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Stálin e a Farsa do "Testamento" de Lênin Parte 1

Atualizado: 1 de mai. de 2022



O Texto Abaixo é um complemento do capitulo 1 da obra de Grover Furr "Khrushchev Mentiu". A maior parte das evidências de Furr não são trabalhadas no texto. Por isto, pedimos a todos que colaborem com o Catarse da obra, pois nosso esforço tem sido imensurável para servir vossos camaradas com munições contra o anticomunismo. O link do catarse é este: https://www.catarse.me/furr

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Stalin e a luta contra o culto a personalidade e farsa do Testamento de Lênin
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Por Klaus Scarmeloto

Testamento de Lênin: uma farsa da oposição


O mito do “testamento de Lênin” ainda persiste, apesar de toda falta de lógica que o rodeia.


Isto acontece porque todo mito anticomunista é funcional, de racionalidade aparente e bastante simples, o rompimento dos mitos é que não são fáceis de se efetivar.


No que consiste este mito sobre o suposto testamento de Lênin?


Conceitua-se por Testamento de Lenin, em maior ou menor proporção na historiografia atual, um bloco de notas curtas, ao que tudo indica, ditadas por Lenin, aos seus secretários e familiares — mais precisamente N. Krupskaya —, em 23 de dezembro de 1922 ou 31 de dezembro de 1922 e 4 de Janeiro de 1923[1], ocorrido anteriormente ao definitivo afastamento do revolucionário da vida política pela doença.


O Paradigma oficial e antistalinista, afirma que “Lenin”, afoito graças aos riscos de divisão no Partido Comunista, lembrando que ele representava a garantia de unidade do partido[2], escreve algumas palavras para descrever os membros mais destacados do Comitê central. No início da Carta, “Lenin” refletiu sobre a necessidade de fazer crescer o efetivo do Comitê Central trazendo operários e camponeses (50-100 dos membros) e traçou características de dirigentes do partido para os candidatos a sua “sucessão”.


Hipoteticamente, Lênin teria afirmado que “Stalin concentrou um imenso poder como secretário geral e Lenin questiona se ele saberá sempre utilizar com precaução suficiente este poder”[3].


Leon Trotsky, após ser considerado intencionalmente não bolchevique, divisionista, burocrático e soberbo, é apresentado como o homem mais capaz do Comitê Central[4].


Em seguida, vêm Grigori Zinoviev e Lev Kamenev. Lenin sobre ambos recorda que não é por acaso que se opuseram à tomada do poder em Outubro[5].


Nikolai Bukharin e Georgi Piatakov são mais notáveis dos jovens membros do Comité central. Mas o primeiro tem algo de "escolástico" nos seus raciocínios e as capacidades do segundo são mais de ordem administrativa do que política[6].


Até o falecimento de Lenin, sua esposa, Nadežda Konstantinovna Krupskaja, manteve o texto do “Testamento” consigo. Entregou-o ao Secretariado-Geral em 1924. Sobre “sua insistência”, o comitê central, liderados por Zinoviev, Kamenev e Stalin permitiu a leitura do documento aos delegados do 13° Congresso do Partido Comunista Russo, porquanto não revelado ao exterior a existência deste material. No entanto, nada adiantou. O aparecimento do documento, que pode ser forjado, foi descoberto no exterior, bem como, inevitavelmente, o texto foi divulgado por Max Eastman, Alfred Rosmer e Boris Souvarine. A liderança do PCUS, de início, alegou que era um documento falso, forçando mesmo Trotsky a negar Eastman[7]. Vejamos o texto de Trotsky:


“Eastman afirma em vários lugares que o Comitê Central ‘escondeu’ do partido um grande número de documentos de extraordinária importância, escritos por Lenin durante o último período de sua vida. (Os documentos em questão são cartas sobre a questão nacional, o famoso ‘Testamento’, etc.) Isso é pura calúnia contra o Comitê Central de nosso partido. As palavras de Eastman expressam a impressão de que Lenin escreveu essas cartas, que são de caráter consultivo e se envolve com a organização interna do partido, com a intenção de tê-las [as cartas] publicadas. Isso não está de acordo com os fatos.”
O Camarada Lenin não deixou nenhum ‘Testamento’; o caráter de suas relações com o partido, e o caráter do partido em si, excluem a possibilidade de tal ‘Testamento’. A burguesia e a imprensa menchevique geralmente compreendem como o ‘Testamento’ uma das cartas do Camarada Lenin (que é bastante alterada a ponto de ser irreconhecível) em que ele dá alguns conselhos organizacionais ao partido. O XIII Congresso devotou grande atenção a essa e outras cartas, e tirou as conclusões apropriadas. Toda falação em relação a um ‘Testamento’ escondido ou mutilado é nada mais do que uma mentira desprezível, dirigida contra a verdadeira vontade do Camarada Lenin e contra os interesses do partido criado por ele.”
“As afirmações de Eastman de que o Comitê Central confiscou meus panfletos e artigos em 1923 ou 1924, ou em qualquer outra época ou por qualquer meio preveniu suas publicações, são falsas, e estão baseadas em rumores fantásticos.
Eastman está novamente enganado em afirmar que o Camarada Lenin me ofereceu um posto de presidente do Conselho de Comissários do Povo, e do Conselho do Trabalho e Defesa. Escutei isso pela primeira vez do livro de Eastman.”
“Não há trabalhador que acreditará no quadro pintado por Eastman. Ele contém dentro dele mesmo sua refutação. Quaisquer que sejam as intenções de Eastman, este estragado trabalho é objetivamente nada menos que uma ferramenta da contrarrevolução, e apenas pode servir as razões dos inimigos incarnados de comunismo e da revolução.”[8]

Mas, no decorrer de 1927, Stalin, sem saber dos questionamentos feitos por Sakharov sobre a possível falsidade documental, autenticou a existência de tais escritos de Lênin. Os textos de Lênin nunca mais foram apresentados como “Testamento” durante o período staliniano.


No entanto, após o discurso secreto de Nikita Khrushchev, no XX Congresso do PCUS, este documento foi ressuscitado e reutilizado como caminho para iniciar oficialmente a chamada desestalinização em 1956, durante o XX Congresso do PCUS, no mesmo ano chegou à sua publicação completa, no entanto, sem alguns complementos fundamentais que só viriam a público no período da Perestroika[9].


O significado desse conjunto de escritos de Lênin é bastante diverso do que prega paradigma oficial: jamais houve um testamento, e, possivelmente, uma sucessão dirigida ao congresso segundo os padrões de documentação russa da época e atuais. Neste sentido, Kotikins comenta após vasta pesquisa documental que:


A irritação de Lênin com Trotsky foi amplamente documentada por um longo período, mas sua suposta exasperação com Stálin surgiu de repente em forma documental enigmática, na primavera e no verão de 1923. A peça central ficaria conhecida como o Testamento de Lênin (zaveschánie) e foi apresentada pela esposa deste, Nadejda Krúpskaia, com a ajuda, ou conluio, das mulheres que trabalhavam para Lênin, especialmente Maria Volóditcheva e Lídia Fotíieva, a chefe da secretaria do líder bolchevique. Não subsistem originais dos documentos mais importantes atribuídos a Lênin (que não tinham o título de “testamento” — na verdade, não tinham nenhum título quando vieram à tona pela primeira vez). Sua autenticidade nunca foi provada, como demonstrou um estudioso russo num exame escrupulosamente detalhado. Ele argumenta, corretamente, que, a menos que apareçam provas documentais persuasivas que corroborem que Lênin ditou essas palavras, temos de tratar sua autoria com cautela.3 Dito isso, o fato é que esses documentos — tenham derivado ou não das palavras do próprio Lênin e, em caso afirmativo, de que forma — se tornaram uma realidade na vida política soviética e, em particular, na vida de Stálin. Analisaremos os documentos atribuídos a Lênin não por suas supostas datas de ditado, mas pelas datas e pelo contexto em que foram divulgados e, sobretudo, por suas consequências. Sua frase fundamental — “remover Stálin” — assombraria eventualmente a Eurásia Soviética e o resto do mundo, mas, em primeira instância, assombraria o próprio Stálin.[10]

Assim sendo, a própria historiografia nada simpática a Stálin, portanto, antistalinista, vem provando a possível falsidade documental atribuída, cegamente, a Lênin após a doença com exceção do período de melhora que ocorrera de janeiro de 1923 a março de 1923, onde alçamos a avaliação dos arquivos e textos do período de A. Sakharov, S. Kotikins e o Historiador Yuri Emelyanov, que afirmam um período inclusive autocrítico. Disso podemos concluir:


