistas haviam sido firmemente estabelecidas. Se tentasse a supressão do socialismo pela força política, agiria em vão. Bismarck já se manifestara a favor do exercício do controle absoluto por parte de uma autoridade centralizada. Quais os métodos que empregou para tratar com os socialistas? O Partido Socialista advogava reformas sociais e a revolução econômica. Bismarck sabia que não podiam ser suprimidas mediante a força política, e, assim, pôs em efeito uma espécie de socialismo de Estado como um antídoto contra o programa dos socialistas marxistas. As estradas de ferro, por exemplo, são um meio vital de comunicações e uma indústria fundamental em qualquer nação, essencial para o desenvolvimento de outras indústrias. Antes da construção da Estrada de Ferro Tientsin-Pukow, Chihli, Shan-tung e o Norte do Kiangsu eram regiões extremamente pobres. Depois da construção dessa ferrovia, as regiões ao longo de seu leito tornaram-se muito produtivas. Antes da construção da Estrada de Ferro Peiping-Hankow, Chihli, Hupeh e Honan eram regiões estéreis, porém, depois da construção da estrada, essas províncias tornaram-se bastante prósperas. No tempo em que Bismarck tomou as rédeas do governo na Alemanha, a maior parte das estradas de ferro da Grã-Bretanha e da França eram de propriedade da classe abastada, todas as indústrias da nação tornaram-se monopólio da classe privilegiada, e começaram a aparecer os inúmeros males decorrentes de uma distribuição desigual da riqueza. Bismarck não quis que tais condições surgissem na Alemanha, e, assim, pôs em prática um socialismo de Estado. Colocou todas as estradas de ferro do país sob a posse e controle do Estado e todas as indústrias sob a administração do Estado. Fixou as horas de trabalho e estabeleceu pensões para a velhice e seguros de acidentes no trabalho. Essas medidas figuravam nos programas de reforma, que o Partido Socialista estava tentando executar. Bismarck, com sua grande visão, tomou a dianteira e empregou o poder do Estado para executá-las. Além do mais, empregou os lucros das estradas de ferro, bancos e outras empresas exploradas pelo Estado para a proteção dos trabalhadores, o que naturalmente os contentou. Antes disso, todos os anos, várias centenas de trabalhadores costumavam emigrar da Alemanha, porém, depois que a política econômica de Bismarck foi posta em prática, não só deixaram os trabalhadores alemães de emigrar como também grande número de operários de outros países passaram a imigrar para a Alemanha. Bismarck enfrentou o socialismo, antecipando-o e tomando precauções contra ele, em vez de desferir um ataque frontal. Por meios invisíveis, provocou a dissolução das questões pelas quais o povo estava lutando. Quando não havia mais nada por que o povo lutar, as revoluções deixaram de irromper. Esse foi o método ardiloso pelo qual Bismarck resistiu à democracia.[27]

  • III. Mínshēng (Bem-estar social). O princípio Mínshēng é comumente referido como “O Bem-estar do Povo” ou “Governo para o Povo”. Este conceito pode ser concebido como bem-estar social da população e como uma crítica direta às imperfeições do capitalismo. Sun dividiu o bem-estar em quatro áreas: roupas, comida, habitação e transporte e planejou como um governo ideal poderia cuidar dessas áreas. Sun infelizmente faleceu sem ser capaz de expor plenamente sua teoria acerca desse princípio, o que tem sido tema de muitas discussões tanto entre os membros do Partido Nacionalista quanto do Partido Comunista. Sun Yat-sen afirma que o caminho da subsistência percorre o caminho para o comunismo.

  • Para Sun Yat-sen, somente quando se iniciar um novo período de comunismo é que esse princípio da subsistência terá sua efetivação. Para ele, o homem luta pelo pão, pela sua porção de arroz, por vestes, transporte e roupas. Na era comunista, quando todos tiverem pão e arroz para comer, não haverá lutas entre os homens. A luta humana será eliminada. Logo, o comunismo é um ideal bem elevado de reconstrução social.

  • O Princípio da Subsistência, que o Kuomintang advogava com Sun Yat-sen à frente, não é tão somente um alto idealismo; é, entre outras coisas mais, o vigor que move a sociedade, sendo seu centro pelo qual se movimenta a história. Decorre da aplicação desse princípio a resolução de todos os problemas sociais que não permitem à sociedade gozar de benefícios por ela produzidos. O Comunismo é o ideal que se pretende alcançar enquanto Min Sheng é um dos meios de se atingi-lo, sendo ele o pragmatismo do comunismo.

  • Em face dessa conclusão, o que é o Princípio da Subsistência Para Sun Yat-sen? É o comunismo e, muito antes, é o socialismo. Assim, segundo Sun, jamais devemos dizer que o comunismo é antagônico ao Princípio Min-Sheng, devendo enaltecê-lo como amigo. Os legatários do Princípio Min-Sheng têm a obrigação de analisar e dissecar o comunismo com cautela. Para Sun, o comunismo é aliado do princípio Min-Sheng, mesmo quando membros do Koumintang antagonizam os do Partido Comunista e vice-versa. Mas por que o Partido Comunista faria oposição? A razão desse antagonismo reside no fato de os próprios membros do Partido Comunista não compreenderam o que é o comunismo e fazerem preces apresentando erros contra os Princípios San Min, e, com isso, gerarem uma resposta dentro do Kuomintang. Entretanto, a responsabilidade desses comunistas incompetentes e sem conhecimento jamais será atribuída a todo o Partido Comunista, eles atuam em nome próprio, não em nome do Partido. Não se pode atribuir, como fundamento para fazer frente a todo um grupo, as ações e confusões escusas de um indivíduo singular. Este debate surge porque alguns comunistas não entendem que nosso Princípio da Subsistência é uma forma de comunismo. Não é originado pelo comunismo de Marx, porém apareceu quando o homem primitivo surgiu sobre a terra[28]. Assim, para Sun Yat-sen, o Princípio da Subsistência é, na prática, o mesmo que o comunismo e o socialismo, diferindo apenas pela metodologia. Nossa primeira ação deve ser a solução do problema da terra.

  • Essa forma do Princípio Min-Sheng é o comunismo, e, uma vez que os membros do Kuomintang apoiam os Princípios San Min não deveriam opôr-se ao comunismo. O grande objetivo do Princípio da Subsistência, incorporado em nossos Três Princípios, é o comunismo – participação de todos na propriedade. O comunismo, porém, que propomos, é um comunismo do futuro, não do presente. Esse comunismo do futuro é uma proposta muito justa e os que tiverem propriedade no passado não sofrerão nada com ele. É uma coisa muito diferente do que se chama, no Ocidente, “nacionalização da propriedade”, confisco para uso do governo da propriedade privada, que o povo já possui. Quando os proprietários compreenderem claramente o princípio contido em nosso plano para a igualização da propriedade, deixarão de ficar apreensivos. Nosso plano estabelece que a terra, cujo valor for fixado agora, continuará a ser de propriedade privada. Se o problema da terra puder ser resolvido, metade do problema da subsistência será resolvida. Não podemos dizer, pois, que a teoria do comunismo seja diferente do nosso Princípio Min-Sheng. Nossos Três Princípios do Povo significam o governo “do povo, pelo povo, para o povo” – isto é, um Estado pertencendo a todo o povo, um governo controlado por todo o povo, e direitos e benefícios para o usufruto de todo o povo. Se isso for verdadeiro, o povo não terá apenas uma partilha comunista na produção do Estado, mas terá uma partilha em tudo. Quando o povo partilhar de tudo no Estado, então teremos atingido o objetivo do Princípio Min-Sheng, que era a esperança de Confúcio numa “grande comunidade”.[29]


C) A Primeira frente Unida

  • A Primeira Frente Unida, denominada, também, de Aliança KMT-PCCh, foi um pacto realizado pelo Kuomintang (KMT) e pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), em 1924, intentando reunificar o país através de colaboração, com apoio soviético.

  • Durante sua viagem ao norte do país, Sun passou por Shanghai, mas antes de ir a Pequim esteve no Japão, onde ficou gravemente doente e voltou a Pequim para se tratar. Ao ser operado, os médicos perceberam que sofria de cancro do fígado em estágio terminal. Sun morreu em Pequim, no dia 12 de março de 1925.

  • A morte de Sun acentuou os antagonismos no KMT. A torpeza dos entreguistas e dos imperialistas forçava a união de todos com o povo chinês. Em 30 de maio de 1925, soldados chineses e sikhs britânicos mataram onze manifestantes em Shanghai. Esse massacre provocou numerosos protestos na China e aumentou o prestígio da oposição.

  • Para unir o governo da República da China, no período dos senhores da guerra que afundaram a nação em caos, o KMT e o PCCh unidos, instituíram o Exército Nacional Revolucionário Chinês e definiram, em 1926, a Expedição ao Norte. O PCCh se juntou ao KMT, valendo-se da superioridade numérica para ajudar a espalhar o comunismo. O KMT, por outro lado, queria controlar os comunistas de perto. Ambas as partes tinham seus próprios objetivos, por isso a Frente seria insustentável. Entretanto, a tensão começou a se desenvolver entre o KMT e os comunistas e, em 1927, sob o marechal de campo nacionalista Chiang Kai-shek, os comunistas foram expurgados da frente, enquanto a Expedição ao Norte ainda estava pela metade. Isso deu início a uma guerra civil entre as duas partes, a qual durou até a formação da Segunda Frente Unida, em 1936, para a preparação devido à ocorrência da Segunda Guerra Sino-japonesa.


1.1.7. A Era dos Senhores em Guerra 1916 a 1928

  • Nesse período da história chinesa, ocorreu a divisão do país pelos militares, até a queda do governo nas regiões: Sichuan, Shanxi, Qighai, Ningxia, Guangdong, Guangxi, Gansu, Yunnan e Xinjiang. Tal período vai da morte de Yuan Shikai até a Expedição ao Norte.

  • Porém, quando os velhos senhores da guerra foram destituídos, não faltaram sucessores reivindicando o posto. Inúmeras facções militares ainda subsistiam, mesmo após o estabelecimento da República Popular da China, com a vitória dos comunistas liderados por Mao Zedong.

  • Após os inúmeros fracassos de tentativas de restauração da dinastia em Pequim, o país passou por novas divisões, mas era reconhecido pelo imperialismo como legítimo, sem ter controle do norte da China.

  • Nada colaborativos, os chefes militares exerciam o poder em diversas partes da China, detendo o poder real, dominando a burocracia e o recolhimento de tributos.

  • A fraqueza do novo governo em Pequim foi acentuada ao fim da 1º guerra pelas cessões econômicas e territoriais feitas ao Japão de ex-colônias alemãs. Essas colônias cedidas ao Japão foram de grande admiração para os chineses, inclusive para o atual governo, que desconhecia totalmente os acordos do antigo governante, Duan Qirui, ao fim de outubro de 1918, com os japoneses.

  • A aspiração do povo chinês em derrotar os alemães era a libertação da exploração alemã; no entanto, o Tratado de Versalhes realizou uma cessão de créditos dos alemães aos japoneses, gerando descontentamento e protestos por todo o país.

  • O empoderamento do Estado japonês, que já tinha o mesmo chefe de Estado do período fascista posterior, foi realizado pelas potências da entente, as mesmas que depois formariam os aliados e que, após isso, negariam ajudas mais expressivas à URSS contra o nazifascismo.

  • Consequentemente essa crise levou ao florescimento do povo chinês e a um aumento da mobilização política, literária e intelectual. O paradoxo atinge seu auge nos protestos de 4 de maio de 1919, hoje conhecidos como Movimento 4 de Maio.

  • Nesse ínterim surge um destacado teórico: Chen Duxiu – professor na universidade de Pequim e fundador da revista nova juventude. Nessa revista, publicaram-se inúmeros artigos influentes sobre o pensamento chinês e, posteriormente, Li Dazhao[30] (principal fundador do PCCh) passou a contribuir em julho de 1921.

  • A Fundação do PCCh não foi a única novidade do período, o retorno de Sun Yat-sen após a morte de Yuan Shikai, em Guangzhou, resultou na fundação da academia militar e um exército para toda a China sob liderança do Koumitang.

  • Sem ver outra saída para a recuperação de seu território, em 1917, a China emite uma declaração de guerra à Alemanha esperando obter a renúncia dos países imperialistas às suas esferas de domínio e, assim, a libertação. Após a primeira guerra, pedia retirada das tropas estrangeiras, a devolução da posse sobre as concessões e territórios arrendatários.

  • Como era de se esperar, os termos de paz do Tratado de Versalhes eram possíveis desde que os chineses aceitassem de bom grado a colonização: os termos eram desfavoráveis à libertação da China – as determinações chinesas para pôr fim ao estatuto semicolonial não foram aceitas e isso provocou subversão e agitação em todo o país como recusa do tratado.

  • Os líderes do Movimento Quatro de Maio – anti-imperialista e antifeudal – começam a mobilizar o país e, assim, o proletariado chinês compõe o cenário político do país com forte engajamento e consciência de classe, isso permitiu a difusão do marxismo-leninismo e sua adaptação à prática da revolução chinesa, assim se preparou o país ideologicamente e assim se formaram os dirigentes para a fundação do Partido Comunista da China.

  • A China sofre, depois de 1920, os desdobramentos da guerra gerada pelas reminiscências feudais direcionadas pelos senhores da guerra, estes ainda detinham grande poder nas províncias e controlavam, em conluio com os demais grandes proprietários de terra, cerca de 88% das áreas produtivas.

