Por Klaus Scarmeloto
O selo Edições Ciências Revolucionárias, leva ao público brasileiro, em terceira edição ampliada agora em volume único, uma coletânea de textos do revolucionário vietnamita, Ho Chi Minh. Nascido em uma pequena aldeia vietnamita, filho de um professor rural, seu nome verdadeiro era Nguyen Sinh Cung, mas também foi chamado de Nguyen Tat Thanh, Nguyen Ai Quoc e Ly Thui, nomes modificados para fugir da repressão colonialista e imperialista em nível mundial. Posteriormente, foi denominado pelo povo vietnamita como Ho Chi Minh, isto é, expressão que significa “aquele que ilumina”. A história de “Tio Ho”, como ficou conhecido pelo povo vietnamita, é de importância ímpar a militância e também inspiradora para todos que desejam a libertação nacional do julgo imperialista.
De grande poeta político e grande articulador político mundial à 1º presidente do Vietnã Liberto, de segurança de veículos a principal líder revolucionário, Ho Chi Minh motivado pelo patriotismo, pelo leninismo, e pela sua indignação contra as potencias imperialistas de primeiro e segundo plano, desenvolve sua militância e seu contributo ao leninismo mundial. Completamente subestimado ou caracterizado como fruto de um “stalinismo” e, por isto, descartado.
Em 1911, ingressa na escola da marinha, onde trabalha como cozinheiro em um navio francês, visita o Brasil, residindo 3 meses no Rio de Janeiro. Em Moscou, muito tempo depois, teve a oportunidade de debater com o camarada Astrojildo Pereira as condições da exploração da mulher no Brasil, conclui que a prostituição brasileira é “subproduto do capitalismo nas suas semicolônias”, parte de um modo de tratamento dado as mulheres pelo imperialismo. Durante suas viagens, trabalhou de guardador de automóveis nos EUA, onde presenciou o tratamento imperialista dado aos povos de cor e com base nisto escreve o texto “Linchamentos”. Nos EUA, Tio Ho presencia o massacre desumano que o colonialismo dispensava aos negros, a partir de linchamentos, realizados pela Ku Klux Klan contra os afrodescendentes e em seus solidários o que descreve com maestria em texto de mesmo título. Ho Chi Minh assiste os discursos de Marcus Garvey, panfricanista negro que lá residia.
Essencial foi a sua consciência revolucionária ao final da I Guerra Mundial imperialista, quando, em nome do povo vietnamita leva à conferência de Versalhes, 8 pontos reivindicando a autodeterminação de seu povo. Segundo o Jovem Ho Chi Minh, era primordial a afiliação ideológica para todos os interessados na libertação colonial, foi o que o levou aos caminhos do leninismo, sobretudo em relação às teses de Lenin sobre questão colonial. E ao participar do VIII congresso do PCF, faz apelos para que o partido abandone sua postura social-imperialista e fez denuncia a violência colonial da França sobre o Vietnã, o qual compartilha relatos comuns a todos os países dominados pelo imperialismo francês.
Nesta edição, foram referenciados os textos que demonstram a importância da luta anticolonial como parte da luta de libertação mundial do proletariado, sem que seja possível o triunfo de uma revolução na Europa, sem que se triunfe e se derrote o domínio europeu nas suas colônias que o reforça e o blinda sobre seu proletariado e movimento trabalhador da própria Europa.
Ao sair de Paris, Ho Chi Minh parte para o V Congresso do Komintern, onde procurou defender sua tese sobre a questão colonial em convergência com Lenin antes de sua morte. Ho denunciou o chauvinismo inglês e francês que predominavam em seus respectivos partidos comunistas, por não dissecarem a questão colonial. E antes de chegar a Moscou, escreve aos africanos, aconselhando todos para a luta anticolonial. Após voltar de sua estadia na China, onde presenciou o massacre dos comunistas pelo Kuomintang, de 1927 a 1930, Ho se depara com grande crescimento do movimento revolucionário no Vietnã, tendo papel de suma importância em Sião. Com o desenvolvimento coletivo do proletariado vietnamita, com a mobilização camponesa pelo país, o marxismo surge fragmentado. Em 1930, Ho Chi Minh, age para unificar o movimento comunista e cria o Partido Comunista da Indochina.
Durante o “Apelo por ocasião da fundação do Partido Comunista Indochinês”, pede ao povo vietnamita a adentrar ao partido que estando sob a direção do proletariado “no interesse de todos os oprimidos e explorados”, promoveria a independência da Indochina. Posteriormente em 1936, devido à linha da frente democrática, muda-se o programa inicial do partido, encaixando-se com vigor a efetividade da etapa democrática da revolução, e justamente graças a isto, garantiu-se a independência nacional e maior trabalho conjunto dos trabalhadores e camponeses, população majoritária. Aqui, cabe destacar o combate ao parasitismo de apoio e reboque fascista dos trotsquistas em carta com acusações comuns a todo movimento comunista na época, cuja atuação trotsquista é descrita como frequente asa do fascismo.
Durante a II Grande Guerra, brotaram as condições para libertação total do Vietnã e amadurecem com a derrota japonesa protagonizada na Ásia pelos Soviéticos e pela resistência. Neste contexto, surge o apelo para insurreição geral e para tomada definitiva do poder. Após isto, ocorre em 1945 a insurreição em Hanoi formando o governo provisório e, com ele, a declaração de independência do Vietnã. Com isto feito, os comunistas passam a dar cabo das tarefas democráticas afim de construir o socialismo.