Durante o estado de doença, V.I. Lênin tornou-se especialmente suscetível a qualquer boato e calúnia. Ao mesmo tempo, as pessoas que se comunicavam com ele muitas vezes não entendiam imediatamente o estado de Lênin. Em 11 de janeiro de 1923, a secretária de Lênin, M. Glasser, em uma carta a Bukharin, contou sobre os antecedentes do artigo “Sobre a questão das nacionalidades ou autonomização”. Junto com Fotieva e o chefe do Conselho dos Comissários do Povo Gorbunov, ela, sendo membro da comissão para verificar materiais sobre o chamado "caso georgiano", conversou com Lênin. Agora Glasser admitia que Lênin havia entendido mal a informação já unilateral e "devido à doença ... estava errado em relação ao camarada Stálin". M. Glasser escreveu: “É especialmente difícil porque durante meus dois anos e meio de trabalho no Politburo, vendo de perto o trabalho do Politburo, não apenas aprendi a apreciar profundamente e respeitar todos vocês, em particular, Stálin (tenho vergonha de olhar para ele agora), mas também de entender a diferença entre a linha de VI. Il-cha e Trotsky . "Ela relatou que Lênin pediu a palavra aos membros da comissão "para manter tudo na mais estrita confidencialidade até o final dos trabalhos e não dizer nada sobre seu artigo". Explicando essa exigência de Lênin, Glasser escreveu que Lênin "estava doente e terrivelmente desconfiado". Citando esses fatos em seu livro, Kumanev e Kulikova (Antistalinistas que acreditam no testamento) não encontraram nada mais inteligente do que explicar a carta de Glasser pela capacidade de Stálin de "encantar" as pessoas e pelo fato de essa mulher ter caído na "hipnose de Stálin".[11]

E por que seria importante ter uma visão correta deste fato para este debate? Porque isso foi usado pela oposição na disputa do cargo de secretariado geral nos anos 1920. Sem selarmos as desmistificações sobre o “testamento” de Lênin[12] e evidenciarmos as acusações falsas contra Stálin de ser inimigo político e pessoal de Lênin, não seria possível entender até onde se estendia a luta interna e qual empreendimento teórico tem mais valor para suceder Lênin.


O golpe talvez mais importante no caixão da oposição, em relação ao testamento de Lênin, foi pregado ainda pela família de Lênin, por meio de Maria Ilyinichna Ulyanova:


A oposição minoritária, dentro do Comitê Central, recentemente, realizou um sistemático ataque ao Camarada Stálin afirmando a “existência” de uma ruptura política entre Lênin e Stálin nos últimos períodos da vida Vladimir Ilyich Ulyanov. Com o objetivo de dizer a verdade, considero esta minha obrigação, informarei aos camaradas, brevemente, como eram as relações de Lênin e Stálin no período da doença de Vladimir Ilyich Ulyanov, período em queeu estava com eles e cumpria diversas tarefas. Não estou aqui para abordar o período anterior a doença Lênin, sobre o qual eu tenho grande quantidade de provas da tocante e fraternal relação entre Vladimir Ilyich Ulyanov e Stálin, do qual os membros do comitê central sabem muito menos do que eu.
Vladimir Ilyich Ulyanov realmente admirava Stálin. Por exemplo, na primavera de 1922 e em dezembro do mesmo ano, respectivamente quando Vladimir Ilyich Ulyanov teve o primeiro e o segundo quadro de problemas em sua saúde, Lênin chamou Stálin e o encarregou das tarefas mais pessoais. Os tipos de tarefas em que se atribui a pessoa em que se tem total confiança no qual se considera um dedicado revolucionário e um estimado camarada. Além disso, Ilyich insistia sempre em conversar somente com Stálin e mais ninguém. Em geral, durante todo o período de Doença, até que ele estivesse recuperado e até que pudesse se reunir com os demais camaradas, ele convidava somente Stálin para vê-lo sempre, fosse para o que for. E durante todo o período posterior, o de maior gravidade de sua doença, ele intensificou o contato com Stálin, jamais convidou um único membro do politburo, exceto, Stálin.
Houve um incidente entre Lênin e Stálin, mencionado pelo camarada Zinoviev no seu discurso, pouco antes de Ilyich perder seu poder de expressão (março de 1923), mas foi completamente pessoal e não tinha relação com política. O camarada Zinoviev sabia disso muito bem e citou isto absolutamente desnecessariamente. Esse incidente tomou lugar porque, sob demanda dos médicos, o Comitê Central deu a Stálin a responsabilidade de vigiar para que nenhuma notícia política chegasse a Lênin durante esse período de doença grave. Isso aconteceu para não o perturbar e para que sua condição não se deteriorasse, Stálin até repreendeu sua família por transmitir esse tipo de informação. Ilyich que acidentalmente veio a saber sobre isto e quem esteve sempre preocupado sobre a tal força do regime e sua proteção, imediatamente, repreendeu Stálin. Stálin pediu desculpas e com isso o incidente foi resolvido. O que há para ser dito ─ durante esse período, como eu havia indicado, se Lênin não estivesse tão gravemente doente, ele teria reagido de maneira diferente ao incidente. Existem documentos sobre esse incidente e, sob a primeira demanda do Comitê Central, posso apresentá-los.
Desta forma, eu afirmo essa conversa toda da oposição sobre a relação de Lênin com Stálin não corresponde à realidade. Essas relações eram muito íntimas e amigáveis e assim permaneceram. [13]

Talvez nenhuma outra questão da história soviética tenha sido submetida a tantas distorções e falsificações, criando todo um sistema de mitos em torno de si, como a questão do chamado “testamento político” de Lênin. Ainda hoje, sendo de grande importância na luta política e ideológica pelo desenvolvimento da revolução socialista na Rússia, continua sendo objeto de interpretação de historiadores, cientistas políticos e publicitários em nosso país e no exterior, bem como uma forma de se disputar a ortodoxia do leninismo.


Esses textos foram digitados em uma máquina de escrever. VI Lênin não assinou nenhum desses documentos ou cartas. A assinatura sob o texto datilografado é de 'AM.V.' ou 'LF'(Suas secretárias). Estas não podem substituir uma cópia autografada ou assinada por Lênin. É um fato que a autoria de Lênin sobre esses documentos, publicamente desde o início, infelizmente, nunca foi questionada. Foi considerado um fato aceito que estes textos foram de autoria de VI Lênin. Isso foi até aceito pelo próprio JV Stálin. Esta situação, é claro, foi de ajuda considerável para os revisionistas que ainda estavam na liderança do PCUS após a morte de Lênin. A história mostra que esses 'documentos' passaram a fazer parte de uma 'intriga'.
Mas, uma análise científica exige que esses documentos sejam examinados historicamente. As análises históricas não devem ser feitas para mostrar ou provar que este ou aquele documento não pertence a VI Lênin. Em vez disso, o ônus da prova deveria ser na outra direção — a análise deveria provar que essas cartas realmente pertencem ao corpo das obras, caindo sob a autoria de VI Lênin. [14]

Além do próprio fato de que, até hoje, no Brasil, e no ocidente em geral, nunca se questionou, também, a autenticidade dos diários das secretarias de Lênin. Em geral, “postula-se que o "Diário dos Secretários de Trabalho" do Presidente do Conselho dos Comissários do Povo V.I. Lênin é considerado a fonte de informação mais importante sobre o trabalho de V.I. Lênin e dão base de apoio aos textos do chamado "Testamento", sobre o seu estado de espírito político no último período da sua atividade”[15]. Assim “O Diário original não era conhecido por um amplo círculo de historiadores, e eles usaram sua versão publicada nas Obras Completas de V.I. Lênin, que tornou quase impossível uma análise completa do estudo de fonte deste documento”[16]. Infelizmente, “Ao mesmo tempo, a autoridade política dos editores das Obras Completas de V.I. Lênin, ao que parecia, removeu toda a relevância de tal estudo para os historiadores soviéticos”[17]. No entanto, “mesmo a versão publicada do diário forneceu alguns fundamentos para V.I. Startsev e S.V. Voronkova por uma atitude crítica em relação a ele precisamente como um diário em conexão com o que várias de suas entradas não são de natureza diária”[18]. E isso era muito comum principalmente após a era Stálin, onde pouco ou nenhum acesso era dado a historiadores, lembrando que até mesmo os julgamentos de moscou foram testemunhados por Joseph E. Davies e Dennis Pritt, respectivamente o embaixador dos EUA e um advogado que tentou atuar pelo réu Zinoviev. “Na passagem que segue (...) Pospelov disse (...) que os historiadores deveriam ler são os discursos (...) do 22º Congresso: “Por que não é possível (...) trabalhar no arquivo (...) ? Eles não distribuem materiais relativos à atividade do PCUS.” (...) Pospelov estava dizendo: "Não vamos dar acesso a nenhuma fonte primária"[19].