  • O tratado das nove potências, assinado em 1922, foi outorgado afirmando a soberania e a integridade territorial da China, contanto aceitasse o acordo com a política de “portas abertas” aos estrangeiros, a qual consistia numa liberdade comercial condicionada pelas potências imperialistas, ratificada por todos os integrantes da Conferência Naval de Washington em 6 de fevereiro de 1922. No decorrer da Conferência Naval de Washington de 1921–1922, os Estados Unidos levantou a política de portas abertas como uma questão internacional e apelou a todos os participantes (Japão, China, França, Grã-Bretanha, Itália, Bélgica, Holanda e Portugal) que ratificassem este tratado para tornar a política de portas abertas integrante da lei da política internacional.[31]

  • As classes dominantes chinesas nacionais dividiam-se entre os que não perderam o senso nacionalista e os que queriam resguardá-lo, como foi o caso de Sun Yat-Sen.

  • De um lado, os setores mais à esquerda: os proletários, o baixo campesinato, classes médias com disposição a resistir; de outro: os grandes latifundiários e a burguesia burocrática e compradora, que preferiam a rendição à revolução.

  • No centro, entre direita e esquerda, capengavam a burguesia nacional e os médios e pequenos latifundiários – opor-se ao Japão significava a revolução: temiam. Ademais, os países imperialistas queriam continuar com o acordo da China como área de exploração comum. A decisão japonesa de colonizar a China rasgou esse acordo.

  • A) A Expedição e o Massacre de Xangai

  • Nos anos de 1926 e 1927, como já mencionado, os comunistas e os nacionalistas se uniram para liquidar as classes feudais restantes e lutar contra os senhores feudais de guerra.

  • De início tudo corria pacificamente; durante a expedição os setores da burguesia burocrática e compradora aderiram ao KMT buscando acordo com os latifundiários e imperialistas; já os trabalhadores e camponeses se valeram da expedição para se organizar e realizar a reforma agrária e conquistar mais direitos.

  • Essa operação teve início em 1º de julho de 1926, avançou sobre as áreas ao norte, tomou a cidade Changsha; adiante, pelo corredor ferroviário entre Guangzhou e o Norte, enfrentou árduas batalhas pelo domínio de Wuhan. Nessa cidade havia muitos leais a Wu Peifu, os quais montaram forte resistência, até que finalmente, em 10 de outubro de 1926, no décimo quinto aniversário do Levantamento de Wuchang, a tríplice metrópole caía nas mãos das forças de Chiang Kai-shek. Ao fim daquele ano de 1926, mais militares do KMT tomavam a totalidade do porto de Guangdong e Fujian, também a província de Jiangxi. A diplomacia com os senhores, que muito se estendeu, da guerra de Guangxi e Guizhou, trouxe mais territórios ao domínio da aliança do KMT e do PCCh, recuperando todo o sudeste do país.

  • Essa colaboração resultou na criação da Academia Militar de Whampoa, na qual familiarizaram-se militantes do KMT fiéis a Sun Yat-sen e do Partido Comunista de China, como Zhou Enlai, chegado da França e nomeado à função de diretor do setor político. Entretanto, o primeiro comandante da Academia foi Chiang Kai-shek, um mancebo da província de Anhui de laços estreitos com Sun Yat-sen, o qual, depois, definir-se-ia por forte anticomunismo. E isso o afastaria de representar as ideias mais leais a Sun Yat-sen, já que nos três princípios do povo, como vimos, Sun declara-se comunista. Os dois polos – os leais da ala comunista e, por isso, ala patriota do Kuomintang e os nacionalistas quase imperialistas – tentavam atrair discípulos e disputá-los nas fileiras do KMT e isso alimentava a tensão que desembocaria anos mais tarde num confronto aberto.

  • O KMT, quando toma Pequim, em 1928, passa a ser reconhecido internacionalmente como governo legítimo da China.

  • O KMT retomou sua campanha contra os senhores da guerra e capturou Pequim em junho de 1928, depois disso a maior parte da China Oriental estava sob o comando de Chiang e do Governo da Nanquim, que se tornou internacionalmente reconhecido como o único governo legítimo da China. Os nacionalistas anunciaram que tinham alcançado a primeira fase das três previstas pela doutrina de Sun Yat-sen para a revolução, ou seja, a unificação militar, a tutela política, e, finalmente, a democracia constitucional. Sob a liderança do KMT, a China estaria se preparando para iniciar a segunda fase.

  • Entretanto, a oposição não era unida: a discórdia entre o KMT e o PCCh aumentava criticamente: Chiang Kai-shek atacara um navio de guerra comandado por um militar comunista em Whampoa, em 20 de março de 1926, detendo o capitão do navio.

  • Borodin – agente do Komintern – tentou manter a diplomacia, sem sucesso, com Chiang Kai-shek, que continuou a unificar o país às custas de eliminar as forças comunistas, mesmo contrariando os princípios de Sun Yat-sen, seu cunhado.

  • O poder adquirido faz vislumbrar a unificação do país. Zhang Zuolin, senhor da guerra, controlava Pequim, Tianjin e a Manchúria, lançava ataques contra os seguidores comunistas e a embaixada soviética em Pequim, executando vários membros do Partido Comunista, dentre eles, infelizmente, Li Dazhao.

  • Chiang Kai-shek aliou-se a comunistas, até o início de 1927, pelo suporte bélico e econômico Soviético. Quando, porém, a conjuntura variou, na primavera de 1927, com ocupação das cidades de Shanghai e Nanjing pelo exército do KMT, Chiang não mais precisava dos comunistas. Consequentemente, Chiang Kai-shek, transgrediu a filosofia de Sun Yat-sen e o acordo com os comunistas e também com os dirigentes de esquerda do KMT da aliança. Nos dias 12 e 13 de março, mercenários e soldados do KMT mataram líderes sindicais e simpatizantes comunistas em Shanghai. Em 18 de Abril de 1927, Chiang Kai-shek torna Nanjing capital da nova China. Assim convertia-se em líder máximo do KMT e da China, enquanto seu rival permanecia em Wuhan, onde os comunistas, desconcertados com a traição, debatiam-se numa crise que acabou com a liderança de Chen Duxiu. Após ter derrotado os senhores feudais, o exército nacionalista protestou contra a Grã-Bretanha por ser um poder imperialista dominante e tornou-a seu principal inimigo. Em resposta, os britânicos cederam as suas concessões em Hankou e Jiujiang, mas prepararam-se para defender Shanghai.

  • Fincou-se uma política insurrecional que promoveria levantes nas cidades e no campo para aproveitar uma onda revolucionária. Os comunistas tentaram tomar as cidades de Nanchang, Changsha, Shantou e Cantão, e os camponeses da província de Hunan empreenderam uma revolta rural conhecida como Levantamento da Colheita de Outono. A insurreição foi liderada por Mao Zedong.

  • O Massacre de Xangai, em 1927, conhecido também como “Incidente de 12 de abril”, foi um expurgo dos comunistas do KMT em grande escala, liderado por Chiang Kai-shek, durante a Expedição ao Norte contra os senhores da guerra.

  • O Massacre de Xangai foi um dos principais eventos de 1927 a assinar a ruptura entre o KMT e o PCCh e marcou o início da Guerra Civil Chinesa. Em chinês, o incidente é chamado de “a purificação do Partido” pelo KMT, enquanto o PCCh o refere por “Massacre de Xangai de 1927”, “golpe contrarrevolucionário de 12 de abril”, ou “Tragédia de 12 de abril”. Ao longo de várias semanas após o incidente de 12 de abril em Xangai, ocorreram prisões e execuções de comunistas, distribuídos por áreas da China controladas por Chiang e seus aliados, incluindo o cofundador do Partido Comunista Chinês, Li Dazhao, em Pequim. Depois de derrotar as insurreições comunistas nas cidades, o KMT tornou-se unificado sob a liderança de Chiang e passou a derrotar as facções dos senhores da guerra, tornando-se dominante na China. Os comunistas se retiraram para coletividades rurais, construindo uma força no meio rural para a próxima fase da guerra civil chinesa.

  • No momento em que as tropas expedicionárias tomaram Hangzhou, Xangai e Nanjing, em março de 1927, esse conflito atingiu seu auge. Uma greve geral, em Xangai, havia colocado o poder em mãos das milícias operárias armadas, mas a direção central do PC ordenou que elas fossem desarmadas e o poder entregue ao Guomindang. Essa ordem, entretanto, em vez de reduzir as tensões na aliança nacionalista comunista, abriu caminho para o golpe de Chiang Kai-chek. Com o apoio da burguesia burocrática, dos latifundiários, dos notáveis da antiga monarquia, dos traficantes e da burguesia estrangeira, Chiang comandou o massacre de milhares de comunistas e ativistas populares nessas e em outras cidades da China, levando à prática o que defendia dentro do Guomindang. Foi assim que, embora os principais dirigentes comunistas não enxergassem com bons olhos as organizações e atividades camponesas e criticassem as propostas de Mao como pequeno-burguesas e provincianas, tiveram que refugiar-se nas bases rurais que condenavam. A resistência ao golpe de Chiang ocorreu apenas por meio de dois levantes, em agosto de 1927. O primeiro, o da Colheita de Outono, foi uma insurreição das milícias armadas camponesas de Hunan, sob a direção de Mao Zedong e Zhu De. O segundo, o de Nanchang, capital de Jiangxi, foi dirigido por Zhou Enlai, Ho Lung e Lin Biao, à frente de quarenta mil homens do Exército Nacional Revolucionário.[32]


B) O conflito de Jinan

  • Em 1928, os senhores de Jinan se uniram aos japoneses para dar cabo da expedição. Os conflitos antifeudais se somaram ao início de uma revolta contra o governo de Pequim devido ao ataque aos comunistas e aos setores proletários e camponeses que eram representados pelos comunistas.

  • O desgaste se deu devido à prioridade em combater o “inimigo interno” por parte do KMT, isso deu aos japoneses a oportunidade de levar adiante sua política de agressão armada ao país.


C) O atentado de Mukden

  • O atentado que matou Zhang Zuolin, em Mukden, permitiu a sucessão por seu filho, Zhang Xueliang, um pacificador. O incidente foi uma sabotagem a explosão de uma ferroviária em 18 de setembro de 1931 no sudoeste da Manchúria, quando militares japoneses mataram Zhang Zuolin. O imperador Japonês e seus lacaios acusaram os chineses dissidentes de sabotagem e o acontecimento foi usado como pretexto para a invasão e anexação japonesa da Manchúria.

  • “Incidente de Mukden”. Em 18 de setembro de 1931, extremistas do exército Kwantung do Japão fizeram explodir um comboio de estrada de ferro de propriedade japonesa, em Mukden. Os conspiradores acusaram chineses por ato de sabotagem e o incidente foi tomado como pretexto para a invasão e anexação da Manchúria pelo Japão (HENSHALL, 2005, p. 158; JANSEN, 2000 p. 581). Vale assinalar que esse Incidente teve uma recepção popular no Japão, e o Estado procurava compensar os efeitos negativos da depressão econômica fazendo propaganda política com vitórias do exército (KERSHAW, 2007, p. 448; JANSEN, 2000, p. 586).[33]


D) A Longa Marcha

  • Em 1934, as forças nacionalistas cercaram as tropas comunistas, forçando-as a abandonar as suas posições no Sul, o que deu origem à chamada Longa Marcha. Fracos e sem meios de resistência, os comunistas efetivam uma retirada em 1934, deixando o KMT temporariamente vitorioso, mas explorando possíveis contradições com o inimigo principal: o imperialismo japonês e os senhores de guerra. Focados em escapar das represálias, marcharam para Shaanxi, por mais de 6.000 km.

  • No decorrer da Longa Marcha, Mao, após um memorável encontro na cidade de Zunyi, província de Guizhou, com os membros do PCCh, conquistou a liderança do partido, superando Wang Ming, o líder que detinha o apoio da União Soviética. A Longa Marcha terminaria em 20 de Outubro de 1935, quando cerca de um décimo dos homens que saíram de Ruijin com Mao libertaram e atingiram a zona de Shaanxi controlada pelos comunistas no norte. Mao liderou 100 mil combatentes do Exército Vermelho (dirigentes e militantes comunistas que prestavam solidariedade internacionalista) na Longa Marcha. A Longa marcha foi a maior travessia de risco do período, percorreram 9600 km por pântanos e montanhas, com o objetivo de uniformizar os agrupamentos e se reorganizarem frente a uma massiva agressão que só poderia se cessar com a finalização da revolução democrática, interrompida por Chinag Kai-shek.

  • Eles combateram os senhores da guerra e os exércitos reacionários. Só 10 mil pessoas conseguiram chegar ao fim da marcha, em Yenan, no noroeste da China, mas a revolução conseguiu avançar. Mao, agora o líder do PCCh, desenvolveu e aplicou uma via para a tomada do poder a nível nacional e para o estabelecimento do socialismo – que incluía uma estratégia militar de guerra popular prolongada.