Entretanto, os franceses, que não queriam perder sua colônia, unem-se aos EUA, e invadem, novamente, o Vietnã, jogando no lixo suas promessas feitas durante a independência do Vietnã e começando uma das guerras mais hediondas da história da humanidade, a guerra com a maior quantidade de bombardeamentos que o mundo já havia presenciado.
Mais uma vez, Ho Chi Minh faz o apelo à guerra nacional de resistência, com a trágica duração de 8 anos, e seu desfecho na batalha final de Dien Bien Phu em 1954. Especificamente são essenciais os textos “Apelo à resistência nacional”, e “Ao povo vietnamita ao povo francês e aos povos aliados”, que denunciam os colonialistas franceses em conluio com os EUA.
Após a retirada dos franceses à força, a convenção de Genebra, uma farsa imperialista, conclamou a divisão do Vietnã em Norte e Sul. Respectivamente o governo Popular liderado por Ho Chi Minh e outro, temporariamente governado pelo imperador Bao Dai, e, posteriormente, golpeado e destituído para dar lugar ao fantoche de Ngo Din Diem. Assim, estabelecia-se um Vietnã do Sul, subordinado ao imperialismo estadunidense. Enquanto o Norte realizava as tarefas democráticas rumo ao socialismo, o Sul ficava, cada vez mais, subalterno.
Em seguida, no artigo “Da Moralidade Revolucionária” realiza o debate essencial sobre o individualismo, que contamina muito qualquer processo de revolução. Ele demonstra que tal fenômeno não é mero subjetivismo fruto de posições pequeno-burguesas, mas um dogmatismo, quando diz “estudar o marxismo-leninismo é procurar aprender a maneira de resolver cada problema da existência, a maneira de comportar-se em todas as situações, em relação aos outros e a si mesmo; é assimilar os princípios gerais do marxismo-leninismo, para aplicá-los criativamente às realidades de nosso país”, ou seja, de maneira geral demonstra o elo que liga teoria e ação. Assim, prossegue em sua crítica: “Certos camaradas aprendem de cor livros inteiros que tratam de marxismo-leninismo. Pretendem saber esta doutrina melhor que ninguém. Mas, na prova da prática, ou mostram-se incapazes de criar, ou ficam embaraçados. Suas palavras e seus atos se contradizem. Estudam livros de marxismo-leninismo, mas não conseguem adquirir o espírito marxista-leninista. Estudam para exibir seus conhecimentos e não para aplicá-los aos problemas da revolução. Isso também se trata de individualismo”. O que muito se vê, sobretudo, no Brasil.
Este valoroso ensinamento -- ignorado praticamente por todo o movimento -- é de grande valia aos Brasileiros também. O estudo do marxismo nunca deve ser guiado por mera curiosidade intelectual ou literária, mas para construir a revolução do marxismo a partir da realidade concreta de forma criadora. Na abertura de um curso para aperfeiçoamento de dirigentes, que surge aparentemente sem nenhuma importância maior, Tio Ho declara que não se deve manter viva a contradição de apenas seis mulheres estarem presentes na reunião. Fazendo com isto, uma autocrítica pelo Partido, que não superou seus limites, nem seus desvios machistas. Neste contexto, aproveita para chamar as mulheres, organizadas em regra a trabalhos de base, para tarefas de maior responsabilidade.
Sendo assim, os textos que compõe a parte final do livro, inerentes ao tempo da luta pela resistência contra a desumana agressão estadunidense ao povo vietnamita, compulsoriamente na luta pelo socialismo no Norte e contra o imperialismo ianque que se expressava pelo governo fantoche do sul. Mesmo trajeto a condições precárias, Ho Chi Minh foi um líder exemplar no caminho da revolução, realizou as tarefas democráticas, implantou a ditadura do proletariado ao lado de seu povo, do socialismoà democracia nacional, da imprescindível reforma agrária, num país onde a composição orgânica camponesa beira os 80%. Foi neste contexto de luta que Ho Chi Minh nunca fraquejou e sempre mostrou inestimável valor e exemplo para a humanidade, como bem coloca seu povo: aquele que leva a luz.
Infelizmente, Ho Chi Minh, não presenciou a libertação de sua nação e, portanto, nossa seleção vai somente até 1969, ano da morte de Ho Chi Minh, que não presenciou a reunificação do Vietnã, concluída em 1975, quando Saigon foi deixada pelo invasor estadunidense. Durante seu testamento, publicado em nosso volume único, temos a magnitude exata da grandeza destecamarada que, não à toa, poderia se gabar de ter servido toda a vida à pátria, à revolução e ao povo.
Neste testamento, o eterno Tio Ho, registra a total e acertada confiança na luta do povo vietnamita, com a fé concreta de que o partido e o povo provocariam a maior humilhação da história de intervenções militares dos Estados Unidos, assim dizendo: “a guerra de resistência contra a agressão dos Estados Unidos pode se prolongar. Nosso povo pode enfrentar novos sacrifícios humanos e materiais. Não importa o que passe, devemos manter nossa decisão de combater os agressores ianques até alcançarmos a vitória total. Nossas montanhas sempre existirão, nossos rios sempre existirão, nosso povo sempre existirá. Com a derrota dos invasores norte-americanos reconstruiremos nossa terra até fazê-la dez vezes mais bonita”. Ao fim de nosso compêndio, não poderíamos deixar de contemplar a faceta poética de Ho Chi Minh, suas poesias sempre vinculadas à prática, neste compilado, selecionadas as escritas no cárcere ao tempo que o Kuomintang o manteve na prisão.
Com este entendimento, e com muito orgulho, reeditamos nossa antiga publicação ampliada das obras de Ho Chi Minh – com ascolaborações de Apoena Canuto Cosenza e Pedro de Oliveira --para inspirar os militantes brasileiros na causa da revolução brasileira.