No diário das secretárias “Todas as anotações subsequentes do dia 23 de dezembro de 1922 foram feitas após as datas indicadas no diário. O que sugere abertamente uma falsificação”[20]. Assim, por consequência:


“A vigilância dos secretários de Lênin continuou, mas, a julgar pelos documentos, agora sua atividade se limitava a garantir o trabalho de seu "Diário" (registrar ditados, fazer edições, reimprimir o texto) e a administrar o fluxo da correspondência, que continuou a fluir em seu nome: algo foi enviado a outras instâncias para execução, algo foi transferido para o armazenamento no arquivo Leninista”[21].

A gravidade do problema não é pequeno. “É significativo que os lançamentos nos livros de registro da documentação de entrada e saída passaram a ser feitos de forma irregular, à medida que os documentos iam se acumulando”[22].


Na sequência a “primeira entrada após 18 de dezembro refere-se a 23 de dezembro: após a data indicada por N.S. Alliluyeva, M.V. Volodicheva escreveu sua história sobre como Lênin a convocou e ditou a carta”[23]. Entretanto, “ela fala sobre isso como sobre os acontecimentos do dia anterior, portanto, não foi registrado no dia 23. Na verdade, "esta entrada abre um novo documento que não tem nada a ver com o Diário anterior”[24].


Daquele momento em diante, a natureza das gravações mudou visivelmente. Se antes eram puramente clericais, agora muitos deles assumem um caráter abertamente de "memórias", registrando eventos "retroativamente". Assim, Sakharov argumenta os termos da falsificação:


O Diário' do Secretariado é o mais notável e, até agora, nunca foi um documento questionado. Mas nunca foi examinado em detalhes científicos e historiográficos. Na realidade, foi inútil fazê-lo, pois agora se sabe e se aceita, que este 'Diário' depois de 18 de dezembro de 1922 não é considerado um documento do trabalho diário do Secretariado de Lênin. Isso porque se trata de um trabalho de novos autores, no intuito de fazer com que mudanças sejam implementadas, se possível sobre uma dada temática teórica e política, por autores que na época estavam bem escondidos. Falando de forma realista, este é um documento fabricado, falso.
Olhe você mesmo. O início da doença de Lênin em 18-22 de dezembro de 1922, fez Lênin partir do centro do palco de sua obra. Infelizmente, durante esse período, seu Secretariado praticamente deixou de funcionar, e os diários não são registrados. Planos são engavetados. Mas quando esses 'Diários' são reiniciados, recebemos 'versões' completamente novas do que Lênin supostamente ditou. Existem páginas inteiras vazias nos 'Diários', as anotações são colocadas apenas de forma irregular. Entre as páginas onde existem algumas notações, existem páginas vazias ao longo deste período. Na verdade, isso deu aos iniciadores do 'Testamento' a oportunidade de preencher as páginas que estavam vazias.[25]

Historiadores que escreveram mais tarde e tiveram a oportunidade de estudar o original do "Diário", por exemplo, D.A. Volkogonov, V.A. Kumanev e I.S. Kulikov não levantaram, como Sakharov, a questão dos problemas de estudo da fonte do Diário[26]. A credibilidade deste documento é a causa de muitos erros graves, por isso, pretendemos familiarizar o leitor mais de perto com sua versão arquivada[27].


Ao longo do tempo o “diário foi mantido na secretaria de V.I. Lênin em 21 de novembro de 1922”[28]. Neste sentido sua validade como “fonte histórica, divide-se em duas partes, a fronteira entre as quais está a anotação de 18 de dezembro de 1922”[29]. Até esta data, “a autenticidade do Diário como documento não suscita dúvidas: as anotações são de natureza comercial, de escritório — instruções específicas, notas sobre seu desempenho”[30]. Somente após esta data que o documento suscita dúvida. Período que coincide com a data da confecção do chamado testamento. “Sem “pular” datas, sem “digressões líricas”. Tudo é escrito para organizar o fluxo de informações, não para a História”[31].


O Conjunto de Documentos atribuídos ao nome de Testamento, Jamais criticou ideologicamente Stálin


Apesar de postular a potencial falsidade documental do “testamento” de Lênin, é importante notar que os possíveis falsificadores não puderam exagerar e tiveram que criticar todo o comitê central para não levantar suspeitas. É por isto que o texto nunca criticou Stálin ideologicamente.


Quem escreveu o conjunto de documentos com o nome de “Testamento”, tinha a clara noção de que não se poderia apagar diante dos olhos dos quadros do partido o passado daqueles que poderiam ser oposição a Lênin e naquele momento a Stálin.


Deste modo, o testamento foi incapaz de denunciar as qualidades ideológicas de Stálin. Na época mesmo os defensores de Stálin que acreditavam que o documento era legítimo foram obrigados a denunciar o fato de que apenas a Pessoa de Stálin estava em questão, e não sua militância, sua ideologia e retidão.


“Foi nesse período, no entanto, que Lenin redigiu seu famoso “Testamento”, que sem dúvida reflete seus pressentimentos em relação à brusquidão de Stalin, mas não diz uma palavra em crítica à sua política. Nem Stalin o desafiou em seu retorno à atividade na última parte do ano. Pelo contrário, parecia que eles estavam em completo acordo”[32]….


Assim, se pode dizer “Não há nenhuma crítica em no documento – o testamento de Lenin – da política de Stalin, mas apenas esse delineamento de qualidades pessoais. É certo que Stalin sentiu profundamente a crítica pessoal de Lenin. Por mais de 20 anos Lênin foi seu professor e Stálin um discípulo fiel. Mas ele poderia “pegar”. Ele tem muitas das qualidades do mestre. Ele tem convicções profundas, uma tremenda força de vontade e determinação e – se Lênin tivesse vivido o suficiente para vê-lo – veria uma paciência que às vezes parece inesgotável”[33].


Para quem seguia de fora, antes do relatório Khrushchev, e apartado da conspiração da oposição, parecia perceptível “embora não abertamente, a luta havia entre Trotsky e Zinoviev pela sucessão de Lenin. Mas também se discutia o que estava acontecendo na casa de Lenin em Gorki, em outras palavras, sobre Stalin”[34]. Neste sentido, “foi quase uma sensação quando Kamenev trouxe a notícia de que Lenin havia rompido com Stalin, e escreveu para Stalin despedindo-o. Em pouco tempo, no entanto, a sensação encolheu para suas verdadeiras proporções. Descobriu-se que a verdadeira diferença pessoal não tinha nada a ver com política”[35]: Ao fim, parecia claro que “Lenin acusou Stalin de grosseria e falta de tato para com sua esposa Krupskaya. É fácil imaginar isso. Parece que Stalin nunca teve uma grande opinião sobre a esposa de Lenin”[36].


Mas, muitos perceberam a farsa de Khrushchev já na época dos fatos. “O tratamento de Khrushchev das relações entre Stalin e Lenin concentra-se na crescente apreensão de Lenin dos métodos de Stalin em 1923”[37]. Por outro lado, descaradamente Khrushchev “omite a admiração anterior de Lenin por Stalin e seu encaminhamento da carreira de Stalin no Partido que remonta pelo menos a 1912. Ataques posteriores a Stalin foram feitos quando Lenin estava doente e cortado da atividade do Partido, e que mesmo então, em seu “testamento”, ele considerava Stalin um dos líderes do Partido em destaque, suas falhas não as do “não-bolchevismo” – como com Trotsky – mas de um método de trabalho excessivamente burocrático e de “grosseria” pessoal”[38]. E assim conclui o professor Cameron, “O fato de que pessoas que “trabalharam com Lenin” foram executadas significa pouco, a menos que saibamos quem eram as pessoas e por que foram executadas. O fato de as pessoas trabalharem com Lenin não significa que fossem pró-socialistas”[39]. Por fim, a nós cumpre dizer: “[No Testamento] nem sua ortodoxia [Stalin] como homem de partido nem sua lealdade a Lenin foram questionadas”[40].


E por isto que não é estranho dizer que “de todos os mencionados na carta, Stalin aparece sob a luz mais favorável. Ele é quem Lenin acusa de grosseria e intolerância, mas isso nunca foi considerado uma falha no partido proletário”[41]. Um resumo histórico dos fatos pode ser:


Krupskaya entregou a Stalin um envelope lacrado que trazia a inscrição escrita pelo marido “Para ser aberto após minha morte”. Stalin adivinhou que o envelope continha instruções importantes e convocou uma reunião do Politburo. Ele aproveitou a sugestão de Zinoviev de que a carta fosse aberta imediatamente. Isso foi feito.
As notas de Lenin não eram lisonjeiras para a maioria dos líderes soviéticos. Mekhlis, que estava presente e viu o Testamento, registrou o seguinte:
“Zinoviev e Kamenev foram descritos como 'políticos de buraco e de canto', Bukharin era 'escolástico, não marxista, fraco em dialética, livresco e carente de realismo, mas simpatizante', Pyatakov era 'um bom administrador, mas, como Bukharin, não se encaixava para a liderança política.' Trotski "não era um bolchevique, mas esse fato não deve ser usado contra ele, assim como não se deve culpar Zinoviev e Kamenev por sua atitude em outubro de 1917". Quanto a Stalin, o Velho não encontrou nele nenhum defeito político. Mas – e seu julgamento deve ter sido até certo ponto inspirado por sua réplica a Krupskaya – 'ele é excessivamente grosseiro e brutal, e também capaz de tirar proveito de seu poder para resolver disputas pessoais'[42].