  • A Longa Marcha propriamente dita, que conduziu um pequeno e perseguido partido comunista a cumprir em condições dramáticas um percurso de milhares de quilômetros, para se pôr à frente da luta popular de resistência contra um dos imperialismos mais bárbaros, representa indubitavelmente um dos grandes eventos épicos do vigésimo século e da história da humanidade enquanto tal. […] A Longa Marcha representa para a Ásia aquilo que Stalingrado é para a Europa: sobre a vaga destas duas derrotas históricas do imperialismo se desenvolve um poderoso processo de emancipação dos povos coloniais, que vai bem além da Segunda Guerra Mundial, investe cada ângulo do mundo e conhece momentos particularmente significativos em países como o Vietnã e Cuba. Hoje vemos desdobrar-se um novo capítulo da história iniciada com a Revolução de Outubro. Um país de civilização milenar, agredido a partir das guerras do ópio, pisoteado, humilhado e desumanizado (“Entrada proibida aos cães e aos chineses”!), se prepara para tornar-se protagonista na cena mundial, e não só no plano político, mas também no cultural e tecnológico, como já o tinha sido por milênios. E, ao pôr fim a um capítulo trágico de sua história nacional, a China tende a encerrar um capítulo bem mais amplo da história mundial no curso do qual, exatamente por causa do domínio incontrastado do Ocidente, e também para justificar as formas brutais que ele assumiu, emergiram e se afirmaram muito tempo as ideologias racistas mais grosseiras e infames.[34]

  • A debilidade causada pela opressão não impediu o PCCh de desenvolver o partido e aplicar o socialismo no conselho ou comuna de Jiangxi. Em Ruijin, Mao Zedong adaptava o Marxismo-Leninismo às condições particulares do campesinato chinês.

  • Durante anos, os comunistas estiveram perseguidos pelo exército de Chiang Kai-shek, os dirigentes do Partido Comunista empreenderam a Marcha, o périplo pela China interior que levaria os leais ao Partido Comunista a fugirem desde Jiangxi e outras zonas sob seu controle até à província de Shaanxi no norte.


E) O Kuomintang e a república sob Chiang Kai-shek: O anticomunismo acima da nação

  • Chiang Kai-shek foi um político e militar chinês que serviu como Presidente da República da China, de forma intermitente, de 1928 a 1949. Chiang foi conhecido por ser um influente traidor que desvirtuou o Kuomintang (KMT), o Partido Nacionalista Chinês.

  • Por ser um nacionalista péssimo, Chiang promovia, em com­pensa­ção, uma propaganda da cultura milenar chinesa no denominado “movimento nova vida”. Inepto diplomaticamente, gerou atritos desnecessários com o Partido Comunista da China (PCCh), levando a cabo a tarefa de expurgá-los do país por meio do famoso massacre de Xangai de 1927 e, após isso, reprimiu várias rebeliões.

  • Posteriormente, tornou-se ainda mais autoritário, perdendo os camponeses para o crescente socialismo que, apesar dos ataques, conseguia aliados que queriam uma guerra civil contra seu governo. A esse respeito, sobre os fatos, Mao Zedong responde com um texto bastante forte, no qual assim preconiza e escreve:

  • O atual regime do Kuomintang permanece, como no passado, o regime da burguesia compradora, nas cidades, e da classe dos déspotas e nobres, no campo, regime que, no domínio das relações exteriores, capitulou diante do imperialismo e, em política interna, reforçou a exploração econômica e a opressão política da classe operária e da classe camponesa. As classes dos compradores, dos déspotas e nobres apoderaram-se da direção da revolução democrático burguesa iniciada no Cuantum, revolução que não tinha ainda feito mais do que a metade do caminho, e desviaram-na imediatamente em direção da contrarrevolução. Quanto aos operários e camponeses, quanto às pessoas simples da China, e mesmo quanto à burguesia, eles sofrem, como no passado, o jugo dum regime contrarrevolucionário, e não obtiveram a menor liberdade no plano político e econômico. Antes da tomada de Pequim e de Tientsim, entre as quatro camarilhas dos novos caudilhos militares do Kuomintang – Tchiang, Cuei, Fom e Ien – existia uma aliança provisória contra Tcham Tsuo-lin. Após a tomada de Peq uim e de Tientsim, a aliança desfez-se imediatamente e começou uma luta encarniçada entre aquelas quatro camarilhas; além disso, está a preparar-se uma guerra entre a camarilha de Tchiang Kai-chek e a do Cuansi. As contradições e a luta entre as diversas camarilhas de caudilhos militares refletem as contradições e a luta entre os países imperialistas. Assim, enquanto a China se encontrar dividida pelos países imperialistas, a possibilidade dum entendimento entre essas camarilhas permanecerá absolutamente excluída e todo o compromisso a que elas possam chegar não poderá ter mais do que um caracter provisório. O compromisso provisório de hoje está prenhe duma guerra ainda maior para amanhã. A China tem necessidade urgente da revolução democrático burguesa, e está só pode ser realizada sob a direção do proletariado. Como o proletariado não tivesse manifestado suficiente decisão no exercício da sua hegemonia, a direção da revolução que, nos anos de 1926-1927, se estendeu do Cuantum à bacia do Yangtsé, foi usurpada pelas classes dos compradores, dos déspotas e nobres, e a revolução cedeu lugar à contrarrevolução. A revolução democrático burguesa sofreu uma derrota provisória. Essa derrota vibrou um golpe sério no proletariado e nos camponeses chineses. O golpe foi igualmente sentido pela burguesia chinesa (mas não pelas classes dos compradores, dos déspotas e nobres). Contudo, nos últimos meses, e sob a direção do Partido Comunista, têm-se desenvolvido de forma organizada, quer no Norte quer no Sul da China, greves de operários nas cidades e levantamentos camponeses no campo. Entre os soldados dos caudilhos militares, a penúria de alimentos e vestuário provoca uma séria efervescência. Ao mesmo tempo, a burguesia, inspirada pelo grupo encabeçado por Uam Tsim-vei e Tchen Cum-po, fomentou um movimento reformista de proporções consideráveis, nas regiões do litoral e na bacia do rio Yangtsé. A extensão desse movimento constitui um facto novo. Conforme às indicações da Internacional Comunista e do Comitê Central do Partido Comunista da China, a revolução democrática na China deve consistir em derrubar a dominação do imperialismo e dos seus instrumentos, os caudilhos militares; em realizar a revolução nacional e concluir a revolução agrária, que porá fim à exploração feudal dos camponeses pela classe dos senhores de terras. Na prática, um tal movimento revolucionário começou a estender-se, dia a dia, após os acontecimentos sangrentos de Maio de 1928, em Tsinan.[35]

  • O KMT se dividia entre a esquerda e a direita. Em Nanjing, concentrava-se a direita do partido; em Wuhan, os fiéis a Sun Yat-sen. A divisão do KMT e o fracasso de tomar todo o Norte – cidade de Xuzhou – levaram à renúncia temporária de Chiang Kai-shek, que não durou devido a sua capacidade de manter os fundos do partido. Em janeiro de 1928, Chiang Kai-shek era nomeado Comandante-Chefe e integrava-se, novamente, ao Comitê Executivo Central do KMT.

  • O KMT procurou encurralar os comunistas, abandonou o senso de unidade nacional e priorizou o confronto ao comunismo frente ao combate à ameaça japonesa, com quem até foi diplomático e negociou os termos da invasão da Manchúria; no fim, esse conjunto de ações não elevou em nada a China e o partido nacionalista não tirou nenhum proveito disso.

  • Antes da marcha para o norte, Chiang Kai-shek havia se reunido com os representantes do governo japonês a fim de estabelecer um reconhecimento formal da Manchúria, caso houvesse um recuo de Chiang. O Primeiro-Ministro Tanaka, sem o auxílio de Chang Tso-lin, tentou deter a marcha. No entanto, era evidente que, já em 1927, as tropas japonesas e chinesas estavam prontas para o embate: Quando Chiang moveu suas tropas para o norte na primavera seguinte, Tanaka mais uma vez mandou suas tropas a Shantung. O passo levou a combates com as forças de Chiang em Tsian e à ocupação japonesa da estrada de ferro de Kiaochow-Tsian. Enquanto isso, durante o inverno de 1927-1928 Yamamoto Jotaro de Mantetsu, agindo para Tanaka, conseguiu um acordo com Chang Tso-lin, dando ao Japão novos direitos sobre a estrada de ferro da Manchúria e uma promessa de cooperação econômica mais próxima. Yamamoto acreditava que os planos de concretizar poderiam ser “como se o Japão tivesse comprado toda Manchúria89”. Mesmo que o acordo não estivesse assinado por vários meses por motivos de objeções do ministro das relações exteriores quanto à diplomacia privada. Foi eventualmente renegociado numa forma mais restrita pelo ministro em Beijing e assinado em maio de 1928. (BEASLEY, W. G. Japanese Imperialism, 1894-1945. Oxford, Nova Iorque: Claredon Press, Oxford University Press, 1987, p. 186) […] A principal preocupação de Kuomintang, no início da década de 1930, era erradicar as bases do comunismo, que se espalhavam pelo sul da China. Houve muitas críticas a Chiang por ele perseguir uma ameaça interna em forma de campanhas de extermínio aos comunistas, colaborando para o enfraquecimento da unidade nacional e abrindo campo para o inimigo estrangeiro, que praticamente se instalou sem oposição sólida na Manchúria, em 1931.[36]

  • Os tratados de Shimoneki e Versalhes empoderaram o Japão com territórios chineses e ocupações militares. Após o atentado a Mukden, os japoneses justificaram a criação de um Estado fantoche, propondo a Puiy, último imperador da China, a reestruturação da dinastia na Manchúria. Puyi ratifica a proposta em troca de proteção.

  • Mesmo assim o KMT nutriu esforços para retirar dos comunistas a herança de Sun Yat-sen. Mesmo com o Japão crescendo, investiam pesado em combate ao comunismo. Esse esforço para fazer da linha Chiang Kai-shek a legítima sucessão de Sun Yat-sen fracassa profundamente com o fim da década Nanquin e com o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, quando o governo chinês foi temporariamente transferido para Chongqing. A tomada de Nanquim pelos japoneses, em dezembro de 1937, e o massacre de sua população, marca seu fim simbólico, como veremos mais detidamente adiante.

  • Lutam clandestinamente pela revolução agrária: comunistas e rebeldes camponeses, no Levante de Nanchang libertam o sul da China. O KMT, sem sucesso, tenta sufocá-los. Após o levante de Nanchang, o KMT aborta o golpe dos senhores: Feng Yuxiang, Wang Jingwei e Yan Xishan, depois, iniciam cinco campanhas anticomunistas: as três primeiras fracassam devido ao atentado japonês de Mukden; a quarta teve bom começo, mas fracassou taticamente por tentar atacar os soviéticos e Mao Zedong; a última, elaborada pelos alemães aliados do KMT, cercava a comuna de Jiangxi que tinha apoio soviético. Esses eventos ocorreram de 1927 a 1932.

  • Nem só de repressão aos comunistas chineses viveu Chiang Kai-Shek: com a morte de Sun Yat-sen, depois que o próprio Ho Chi Minh participou do 2º Congresso do KMT, a mudança radical operada sobre a orientação do Partido, liderada por Chiang Kai-shek, no sentido direitista, contrarrevolucionário, pegou os vietnamitas em cheio. Ho Chi Minh, quando cumpria missões da Internacional Comunista (IC) na China, acabou preso pelas forças do KMT, partido este que rompera relações com Moscou.


F) A Segunda Frente Unida

  • A Segunda Frente Unida foi a coligação compulsória realizada pelo Kuomintang (KMT) com o Partido Comunista Chinês (PCCh), pouco antes da Segunda Guerra Sino-japonesa e da Segunda Guerra Mundial, que interrompeu a Guerra Civil Chinesa de 1937 a 1946. Dessa frente nasce a liga democrática da China: uma coalizão de três partidos pela democracia. Seus dois objetivos principais eram: 1) apoiar os esforços de guerra da China durante a Segunda Guerra Sino-japonesa e 2) oferecer uma nova e Terceira Via entre nacionalistas e comunistas.

  • Antes da ocupação japonesa da Manchúria, Chiang Kai-shek via no comunismo uma ameaça maior que o imperialismo japonês, por isso negou a aliança com seus compatriotas para lutar contra os invasores. Às vésperas da Segunda Guerra Sino-japonesa, o marechal Zhang Xueliang – considerado herói nacional conhecido por ser um grande pacificador das forças nacionais – sequestrou Chiang Kai-shek para formar a Segunda Frente Unida com os Comunistas. Em julho de 1937, o Japão atacou a China e os comunistas pressionaram Chang Kai-shek a uma aliança para combater o invasor em conjunto sob a palavra de ordem “chineses não devem lutar contra chineses”. Embora os comunistas e o KMT fossem aliados, os primeiros tiveram de continuar na clandestinidade.

  • Esse evento ficou conhecido como “incidente de Xi’na”. Todavia, as duras divergências entre os dois grupos políticos começaram a trincar a aliança ainda em 1938, em boa parte devido às conhecidas traições de Chiang Kai-shek e disso se aproveitaram os japoneses para se instalarem ainda mais em território chinês, conquistando o noroeste, a região costeira, o vale do Rio Yang-Tsé, na região central do país, o que levou o governo central do KMT a lutar em duas frentes ao mesmo tempo, internamente contra os comunistas e externamente contra os japoneses.