Um Pouco Sobre as Relações entre Lênin, Stálin e Trotski


Maria Ulianova confirma que já no período de Doença, Lênin e Stálin conspiravam contra Trotsky: “eles discutiram sobre Trotsky e, pela conversa que tiveram diante de mim, ficou claro que aqui Ilyich estava com Stalin contra Trotsky”[43]. Segundo Sakharov, o maior especialista vivo na questão do testamento de Lênin, e um dos maiores especialistas da história nos conflitos de relação entre Lênin e Stálin, de um lado, e Trotsky do outro, houve uma conspiração contra Trotsky e há como prova-la documentalmente. Apesar de longo, o relato dele sobre a relação dos membros do comitê central é extremamente revelador e comprova até estatisticamente os relatos de Maria Ulianova.


Não é surpreendente que Lenin tenha começado a tomar medidas que poderiam de alguma forma remover ou mitigar o problema que surgiu. Molotov falou sobre as artimanhas às quais Lenin recorreu durante as reuniões do Politburo para travar uma luta política contra Trotsky. Em particular, ele disse que em 1921 ele “participou da conspiração de Lenin contra Trotsky”: “Lenin propôs agendar reuniões do Politburo sem Trotsky. Conspiramos contra ele “[378]. Documentos interessantes que confirmam o testemunho de Molotov foram citados por D.A. Volkogonov [379]. Assim, por exemplo, quando Kamenev fez uma proposta para financiar o exército, Lenin escreveu em uma carta: “Eu subscrevo totalmente”; Stalin, Zinoviev e Molotov, também escreveram sobre seu consentimento, enquanto Trotsky se absteve. Então Lenin escreveu: “Proponho me reunir hoje em minha casa ... junto com Stalin (Zinoviev e Molotov) e chegar a um acordo sobre a convocação do Politburo.
Um conflito político que estava se formando entre Lenin e Trotsky no verão de 1921.escalou tanto que Lenin tentou enviar Trotsky para trabalhar em algum lugar de Moscou. Várias opções foram discutidas, interrompidas na Ucrânia, onde o trabalho de aquisição de pão era difícil e precisava de fortalecimento organizacional. Um pretexto formal foi encontrado. A verdadeira razão era outra: Lenin queria tirar Trotsky de Moscou a fim de desatar suas mãos para seguir o curso escolhido, livrar-se do crítico chato e livrar-se do desorganizador da obra do Politburo. Além disso, a ausência de Trotsky em Moscou por muito tempo permitiria com o tempo levantar a questão da necessidade de substituí-lo como chefe do departamento militar, uma vez que é difícil conciliar o árduo trabalho de obtenção de pão, pelo Comissariado do Povo para a Alimentação da Ucrânia e pela liderança do exército fora de Moscou. Molotov falou sobre a presença de tal intenção em Lenin: “Lenin entendeu o ponto de vista de complicar as coisas no Partido e no Estado, Trotsky agiu de forma muito desmoralizante. Sentiu-se que Lenin ficaria feliz em se livrar dele, mas não conseguiu. E Trotsky tinha bastante partidários fortes e diretos. Lenin entendia que Trotsky era pior do que Stalin, e acreditava que chegaria a hora de afastar Trotsky, Lenin decidiu livrar-se dele: “Vamos a Zinoviev para chegar a um acordo, o que fazer?” Nós três - Lenin, Kamenev e eu ... fomos à casa de Zinoviev para negociar o que fazer com Trotsky. Ele deveria ter sido destituído do cargo de Comissariado do Povo para os Assuntos Militares “[381].
Tentando amenizar a impressão negativa dessa história, Trotsky, em uma carta ao Comitê Central do RCP (b) de 23 de outubro de 1923, tentou criar a impressão de que se tratava de uma viagem de negócios comum, da qual ele e outros membros do Politburo tinham agendadas e que “não tinham nada a ver com desentendimentos internos no Politburo, mas eram causados por necessidades urgentes de negócios”. Trotsky descreveu esta história como um “episódio de dez graus” [382]. Muitos aceitaram sua explicação de bom grado. Volkogonov apoiou essa versão pelo fato de que, ao contar essa história, ele ignorou os materiais de arquivo aos quais tinha acesso e não pôde deixar de conhecê-los. Glorificando Trotsky como o “salva-vidas” de Lenin, que estava no Kremlin o tempo todo, ele assegurou ao leitor que desta vez Trotsky se recusou a viajar por causa de sua sobrecarga de negócios e foi capaz de convencer Lenin “da correção de sua posição” [383]. Esta versão também é apoiada pelos editores da carta de Trotsky aos membros do Comitê Central e Comissão de Controle Central do RCP (b) datada de 23 de outubro de 1923, que fez uma tentativa de amenizar o conflito entre Lenin e Trotsky e apresentar esta história, se não com o benefício da autoridade política de Trotsky, pelo menos sem prejuízo para ele. Isso é conseguido referindo-se ao consentimento do Politburo “em não executar esta decisão até a convocação do Plenário do Comitê Central do RCP (b)” [384]. Na Biocrônica de Lenin, o fato do conflito não está oculto, mas sua história é apresentada de forma distorcida, ocultando a gravidade do conflito enverniza a verdadeira relação entre Lenin e Trotsky e, assim, sustenta a lenda do desejo de Lenin de reunir todos os seus oponentes políticos ao seu redor [385].[44]

Segundo Sakharov os contatos de Stálin com Lênin eram os maiores de todo o partido, totalizando 38% das interações totais de Lênin. Trotsky fica em segundo lugar com 23%, abaixo Kamenev com 19% e Zinoviev com 18%[45]:




É evidente que essa proximidade de Lênin e Stálin contra Trotsky, não tornam as relações de Lênin e Stálin perfeitas e sem crises ou discordâncias. No entanto, no quadro geral de evidências, o que se pode defender é que as relações entre Lênin e Stálin eram constituídas de contradições não antagônicas politicamente, o mesmo, no entanto, não se pode dizer de Trotsky.


Do mesmo modo, não se pode defender que a família Ulianov, apoiou sem ressalvas Stálin, ela o fez porque era, ao fim das contas, o que de mais próximo havia da obra de Lênin e não por pura satisfação pessoal. A altura de Lênin não havia ninguém. Assim, em diversos momentos, houvera conflitos (aos quais não poderemos aprofundar muito neste momento, mas que faremos posteriormente, sem dúvida alguma, para ser justo a todas as figuras do comitê central bolchevique e, acima de tudo, a verdade). Aqui, daremos apenas alguns exemplos de Olga Ulianova, sobrinha de Lênin, que demonstra acreditar nos textos do famigerado “testamento de Lênin”, e afirma que seu pai, não trabalhou abertamente com Stálin, como Maria Ulianova, por receio do testamento ser verdadeiro.


Olga não chegou a avaliar os estudos de Sakharov, então não pôde se ater a verdade documental. Mas, justiça seja feita, nem Stálin, e a família Ulianov souberam de toda a verdade envolvendo a possível falsificação que Sakharov denunciou e que Kotkin reproduziu no ocidente, no entanto, não devemos, por isto, desprezar as memórias de Olga Ulianova. Olga, embora não consiga nos dizer com profundidade porque seu pai, Dimitry Ilichy Ulianov, não aceitou os convites de Stálin para assumir cargos no alto escalão soviético, nos dá uma boa ideia de que as razões tinham relação com a carta testamento e todos problemas que ali se iniciaram:


Alguns anos após a morte de Vladimir Lenin — Stálin convidou duas vezes o meu pai, falou com ele, ofereceu-lhe um alto cargo de Estado. Stalin conhecia o meu pai desde a Guerra Civil, valorizava a sua erudição, a sua inteligência, a sua grande experiência de trabalho partidário. No entanto, Dmitry Ilyich Ulianov recusou a sua oferta, citando a sua doença: durante a Guerra Civil, as suas pernas foram gravemente congeladas. Refletindo sobre isto, posso supor que a doença do meu pai foi de certa forma uma desculpa. O meu pai sabia da luta de Stalin com os associados de Lenin e viu que as políticas de Stalin não coincidiam com a vontade política de Vladimir Lenin.
As palavras do meu pai de uma carta a um amigo: “Agora tenho as mãos desatadas” fazem-me pensar em muitas coisas. Ele sabia, claro, que a história da carta de Lenin ao Congresso estava a ser ocultada. Suponho que tudo isto foi também a razão da rejeição da proposta de Stalin pelo meu pai. O meu pai nunca me contou a história da Carta ao Congresso. A minha mãe também nunca me disse, penso eu, para não me meter em problemas.[47]

Algumas observações são necessárias: obviamente que nenhuma dessas declarações são positivas a imagem de Stálin, no entanto, a autora admite que elas estão no reino das suposições, este é o primeiro ponto. O Segundo ponto, é que a história da carta ao congresso, do “testamento político”, não estava sendo ocultada de fato — talvez a autora não se lembre, embora contemporânea aos fatos porque era uma criança —, mas, evidentemente, seu pai, um homem de partido e centralizado, não reproduziria uma posição derrotada dentro do partido bolchevique, mesmo que a compartilhasse intimamente. É verdade que, possivelmente, esta história era mais comum dentro do partido do que fora dele nesta época, no entanto, Max Eastman havia publicado sobre este assunto em 1923 e foi desmentido por Trotsky.

Bom, nem só de negatividades a Stálin se compõe as memórias de Olga Ulianova. No âmbito das relações pessoais, Olga reconhece que quando havia problemas, Stálin esteve disposto a ajuda-los. “As pessoas nem sempre foram atenciosas e sensíveis com mamãe e comigo. No entanto, “Stalin estava atencioso para nós. AA Andreev, NM Shvernik e sua esposa Maria Fedorovna foram muito atenciosos e receptivos”[48].O mesmo comportamento ela notava 6 anos antes da guerra em relação ao povo soviético: “Até 1935, membros do governo e do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista da União (Bolcheviques) andavam pelo Kremlin de forma totalmente livre, sem proteção, pararam para falar com pessoas que trabalhavam no Kremlin”. Constantemente “Você sempre podia ver JV Stalin andando pela rua. Ele veio até nós, crianças, conversou, sorriu”[49]. Este comportamento doce de Stálin com seu povo foi bem documentado na obra “a vida privada de Stálin” de Lily Marcou, mesmo já com o velho Stálin[50]. Do mesmo modo Stálin também atendeu aos desejos de todos da família Ulianov quando houve risco de por falta de fundos o Museu de Lênin fechar, pelo menos em Gorki. Cabe lembrar que todo pib militar estava tomando conta de todas as despesas nos 6 anos que antecedem a grande guerra patriótica, e até mesmo espaços culturais e de lazer estavam com falta de verba para o funcionamento[51].


Enquanto isso, rumores sobre o fechamento da Casa-Museu de Lênin em Gorki, que na verdade ainda não havia sido inaugurada, espalharam-se com a velocidade da luz. Uma torrente de cartas dos trabalhadores da União Soviética foi enviada ao Comitê Central do Partido, pessoalmente a Stalin. As pessoas pediram para não fechar o museu de Vladimir Ilyich Lenin, para preservá-lo como uma memória de Lenin. Ele morou em Gorki por cerca de seis anos — de 1918 a 21 de janeiro de 1924. Sua família tem cerca de 20 anos. Naturalmente, minha mãe e eu sabíamos desses boatos. No entanto, sabíamos dessas conversas de alguns funcionários do museu, e dos residentes de Gorki, dos trabalhadores de Gorki. Mas todos eles sabiam mais do que nós.
Qual foi o motivo para fechar repentinamente a Casa Grande e não fazer um museu lá? Tudo isso estava completamente confuso ...
Estudantes de muitas universidades escreveram cartas a Joseph Vissarionovich Stalin, e a frase principal foi: se nosso estado não tem dinheiro, aceite nossas bolsas contribuições, mas simplesmente não feche a Casa-Museu de Vladimir Ilyich Lenin em Gorki.
Aprendendo sobre isso nas numerosas cartas dos trabalhadores, de várias pessoas famosas, de estudantes, Stalin deu instruções para abrir o Museu VI Lenin.[52]

Outras lembranças bastante interessantes fazem notar que, contraditoriamente a tudo que foi dito de negativo em relação a imagem de Stálin, a fé de Dimitry Ilyich Ulianov em Stálin era grande sobre questões relativas ao socialismo e a vitória contra o nazismo. Olga também demonstrou grande empolgação nestes terrenos. Durante muito tempo Stálin foi defendido por Dimitry Ilich Ulinov, o irmão de Lênin. Olga, sua filha, afirma que no decorrer da guerra seu pai foi bastante proativo.


Continuei escrevendo em meu diário sobre a guerra, sobre nossa vida. Eu vi como era difícil para o pai e a mãe: em outubro — novembro de 1941, as batalhas ocorreram nos arredores de Moscou. O tempo todo o pensamento era enfadonho — e se os alemães tomassem Moscou? Papai tentou me convencer de que Moscou nunca se renderia aos nazistas. Que fé profunda ele tem em Stalin, em nosso país, em nosso povo. Ele convenceu não só a mim, mas a toda a nossa companhia feminina. E não só para as mulheres, mas também para os ordenados e V.P. Klochkova.
A vida estava gradualmente voltando ao normal, melhorando. Uma grande seleção de produtos apareceu nas lojas — alimentos, roupas, calçados. As pessoas tinham confiança no futuro, e isso existia antes da guerra; e estávamos tão acostumados que nem pensamos nisso. Foi natural, estava no nosso sangue. Somente durante os anos de guerra, especialmente antes de 1944, as pessoas tiveram medo. E depois que os nazistas foram expulsos do território da União Soviética, todos já sabiam que a guerra logo terminaria. E a confiança começou a aparecer nas pessoas — na Vitoria, no futuro. Desde 1947, Stalin reduziu os preços dos alimentos e bens essenciais todos os anos. O governo deu grandes subsídios ao povo. E agora eles não se lembram disso. Os jovens nem sabem disso!
Poderíamos então imaginar que apenas um pouco mais de quarenta anos se passariam e nosso grande país, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, seria destruído? Mesmo em um sonho terrível, não pude ver tal desastre ...
Agora, as pessoas que nem mesmo acreditam no socialismo ou no comunismo, nem entenderam que vivíamos sob o socialismo. Tínhamos direitos, tínhamos liberdade, tínhamos o aluguel mais baixo do mundo, assistência médica gratuita, creches e escolas gratuitas. Tínhamos preços estáveis; não houve conflito étnico — isso é evidenciado por muitos casamentos mistos. Não tínhamos fronteiras nacionais, viajávamos por todo o país onde queríamos.
As pessoas receberam apartamentos e sabiam: ninguém iria vendê-los ou jogá-los na rua. Não havia mendigos nas ruas. Veteranos da Grande Guerra Patriótica e crianças pequenas não pediam esmolas. A polícia estava nos protegendo, “minha polícia estava cuidando de mim”.
Era igualdade social, era socialismo.[53]

Por isto, a verdade é que Trotsky nunca fora próximo a Lênin tal qual Stálin, nem pessoalmente nem politicamente. O período de Doença de Lênin constitui uma forte prova disso. Durante o período de doença, uma vez, “a questão de convidar Trotsky para Ilyich foi discutida. Isso tinha um caráter diplomático. A oferta a Trotsky para se tornar deputado de Ilyich no Sovnarkom (Conselho dos Comissários do Povo - ed. R.D.) foi feita pelo mesmo motivo”[54]. Maria Ulianova afirmava também existirem semelhanças pessoais entre Trotsky e Stálin que, por incrível que pareça, vão além do branco dos olhos: ambos eram dotados de um certo nível de personalismo e, por vezes, faltavam-lhes comedimento (embora esse defeito seja mais nítido em Trotsky segundo o depoimento dela). “Foi extremamente difícil manter um equilíbrio entre Trotsky e os outros membros do politbureau, especialmente entre Trotsky e Stalin. Ambos eram pessoas extremamente ambiciosas e intolerantes”[55]. No entanto, “Ele — Lênin — nunca teve qualquer simpatia por Trotsky. Esta pessoa tinha tantas características que a tornava extremamente difícil trabalhar coletivamente”[56]. A vantagem de Stálin neste caso, era puramente ideológica, o Leninismo o levava a um passo à frente. Mas, é nosso dever admitir que a maturidade de ambos, Trotsky e Stálin, aos tempos de Lênin, não chegava aos pés de Ilyich.


Visto que a história também é feita por testemunhos importantes de fontes primárias, além dos textos, documentos e etc., podemos elucubrar que essa proximidade pessoal de Stálin com Lênin, era política e por isto “o homem de aço” lhe era o sucessor mais próximo, embora houvera sim indisposições pessoais da parte de Lênin a isto.