  • Na década de 1930, Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang, instituiu como meta a total destruição do PCC, ignorando a invasão japonesa. Falhando em suas ações, Chiang foi a Sian, em dezembro de 1936, apenas para ser preso pelo comandante nacionalista Zhang Xueliang, que ressentiu pela captura da Manchúria pelos japoneses. Zhang exigiu que a campanha contra os comunistas terminasse e que todos os chineses deviam se unir contra o Japão. Se Chiang não concordasse, ele ameaçaria sua execução como traidor. Stálin estava convencido de que somente Chiang teria o poder para unificar todos os chineses contra o Japão, então pediu ao PCC para que houvesse a adesão de Chiang. Zhou Enlai, todavia, negociou com Chiang para uma segunda Frente Unida. O PCC concordou em reconhecer Chiang como cabeça do Estado e prometeu modificar sua política de confisco de terras dos camponeses ricos e proprietários de terras. Quando Chiang aceitou, foi liberado, mas o PCC estava em posição muito mais forte do que quando houve a primeira Frente Única, em 1923. Tinha seu próprio exército e território diretamente sob seu controle [37]

  • Stalin cumpriu a promessa de retirar suas tropas da região, essa retirada fazia parte da estratégia dos comunistas, liderados por Mao Zedong, de não conservar as cidades, onde o KMT era militarmente superior, e recuar para os campos. Uma das diretivas de Mao Zedong era cercar as cidades com os campos e, com o tempo, tomar as cidades. O KMT dominava as principais cidades, mas perdia, gradualmente, o controle dos campos e começava a encontrar dificuldades em efetuar o recrutamento. Os comunistas passaram a dominar o norte da Manchúria e grande parte dos campos.


1.1.8. A Segunda Guerra Mundial: a segunda Guerra Sino-japonesa; a ocupação Japonesa e o Fim da Guerra

  • Os conflitos entre japoneses e demais povos asiáticos, que possuem fundamentos históricos de longa data, eram baseados na ideia de que a raça japonesa deveria espalhar sua cultura para revolucionar a Ásia e, também, o mundo.

  • Cercados por esses ideais, os militaristas japoneses anexaram territórios chineses e fizeram, entre 1937–45, a colonização asiática. O conflito entre ambas as nações data de antes do século XX.

  • A tensão entre o Império do Japão e a China, que não reconhecia a independência de Manchukuo, levaria a uma guerra aberta em 7 de Julho de 1937, quando o exército japonês, depois de algumas escaramuças com o exército chinês no norte, iniciou a invasão da China.

  • A invasão japonesa desintegrou a tentativa do KMT de reunificar a China, fazendo Chiang Kai-shek fugir para Chongqing. Os japoneses ocuparam não só as cidades, mas toda a faixa costeira, controlando toda a economia chinesa.

  • O Japão estabeleceu os seguintes fantoches: Manchukuo, Mongólia Interior, separada da China como Taiwan, a Manchúria, e, por fim, Pequim e Nanquim. Milhares de pessoas morreram no fascista Massacre de Nanquim.

  • O Massacre de Nanquim propriamente dito começou em 13 de dezembro de 1937, quando aproximadamente 250.000 soldados do exército imperial renderam a cidade. O ponto de vista das vítimas fora registrado nos diários de John Rabe, empresário alemão que presidiu o Conselho da Zona de Segurança de Nanquim; nos os diários de Minnie Vautrin, missionária americana que tinha sob sua responsabilidade a vida de 10.000 mulheres num colégio por ela dirigido; nas imagens capturadas pelo missionário John Magee; nos relatos do médico Robert Wilson, que atuou na University of the Nanjing Hospital, e chegou a testemunhar no Tribunal de Tóquio. Além disso, foram preservados inúmeros documentos oficiais, tal como a despacho do príncipe Asaka ordenando que todos os prisioneiros de guerra fossem mortos (CHANG, 1997, p. 40). O próprio príncipe Misaka, irmão mais novo do imperador Hirohito, que estava estacionado em Nanquim, reconheceu, como nos informa Henshall (2005), que houve um massacre (p. 168). Muitos desses documentos começaram a ser descobertos após seis décadas do Massacre. Esses documentos revelam que durante as seis semanas que se sucederam à queda da cidade, os militares japoneses perpetraram, com prisioneiros de guerra e civis, fuzilamentos em massa; enterraram pessoas vivas; queimaram pessoas; praticaram exercícios de baioneta e espada com civis, a fim de treinar soldados novos; estupraram em massa, com variados requintes de destruição psíquica e humilhação moral. O Massacre de Nanquim não foi apenas um episódio do expansionismo japonês na China. Ele foi um exemplo singular da capacidade humana para o mal (CHANG, 1997; FOGEL, 2000; SPENCE, 1996).[38]

  • Os japoneses chamam de “incidente” (jihen, em japonês) os conflitos sem declaração de guerra – na realidade, descrições eugenistas e eufemismos para massacres.

  • Um desses incidentes, o Incidente da Ponte Marco Polo, de 1937, configura um dos marcos oficias do início do conflito, sendo esse o nome dado à batalha ocorrida entre chineses e japoneses, em junho de 1937, marcando, oficialmente, o início da Segunda Guerra entre a República da China e o Império do Japão.

  • A referida ponte, cujo nome em chinês é Lugouqiao, vem a ser uma obra arquitetônica edificada em mármore com onze arcos e 266 metros de comprimento.

  • Foi construída em 1192 e restaurada durante a dinastia Kangxi (1662–1722) e está localizada em um subúrbio ao leste de Pequim, atravessando o rio Yongding. A ponte recebeu esse nome por constar nos escritos de um explorador homônimo.

  • No verão no hemisfério norte de 1937, as tropas do Império do Japão enfrentaram os chineses naquela região. Os japoneses sabiam que, ao tomarem a ponte, impossibilitariam a comunicação e iniciariam um tipo de cerco, já que as áreas de entorno ficariam controladas e foi isso que aconteceu ao KMT.

  • As tropas chinesas de infantaria estavam mal treinadas e mal equipadas. Dispunham de fuzis ultrapassados; as tropas eram, em sua maioria, compostas por soldados recrutados entre criminosos e camponeses sem qualquer treinamento de combate. Tinham, como única vantagem contra o exército profissional do Império do Japão, a superioridade numérica e o conhecimento das áreas onde se desenrolaram os conflitos. A aliança com a URSS poderia ter elevado tanto o nível militar quanto o fornecimento de armas, no entanto, o general preferiu o caminho do oportunismo.

  • No decorrer da noite de 06 de julho de 1937, uma unidade do exército Imperial do Japão, composta de 137 soldados que estavam alojados ao lado sul da Ponte Marco Polo, faziam um treinamento militar ao norte da ponte, quando tropas chinesas do KMT apenas os observavam, aguardando, recolhidos em suas posições. Os comandantes das unidades da infantaria chinesa, mensurando que a ação das tropas japonesas era um prelúdio de uma infração abrem fogo, cerca de 30 disparos de fuzil contra as tropas japonesas – isso provocou uma rápida troca de tiros entre os dois lados, por volta das 23 horas.

  • Depois desse curto combate, o soldado japonês Shimura Kikujiro não voltou ao seu posto, então o comandante da infantaria japonesa, major Kiyonao Ichiki, deduziu que os chineses o teriam emboscado e reportou o ocorrido ao chefe, coronel Renya Mutaguchi. Ao alvorecer do dia 7 de julho, o comando do exército japonês enviou um telegrama às forças chinesas avisando que um dos seus soldados estava desaparecido e acreditavam que ele estivesse escondido dentro da cidade. No telegrama, o comando militar japonês pedia autorização para que alguns de seus soldados entrassem na cidade para procurá-lo.

  • O comandante da guarnição chinesa negou o pedido. Na tarde do mesmo dia, o comandante japonês enviou um ultimato aos chineses, exigindo que seus soldados tivessem a permissão concedida em uma hora ou a cidade seria colocada sob fogo da artilharia japonesa. Sem resposta, à meia-noite os canhões começaram a bombardear a cidade, enquanto a infantaria blindada iniciava uma marcha em direção à ponte, ao alvorecer. Sob as ordens de defender a ponte a qualquer custo, o Coronel Ji liderou uma tropa de mil homens entrincheirada contra o avanço japonês.

  • Os japoneses apossaram-se da ponte e regiões próximas ao crepúsculo do dia 8, no entanto, as tropas chinesas, amparadas por tropas vizinhas, recuperaram-na no dia seguinte. Os japoneses, diante disso, abriram-se à diplomacia sem abandonarem o norte da ponte. Depois de inúmeras conversas sem desfecho, os japoneses, com reforços na Manchúria, invadiram a região e tomaram-na por todos os lados, ganhando a ponte Marco Polo, os subúrbios próximos de Wamping e a própria Pequim, em 29 de julho. A guerra entre as duas nações tornara-se aberta e total.

  • Os japoneses não tinham a intenção de administrar um estado tão grande e populoso como a China. Seu objetivo real era a criação de estados fantoches dentro do país, os quais defenderiam seus na Ásia continental. Porém, as atrocidades cometidas pelo exército japonês de ocupação contra as populações civis fizeram com que os governos instalados por eles se tornassem impopulares. Além disso, o Japão se recusou a negociar um fim das hostilidades tanto com o governo central quanto com os comunistas, o que apenas elevou o sentimento nacionalista da população e obrigou os chineses das áreas sob controle a trocarem suas economias em bens e dinheiro por bônus de guerra, que ainda hoje o governo japonês se recusa a devolver em dinheiro chinês corrente.

  • Em 1940, a expansão da ocupação japonesa foi contida graças a grandes esforços por parte do governo central chinês em lutar até o fim em cada batalha, mesmo em completa desvantagem face às divisões blindadas e tropas motorizadas japonesas e devido à política de terra queimada quando se retiravam, impedindo o inimigo de se apropriar de qualquer benfeitoria dos lugares que ocupava – forçando os japoneses a esticarem constantemente suas linhas de suprimento. Mesmo assim, as principais cidades e ferrovias do leste do país se encontravam sob controle japonês. Por outro lado, o emprego de guerrilha e sabotagem fazia com que as áreas não urbanas da China ocupada estivessem todas sob ataque constante, de guerrilheiros tanto nacionalistas quanto comunistas, que, não raramente, ainda lutavam entre si.

  • Em meados de 1941, os Estados Unidos – já operando na China com um grupo de caças de combate P–40 formado por voluntários, chamado: Flying Tigers, famosos pela boca de tubarão pintada no bico –, as Índias Orientais – possessão holandesa na Ásia – e a Grã-Bretanha cortaram o fornecimento de petróleo e aço aos japoneses, impedindo a continuidade das operações em larga escala contra a China. Os soviéticos, por sua vez, ajudaram o governo nacionalista com o envio, entre 1937 e 1939, de várias centenas de caças Polikarpov I–15 e I–16, bombardeiros Tupolev SB, pilotos voluntários, tanques T–26 e milhares de toneladas de armas pessoais e munição. Por sua vez, a ajuda soviética cessou após a assinatura de um Pacto de Não Agressão Soviético-Japonês, o que aconteceu apenas após a humilhante derrota dos japoneses frente aos russos em Khalkhin Gol.

  • Essas ações e a situação geopolítica então configurada na região tornaram-se fatores determinantes para que o Japão lançasse um ataque aéreo à base naval americana de Pearl Harbor e iniciasse a invasão dos países do leste asiático e das ilhas do Pacífico Sul em busca de matérias-primas vitais para sua sobrevivência, incluindo a zona do Pacífico na Segunda Guerra Mundial.

  • Guerra Civil Chinesa (1927–37; 1946–9): nome dado a uma série de conflitos entre forças chinesas nacionalistas e comunistas. Sua localização temporal é discutível e, de modo geral, refere-se à Guerra Civil Chinesa apenas como a fase final ocorrida após o término da Segunda Guerra Mundial; no entanto, o conflito remonta ao fim da dinastia Qing em 1911. As hostilidades irromperam em 1927 durante a expedição de Chiang Kai-shek ao norte, com o expurgo de esquerdistas do KMT e uma série de levantes comunistas urbanos fracassados. O poder comunista foi então melhor estabelecido na área rural e seus defensores utilizavam táticas de guerrilha para neutralizar a força nacionalista, que era superior. Após uma campanha de três anos, Chiang finalmente conseguiu destruir a comuna de Jiangxi (bases rurais comunistas) criados por Mao Zedong, mas, após a Grande Marcha (1934–5), os comunistas conseguiram reinstalar-se em Yan’an, no norte do país.

  • Devido a questões comerciais, chamar os massacres de “incidentes” era uma forma de evitar a intervenção de outras nações no confronto asiático, como os britânicos e, sobretudo, os EUA, precípuo fornecedor de aço e petróleo do Japão, já que a tentativa de expropriação, caso as escaramuças locais fossem chamadas de guerra. Essa dependência se forma sobretudo porque o Japão foi derrotado pela URSS das mais diversas formas, desde a tentativa de tomar a Mongólia pela Manchúria. E a URSS detinha tanto aço e petróleo em abundância.

  • Uma das táticas usadas para evitar a tensão internacional sobre a China era a eleição de governos fantoches como Wang Jingwei, ex-KMT e até mesmo ex-comunista. O regime teve três nomes devidos às grandes instabilidades do país: denominou-se por República da China ou Governo Nacional Reorganizado da China, também Governo Nacionalista de Nanquim. A China teve diversos governos fantoches criados pelos japoneses criados para competir com o governo capenga de Chiang Kai-shek usando o mesmo nome (Governo Nacional da República da China) em Chongqing.

  • Wang Jingwei era um membro da ala esquerda do KMT que rompeu com o governo de Chiang em março de 1940.

  • Alegando ser o governo legítimo da República da China, utilizou a mesma bandeira e incluiu o mesmo emblema do governo nacional de Chiang Kai-shek. Porém, com exceção dos países do Eixo, ficou marcado como um estado fantoche e não obteve nenhum reconhecimento diplomático.

  • O governo de Nanquim foi reconfigurado a partir de diversos grupos lacaios e entidades que o Império do Japão tinha estabelecido ao norte e ao centro da China , inclusive o Governo Reformado da República da China, que ficava ao leste, o Governo Provisório da República da China, no norte, e o conhecido Governo de Mengjiang, na Mongólia Interior. Todavia, o norte da China e a Mongólia Interior tiveram relativa autonomia da influência japonesa, devido à derrota para os soviéticos.

  • Oficialmente, o Estado fantoche se fincou em 30 de Março de 1940 e Wang Jingwei foi seu chefe com o apoio japonês. Ele declarou guerra aos aliados em 9 de janeiro de 1943.

  • A operação de bandeira falsa de Mukden fez da Manchúria território japonês que logo trouxe um Estado fantoche para melhor controlar a região. Sem meios de combater o Japão, principalmente por gastar recursos na criação de antagonismos desnecessários com os comunistas. Logo em seguida, o Estado chinês, com Chiang Kai Shek à frente, recorre à liga das nações após se ver sem forças produtivas para liquidar o Japão, haja vista que o KMT não tinha apoio militar de nenhuma outra nação, já que perdera a URSS por trair o projeto de Sun Yat-sen.

  • Após essa batalha, o Japão invadiu o território chinês, bombardeando e ocupando Xangai, Nanquim e a região sudoeste da China com mais de 350 mil soldados contra uma força superior, em número, de chineses, dando início a um conflito em larga escala entre os dois países sem que houvesse uma declaração formal de guerra. Os massacres que se seguiram contra a população civil em Nanquim, após a queda da cidade em dezembro de 1937 – mais de 300 mil civis mortos, segundo historiadores chineses e ocidentais, mas negado pelo Japão – levariam diversos oficiais japoneses à forca por crimes de guerra ao fim da Segunda Guerra Mundial no Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente.

  • A invasão japonesa provocou a união entre as diferentes forças políticas da China – nacionalistas e comunistas, apesar das desconfianças mútuas – e foi forjada praticamente à bala, quando Chiang Kai-shek foi sequestrado no Incidente de Xi’an e obrigado a assinar um acordo político com os comandantes comunistas.

  • A derrota dos japoneses, causada pelos soviéticos na batalha da Mongólia, travou o avanço japonês na China. Além disso, a rendição da Alemanha, em maio de 1945, forçada pelo poderio soviético, permitiu ao vitorioso Exército Vermelho soviético intervir na Manchúria, em 8 de Agosto desse ano – dois dias após a bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade japonesa de Hiroshima e um dia antes da bomba sobre Nagasaki –, a qual forçaria a rendição japonesa e a sua retirada da Ásia continental.

  • Sem declarar guerra, o Japão passa a ocupar o oriente da China em julho de 1937. A URSS e os aliados firmam um tratado de ajuda com a China, no qual a Liga das Nações obriga os signatários do Tratado das Nove Potências, em novembro de 1937, a procurar auxiliarem a resistência chinesa. Não obstante a aliança, os chineses não são fortes para vencer o exército imperial japonês, padecendo desastres. O Japão ocupa Xangai e Nanquim, bloqueando a China meridional com um Estado títere, de 1938 a 1945, reconhecido somente pelo Eixo.

  • A contenção do Japão foi possível graças à capacidade da aliança de inviabilizar os proveitos das benfeitorias das áreas ocupadas, apesar dos enfrentamentos entre comunistas e nacionalistas. As estratégias face às divisões blindadas, também, foram bem-sucedidas com as políticas de terra queimada em 1940.

  • Os comunistas realizaram atos de guerrilha, sobretudo no norte da China. Mao Zedong poupou seu exército tanto quanto pôde e realizou a consolidação de forças para pôr fim à guerra contra os nacionalistas, após a derrota japonesa. A guerra demonstrara, no entanto, a união moral do povo chinês, todos os grupos reconheciam o governo central e o sistema de guerrilhas, principalmente comunista, era empecilho ao prosseguimento dos japoneses, incompetentes para dominar, por armas, o vasto território.

  • A entrada da China na II Guerra Mundial, em 1941, possibilitou a ajuda norte-americana, inglesa e soviética, formando a aliança dos chineses, e a derrota do Japão em 1945, o que representou a libertação nacional chinesa. Assim, o prosperar das forças soviéticas pela Manchúria a 8 de agosto de 1945 e o ataque em 6 e 9 de agosto de duas bombas atômicas sobre o Japão, destruindo Hiroshima e Nagasaki, encerrou a Guerra do Pacífico. O Japão rendeu-se incondicionalmente em 10 de agosto de 1945.

  • O súbito fim da Segunda Guerra Mundial no Extremo Oriente levou à entrada de tropas da União Soviética para as províncias chinesas com o objetivo de tomar as posições japonesas e receber a rendição de 700.000 soldados nipônicos estacionados na região. Naquele mesmo ano, Chiang Kai-shek teria se convencido de que não dispunha de meios para evitar a influência que o PCCh teria na Manchúria após a retirada prevista dos soviéticos. Para evitar isso, chegou-se a um acordo com os soviéticos para que atrasassem sua retirada até que o KMT tivesse transferido uma quantidade suficiente dos seus melhores homens e equipamentos para a região. Os soviéticos usaram a prorrogação de permanência para desmantelar todo o parque industrial Manchu e mover para o seu país devastado pela guerra.

  • 1.1.9. O Hiato e o Reinício da guerra civil chinesa

  • Ao fim da Segunda Guerra, os japoneses são chutados do território chinês e as tropas de Chiang Kai-shek, com o material bélico dos EUA, lançaram um ataque contra os “vermelhos” de Mao Zedong, reiniciando o conflito armado.

  • Em dezembro de 1945, o general George Marshall, por incrível que pareça, representando o governo norte-americano, procurou ajustar comunistas e nacionalistas, cujas discordâncias colocavam em xeque a unidade chinesa. A conferência consultiva, realizada em janeiro de 1946, no entanto, foi inócua, porque o governo de coalizão de Chiang Kai-shek não convocou a participação dos comunistas e da Liga Democrática, que recusaram a Constituição. O fracasso das negociações leva ao reinicio das hostilidades, as quais demonstrariam a fraqueza dos exércitos nacionalistas e a incapacidade do Kuomintang (KMT) para conduzir a nação, apesar da ajuda prestada pelos EUA.

  • Em julho de 1946, colocou-se em prática a ofensiva contra os “vermelhos” por parte do KMT, com um exército enorme, apoiado por 500 aviões pilotados majoritariamente por oficiais norte-america­nos. O KMT era um pouco mais forte nas cidades mais abastadas, enquanto os comunistas tinham maior força nos campos e nas cidades mais pobres. A estratégia de Mao Zedong foi a de cercar as cidades a partir dos campos. Os comunistas tinham o apoio da população pobre que vivia repugnada pelo exército e pelo governo de Chiang devido à corrupção, ao mau desempenho durante a guerra contra o Japão e, além disso, era considerado um agente direto dos EUA – esse último fator era muito desfavorável num país que lutara mais de um século contra as potências estrangeiras.

  • No primeiro dia do novo confronto, as unidades do KMT ganharam a capital de Yan’an. Todavia, o KMT desmoronou diante das ações militares dos comunistas, decaiu o apoio a moral de Chiang e, no fim, em 1947, uma vitoriosa ofensiva comunista veio: em novembro de 1948, Lin Piao completou a conquista da Manchúria, onde o KMT perdera meio milhão de homens, muitos dos quais desertaram para o lado comunista.

  • Em 1948, quase todo o norte da China era dos comunistas: no começo de 1949, tomaram Tientsin e Pequim, mais a região central do país. Chiang Kai-shek demitiu-se em janeiro de 1949, deixando o poder ao general Li Tsung-jen. Isso não facilitou as negociações com os comunistas, que exigiam um governo sob a chefia de Mao Zedong. A queda em Xangai, Nanquim e Cantão expressava o aniquilamento do exército do KMT, que piorava pela ação dos EUA, estes, em agosto de 1949, discursavam pelo fim de qualquer apoio ao KMT. Em dezembro, Chiang Kai-shek e o que restava de seu governo refugiaram-se na ilha de Formosa (Taiwan).

  • As forças de Mao Zedong conseguiram a vitória mesmo sem grandes ajudas da maior potência comunista a URSS. Em 1º de outubro de 1949, conquistaram o poder e proclamaram a República Popular da China, sendo instalada a Conferência Consultiva do Povo, que elaborou o programa do novo governo, presidido por Mao Zedong, sendo Zhou Enlai presidente do Conselho e Ministro do Exterior.


2. A Revolução Comunista

  • A vitória da Revolução Russa, em 1917, influenciou na criação do Partido Comunista Chinês (PCCh), cujos principais fundadores foram o intelectual Chen Duxiu, o educador Peng-Pai, Li Dazao e, posteriormente, seu mais conhecido e importante teórico: Mao Zedong.

  • Como vimos anteriormente, depois de 28 anos da mais heroica luta sob a direção do PCCh, dirigido pelo camarada Mao Zedong, o Exército de Libertação aniquilou mais de 8 milhões de homens das tropas de Chiang Kai-shek, equipadas pelos Estados Unidos, e expulsou os imperialistas estadunidenses do território chinês. Em 1949, a República Popular da China viu a luz do dia.

  • Em 1924, Sun Yat-sen, precursor da revolução democrática e fundador do Kuomintang (KMT), começou a cooperar ativamente com o PCCh, formando a Primeira Frente Unida (da qual tratamos anteriormente), organizando as massas operárias e camponesas para a Expedição ao Norte. Após o falecimento de Sun Yat-sen, seu sucessor, Wang Jingwei, enfrentava atritos com o líder militar Chiang Kai-shek, que se vinculara a um velho aliado das potências estrangeiras, Zhan Jing-jiang, o banqueiro de Xangai.

  • O grupo direitista do KMT, com Chiang Kai-shek como representante, passa a controlar o Partido Nacional do Povo. Disposto a submeter os chefes militares locais e impor-se ao país todo, Chiang Kai-shek contou com a colaboração dos comunistas em suas campanhas militares de reunificação da China (1925–8). O apoio ao KMT era uma orientação da Internacional Comunista (IC), que havia aclamado Chiang Kai-shek como um de seus dirigentes honorários – apesar do anticomunismo do líder chinês. O PCCh aceitou disciplinarmente essa decisão. No entanto, o PCCh apresentava algumas divisões internas. Alguns achavam que a revolução seria feita a partir das cidades, tendo como núcleo a classe operária. Por sua vez, Mao Zedong e outros dirigentes consideravam que a revolução deveria partir dos camponeses, maioria absoluta da população.

  • Em março de 1927, uma rebelião de trabalhadores em Xangai, liderada por comunistas, permite a tomada da cidade como parte da Expedição ao Norte. O exército do KMT chega após o fato, encontrando Xangai nas mãos de trabalhadores e comunistas. Em abril, sentindo-se seguro no poder, Chiang Kai-shek ordena o massacre dos comunistas em Xangai e em outras cidades.

  • Com o objetivo de neutralizar a influência dos comunistas no KMT, Chiang Kai-shek rompe violentamente com a Primeira Frente Unida, operando uma ofensiva brutal, que resultou em 300 mortes e cerca de 5.000 oficiais desaparecidos. Decreta-se, dentro do KMT, o expurgo generalizado de comunistas. A ruptura com o Comintern é consumada: os conselheiros soviéticos do KMT devem gradualmente deixar o país, abandonam-se os comunistas chineses à própria sorte. No início, a atitude de Chiang provocou uma divisão do KMT. O KMT “de esquerda”, dirigido pelo sucessor de Sun Yat-sen, Wang Jingwei, formou um governo “opositor” em Wuhan. Os comunistas o apoiaram e entraram nesse governo. Entretanto, em julho, Wang Jingwei, impotente frente a Chiang, rompe com os comunistas e apoia o governo em Nanquim. A guinada desconcertou a IC. Todavia, ao fim e ao cabo, triunfaram os comunistas.


2.1. A retomada da Revolução e o fim da guerra civil

  • A Revolução Comunista Chinesa compreende ao fim o período de 1946–50, no qual também integra o fim da Guerra Civil Chinesa. Em parte do movimento comunista e da historiografia antirrevisionista, bem como na mídia oficial do Partido Comunista da China atual, esse período é conhecido como “Guerra de Libertação”.

  • Com o colapso das negociações de paz entre o Kuomintang ou Partido Nacionalista Chinês (KMT) e o Partido Comunista Chinês (PCCh), a guerra total entre estas duas forças são retomadas. A União Soviética forneceu ajuda limitada para os comunistas e os EUA ajudaram os nacionalistas com centenas de milhões de dólares em suprimentos, equipamentos militares e munições, bem como transporte aéreo de muitas tropas nacionalistas da região central da China à Manchúria, uma área que Chiang Kai-Shek via como estrategicamente vital para a defesa nacionalista contra avanços comunistas.

  • Tardiamente, o governo nacionalista também tentou obter o apoio popular através de reformas internas. O esforço foi em vão, no entanto, por causa da corrupção desenfreada no governo, que vinha acompanhada do caos político e econômico, incluindo hiperinflação. No final de 1948, a posição nacionalista era desoladora. As tropas nacionalistas, desmoralizadas e indisciplinadas, não se mostraram pá­reos para o Exército de Libertação Popular dos comunistas.