Pode-se dizer que Lênin certamente entregaria seu bastão de sucessão a Stálin e a mais ninguém, embora — ao julgar pelo fim de sua vida e o sentimento expresso em suas últimas “manifestações”[57] —, não o fizesse 100% feliz. Essa infelicidade derivava da incapacidade de se emitir juízos perfeitos e plenamente lúcidos provenientes de sua doença, e, também, de uma avaliação unilateral do incidente entre Stálin e Krupskaya, considerados apreciações mal avaliadas dos fatos por sua irmã casula, Maria Ulianova. Também é verdade que as possíveis falsificações da oposição contra Stálin, se atestadas, poderiam ter mudado profundamente o rumo das coisas, devolvendo a Lênin a alegria para com J. Stálin. A vasta pesquisa documental de mais de 1700 notas e referências bibliográficas lidas e apresentadas por A. Sakharov, doutor em ciências históricas, infelizmente não foram acessíveis nem a Stálin e nem a família Unilianov. As fraudes, portanto, contra Stálin, se atestadas a tempo, seriam cruciais para extinguir essa infelicidade com relação a Koba que atormentou Lênin ao fim de sua vida.


Maria Ulianova dizia que Lênin num momento de rancor afirmou: “Stálin não é inteligente”, porém até 1922 esse era outro apelido pelo qual Lênin reconhecia Stálin, isto é, “Stálin o inteligente”. Ainda segundo Maria Ulianova: Stalin pediu a ela, após os incidentes com Krupskaya, que dissesse a Lenin “que ele — Stálin — o amava”. Ilyich — em resposta — franziu o sobrolho e ficou calado. Então o quê' — perguntei — 'devo transmitir-lhe suas saudações?' 'Transmita-lhes' respondeu Ilyich com bastante frieza. Mas eu continuei: 'Volodia (Apelido familiar de Lênin), ele ainda é o inteligente Stalin'. Ele não é absolutamente inteligente'— respondeu Ilyich com firmeza”[58]. Toda tristeza de Lênin com Stálin, relacionava-se com o incidente de Krupskaya, e percebe-se, portanto, que se tratou de obstinação pessoal que seria relativizada se Lênin, Maria e Stálin soubessem dos incidentes levantados por Sakharov sobre a falsificação do testamento de Lênin, ou se Lênin não estivesse doente como a própria Maria Ulianova afirmou (e insistimos em repetir isso). Essa afirmação de Maria Ulianova, acerca de que a doença de Lênin teria afetado seu juízo sobre como reagir corretamente para com Stálin também é confirmada por M. Glasser, secretária de Lênin. [59] [60]


Cumpre lembrar que, por anos, foi Maria Ulianova quem conteve os impulsos de Krupskaya de seguir pela oposição porque, no fundo, ela sabia que Stálin estava, apenas, cumprindo ordens do Partido quando repreendeu Krupskaya de conversar sobre política com Lênin e descumprir as ordens médicas: “Posteriormente, detalhando o quadro e alterando algumas avaliações, Maria Ilyinichna Ulianova manteve o esboço geral da história se opondo à versão de Krupskaya”[61], isto em relação a vontade de Lênin. Ela também sabia que a proximidade política e pessoal de Lênin e Stálin eram maiores do que entre Lênin e os membros da oposição e não seria justo, por conseguinte, que Krupskaya ficasse na oposição. Krupskaya também tinha ciência disso e apesar de possíveis discordâncias, fez o que era melhor para o país e saiu da oposição ainda em 1926, quando toda essa história veio à tona de maneira quase completa graças à intervenção de Maria Ulianova no grande debate da oposição contra Stálin. Talvez esta seja a única interpretação que se pode ter dos fatos com base nos documentos e testemunhos aqui elencados. Este trecho do incidente pode ser resumido do seguinte modo:


A irmã de Lenin, Maria, descreveu essa ocasião em suas notas: “Stalin ligou para ela [Krupskaya] no telefone, contando com a certeza de sua comunicação não chegaria a Lenin, começou a dizer a ela, de uma maneira bastante afiada, que ela não deveria falar de política e trabalho com Lenin, ou ele a arrastaria até a Comissão de Controle do Partido, Krupskaya ficou terrivelmente chateado com a conversa; ela estava fora de si, soluçando e rolando no chão e assim por diante.”
Lenin ficou em pé de guerra quando soube desse incidente. Ignorando as súplicas de Krupskaya, aparentemente naquele dia ele ditou uma carta que indicava exatamente o que ele pensava sobre Stalin. A carta, que começa com um endereço formal pouco camarada, estava marcada como “Top secret” e “Pessoal”, cópias foram enviadas para Kamenev e Zinoviev.

O conteúdo da carta foi o seguinte:

Respeitado camarada Stálin,

Você teve a ousadia de chamar minha esposa ao telefone e abusar dela. Embora ela tenha concordado em esquecer o que foi dito, ela contou a Zinoviev e Kamenev…. Não tenho intenção de esquecer o que foi feito contra mim, pois nem é preciso dizer que o que foi feito contra minha esposa foi feito contra mim. Portanto, devo pedir-lhe que considere se está disposto a retirar o que disse e pedir desculpas, ou se prefere romper as relações entre nós.
Com respeito,
Lênin

Stálin respondeu:

Há cinco semanas, conversei com a camarada Nadejda Konstantinova, que considero não apenas sua esposa, mas minha antiga camarada do Partido, e disse a ela aproximadamente o seguinte (pelo telefone): “os médicos nos proibiram de dar informações políticas a Ilich, pois consideram isso a maneira mais importante de curá-lo. Acontece, Krupskaya, que você não está observando esse regime. Não devemos brincar com a vida de Ilich”, e assim por diante. Eu não considero nada do que eu disse como grosseiro ou inadmissível, ou dirigido contra você, pois eu não tinha outro propósito além de sua recuperação mais precoce. Além disso, considerava meu dever fazer com que o regime fosse observado. Minha conversa com Krupskaya confirmou que minhas suspeitas eram infundadas, nem poderiam ser de outra forma. Ainda assim, se você acha que para manter nossas “relações” devo retirar minhas palavras.[62]

Stalin

Mesmo com todo esse desenrolar pessoal caótico dos fatos, a proximidade teórica de Lênin e Stálin era maior do que a de Lênin e qualquer outro militante do PCR ou PCUS. Por exemplo, voltando à história onde o conceito de “Socialismo em um país” se tornou corrente, claramente se verifica que ele era a solução prática para um estado revolucionário isolado: para um país ilhado por um oceano reacionário que não podia contar com a revolução nos demais países.


O Testamento não foi escondido por Stalin


É preciso desmentir um ponto comumente divulgado, segundo o qual Stálin teria escondido o testamento de Lênin. “Durante os conflitos de 1927, Trotsky trouxe documentos escritos por Lenin em sua doença final que mostram que Lenin estava tentando derrubar Stalin como secretário-geral do Partido”[63]. Assim sabemos que o famigerado documento “foi dado a conhecer aos delegados do Décimo Terceiro Congresso do Partido em 1924”[64]….


Recordando o plenário de julho-agosto de 1927 [na reunião combinada de outubro de 1927 do Comitê Central e da Comissão Central de Controle], Stalin lamentou ter dissuadido os camaradas de expulsar imediatamente Trotsky e Zinoviev do Comitê Central. 'Talvez eu estivesse sendo muito gentil e cometi um erro...'
Quanto a lidar com a 'Carta ao Congresso' de Lenin, Stalin deu sua própria interpretação: “Foi mostrado repetidamente, e ninguém está tentando esconder nada, que O Testamento de Lenin foi endereçado ao 13º Congresso do Partido, que foi lido no congresso, que o Congresso concordou por unanimidade em não publicá-lo porque, aliás, o próprio Lenin não quis ou pediu que fosse publicado”[65].

Percebe-se, portanto, que o manejo do plenário foi completamente autocrítico “[o plenário conjunto do Comitê Central e da Comissão Central de Controle em outubro de 1927] foi uma obra-prima de persuasão. Ele lembrou à Oposição que anteriormente havia rejeitado os pedidos de expulsão de Trotsky e Zinoviev do Comitê Central. “Talvez”, ele sugeriu, “eu exagerei na “bondade” e cometi um erro.”[66]


Outras fontes também dão conta da mesma informação, isto é, não houve ocultação do testamento: “Na noite anterior ao congresso, em 21 de maio de 1924, houve um plenário extraordinário do Comitê Central, convocado para ouvir o Testamento de Lenin”[67].


É importante “notar que o Comitê Central não apoiou a batalha de Stalin para que a correspondência completa fosse abertamente publicada em torno do “Testamento de Lênin”[68].