  • Depois de inúmeros reveses operacionais na Manchúria, em especial a tentativa de tomar as grandes cidades, os comunistas foram finalmente capazes de aproveitar a região e capturar grandes formações nacionalistas. Isso lhes forneceu tanques, artilharia pesada e outras armas necessárias para as operações de ofensiva ao sul da Grande Muralha. Em janeiro de 1949, Pequim foi tomada pelos comunistas, sem luta. Entre abril e novembro, as grandes cidades passaram do controle nacionalista para o controle comunista, com resistência mínima. Na maioria dos casos, a zona rural circundante e as pequenas cidades estavam sob influência comunista, muito antes das cidades – parte da estratégia da guerra popular. Uma das batalhas decisivas foi a Campanha de Huai Hai.

  • Em 1º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a República Popular da China. Chiang Kai-shek, 600.000 tropas nacionalistas, e cerca de dois milhões de refugiados simpatizantes dos Nacionalistas (predominantemente do governo anterior e as comunidades empresariais do continente) recuaram para a ilha de Taiwan e proclamaram a República da China. Depois disso, só restavam bolsões isolados de resistência aos comunistas no continente, como no extremo sul. Uma tentativa da República Popular da China de tomar a ilha de Kinmen, controlada pela República da China, foi frustrada na Batalha de Kuningtou, impedindo um avanço do Exército de Libertação Popular para Taiwan. Em dezembro de 1949, Chiang proclamou Taipei a capital provisória da República e continuou a afirmar que seu governo era a única autoridade legítima de toda a China, enquanto o governo da República Popular da China fez o mesmo. Os últimos combates entre as forças nacionalistas e comunistas terminaram com a captura comunista da ilha de Hainan em maio de 1950.


2.2. A Proclamação da República Popular (Era Mao Zedong)

  • Em 1º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a República Popular da China na porta de Tian’anmen da Cidade Proibida em Pequim. Em dezembro daquele ano, o líder nacionalista Chiang Kai-shek deixou Chengdu, a última cidade do continente nas mãos dos nacionalistas, que se refugiam na ilha de Taiwan.

  • O período de 1949–76 foi dominado pela figura de Mao Zedong, que defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspectos da sociedadecultura, economia política, etc. – deveriam estar a serviço de causas proletárias.

  • Decidira-se a estrutura do novo Estado durante a Conferência Consultiva Política do Povo, convocada pelo presidente em 12 de setembro daquele ano. Além da lei orgânica, a qual estabelece os poderes do Estado, durante a conferência foi elaborado o Programa Comum, que enumerou uma série de objetivos imediatos e determinou a adoção da bandeira do novo país: vermelha com uma estrela amarela, que representa o Partido Comunista, situada em torno de quatro estrelas menores, as quais simbolizam a união das quatro classes: camponeses, trabalhadores, pequena burguesia e burguesia urbana. O novo Estado estava sob o total controle do Partido Comunista através de suas organizações regionais e conselhos populares, coordenados por um Comitê Central que, na época, contava 44 membros. Desses, 14 membros formavam o Birô Político, liderado pe­los cinco membros do Comitê Permanente, que suportavam maior responsabilidade pelo poder. Os cinco membros iniciais do Comitê Permanente, os verdadeiros homens fortes do novo regime, eram: Mao Zedong, Liu Shaoqi, Zhou Enlai, Zhu De e Chen Yun.

  • A estabilidade do novo regime foi baseada em suas forças armadas. As forças armadas do novo Estado, o Exército Popular de Libertação, garantiam a supremacia do partido. O território chinês foi dividido em seis regiões militares, as quais eram controladas por alguns dos líderes mais influentes do partido, como Gao Gang e Peng Dehuai. Uma das principais prioridades do novo governo seria a reconstrução econômica. Para esse fim, a China buscou a colaboração da União Soviética, poderoso aliado com o qual pôde contar temporariamente. Mao Zedong visitou Moscou em dezembro de 1949, onde se encontrou com o líder soviético Josef Stálin. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) apresentou vários programas de cooperação econômica e tecnológica, bem como empréstimos, para facilitar a industrialização do país.

  • Umas das principais políticas desde o início foi a reforma agrária, que envolveu a redistribuição das terras confiscadas dos maiores latifundiários. Reformas sociais também ocorreram, como a nova lei do casamento, o que deu mais direitos às mulheres. Também foram realizados planos de erradicação da prostituição e da dependência da ópio.

  • Além das reformas sociais e econômicas, outra prioridade nacional para os comunistas foi a restauração da integridade territorial da China.

  • Mao Zedong e Stálin reconheceram a independência da República Popular da Mongólia, conhecida na China como Mongólia Exterior. Com o reconhecimento da independência da Mongólia, o único território reivindicado pela República Popular da China que estava fora de seu controle era a ilha de Taiwan, o refúgio do governo nacionalista de Chiang Kai-shek. Mao Zedong esperava invadir a ilha antes do final de 1950. Os planos de invasão seriam frustrados pela Guerra da Coreia.

  • Os primeiros anos do novo regime comunista voltaram-se para a reconstrução do país. O primeiro passo fora atender ao consenso formado pelos moradores do campo e executar a reforma agrária. Além disso, implantou-se o controle estatal da economia, controlando a inflação, bem como ampliando direitos sindicais.

  • Em 1950, Mao Zedong se alia à URSS, integrando-se à Guerra Fria. Tropas chinesas chegaram a participar da Guerra da Coreia em 1950–1, ao lado da Coreia do Norte, contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Em 1950, a China ocupou e anexou o Tibete ao seu território. A aliança com a URSS foi importante para outras partes da economia e se adotou um plano quinquenal nos moldes soviéticos. A China recebeu bastante ajuda soviética: dinheiro, armas, tecnologia, engenheiros, médicos e pesquisadores. Os chineses tentavam construir o socialismo. Foram criadas cooperativas rurais e fazendas do Estado, milhões de adultos aprenderam a ler e escrever e a indústria pesada foi priorizada, o que a fez crescer razoavelmente.

  • A partir de 1952, com enormes manifestações operárias de apoio ao governo comunista, grandes empresas foram expulsas pelo Estado; pouco a pouco já não havia mais burgueses na China.

  • Após a morte do líder soviético Josef Stalin, em 1953, o Partido Comunista Chinês (PCCh) mostrou autonomia em relação à URSS. Em 1956, lançou a Campanha das Cem Flores, para estimular os debates públicos e diminuir o poder da burocracia partidária. Mao Zedong disse: “que cem flores desabrochem, que cem escolas compitam”. As críticas foram maiores que o esperado. Os camponeses e operários reclamavam que não tinham mais atenção. Alertava-se contra o crescimento do poder do Partido e sua burocratização.


2.3. O Marxismo-Leninismo no Pensamento de Mao Zedong

  • Mao Zedong desenvolveu um tipo de marxismo original e, portanto, um socialismo original e próprio, denominado inicialmente de Pensamento Mao Zedong, sendo reconhecido por muitos revolucionários como a elevação da ciência do marxismo-leninismo a novos patamares – chamado maoísmo –, por adaptar sua teoria às condições chinesas e permitir um contributo ao Oriente em geral (e a todos os povos subjugados pelo imperialismo), levando, dessa maneira, o povo chinês à vitória.

  • O processo da Revolução Chinesa foi extremamente tortuoso, intricado e cruel – essa situação levou a classe operária e o povo chinês a adquirirem temperamento heroico; igualmente, permitiu ao partido da classe operária chinesa – o Partido Comunista Chinês (PCCh) – fortalecer-se completamente. Além disso, as grandes experiências revolucionárias – o tesouro da classe operária chinesa – enriqueceram indiscutivelmente a teoria marxista-leninista. As ricas experiências revolucionárias da China foram cristalizadas no pensamento e nas obras de Mao Zedong.

  • Mao Zedong ensinou, ao continuar o trabalho revolucionário de Sun Yat-sen, as contribuições da vizinha revolução de outubro, tão logo dizia aos chineses: “a teoria de Marx, Engels, Lenin e Stalin é uma teoria universalmente aplicável”.[39]Combateu, para adaptar teoria à prática, todos os caminhos ideológicos perniciosos à causa da aliança proletária e campesina, algumas vezes de modo feroz. Mao lutou, sem se flexibilizar, contra várias tendências reacionárias alheias ao Partido e contra diferentes formas de oportunismo no seio do Partido. Incluem-se as lutas contra os nacionalistas[40], contra a ala de direita e os conciliadores dentro do Kuomintang (KMT); contra o Chen Tu-hsiu-ismo[41], o trotskismo e as diversas ilusões reformistas sobre o governo contrarrevolucionário do KMT amparadas pelos setores direitistas da burguesa e da pequena burguesia; contra o aventureirismo de “esquerda”, que predominou no Partido em várias ocasiões; e contra a repetição dos erros de Chen Tu-hsiu. No desenvolvimento dessa série de lutas, Mao comprovou ser um grande mestre na difusão e na aplicação da teoria revolucionária de Marx, Engels, Lenin e Stalin. As lutas conduzidas por ele fortaleceram e consolidaram o PCCh.

  • Mao Zedong ensina: “a teoria de Marx, Engels, Lenin e Stalin é uma teoria universalmente aplicável”[42]. Contudo, para adaptá-la corretamente à China e transformá-la em uma força invencível das massas, é essencial liquidar constantemente todas as tendências ideológicas estranhas à causa do proletariado e travar batalhas ideológicas, algumas vezes de forma feroz. Durante 30 anos, Mao lutou inflexivelmente contra todas as vertentes reacionárias aleatórias ao Partido, sendo elas: as lutas contra os nacionalistas[43], quando se tornaram lacaios do imperialismo, contra a ala de direita e aos conciliadores dentro do KMT; contra o Chen Tu-hsiu-ismo[44] o trotskismo e as divisões ilusionistas e reformistas sobre o governo contrarrevolucionário do KMT. No travar dessa leva de batalhas, Mao Zedong demonstrou ser um grande mestre na viralização e na adaptação da teoria revolucionária de Marx, Engels, Lenin e Stalin.

  • A unidade entre teoria e prática é uma característica exclusiva do marxismo-leninismo e, portanto, distante das teorias marxistas desenvolvidas sem o leninismo comuns no ocidente.

  • Dos anos que se seguem da revolução de 1911 à revolução de 1949, respectivamente da etapa democrática de novo tipo e início da transição ao socialismo, o camarada Mao se empenhou no estudo dos princípios dos mestres do socialismo científico: Marx, Engels, Lenin e Stalin.

  • Mao Zedong dispendeu grande atenção ao imenso poder das massas revolucionárias. Jamais negligenciou seu abundante e frutífero estudo do marxismo-leninismo e do movimento revolucionário popular.

  • Mediante toda e qualquer eventualidade histórica, o presidente Mao sempre comprometeu a prática da Revolução Chinesa com o marxismo-leninismo e extraiu deste o método de análise de classe para poder estudar, avaliar e mediar a síntese de todos os processos da experiência chinesa. O camarada Mao tinha como base a força das massas munidas de sua exposição ao marxismo-leninismo.

  • Em seu famoso artigo, Sobre o significado do materialismo militante, publicado em 1922, Lenin disse:

  • a dialética que Marx aplicou com tão bom resultado e que, na atualidade, com o despertar à vida e à luta de novas classes no Oriente (Japão, Índia e China) – ou seja, das centenas de milhões de seres humanos que constituem a maioria da população mundial e cuja passividade e letargia histórica haviam sido, até agora, a causa responsável pelo estancamento e a putrefação de estados europeus avançados, a cada dia, com o surgimento de novos povos e novas classes, confirmam cada vez mais o marxismo.[45]

  • Sem dúvidas, o levantamento do povo chinês à luta sob a direção da classe operária e a recente vitória conquistada confirmam, em larga escala, mais uma vitória do marxismo-leninis­mo no Oriente. Isso corrobora que os ensinamentos de Marx, Engels, Lenin e Stalin compõem uma ciência poderosa, aplicável em toda parte, e ratifica que Mao Zedong – líder máximo do PCCh – aplicou a ciência do materialismo histórico às condições particulares de seu país e desenvolveu-a com brilhante êxito.

  • O processo da Revolução Chinesa foi extremamente tortuoso, intricado e cruel. Essa situação levou a classe operária e ao povo chinês adquirir um temperamento heroico, e igualmente permitiu ao partido da classe operária chinesa – o Partido Comunista da China – fortalecer-se completamente. Além disso, as grandes experiências revolucionárias, que constituíram, precisamente, o tesouro da classe operária chinesa, enriqueceram inevitavelmente a teoria marxista-leninista. As ricas experiências revolucionárias da China, foram cristalizadas no pensamento e nas obras de Mao Zedong. Em novembro de 1919, Lenin dizia aos comunistas no Oriente:

  • “vocês têm diante de si uma tarefa que até agora os comunistas ainda não haviam enfrentado em nenhuma parte do mundo: se apoiando na teoria e na prática do comunismo, vocês tiveram que adaptá-las a condições particulares inexistentes nos países europeus e tornar-se capazes de aplicar teoria e prática às condições específicas, nas quais a maioria da população é formada por camponeses, e nas quais a tarefa é a luta não apenas contra o capitalismo, mas também contra os resquícios da Idade Média”.[46]E novamente: “vocês têm que encontrar formas específicas para esta aliança dos primeiros proletários do mundo com as massas trabalhadoras e exploradas do Oriente, cujas condições de vida são, em muitos casos, medievais”.[47]

  • Lenin e Stalin consideravam todos os movimentos de libertação das nações oprimidas como parte da Revolução Proletária Socialista Mundial. Subscrevendo Lenin e Stalin, Mao Zedong nunca considerou a Revolução Chinesa um processo isolado, mas a examinou à luz da Revolução Proletária Mundial e da luta contra o imperialismo. Isso se deve ao fato de vivermos na época do imperialismo e da Revolução Proletária, a época na qual o socialismo triunfou pela primeira vez na Rússia, a época do marxismo, a época do leninismo. Essa a razão de a Revolução Chinesa ser, sobretudo, uma revolução anti-imperialista. Mao costumava dizer algo que aprendera com o Mestre Sun Yat-sen: sem um partido de tipo leninista, a vitória da Revolução Chinesa teria sido impossível. Disse ele:

  • para realizar a revolução, é necessário um partido revolucionário. Sem um partido de novo tipo, sem um partido criado sob a teoria marxista-leninista e no estilo revolucionário, é impossível conduzir a classe operária e as amplas massas populares à vitória na luta contra o imperialismo e seus lacaios. Em mais de cem anos desde o nascimento do marxismo, graças ao exemplo que deram os bolcheviques russos ao dirigir a Revolução de Outubro, na construção do socialismo e, ao vencer a agressão do fascismo, foram criados e desenvolvidos em todo o mundo partidos revolucionários de novo tipo. Com o nascimento destes se modificou a fisionomia da revolução mundial. A mudança foi tão grandiosa, que produziu, em meio ao fogo e aos trovões, transformações até inconcebíveis para as pessoas da velha geração. O Partido Comunista da China é precisamente um partido criado e desenvolvido a exemplo do Partido Comunista da URSS. Com o surgimento do Partido Comunista, a fisionomia da Revolução Chinesa tomou uma aparência totalmente nova.[48]

  • Fincando-se no potencial das massas revolucionárias da China e nos aspectos das experiências da Revolução Chinesa, Mao Zedong desenvolveu o marxismo-leninismo, em seu famoso artigo, Sobre o significado do materialismo militante, publicado em 1922, Lenin disse:

  • “a dialética que Marx aplicou com tão bom resultado e que, na atualidade, com o despertar à vida e à luta de novas classes no Oriente (Japão, Índia e China) – ou seja, das centenas de milhões de seres humanos que constituem a maioria da população mundial e cuja passividade e letargia histórica haviam sido, até agora, a causa responsável pelo estancamento e a putrefação de estados europeus avançados, a cada dia, com o surgimento de novos povos e novas classes, confirmam cada vez mais o marxismo”.[49]

  • Sem dúvidas, o levantamento do povo chinês à luta sob a direção da classe operária foram uma confirmação, em larga escala, de mais uma vitória do marxismo-leninismo no Oriente. Isto confirma fato de que os ensinamentos de Marx, Engels, Lenin e Stalin, compõe uma ciência poderosa, adaptável, e uma certeza: Mao Zedong – líder máximo do Partido Comunista da China – entendeu essa ciência do materialismo histórico e a integrou de acordo com as necessidades da China. O processo pelo qual Mao Zedong subsumiu o marxismo-leninismo com a prática, é, também, o processo pelo qual o Partido Comunista da China tornou-se um partido de novo tipo.

  • Mao costumava dizer que sem um partido de novo tipo, leninista, a vitória da Revolução Chinesa teria sido impossível.

  • “Para realizar a revolução, é necessário um partido revolucionário. Sem um partido de novo tipo, sem um partido criado sob a teoria marxista-leninista e no estilo revolucionário, é impossível conduzir a classe operária e as amplas massas populares à vitória na luta contra o imperialismo e seus lacaios. Em mais de cem anos desde o nascimento do marxismo, graças ao exemplo que deram os bolcheviques russos ao dirigir a Revolução de Outubro, na construção do socialismo e, ao vencer a agressão do fascismo, foram criados e desenvolvidos em todo o mundo partidos revolucionários de novo tipo. Com o nascimento destes se modificou a fisionomia da revolução mundial. A mudança foi tão grandiosa, que produziu, em meio ao fogo e aos trovões, transformações até inconcebíveis para as pessoas da velha geração. O Partido Comunista da China é precisamente um partido criado e desenvolvido a exemplo do Partido Comunista da URSS. Com o surgimento do Partido Comunista, a fisionomia da Revolução Chinesa tomou uma aparência totalmente nova”.[50]

  • Teria sido impossível, sem sólida teoria marxista-leninista, ter o partido revolucionário. Como estabelece a máxima de Lenin: “o papel de vanguarda combativa pode ser cumprido somente por um partido que é guiado pela teoria mais avançada”.[51] Stalin estabeleceu, na conclusão da obra História do Partido (Bolchevique) da União Soviética, que “somente um partido que domina a teoria marxista-leninista pode avançar a passos firmes e conduzir para frente a classe operária”.[52]

  • Mao Zedong crê firmemente que para assumir competentemente uma série de grandes tarefas históricas e conduzir o povo chinês de uma vitória a outra o Partido deve, antes de tudo, alcançar a unidade ideológica marxista-leninista em suas próprias fileiras, elevar ao máximo o nível ideológico em todo o Partido e consolidar sua correta direção marxista-leninista. Mao disse: “nós queremos levar o povo chinês a derrotar o inimigo e, para tanto, devemos guardar nossas fileiras em boa ordem; devemos marchar; nossas tropas devem ser seletas e nossas armas, boas”.[53]

  • Sobre que bases pode ser dito que nossas fileiras estão em ordem e que marchamos corretamente? Na opinião de Mao, somente por meio da unidade marxista-leninista. Como podem nossas tropas tornarem-se tropas seletas? Como podem nossas armas tornarem-se boas armas? Elevando o nível ideológico do marxismo-leninismo em todo o Partido. Mao Zedong disse: “Sempre que dominemos a ciência do marxismo-leninismo, tenhamos completa confiança nas massas, permaneçamos estreitamente ligados a estas para conduzi-las adiante, seremos plenamente capazes de vencer qualquer obstáculo ou dificuldade. Nossa força será invencível”.[54]

  • Ele vinculou explicitamente a atitude do marxismo-leninismo com o espírito de Partido e considerou os dois idênticos. Em sua obra Reformemos nosso Estudo, Mao disse: “a ausência de uma atitude científica, isto é, a não integração marxista-leninista da teoria com a prática, significa que o espírito de Partido está ausente, ou é deficiente”.[55]

  • Mao Zedong assinalou de uma maneira mais concisa as duas tendências subjetivistas, isto é, o dogmatismo e o empirismo, que sugiram no Partido e às quais o Partido teve que se opor vigorosamente. Ele disse: “dogmatismo e empirismo são igualmente subjetivismos, cada um gerado em polos opostos”.[56] Originadas em dois extremos opostos, as duas tendências se encontram no mesmo ponto fundamental, sua parcialidade: “Cada um vê só uma parte e não o todo”.[57] Sob a base dessa parcialidade que lhes é comum, ambas tendências, frente a certos problemas práticos em um determinado momento, vinculam-se entre si e alcançam posição idêntica.

  • Essas duas tendências subjetivistas constituíram o fundamento ideológico dos que cometeram erros tanto de oportunismo de direita como de oportunismo de “esquerda” no Partido. Desviaram-se completamente do marxismo-leninismo na teoria do conhecimento e, como consequência, dificultaram a luta interna do Partido entre as ideologias corretas e as incorretas. Por essa razão, Mao Zedong demonstrou quanto era necessário derrotar o oportunismo no plano ideológico, com o objetivo de combater efetivamente várias de suas manifestações e formas.

  • A vitória da Revolução Chinesa é a vitória do marxismo-leninismo em um vasto país de cerca de 500 milhões de habitantes. É outra grande revolução continuadora da grande Revolução Socialista de outubro. É uma revolução de novo tipo, que irrompeu em um país oprimido pelo imperialismo, depois da Revolução Russa. As obras de Mao Zedong têm servido para focar tanto ideológica como teoricamente esse tipo de revolução na China. Suas obras expressam concretamente a força dinâmica do marxismo-leninismo nessa revolução.

  • Três foram os principais contributos originais de Mao: a guerra popular prolongada, a luta de duas linhas e a contradição como lei fundamental da dialética.

  • A guerra popular, também chamada guerra popular prolongada, é uma estratégia político-militar criada por Mao Zedong que consiste em reter o apoio da população e manter o inimigo no interior, onde a população pode sangrá-lo por uma mistura de guerra móvel e guerra de guerrilha. O termo é usado pelos maoístas para sua estratégia de luta armada revolucionária a longo prazo.

  • A guerra popular prolongada ocorre em países semicoloniais e semifeudais, onde as forças revolucionárias se iniciam débeis e pequenas em relação às forças do governo, onde enfrentamentos diretos levariam à derrota. Portanto, inicialmente se leva a cabo a guerra de guerrilhas, para debilitar e derrotar as forças do Estado, em combates pequenos e, ao longo de um processo prolongado, acumula-se apoio popular, fortalecendo, crescendo e estendendo as zonas de controle. A construção de bases de apoio no campo e o estabelecimento de controle militar e de autoridade política permitem aos revolucionários cercar as cidades pelo campo e tomar o poder em todo o país.

  • No início, a guerra popular se desenvolve com um período relativamente longo de defensiva estratégica, durante a qual as forças revolucionárias teriam que acumular força através da guerra de guerrilhas. Mas, com o tempo, deve avançar para a ofensiva, já com a paridade de armas, quando este momento chegar passa-se a guerra de movimento e a guerra de posição em grande escala.

  • Quando elaboramos nossas posições políticas, é essencial combater não somente os desvios oportunistas de direita senão também as tendências esquerdistas. Também há que se esforçar em localizar os aspectos contraditórios das questões que se debatem. Mao aborda o quanto é prolongada a luta entre as duas linhas que toma forma como um reflexo da luta de classes dentro do Partido. Sendo a luta de duas linhas – uma burguesa, outra proletária – o reflexo e o resultado da luta de classes se expressando no seio do partido comunista, a luta interna é o método para resolver de maneira justa a contradição que surge. Enquanto existir a luta de classes, haverá sua manifestação de duas linhas no seio do partido comunista.

  • No que se refere ao problema da unidade, quero dizer algumas palavras sobre seu método. A meu parecer, devemos tomar uma atitude de unidade para com todos os camaradas, sejam quem forem, exceto aos elementos hostis e sabotadores. No trato com os camaradas, devemos adotar o método dialética e não o metafísico. Que significa aqui o método dialético? Significa tratar as coisas de maneira analítica, reconhecer que todo homem pode incorrer em erros e não desqualificar completamente a alguém pelo fato de cometer erros. […] Sendo tão belas as flores de lótus, só com o verde das folhas aumenta a sua beleza. Estes são provérbios chineses. Na China há outro provérbio que reza: Três simples sapateiros fazem um sábio Chuke Liang. Um Chuck Liang por si só nunca é perfeito, sempre tem. […] Assim sendo, que atitudes devemos tomar para com os camaradas que incorrem em erros? Fazer análise e adotar o método dialético e não metafísico. Houve um tempo em que o nosso Partido se viu submetido à metafísica – o dogmatismo –, que anulou por completo todos aqueles que não agradavam aos dogmáticos. […] Como se deve então tratar aos camaradas que cometem erros? Em primeiro lugar, lutar contra eles a fim de liquidar completamente suas ideias errôneas e, em segundo, ajudá-los. […] Enquanto a outro tipo de pessoas, o método deve ser distinto. Para com pessoas como Trotski ou como Chen Tu-siu, Chang Kuo-tao e Kao Kang na China, não havia maneira de assumir uma atitude de ajuda, pois eles eram “incuráveis” […] com eles não poderíamos fazer outra coisa que derrubá-los. Neste sentido, não tinham um caráter duplo, mas único. O mesmo ocorre, em última instância, com o sistema imperialista, com o sistema capitalista, que finalmente serão, inevitavelmente, substituídos pelo sistema socialista. Nas diversas etapas táticas, devemos saber lutar e, ao mesmo tempo, saber fazer compromissos. Voltemos agora a determos nas relações entre camaradas. Proponho aqui que celebrem negociações aqueles camaradas entre os que têm falta de compreensão. Alguns parecem considerar que, uma vez admitidos no Partido Comunista, todos se convertem em santos, ficam livres de desacordos, de mal-entendidos, e se encontram além de toda análise, isto é, que conformam um todo monolítico como uma lâmina de aço, que são uniformes e parelhos e, em consequências, não necessitam de negociações. A eles lhes parece que, uma vez dentro do Partido Comunista, todos hão de ser marxistas 100 por cento. […] Em outras palavras, a condição de não minar os princípios marxistas-leninistas, colhamos as opiniões aceitáveis de outros e descartamos as opostas. Assim, atuamos com duas mãos: uma para a luta com os camaradas que incorrem em erros e outra para a unidade com eles. O propósito da luta é perseverar os princípios marxistas. Esta é uma mão; a outra é para velar pela unidade. O propósito da unidade é dar uma saída a esses camaradas, estabelecendo compromissos com eles, o que significa flexibilidade. A integração da fidelidade aos princípios com a flexibilidade constitui um princípio marxista-leninista e é uma unidade de contrários.[58]

  • Mao, além de fundador do “maoísmo”, também utilizou seu pensamento como ferramenta de política aplicada para orientar a revolta do mais numeroso povo da Terra e fundar a República Popular da China. Esses dois feitos sozinhos já lhe garantem um dos lugares mais proeminentes na história da humanidade[59].