Podemos afirmar que “Stalin aceitou o desafio do testamento de Lenin um mês depois, no clímax da série de sessões inquisitoriais. “Os oposicionistas clamaram aqui que o Comitê Central está 'ocultando' o testamento de Lenin”[69]. É de conhecimento geral “que esta questão foi discutida várias vezes em sessões conjuntas. Repetidamente provou-se que ninguém esconde nada, que o testamento de Lenin foi endereçado ao XIII Congresso, que ele, o testamento, foi tornado público lá, que o congresso decidiu por unanimidade não publicá-lo”[70]. Uma das razões para esta decisão, entre outras, “foi que o próprio Lenin não a desejava ou exigia. E, no entanto, a oposição tem a audácia de declarar que o Comitê Central está 'ocultando' o testamento…. Diz-se que Lenin propôs a remoção de Stalin. Sim, isso é totalmente verdade”[71].


Krupskaya Solicitou ao C.C. Votar Para Suprimir o “Testamento de Lênin” e Trotsky Ficou em Silêncio

Após um determinado período, segundo Deutscher, historiador imensamente ligado ao Trotskismo, Krupskaya tentou suprimir o conjunto de textos que se convencionou chamar de “testamento”. No entanto, “Contra o protesto de Krupskaya, o Comitê Central votou por esmagadora maioria pela supressão do testamento. Até o final Trotsky, como se entorpecido e congelado de ódio, manteve seu silêncio”[72].


A doença de Lenin estava afetando seu equilíbrio mental

Algumas fontes permitem dizer que a doença de Lênin afetou seu juízo. As avaliações de Lenin sobre certas pessoas durante sua doença dependeram em grande parte de duas pessoas[73]: Krupskaya e Maria Ulianova. É significativo que três dias depois em 22 de dezembro, um dia antes de Lenin começar a ditar suas primeiras páginas da Carta ao Congresso, segundo M.I. Ulyanova, havia um humor extremamente pessimista em Lênin sobre sua saúde. Como Fotieva escreveu em suas anotações, às 18h do dia 22 de dezembro, Lenin ditou-lhe o seguinte: "Não se esqueça de tomar todas as medidas para obter e entregar ... se a paralisia evoluir, cianeto de potássio, como medida de humanidade e como imitação de Lafargue ..." ele acrescentou: “Esta nota está fora do diário. Você entende? Você entende? E eu espero que você faça isso. “Não conseguia lembrar a frase que faltava no início. No final — eu não entendi, porque falei muito baixo. Quando perguntei de novo, não respondi. Ele mandou mantê-lo em segredo absoluto"[74].


É importante notar “que em 22 de dezembro de 1922, Stalin teve um conflito com Krupskaya. Stalin soube que em 21 de dezembro Krupskaya havia permitido que Lenin ditasse uma carta a Trotsky”[75]. Assim, “Conforme observado por V.A. Kumanev e I.S. Kulikova em seu livro "Confronto: Krupskaya — Stalin", "tendo aprendido que N.K. Krupskaya estava diretamente envolvida na escrita, sob o ditado de Lenin, de uma carta para Trotsky e contatos com este último sobre este assunto, o secretário-geral ficou furioso e a atacou ao telefone com abusos rudes e ameaças — Stalin ameaçou a Comissão de Controle de Krupskaya por violar uma receita médica."[76] Logo, “Embora os autores do livro tentem provar que a "raiva" de Stalin foi causada pelo que Lenin escreveu a Trotsky, pode-se supor que Stalin ficaria indignado se Lenin escrevesse para qualquer um, já que se presumia que após o golpe de 16 de dezembro, o paciente permaneceria em estado de repouso total”[77].


Segundo Glasser, secretária de Lênin, o revolucionário “havia entendido mal a informação já unilateral sobre a briga de Stálin e Krupskaya e "devido à doença ... estava errado em relação ao camarada Stalin"[78]. Ela escreveu: “É especialmente difícil porque durante meus dois anos e meio de trabalho no Politburo, vendo de perto o trabalho do Politburo, não apenas aprendi a apreciar profundamente e respeitar todos vocês, em particular, Stalin (tenho vergonha de olhar para ele agora), mas também de entender a diferença entre a linha de VI. Ilcha e Trotsky”[79]. Maria Ulianova também confirma este ponto: “O que há para ser dito ─ durante esse período, como eu havia indicado, se Lênin não estivesse tão gravemente doente, ele teria reagido de maneira diferente ao incidente. Existem documentos sobre esse incidente e, sob a primeira demanda do Comitê Central, posso apresentá-los”[80]


Isto significa que “este e outros incidentes sugeriam que a doença de Lenin o estava afetando mentalmente. Ele se tornou cada vez mais caprichoso e ficou furioso por questões menores”[81].


Aparentemente, “Stalin estava perto da verdade quando, depois de ler a Carta ao Congresso, disse a M. Volodicheva: “Isso não é Lenin falando, é a doença dele”. Stalin considerou o conteúdo das notas de Lenin sobre a questão nacional de maneira semelhante. Stalin não reagiu imediatamente aos ataques de Lenin contra ele”[82].


Sakharov argumenta que “a influência da doença na obra de Lenin durante o período de sua obra sobre o Testamento não foi estudada em detalhes. A atenção dos pesquisadores está voltada para a história da doença após o término de sua atividade política (de março de 1923 a janeiro de 1924) [130][83].”[84]


Essa preocupação, muito legítima, só é repercutida na obra de Yuri Emelianov, segundo Sakharov: “A posição de Yu.V. Emelyanov: ele vê as razões da mudança de atitude de Lenin em relação a Stalin nas consequências da doença e na reação ao conflito entre o secretário-geral e Krupskaya. Ao mesmo tempo, ele defende a conclusão de que as reprovações de Lenin foram injustas, e suas próprias opiniões sobre as questões de construção da nação eram contraditórias [124]”[85].