  • [1] NASCIMENTO, W. O sol vermelho que ilumina nossos corações.Disponível em: https://sites.google.com/site/dnbwilson. Acesso: 6 dez. 2019. [2] MOREIRA, Júlio da Silveira. Crítica da igualdade jurídica no direito internacional: segurança nuclear e guerra ao terror. 2011. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiás, 2011, p. 104. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2617/1/JULIO%20DA%20SILVEIRA%20MOREIRA.pdf. Acesso em: 15 out. 2019. [3] LENIN, Vladimir Ilyich. Obras [inglês]. Nova Iorque: Edições Internacionais, 1942, v. XIX, p. 153. Tradução nossa. [4] Ibid., p. 167. [5] STALIN, Joseph Vissarionovich. Obras [inglês]. Moscou: Edições em Línguas Estrangeiras, 1954, v. IX, p. 262. Tradução nossa. [6] ZEDONG, Mao. Obras escolhidas. Edições em línguas estrangeiras, v. I, p. 65. [7] STALIN, idem, p. 262–3. [8] ZEDONG, Mao. Obras Escolhidas. Pequim, v. IV, p. 442. [9] NASCIMENTO, W. Op. cit. [10] MANFRED, A. Z. História do mundo. São Paulo: Edições Sociais, 1981. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/manfred. Acesso em: 18 nov. 2019. [11] [11] MANFRED. Op. cit. [12] KISSINGER, H. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 43. [13] MANFRED. Op. cit. [14] SAITO, Nadia. A formação do fascismo no Japão de 1929 a 1940. Disponível em: https://bdpi.usp.br/item/002299078, p. 19 e seguintes. Acesso em: 14 out. 2019. [15] A maioria dos dicionários modernos não registra o uso ofensivo (“trabalhador não qualificado ou carregador, normalmente residente ou originário do Extremo Oriente, contratado em troca de salário baixo ou de subsistência”) ou distingue entre um significado ofensivo referindo-se a “uma pessoa do subcontinente indiano ou de ascendência indiana” e um significado antiquado (datado) e originalmente não ofensivo (“trabalhador nativo não qualificado, na Índia, China e outros países asiáticos”). Alguns dicionários, no entanto, e com razão, indicam que a palavra pode ser considerada ofensiva em todos os contextos hoje em dia. Por exemplo, a edição de 1995 do Longman’s, arquivado em 27 de novembro de 2006 no Wayback Machine, traz “antigo­ trabalhador não capacitado que recebe salários muito baixos, especialmente em partes da Ásia”, porém a versão atual já contém o acréscimo “tabu arcaico” definindo o termo como “palavra muito ofensiva para designar um trabalhador não qualificado que recebe salários muito baixos, especialmente em partes da Ásia”, acrescentando a advertência: “Não use esta palavra”. [16] Chinese Coolies and African Slaves in Cuba, 1847-74. Journal of Asian American Studies, 2004. [17] Macao, Illustrations of China and Its People, John Thomson 1837-1921, (Londres, 1873-1874). [18] Idem, ibidem. [19] POMAR, W. A revolução chinesa. São Paulo: UNESP. 2015, p. 31, 33. [20] SAITO. Op. cit., p. 37. [21] Zou Rong foi um teórico nacionalista e revolucionário chinês do movimento anti-Qing. Ele nasceu em Chongqing, província de Sichuan, e seus ancestrais se mudaram para lá da área de Meizhou, Guangdong. Zou Rong foi enviado ao Japão ainda jovem, onde estudou o bem-sucedido modo japonês de modernização. Seus pedidos de soberania do povo chinês incluíam o estabelecimento de um parlamento, direitos iguais para as mulheres, liberdade de expressão e liberdade de imprensa. [22] POMAR, W. Op. cit., p. 43. [23] POMAR, W. Op. cit., p. 31, 33. [24] GUEDES, M. H. O comunismo na China. P. 148. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=dxdyDwAAQBAJ&pg=PA143&lpg=PA143&dq20de%20seus%&f=false. Acesso em: primeiro fev. 2020. [25] A principal obra de Sun Yat-sem, contendo todos os principais princípios, fora publicada pela lendária e saudosa editora Calvino, que aqui referenciamos na tradução feita diretamente do original chinês: YAT-SEN, Sun. Princípios do povo. Rio de Janeiro: Editorial Calvino Limitada, 1944. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/sun-yat-sen/1924/03/index.htm. Acesso em: 18 nov. 2019. [26] YAT-SEN, Sun. Op. cit. [27] YAT-SEN, Sun. Op. cit. [28] Nota da edição: é fundamental considerar que o acesso a Marx era imensamente distante. Naquele período, poucas obras circulavam, então é comum que Sun Yat-sen considere que Marx não tratou de uma ou outra questão, quando na realidade elas estão contempladas, ainda que em nível embrionário, nos escritos marxianos. [29] Yat-sen, Sun. Princípios do Povo. Rio de Janeiro: Calvino. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/sun-yat-sen/>. Acesso em 18 de novembro de 2019. [30] Li Dazhao nasceu em 29 de Outubro de 1888 e viveu até 28 de Abril de 1927. Foi um grande intelectual da China, um dos fundadores do Partido Comunista Chinês, com Chen Duxiu, em 1921. Durante seu emprego como bibliotecário em Pequim, Li foi pioneiro entre os intelectuais chineses que se interessaram pelos acontecimentos que se desenvolviam na Rússia (é verdade que Sun Yat-sen se interessava, mas ele não compunha o setor dos intelectuais acadêmicos), na qual os bolcheviques ousaram declarar o nascimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Li Dazhao enxergou no recém-formado Estado Soviético um modelo de sociedade justa. Frente a quem desejava que a China emulasse o progresso econômico das potências ocidentais e do Japão, Li Dazhao viu na União Soviética e em sua ideologia marxista o modelo político adequado para a China. Na Universidade de Pequim, Li criou um grupo destinado ao estudo do marxismo. Com o tempo, o poder de mobilização das atividades políticas realizadas por Li Dazhao chegara ao alcance da atenção de Chen Duxiu, então decano da Universidade de Pequim. Chen era um dos mais destacados intelectuais na época, editor da revista Nova Juventude, na qual se publicavam artigos e obras literárias que exerceram enorme contágio no pensamento chinês do século XX. Chen Duxiu convidou Li Dazhao para a edição de um número especial monográfico sobre o marxismo no outono de 1919. A publicação desse exemplar da revista destinado ao estudo do marxismo ocorreu num momento de explosão do movimento da reforma política e cultural denominado de Movimento Quatro de Maio, que estava a todo vapor, isso atraiu inúmeros leitores da influente revista, incluindo o próprio Chen, para o marxismo. Assim, Li Dazhao é respeitado como o introdutor do marxismo na China. Em colaboração com Chen Duxiu introduziram e atraíram jovens ao marxismo, até que o movimento voltou a atenção à União Soviética, que pela composição internacional do Komintern propagava auxílio aos trabalhadores e comunistas pelo mundo. Dos agentes da Komintern, foram enviados com missão de procurar ativistas marxistas: o russo Grígori Voitinski e o chinês de origem, mas nascido e educado na Sibéria, Yang Mingzhai, enviados à China por Lênin para encontrarem-se com ativistas marxistas. Ao chegarem a Pequim, em 1920, encontraram-se com Li Dazhao, quem os recomendou a falarem também com Chen Duxiu, então em Shanghai. [31] Observação nossa: o Tratado das Nove Potências tinha suas lacunas: a falta de regulamentação executiva, o que permitiu sua violação pelo Japão na invasão da Manchúria em 1931 e na criação de Manchukuo; os Estados Unidos se limitaram a protestar e impor sanções econômicas. Assim, a Segunda Guerra Mundial efetivamente anulou o Tratado das Nove Potências, como veremos adiante. [32] POMAR, W. Op. cit., p. 42. [33] ABRANTES DA SILVA, Rodrigo. O massacre de Nanquim: memória, história, reconciliação. Disponível em: https://s3.amazonaws.com/. Acesso em 25 nov. 2019. [34] LOSURDO, Domenico. Revolução chinesa, anti-imperialismo e a luta pelo socialismo hoje. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/losurdo. Acesso em: 22 nov. 2019. [35] ZEDONG, M. Pode existir na China o Poder Vermelho. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/mao/1928/10/05.htm. Acesso em: 28 nov. 2019. [36] SAITO, Nadia. A formação do fascismo no Japão de 1929 a 1940. Disponível em: https://bdpi.usp.br/item/02299078. Acesso em: 14 out. 2019, p. 65–96. [37] TOWNSON. The new Penguin dictionary of modern history, 1789-1945. Londres, Nova Iorque: Penguin Books, 1994. Pag. 924 apud in: SAITO, Nadia. A FORMAÇÃO DO FASCISMO NO JAPÃO DE 1929 A 1940. Disponível em: <https://bdpi.usp.br/item/02299078>. Acesso em 14 de outubro de 2019. Pag. 62. [38] ABRANTES DA SILVA, Rodrigo. O MASSACRE DE NANQUIM: MEMÓRIA, HISTÓRIA, RECONCILIAÇÃO. Disponível em: <https://s3.amazonaws.com/ > Acesso em 25 de novembro de 2019 [39]. ZEDONG, Mao. Obras Escolhidas. apud in: Lawrence y Wishart, Londres, 1954, vol. II, página 259. [40] Um grupo de políticos inescrupulosos inclinados ao fascismo que formaram a Liga da Juventude Nacionalista China, mais tarde chamada de Partido da Juventude Chinesa. Subsidiados pelos imperialistas e pelas camarilhas reacionárias no poder, estes contrarrevolucionários fizeram uma campanha de oposição ao Partido Comunista e à URSS. [41] No último período da Guerra Civil Revolucionária (1924-1927) o desvio de direita no Partido Comunista da China, representado por Chen Tu-hsiu, se desenvolveu dentro de uma linha de capitulação. Em cooperação com o Kuomintang, os capitulacionistas abandonaram a direção do Partido entre os camponeses, a pequena burguesia urbana, a média burguesia e, especialmente, nas forças armadas, causando assim o fracasso da revolução. Em uma conferência de emergência do Comitê Central do Partido, em agosto de 1927, Chen Tu-hsiu foi removido da posição de Secretário Geral. Mais tarde, por assumir posição contrarrevolucionária e colaborar com trotskistas, foi expulso. [42] Mao Zedong, “Obras Escolhidas”, Lawrence y Wishart, Londres, 1954, vol. II, página 259. [43] Um grupo de políticos inescrupulosos inclinados ao fascismo que formaram a Liga da Juventude Nacionalista China, mais tarde chamada de Partido da Juventude Chinesa. Subsidiados pelos imperialistas e pelas camarilhas reacionárias no poder, estes contrarrevolucionários fizeram uma campanha de oposição ao Partido Comunista e à URSS. [44]. No último período da Guerra Civil Revolucionária (1924-1927) o desvio de direita no Partido Comunista da China, representado por Chen Tu-hsiu, se desenvolveu dentro de uma linha de capitulação. Em cooperação com o Kuomintang, os capitulacionistas abandonaram a direção do Partido entre os camponeses, a pequena burguesia urbana, a média burguesia e, especialmente, nas forças armadas, causando assim o fracasso da revolução. Em uma conferência de emergência do Comitê Central do Partido, em agosto de 1927, Chen Tu-hsiu foi removido da posição de Secretário Geral. Mais tarde, por assumir posição contrarrevolucionária e colaborar com trotskistas, foi expulso. [45]. V. I. Lenin. “Marx, Engels, Marxismo”. edição inglesa, Edições em Línguas Estrangeiras, Moscou, 1951, páginas 559-560. [46]. V. I. Lenin, “Diretiva ao Segundo Congresso de Toda Rússia, das Organizações Comunistas dos Povos do Oriente”, Edições em Línguas Estrangeiras, Moscou, 1954, página 24. [47] Ibid., página 25. [48] Mao Zedong, “Obras Escolhidas”, Pequim, vol. IV, página 294. [49]. V. I. Lenin, “Marx, Engels, Marxismo”, edição inglesa, Edições em Línguas Estrangeiras, Moscou, 1951, páginas 559-560. [50]. Mao Zedong, “Obras Escolhidas”, Pequim, vol. IV, página 294. [51]. V. I. Lenin, “Obras Completas”, edição inglesa, Edições em Línguas Estrangeiras, Moscou, 1961, Vol. V, página 370. [52]. “História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, Edição Pequena”, Edições em Línguas Estrangeiras, Moscou, 1950, página 437. [53]. Mao Zedong, “Retifiquemos o estilo de trabalho do Partido”, edição inglesa, Edições em Línguas Estrangeiras, Pequim, 1962, página 1. [54] Mao Zedong. Obras Escolhidas. Pequim, vol. IV, página 177. [55] Mao Zedong. Reformemos Nosso Estudo. Edições em Línguas Estrangeiras, Pequim, 1962, p. 7. [56] Mao Zedong. Retifiquemos o estilo de trabalho do Partido. Pequim, página 10. [57] Ibid., página 11. [58] ZEDONG, Mao. Método dialético para a unidade interna do Partido.Disponível,em:<https://serviraopovo.wordpress.com/2016/03/16/metodo-dialetico-para-a-unidade-interna-do-partido-mao-tsetung-1957/>. Acesso em 10 de Dezembro de 2019. [59] Nascimento, W. O Sol Vermelho que ilumina nossos corações. Acesso em 6 de Dezembro de 2019.Disponivel em: <https://sites.google.com/site/dnbwilson>


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