[1] WERTH, N. Histoire de l'Union soviétique de Lénine à Staline. éditions Que sais je ?, PUF, page 37 [2] LOSURDO, D. Stalin História Crítica de Uma lenda Negra. Rio de Janeiro: Revan. Pag. 70. [3] Lênin, V. I. Carta ao Congresso. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1923/01/04.htm#tr10. [4] Idem. Ibidem. [5] Idem. Ibidem. [6] Idem. Ibidem. [7] John Patrick Diggins. Up From Communism. Columbia University Press, later, Harper & Row, 1975, p.17-73. [8] TROTSKY, L. Forja do Testamento do Lênin. Disponível em: <https://iglusubversivo.wordpress.com/2009/12/23/forja-do-testamento-de-lenin/>.Acesso em 21 de agosto de 2021. [9] [10] . S. KOTIKIN. Stalin: Paradoxos do poder 1879-1928. Companhia das Letras. São Paulo, 2015. Pag. 836-837. Cópia digital em formato mobi com 2342 páginas. [11] EMELIANOV, Y. O TESTAMENTO DE LENIN. Disponível em: <https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/o-testamento-de-lenin-1>. [12] IDEM, IBIDEM. [13] MI Ulyanova. Sobre as Relações entre Lenin e Stalin. Apud in: Org. Klaus Scarmeloto. Em defesa de Stalin: Textos Biográficos. São Paulo: ciências revolucionárias. Pag. 381-382. [14] SAKHAROV, A. Falsificação do testamento de Lenin. Disponível em: < https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/a-falsifica%C3%A7%C3%A3o-do-testamento-de-lenin>. Acesso em 30 de novembro de 2020. [15] Ver: Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики - § 1. ПОЛИТИЧЕСКОЕ ПРОТИВОСТОЯНИЕ ЛЕНИНА И ТРОЦКОГО. Disponível em<:https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?start=10>. Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política - § 1. CONFLITO POLÍTICO DE LENIN E TROTSKY. Acesso em 21 de agosto de 2021. [16] Idem. Ibidem. [17] Idem. Ibidem. [18] Idem. Ibidem. [19] FURR, G. Os Arquivos de Moscou Falam. Disponível em < https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/os-arquivos-de-moscou-falam>. Acesso em 20 de novembro de 2020. [20]Ver: Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики - § 1. ПОЛИТИЧЕСКОЕ ПРОТИВОСТОЯНИЕ ЛЕНИНА И ТРОЦКОГО. Disponível em<:https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?start=10>. Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política - § 1. CONFLITO POLÍTICO DE LENIN E TROTSKY. Acesso em 21 de agosto de 2021. [21] Idem. Ibidem. [22] Idem. Ibidem. [23] Idem. Ibidem. [24] Idem. Ibidem. [25] SAKHAROV, A. Falsificação do testamento de Lenin. Disponível em: < https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/a-falsifica%C3%A7%C3%A3o-do-testamento-de-lenin>. Acesso em 30 de novembro de 2020. [26][26]Ver: Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики - § 1. ПОЛИТИЧЕСКОЕ ПРОТИВОСТОЯНИЕ ЛЕНИНА И ТРОЦКОГО. Disponível em<:https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?start=10>. Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política - § 1. CONFLITO POLÍTICO DE LENIN E TROTSKY. Acesso em 21 de agosto de 2021. [27] Idem. Ibidem. [28] Idem. Ibidem. [29] Idem. Ibidem. [30] Idem. Ibidem. [31] Idem. Ibidem. [32] Murphy, John Thomas. Stalin, Londres, John Lane, 1945, p. 146. [33] Idem. Pag. 151. [34] Basseches, Nikolaus. Stálin. Londres, Nova York: Staples Press, 1952, p. 106 [35] Idem. Ibidem. [36] Idem. Ibidem. [37] Cameron, Kenneth Neill. Stalin, The Man of Contradition. Toronto: NC Press, c1987, p. 124 [38] Idem. Ibidem. [39] Idem. Ibidem. [40] Graham, Stephen. Stálin. Port Washington, Nova York: Kennikat Press, 1970, p. 90. [41] Radzinsky, Edvard. Stálin. Nova York: Doubleday, c1996, p. 208 [42] Fishman and Hutton. The Private Life of Josif Stalin. London: W. H. Allen, 1962, p. 56 [43] ULIANOV, M. Sobre as relações entre Lênin e Stálin. Disponível em: <https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/sobre-as-rela%C3%A7%C3%B5es-entre-l%C3%AAnin-e-st%C3%A1lin>. Acesso em 21 de agosto de 2021. [44] Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики - § 1. ПОЛИТИЧЕСКОЕ ПРОТИВОСТОЯНИЕ ЛЕНИНА И ТРОЦКОГО. Disponível em<:https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?start=10>. Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política - § 1. CONFLITO POLÍTICO DE LENIN E TROTSKY. Acesso em 21 de agosto de 2021. [45] Idem. Ibidem. [46] Idem. Ibidem. [47] Ульянова О.Д. Родной Ленин. Disponível em: <https://leninism.su/private/4131-rodnoj-lenin.html?showall=1>. Acesso em 21 de agosto de 2021. Tradução. ULIANOVA, I. O. Lênin Nativo (Vladimir Ilich e sua Família). [48] Ульянова О.Д. Родной Ленин. Disponível em: <https://leninism.su/private/4131-rodnoj-lenin.html?showall=1>. Acesso em 21 de agosto de 2021. Tradução. ULIANOVA, I. O. Lênin Nativo (Vladimir Ilich e sua Família). [49] Idem. Ibidem. [50] Dentre seus últimos contatos com as pessoas simples, há essa história espantosa, datando de 17 de julho de 1949. Num dia chuvoso, quando se dirigia para sua datcha de Semenovskoe, seu carro passou por um ponto de ônibus onde se aglomeravam várias pessoas. Stálin ordenou ao motorista que parasse. “Essas pessoas estão molhadas, vamos levá-las para suas casas. Convide-as para entrar no carro”, disse a seu guarda-costas. Este saiu, aproximou-se dos populares e convidou-os, da parte de Stálin, a juntarem-se a ele. Ninguém se mexeu, todos o olhavam como se fosse um lunático. Ele voltou para prestar contas à Stálin. “É porque você não sabe falar com o povo”, respondeu, descendo do carro. Aproximou-se do ponto de ônibus e puxou conversa. Como não havia espaço, foram necessárias duas viagens para levar todo mundo. Acanhados, os passageiros a princípio mantiveram silêncio; em seguida, graças à habilidade de Stálin, a conversa se animou. Num dado momento, visivelmente à vontade, Stálin contou-lhes sobre a morte de seu filho Iakov durante a guerra. Então, uma adolescente atreveu-se igualmente a contar seu drama: seu pai morrera no front. Passado um tempo, ela recebeu da parte de Stálin um uniforme escolar e uma pasta. MARCOU, L. A Vida Privada De Stálin. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. PAG. 129. Acesso em 21 de agosto de 2021. Disponível em: https://www.portalconservador.com/livros/Lilly-Marcou-A-vida-privada-de-Stalin.pdf. [51] Alguns dados são eloquentes por si, se no primeiro plano quinquenal, o orçamento da defesa alcançava 5,4% das despesas totais do Estado, em 1941 o orçamento saltou para 43,3% das despesas “em setembro de 1939, por ordem de Stalin, o Politburo tomou a decisão de construir no ano de 1941 nove fábricas novas para a produção de aviões, no momento da invasão nazista, “a indústria tinha produzido 2.700 aviões modernos e 4.300 carros armados. A julgar por estes dados pode-se dizer de tudo, menos que a URSS tenha chegado despreparada para o trágico confronto. LOSURDO, Domenico. Stalin: História Crítica de uma Lenda Negra. Rio de Janeiro: Revan, 2010. Pág. 22. [52] Idem. Ibidem. [53] Ульянова О. Д. Родной Ленин. Disponível em: <https://leninism.su/private/4131-rodnoj-lenin.html?showall=1>. Acesso em 21 de agosto de 2021. Tradução nossa: ULIANOVA, I. O. Lênin Nativo (Vladimir Ilich e sua Família). [54] ULIANOV, M. Sobre as relações entre Lênin e Stálin. https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/sobre-as-rela%C3%A7%C3%B5es-entre-l%C3%AAnin-e-st%C3%A1lin. Acesso em 21 de agosto de 2021. [55] Idem. Ibidem. [56] Idem. Ibidem. [57] Muitos dos últimos textos de Lênin podem não ser dele, inclusive os que possuem ofensas pessoais. É o que aponta o historiador A. Sakharov em uma farta obra. [58] Idem. Ibidem. [59] A vergonha de Glasser é uma das provas que vão também demonstrar a razão de Sakharov em falar de uma falsificação do testamento de Lênin contra Stálin. [60] EMELIANOV, Y. O Testamento de Lênin. Disponível em: <https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/o-testamento-de-lenin-1>. Acesso em 21 de agosto de 2021. [61] Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики. Disponível em: <https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?showall=1.>.Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política. Acesso em 21 de agosto de 2021. [62] Volkogonov, Dmitrii. Lenin: Uma Nova Biografia. Nova York: Free Press, 1994, p. 422-423 [63] Cameron, Kenneth Neill. Stalin, Homem da Contradição. Toronto: NC Press, c1987, p. 49 [64] Idem. Ibidem. [65] Volkogonov, Dmitri. Stalin: Triunfo e Tragédia. Nova York: Grove Weidenfeld, 1991, p. 138 [66] Service, Robert. Stálin. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press de Harvard Univ. Imprensa, 2005, pág. 249 [67] Bazhanov, Boris. Bazhanov e a maldição de Stalin. Atenas, Ohio: Ohio University Press, c1990, p. 75 [68] Lucas e Ukas. Trans. e Ed. Documentos Secretos. Toronto, Canadá: Northstar Compass, 1996, p. 3. [69] Levine, Isaac Don. Stálin. Nova York: Cosmopolitan Book Corporation, c1931, p. 280. [70] Idem. Ibidem. [71] Idem. Ibidem. [72] Deutscher, Isaac. O Profeta Desarmado. Londres, Nova York: Oxford Univ. Imprensa, 1959, p. 138. [73] EMELIANOV, Y. O TESTAMENTO DE LENIN. Disponível em: <https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/o-testamento-de-lenin-1>. [74] Idem. Ibidem. [75] Idem. Ibidem. [76] Idem. Ibidem. [77] Idem. Ibidem. [78] Idem. Ibidem. [79] Idem. Ibidem. [80] ULIANOV, M. Sobre as relações entre Lênin e Stálin. https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/sobre-as-rela%C3%A7%C3%B5es-entre-l%C3%AAnin-e-st%C3%A1lin. Acesso em 21 de agosto de 2021. [81] Gray, Ian. Stálin, The Man of History. Londres: Weidenfeld e Nicolson, 1979, p. 168. [82] Emelianov, Y. O Testamento De Lenin. Disponível em: <https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/o-testamento-de-lenin-1>. [83] Os números em Colchetes são as notas de rodapé da Obra de Sakharov. Não vamos repruduzir as notas, mas mantemos o número delas a disposição para que fique claro que o trabalho dele foi extensivo e contou com mais de 1700 dessas notas! [84] Сахаров В.А. Политическое завещание Ленина: реальность истории и мифы политики. Disponível em: <https://leninism.su/books/4135-politicheskoe-zaveshhanie-lenina-realnost-istorii-i-mify-politiki.html?showall=1.>.Tradução: SAKHAROV, A. Testamento político de Lenin: a realidade da história e os mitos da política. Acesso em 21 de agosto de 2021. [85] Idem. Ibidem.

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